Balanço mostra que eleitor brasileiro rejeitou o PT de Lula e eleitor paulistano avalizou Alckmin

08 outubro 2016 às 12h33

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O PT elegeu 644 prefeitos em 2012 e apenas 241 em 2016. Trata-se de uma queda abissal. Caciques como Renan Calheiros, José Sarney e Jader Barbalho saíram-se muito mal
1 — Petistas são uma espécie em extinção — com 644 prefeitos eleitos em 2012, agora não conseguiram mais que 241 prefeituras, o que representa cerca de 4% do total de municípios. Perderam dois terços do terreno político que detinham.
2 — Lula da Silva, o chefe maior do PT, não conseguiu reeleger o filho vereador em São Bernardo do Campo, seu mais tradicional reduto eleitoral. Numa câmara municipal com 28 vagas, Marcos Lula ficou em 58º lugar, longe mesmo de qualquer suplência.
3 — O PT conquistou apenas uma prefeitura de capital: a da inexpressiva Rio Branco, do Acre, com o candidato Marcus Alexandre.
4 — Em apenas em uma prefeitura de capital, onde se disputa segundo turno, há um petista no páreo: em Recife, o ex-prefeito João Paulo.
5 — A “presidenta” da União Nacional dos Estudantes, Carina Vitral, do jurássico PCdoB, que disputou a Prefeitura de Santos, amargou uma derrota vergonhosa para Alexandre Barbosa, do PSDB (78% a 7%).
6 — A deputada Jandira Feghali, também do PCdoB, não teve 4% dos votos do eleitorado carioca, na disputa pela Prefeitura do Rio de Janeiro. Jandirão, como é chamada pela maneira truculenta de exercer seu mandato, é uma das políticas cariocas de maior exposição na mídia, e teve Lula da Silva e Dilma Rousseff em seus palanques.
7 — O vereador mais votado no Rio de Janeiro foi Carlos Bolsonaro, filho de deputado conservador Jair Bolsonaro. Eleito em 2012 com 23 mil votos, foi reeleito com 106 mil.
8 — A desunião das forças políticas mais conservadoras pode levar o Rio de Janeiro a ter um prefeito do PSol, no segundo turno. Prova de que o que já é ruim sempre pode piorar. Refiro-me à situação caótica da segurança pública carioca, que com um prefeito psolista, com toda a prática “politicamente correta” que o partido adota, só tenderá a se agravar.
9 — O fato mais surpreendente das eleições foi o desempenho de João Dória, eleito no primeiro turno para a Prefeitura de São Paulo. Teve votação três vezes maior que a de Fernando Haddad, prefeito petista que tentava a reeleição. Corolários do fato: José Serra, que tentou a “esperteza” de se aliar à ex-petista de última hora Marta Suplicy para se cacifar para a disputa presidencial de 2018, se enfraquece com a fragorosa derrota dela. Aécio Neves está em queda, frente a denúncias cada vez mais frequentes de ligações com corrupção. Geraldo Alckmin se fortalece, o que é bom para o PSDB e para a democracia, se lembrarmos que administra o maior Estado brasileiro com seriedade, não tem envolvimento pessoal com escândalos e não carrega ranços ideológicos de nenhum matiz.
10 — Prefeituras paulistas importantes perdidas pelo PT: Guarulhos, Osasco e São Bernardo do Campo.
11 — A grande vitória do DEM se deu em Salvador, com a eleição em primeiro turno, e com grande maioria, de ACM Neto. Mas perdeu prefeituras, de 276 para 256.
12 — Quem mais ganhou prefeituras foi o PSDB: passou de 686 para 791. O PMDB, que detinha 1015, agora tem 1027, quase o mesmo número (e o maior número de prefeituras detidas por um partido). O jurássico PCdoB, que detinha 51 prefeituras, agora tem 80. Mas perdeu a tradicional Olinda, e mais da metade de suas prefeituras é do Maranhão, onde o governador, Flavio Dino, é do partido. De qualquer maneira, tem cerca de 0,2% das prefeituras brasileiras. Apenas.
13 — O PSD, de Gilberto Kassab, sem muito alarde, passou de 474 para 494 prefeituras. É a terceira legenda em número de prefeitos filiados.
14 — O PSol, a despeito de disputar segundo turno em duas capitais (Belém e Rio de Janeiro), só conquistou duas prefeituras mixurucas, ambas no Rio Grande do Norte. O partido que se pretende substituto do PT frente à sociedade brasileira se reduz a isso: barulho, atraso e insignificância.
15 — Marina Silva, com sua Rede Sustentabilidade, paga vexame. A etérea candidata a presidente da República, dúbia protagonista de um esquerdismo ecológico, que ninguém sabe se era ou não a favor do impeachment de Dilma, fez cinco prefeituras de pouca expressão. E seu partido disputa um duvidoso segundo turno em Macapá. Ditos “intelectuais” do partido estão se desfiliando, alegando justamente a dubiedade de Marina. Mas não representam votos.
16 — A abstenção foi a mais expressiva das últimas eleições (18%). Houve grande incidência de votos nulos e brancos. Mas isso não parece ter distorcido a vontade popular. Aliás, o voto obrigatório nunca se provou positivo na expressão dessa vontade.
17 — O restante do caciquismo retrógrado e corrupto parece a caminho do fim. Renan Calheiros, José Sarney e Jader Barbalho, representantes no velho PMDB dessa espécie, não se saíram bem nas eleições. Observe-se que os três ainda se encontram muito incrustrados no poder (Renan tem um filho governando Alagoas e Sarney e Jader têm filhos ministros). Renan vê seu candidato à Prefeitura de Maceió disputar um segundo turno em desvantagem, e perdeu as prefeituras das cidades mais importantes de Alagoas. No Maranhão, o governador Flávio Dino anuncia o fim da era Sarney, tendo vencido o velho clã em 150 das 213 prefeituras (detinha apenas 17 até então). O candidato de Barbalho em Belém ficou em quinto lugar na disputa. E o PMDB, nas seis maiores cidades paraenses, só foi vencedor em uma: Parauapebas.
18 — Uma campanha eleitoral mais curta e mais barata redunda em benefícios para todos. Diminui o desespero por recursos, que acabam tisnados de ilicitude, suja menos as cidades e poupa os sentidos do eleitor cansado de cartazes, jingles e programas televisivos de qualidade duvidosa. Dizia o alemão Bismarck que nunca se mente tanto quanto antes das eleições, durante as guerras e após as caçadas.
19 — Em Goiânia, há que se registrar a pequena votação de Adriana Accorsi, boa candidata, mas sem dúvida prejudicada pelo desgaste de seu partido, o PT. Francisco Jr., mesmo à parte da polarização entre os dois candidatos principais, teve expressiva votação, sinal que o eleitor entendeu sua mensagem de sobriedade. Delegado Waldir, ainda que dono de boa votação, fez uma campanha solitária, que refletiu no resultado final. Vanderlan Cardoso capitalizou a vontade de mudança do eleitor goianiense e ameaça o velho cacique Iris Rezende, a despeito da vantagem deste último: ter uma imagem por demais conhecida e difundida, o que pesa em uma campanha curta. Não há como ignorar a enorme votação de Jorge Kajuru para a Câmara Municipal. E os institutos de pesquisa não foram, mais uma vez, precisos. l