Por Gyovana Carneiro

Partiu na ultima terça-feira (06/12) um dos maiores nomes da vanguarda da música de concerto no Brasil. Um ser humano incrível! Edino é unanimidade. A classe artística em peso se manifestou sobre sua partida. Seu filho Edu Krieger assim se pronunciou nas redes sócias:
(...) “Para além da tristeza natural e da saudade, meu sentimento é de gratidão por ele ter vivido tanto, conseguido aproveitar as 4 netas e o neto, contado tantas histórias e dado a nós, filhos, e à nossa amada mãe, Nenem Krieger, tanto amor! Nada que eu escreva aqui vai estar à altura de sua grandiosidade, na vida ou na arte. Construiu uma obra musical impecável, deixando uma contribuição monumental para as salas de concerto do Brasil e do mundo. Agora ele vai se deliciar com os sons de outras esferas, compor em outras dimensões e continuar nos inspirando. Sempre.” (...).

Acervo particular Edino Krieger
Nascido em Brusque em Santa Catarina, Edino nasceu e cresceu em um ambiente musical. Começou aprender violino na infância, ganhou vários prêmios como violinista, mas realmente se encontrou como compositor.
Foi membro do afamado “Grupo Música Viva”, discípulo e defensor das ideias inovadoras de Hans- Joachin Koellreutter (1915 - 2005). Entretanto, sempre manteve sua independência com relação à ortodoxia e a liberdade na aplicação dos novos princípios composicionais.
Segundo Edino Krieger:
“Aos 15 anos fui deixando de lado o violino e me interessei pela composição. Toquei mais ou menos até os 20 e pouco anos, mas aí a composição já ocupava meu maior interesse musical”.

Ainda muito jovem, deixou a terra natal e foi para o Rio de Janeiro. Aos 20 anos, Krieger foi estudar na Juilliard School. Este estágio traz consequências estéticas consideráveis para sua obra. Sua relação com o dodecafonismo fica mais tênue depois das aulas com Aaron Copland e Darius Milhaud.
Para além do genial compositor, Edino Krieger se destacou como promotor e defensor da música brasileira. Trabalhou como terapeuta musical no hospital de Engenho de Dentro (RJ) e integrou o quadro de colaboradores da Rádio do Ministério da Educação e Cultura e da Rádio Roquete Pinto (RJ). Exerceu de maneira brilhante a função de crítico musical da Tribuna da Imprensa (RJ) e do Jornal do Brasil (RJ), sendo considerado um dos mais sérios cronistas da vida musical brasileira. Foi diretor do Instituto Nacional de Música da FUNARTE por vários anos, presidiu a Academia Brasileira de Música e o Museu da Imagem e Som do Rio de Janeiro. Criou as Bienais Brasileiras e a Orquestra Sinfônica Nacional.

Uma característica marcante de Edino era a generosidade e um amor incondicional. Incentivava novos compositores e defendia a música brasileira com coragem e doçura.
Em setembro de 2009 A Escola de Música e Artes Cênicas da Universidade Federal de Goiás homenageou o compositor em seu tradicional Festival de Música.
Edino Krieger falou:
“Ao abrir esse espaço para que os estudantes conheçam a música brasileira, a universidade cumpre seu papel de difusora do conhecimento. (...) É um honra, é um prazer voltar à Goiânia, sinto-me um pop star” (...)
Edino Krieger cumpriu sua missão na terra. Deixou uma obra profícua junto ao exemplo de vida e amor. Como disse seu filho Edu: “ A religião do meu pai sempre foi a música”.
Vá em Paz grande Edino Krieger! Sua música o perpetua.

Filhos de Edino Krieger
Das tantas obras de Edino, escolho a Sonata para piano a quatro mãos, composta em 1953. Em entrevista concedida para esta pesquisadora, assim se expressa o autorsobre sua composição:
“A Sonata foi composta em 1953 para um recital de Jannette e Heitor Alimonda na Rádio MEC, onde eles próprios a estrearam no mesmo ano. O título original era Rondó-fantasia, por causa do retorno constante do tema, o que dá a peça uma forma livre de rondó. Depois da estreia, achei que a peça estava muito curta e acrescentei a parte final, mais movida, e mudei o título para Sonata, entendido mais na concepção pré-clássica que em relação à sonata clássica de três movimentos”.

Ouviremos a sonata para piano a quatro mãos de Edino Krieger interpretada pelos pianistas Miguel Proença e Laís de Souza Brasil.
Observe! A obra não segue estritamente o modelo clássico de sonata, (exposição - desenvolvimento e reprise) mas tem certa semelhança com rondo pelo constante retorno ao tema. Os motivos melódicos são os unificadores da obra.


No mês da consciência negra, abordaremos um tema ainda recorrente - o preconceito.

“a carne mais barata do mercado era a carne negra"

Com uma voz afinadíssima, educada e límpida, Gal passava da suavidade da Bossa Nova às distorções das guitarras em segundos

O título remete ao “The Negro Motorist Green Book”, também conhecido como “The Negro Travelers’ Green Book”, um guia publicado entre os anos de 1936 e 1966, com a função de ajudar afrodescendentes a encontrarem estabelecimentos nos quais fossem aceitos

Muito se fala em Goiânia como a capital da Música Sertaneja. É inegável a força desse segmento musical na capital. No entanto, com um olhar mais atento, encontraremos música boa e variada, que vai muito além da afamada música sertaneja.
A programação de Goiânia conta com atrações musicais para todos os gostos. Há casas inspiradas em festivais como o Woodstock Rock Bar, Jazz, Blues.
Não são poucos os bares com shows de rock à batalha de MCs, do samba à orquestra, rimas elaboradas do rap, batida contagiante do hip-hop e a inconfundível melodia do soul marcam um dos cenários musicais da capital goiana. Sem contar com bares que oferecem variadas vertentes do chorinho.
No Centro Cultural Oscar Niemeyer, bem como no Teatro Goiânia e Centro Cultural UFG, há inúmeras atrações para os amantes da música de concerto.

Centro Cultural Oscar Niemeyer
Parece incrível! Mas o Festival de música erudita mais antigo do Brasil, em edições contínuas, foi realizado em Goiânia no ano de 1964.
Segundo a professora Maria Helena Jayme Borges:
“O grande acontecimento de 1964 foi à realização do I Festival de Música Erudita do Estado de Goiás de 19 a 27 de setembro. Os professores, alunos e servidores do Conservatório, compreendendo o alto sentido e as vantagens pedagógicas e sociais daquele evento, não mediram esforços para realização do festival, sendo essa a primeira vez que empreenderam um trabalho de tamanho vulto”.
Já se vão 44 Festivais de Música promovidos pela Universidade Federal de Goiás. Eventos realizados em Goiânia que contam parte da história da música em Goiás.

Desde sua primeira versão, como I Festival de Música Erudita do Estado de Goiás os festivais trouxeram para Goiânia, reconhecidos nomes do cenário brasileiro e internacional: instrumentistas, cantores, compositores, regentes e educadores musicais, que deixaram sua marca na formação dos músicos em Goiás.
O I Festival trouxe para Goiânia a regente e compositora carioca Maria Luiza de Mattos Priolli (1915 - 2000), ministrando o curso de Análise e Didática do Ritmo e Som; o renomado pianista Arnaldo Estrela (1908 -1980), o curso de Didática do piano e interpretação pianística e o compositor e musicólogo alemão naturalizado brasileiro Bruno Kieffer (1923 – 1987), ministrando os cursos de Apreciação musical, Estética e História da Música.


Além de cursos, a primeira versão do Festival ofereceu ao público goiano recitais com a participação dos violinistas Nathan Schuwartzmann e Mariuccia Iaconino, das pianistas Belkiss, Arnaldo Estrella e Heloisa Barra, da Mezzo Soprano Honorina Barra, do flautista Lenir Siqueira, do oboísta Paulo Nardhi, do clarinetista José Botelho, do trompista Jairo Ribeiro, do fagotista Noel Devos e ainda contou com a presença Maestro Isaac Karabtchewsky regendo o Madrigal Renascentista.
Não por acaso, atualmente o Festival leva o nome de sua idealizadora, a musicista goiana Belkiss S Carneiro de Mendonça (1928 – 2005).

Musicista reconhecida internacionalmente, Belkiss Spenzièri projetou o Brasil com seus concertos, sempre valorizando e divulgando a música brasileira. O festival que a homenageia será realizado pela Universidade Federal de Goiás através da Escola de Música e Artes Cênicas entre os dias 06 e 11 de novembro de 2022 em Goiânia.
Além do 45º Festival internacional de Música Belkiss Spencieri Carneiro de Mendonça que será realizado entre os dias 06 a 11 de novembro, haverá o 2º Festival de Música Popular “Jarbas Cavendish”; de 11 a 14 de novembro; e o XV Festival Universitário de Artes Cênicas de Goiás - FUGA 15, bem como a VII Mostra Universitária de Direção de Arte - Pontos de Fuga 7 realizados entre 16 a 25 de novembro.
Em Goiânia realmente acontecem muitos eventos além da música sertaneja.
Para encerrar, relembraremos a pianista que dá nome ao festival, ouviremos o “LP” Belkiss Carneiro de Mendonça (Copacabana COLP 12.550), lançado em 1980, Disponibilizado no YouTube pelo Instituto Piano Brasileiro - IPB.

Observe a interpretação precisa e brilhante da pianista Belkiss.

A história da pianista argentina é também sobre alguém com dons fora do padrão tentando encontrar um jeito de viver uma vida casual

O pianista brasileiro considerava o piano como se fosse uma pessoa. Em cada interpretação iluminava a obra com um inigualável poder de recriação

Chopin era um rapaz fino, elegante e gentil

O cantor e compositor foi grande incentivador da música brasileira e colaborou grandemente para a valorização dos músicos no país

De acordo com uma versão divulgada pelo historiador e parlamentar político, Eugênio Egas, em 1909, a música teria sido composta pelo Imperador na tarde do mesmo dia da Independência do Brasil

Ele ficou no Brasil de 1816 e 1820 e ministrou aulas de música para a Família Real e membros da elite carioca. Ajudou José Mauricio Nunes Garcia e Francisco Manuel da Silva

Elizabeth gostava de trilhas sonoras de musicais e de músicas da Guarda Britânica

Estamos a celebrar os 200 anos da Independência do Brasil no dia 7 de setembro. A data carrega muitos significados históricos, culturais e políticos. Com uma independência que não aconteceu da noite para o dia, vários fatos no decorrer da história brasileira, foram perdidos pelo caminho.
Uma dessas histórias é a do nosso tradicional Hino Nacional Brasileiro.
Representando um dos quatro símbolos oficiais da República Federativa do Brasil, o Hino Nacional Brasileiro, tão ouvido, cantado e reverenciado possui algumas curiosidades históricas.
O Hino Nacional Brasileiro que conhecemos hoje, não foi composto com a essa finalidade. A melodia de Francisco Manoel da Silva (1785-1865), que tem letra de Joaquim Osório Duque Estrada (1870-1927), foi incorporada ao hino original cerca de quarenta e quatro anos após a morte do compositor da melodia.

Óleo sobre tela (1850) por José Correia de Lima (1814 -1857)
O maestro e compositor Francisco Manoel da Silva nasceu no Rio de Janeiro e deixou boa quantidade de obras, que estão espalhadas em arquivos cariocas, mineiros e paulistas e abrangem música sacra, modinhas e lundus, além do famoso Hino Nacional Brasileiro.
Francisco Manoel teve grande destaque na vida musical do Rio de Janeiro no período compreendido entre a morte de Padre José Maurício Nunes Garcia (1830) e o apogeu de Carlos Gomes (Segundo Império), e muito contribuiu para a história da música no Brasil, pois fundou, entre outras instituições, o Conservatório Imperial de Música (1848).

Campo da Aclamação, atual Praça da República.
Quando, em 7 de abril de 1831, D. Pedro I (1798-1834) foi aconselhado a renunciar e abdicar do trono em favor de seu filho Pedro II (1825-1891), a época com apenas 5 anos de idade, Francisco Manoel compôs a música do atual hino que, em primeira execução, apareceu com letra de Ovídio Saraiva de Carvalho e Silva.
Em 1841, na coroação de Pedro II, esse hino foi executado novamente, com letra diferente da primeira - e de autor desconhecido. A melodia seguiu sendo executada sem letra, em solenidades civis e militares, até a Proclamação da República em 1889.

Obra de 1824 retrata o ato de coroação de D. Pedro II.
Óleo sobre tela, 2,38 x 3,10 m, de François-René Moreaux (1807-1860)
Considerando uma herança do Império, em janeiro de 1890, houve um concurso, no Teatro Lírico do Rio de Janeiro, para a escolha, entre 29 candidatos, de um novo Hino Nacional Brasileiro que representasse a República Brasileira.
O vencedor do concurso foi Leopoldo Miguéz (1850-1941). Curiosamente, depois de executados os hinos concorrentes e escolhida a obra de Miguéz, o proclamador da República, Marechal Deodoro da Fonseca (1827-1892), preferiu o Hino de Francisco Manoel e o manteve como Hino Nacional apresentado sem letra.

Deodoro da Fonseca decidiu então que ao vencedor da música, Leopoldo Miguéz, e letra, José Joaquim Medeiros e Albuquerque, caberia o título de “Hino da Proclamação da República”. O Brasil passava então a ter o seu hino oficializado, porém, de forma incompleta, pois, faltava-lhe a letra.

óleo sobre tela, (1892) 75 X 60 cm por Benedito Calixto (1853 – 1927)
O vencedor do concurso foi Leopoldo Miguéz (1850-1941). Curiosamente, depois de executados os hinos concorrentes e escolhida a obra de Miguéz, o proclamador da República, Marechal Deodoro da Fonseca (1827-1892), preferiu o Hino de Francisco Manoel e o manteve como Hino Nacional apresentado sem letra.
Assim, oficializado o concurso, foi assinado o Decreto n° 171, de 20.01.1890, que conservava o “Hino Nacional” e adotava o “Hino da Proclamação da República”.
Tal situação permaneceria ignorada até julho de 1909, quando o governo instituiu um novo concurso “para escolha de uma composição poética a se adaptar com todo o rigor à melodia do Hino Nacional”.
O vencedor desse concurso foi o poeta Joaquim Osório Duque Estrada (1870-1927) que ainda esperaria vários anos para afinal ser declarada oficialmente a letra do “Hino Nacional Brasileiro”, pelo Decreto n°15.671, de 06.09.1922.
Ouviremos uma gravação histórica da música de Francisco Manoel da Silva com letra de autor desconhecido utilizado na celebração nacional, em 1840, na coroação do jovem dom Pedro II de Bragança.
Observe, foi um hino tão representativo do império, que até os dias de hoje, é um dos símbolos oficiais da República Federativa do Brasil.