Beth Carvalho: “Madrinha do renascimento do samba de raiz do Rio de Janeiro”
14 março 2023 às 08h44
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Ainda no mês dedicado a reflexões sobre mulheres que inspiram, trazemos hoje, uma das mulheres que ajudou a escrever a história do samba.
A mulher inspiradora da semana é Elizabeth Santos Leal de Carvalho, Beth Carvalho (1946 – 2019), carinhosamente chamada de “madrinha do samba”.
Beth começou sua carreira na bossa nova, influenciada por João Gilberto, ao lado de músicos como Taiguara, Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli.
Do pai, cassado pelo golpe de 1964, herdou a paixão pela música e as firmes posições politicas. Nascida na zona sul carioca, Beth recebeu educação refinada, estudou balé e música desde a infância, torcia para do Botafogo e defendia a “Verde e Rosa”.
Leonardo Bruno em seu livro: “Canto de Rainhas, o poder das mulheres que escreveram a história do samba, escreve:
“ (…) Uma mulher que recebe na certidão de nascimento o carimbo de ‘Carvalho’ já parece predestinada a reflorestar o mundo com frutos musicais. Inspirada pela árvore milenar que carrega no sobrenome, foi se encontrar logo no gênero dos batuques ancestrais, o samba”. (…)
No ano de 1966 Beth Carvalho se encantou pelo samba participando do show “A Hora e a Vez do Samba”, com Nelson Sargento e Noca da Portela. Em seguida, conquistou o terceiro lugar no Festival internacional da Canção de 1968 com a música “Andança” e nunca mais se separou dos palcos.
Beth se tornou cantora referencia no universo do samba, não só por sua própria carreira, mas também por descobrir e projetar nomes que se tornaram grandes na música brasileira, como Arlindo Cruz e Zeca Pagodinho, e também colaborou, na década de setenta, para popularizar o repertório de Cartola.
Corajosa, com apenas 26 anos, pediu um samba inédito a Nelson Cavaquinho. Ganhou simplesmente “Folhas Secas”, que marca seu primeiro disco Canto para um Novo Dia (1973) dedicado ao gênero.
Em 1974, veio “1.800 colinas”, de Gracia do Salgueiro. Em 1976, “As rosas não falam”, de Cartola. Em 1977, “Saco de feijão” de Francisco Santana e “O mundo é um moinho” também de Cartola. Em 1978, outra canção antológica: “Vou festejar” de Jorge Aragão, Dida e Neoci Dias, sucesso que impulsionou o pagode. Em 1979, “Coisinha do pai” de Jorge Aragão, Almir Guineto e Luiz Carlos.
Nos últimos anos de vida, Beth Carvalho, apresentou sérios problemas de saúde convivendo com uma grave inflamação na parte inferior da coluna. Segundo o empresário da sambista, Afonso Carvalho, mesmo internada no hospital, Beth não conseguia ficar parada.
Seu último show aconteceu em 2018. Bastante debilitada, Beth Carvalho se apresentou deitada, cantando seus últimos sucessos ao lado do Grupo Fundo de Quintal.
A sambista se despediu da vida aos 72 anos em abril de 2019. A postura perante a música a imortalizou. O samba sempre vai pedir a bênção à sua madrinha.
Caetano Veloso assim se expressa:
“Beth Carvalho é a Madrinha do renascimento do samba de raiz do Rio de Janeiro. É uma das maiores expressões da nossa cultura”;
Para quem quer conferir a vida da “madrinha do samba”, está em cartaz nos cinemas nacionais o documentário: “Andança – Os Encontros e as Memórias de Beth Carvalho”.
Com sensível capacidade de percepção da realidade, Beth Carvalho, documentou ilustres encontros ao longo dos seus 53 anos de palcos e pagode. As imagens do documentário são parte do vasto acervo pessoal nas mais diferentes mídias: Super-8, VHS, Mini DV, k7 e fotos.
O Documentário se debruça sobre esse material para traçar um recorte único, íntimo, da carreira e da vida dessa mulher inspiradora!
Ouviremos, com saudades, um de seus primeiros sucessos – “Andança” composição de Paulinho Tapajós, Danilo Caymmi e Edmundo Souto.
Observe a beleza desta letra e a expressividade da interprete.