Por Elder Dias

[caption id="attachment_114183" align="alignright" width="768"] Os sempre flagrados Neymar e Bruna, ou simplesmente “casal Brumar”[/caption]
Bem a seu estilo, o jornal-tabloide “Extra” publicou: “Bruna Marquezine e Neymar são ‘flagrados’ juntos em barco”. O uso do termo policialesco induz a pensar que namorar é crime ou escândalo, pelo menos em relação a certos casais. Outros jornais repercutiram a notícia também por esse viés. Alguns veículos da imprensa esportiva chegaram a debater se a enésima retomada do relacionamento entre os dois famosos vai influenciar no desempenho do craque, afetando as perspectivas da seleção brasileira na Copa do Mundo. É uma discussão inócua, mas, já que se está nela, será que não poderia afetar também “para melhor”? Cada país tem sua corte – não necessariamente a corte que merece – e a brasileira dispõe de Neymar, Anitta, Ivete Sangalo e a estrela do momento das telenovelas globais.

[caption id="attachment_114180" align="alignright" width="377"] Fogos do réveillon em Copacabana, vistos de cima do Corcovado: “Jornal Nacional” opta por edição “festiva”[/caption]
A virada do ano é notícia? Se é, de que forma? E com que nível de importância dentro de uma edição? No dia 1º de janeiro, o principal telejornal do País usou seu nobre horário para destacar as festividades pelo Brasil inteiro – por ordem de importância, Rio de Janeiro (Copacabana), São Paulo (Avenida Paulista) e o resto depois – e por todo o mundo – Nova York, Tóquio, Paris, Londres. De 42 minutos, apenas 18 foram utilizados com algo além de depoimentos sobre o ano que passou, projetos para o que acaba de começar, fogos, música, gritos e multidões concentradas.
Não que não seja importante registrar aquilo que se tornou um ritual. Se para o correr do tempo da natureza nada mudará com a completude de mais um giro de um planeta em torno de uma estrela, no imaginário das pessoas o “ano novo” é o nascimento de novas possibilidades, de refazer a vida, mudar hábitos – tudo aquilo que, na maioria dos casos, dura duas semanas, porque não há nada mais complicado a um ser vivente do que mudar sua rotina.
Talvez fosse o caso de preencher o tempo com amenidades por conta da carência de fatos relevantes ocorridos no primeiro dia de janeiro. Mas não foi o caso. O ano começou com o líder da Coreia do Norte, Kim Yong-un, dizendo que tinha um botão nuclear ao alcance das mãos, em sua mesa, insinuando que poderia atacar os Estados Unidos quando assim quisesse; no Amazonas, um ex-governador – José Melo (Pros) – teve de passar o réveillon na cadeia; houve um tiroteio na Favela da Rocinha nas primeiras horas do dia; e, à tarde, ocorreu o massacre na penitenciária de Aparecida de Goiânia.
Tudo isso foi noticiado pelo telejornal? Sim, mas com muito menos profundidade do que os temas mereceriam. Em tempos de grande interação, o jornalismo declaratório (como sempre se caracterizou o do JN quando não há interesses da empresa envolvidos) já é em si algo pobre; com pouco espaço, se torna nulo. Em suma: grande parte do “Jornal Nacional”, em termos de conteúdo, serviria bem melhor aos programas matinais da TV Globo. A primeira edição do ano se encaixaria perfeitamente na voz de Fernando Rocha e Mariana Ferrão no “Bem Estar”.
Para quem gosta de telejornal em emissora aberta, o melhor é esperar um pouco mais tarde e mudar de canal para ter ganho de qualidade: o “Jornal da Cultura”, da TV Cultura, que começa às 21h15, tem bons comentaristas para discutir os principais temas.
Em momentos de crise, é preciso pensar fora da caixa – até em relação ao sistema prisional.
Com a crise no Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia, na semana passada, voltou ao centro do debate na imprensa local o tamanho da influência das facções do crime organizado no Estado. Até que ponto o Primeiro Comando da Capital (PCC) ou o Comando Vermelho (CV) estariam “dando as cartas” nas ações que ocorrem tanto dentro como fora dos presídios goianos?
Em meio a toda a crise, o conteúdo dos diários goianos se mostrou apegado a encontrar pistas ou indícios de que esses grupos estariam por trás dos fatos ocorridos, que levaram à morte pelo menos nove detentos e podem ter causado também a morte de dois agentes penitenciários.
É importante saber com que grau está a “contaminação” do sistema pela ação dessas organizações? Talvez, mas, muito mais urgente é buscar quem possa apresentar soluções para o drama que só piora. Um jornalismo mais apurado procuraria a abordagem do tema por acadêmicos e pesquisadores em geral: será que não há nada sendo produzido cientificamente, no Brasil ou no exterior, que possa representar uma solução ou ao menos um paliativo para o quadro caótico? A imprensa deve ter também o papel de abrir o leque e trazer novas perspectivas para a discussão.
Não importa quando você ler este texto: acesse qualquer grande portal da imprensa na internet, abra o jornal preferido, ligue a TV no horário nobre ou ligue o rádio do carro naquela emissora que só “toca” notícia. A impressão que você vai ter é de que o Brasil entrou em parafuso. O título deste texto pode dar a ideia de que há uma busca de um jornalismo “Pollyanna”, de fazer o “jogo do contente”. Existe uma crítica sobre o jornalismo, segundo a qual a profissão sobrevive de más notícias. Talvez isso seja o filão de programas policiais, mas um jornalismo que deveria ir além disso.
Um grande portal nacional da imprensa esportiva pegou uma notícia de um renomado diário espanhol sobre Philippe Coutinho, o craque brasileiro do Liverpool, e a editou em português, mas sem citar a fonte. Mais grave ainda: a tradução ficou muito semelhante à publicada em um perfil no Facebook. Plágio e ausência de créditos são práticas infelizmente corriqueiras na internet, mas não se espera que ocorram tendo, como protagonistas, empresas gigantes da comunicação.

[caption id="attachment_114174" align="alignright" width="640"] Reprodução[/caption]
O ex-diretor-executivo da Central Globo de Esportes, Marco Mora, de 71 anos, morreu na quarta-feira, 4. Mora tinha 71 anos e estava internado no Hospital Albert Einstein, na capital paulista. Ele esteve na TV Globo de 1972 a 2015, quando se aposentou – antes da emissora, havia trabalhado na TV Tupi, desde 1965. Foi editor de novelas, diretor do “Esporte Espetacular”, diretor de eventos e, finalmente, diretor-executivo da Central Globo de Esportes. A causa da morte foi fibrose pulmonar, gerando insuficiência respiratória e falência múltipla de órgãos.

Não foi ela quem invadiu a cidade; foi a cidade que se expandiu para o mundo dela

Audiências públicas realizadas pela Prefeitura de Goiânia têm servido mais para legitimar a tramitação do projeto do que para o conhecimento dele

Em 2018, pode haver uma virada à esquerda ou uma guinada para a direita. Para quem não sabe aonde vai, qualquer caminho serve
[caption id="attachment_112015" align="alignleft" width="620"] Foto: Montagem/ Jornal Opção[/caption]
— Por favor, o senhor poderia me dizer por qual caminho eu devo seguir para sair daqui?
— Claro, mas depende de aonde você quer ir.
— Isso não importa muito, tanto faz!
— Então tanto faz qualquer caminho que você vai tomar.
O texto é uma tradução livre de um dos trechos mais conhecidos de “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carroll. É o momento em que a garota, perdida, encontra um gato misterioso e lhe pede orientação.
Corta para a vida real.
Fim de tarde. Na avenida do caminho de casa, depois de sair do serviço, vê-se um pequeno aglomerado de pessoas. É uma espécie de manifestação no semáforo e, nela, a faixa que estraga o happy hour: “BUZINE se você é a favor da INTERVENÇÃO MILITAR”. É uma meia dúzia de gatos pingados, mas são meia dúzia de gatos pingados. Talvez tenham encontrado o outro felino, o Gato Risonho da história de Alice, e tenham decidido o caminho do “tanto faz”. Tanto faz, democracia ou ditadura.
Já em casa, o lanche rápido ao assistir ao telejornal local vai embrulhar o estômago: um menino de 14 anos mata o colega na escola com uma pistola automática. Disparou várias vezes, feriu outros adolescentes. Por quê? Porque ficou com raiva de o considerarem malcheiroso e decidiu se vingar. No intervalo comercial, uma propaganda política mostra um vídeo de um comerciante matando um assaltante e, a seguir, uma deputada defendendo a liberação geral da venda de armas para a população. Coincidência burlesca, ou seguimos o coelho e entramos no buraco com Alice caindo dentro de um episódio dos Simpsons ?
Acaba o noticiário e vem a novela das sete, que parece trazer um clima mais real à atmosfera. Mesmo que dentro do padrão Globo de qualidade, parece ser a arte agora a imitar a vida, de modo que se instaure um pouco de sanidade paradoxal – "apenas" as cenas de brigas, traições e pastelões de sempre. Dura pouco. O Jornal Nacional e sua assepsia trazem notícias da realidade paralela. Estrelando: Michel Temer e a reforma da Previdência. O presidente conta os votos para aprovar e o Mercado fica à espreita para ver como está tudo. É preciso atestar a segurança na votação, se todos os parlamentares estão sendo devidamente “convencidos”. A naturalidade com que a repórter fala das negociações para angariar votos deixa dúvidas sobre a necessidade das aspas na palavra do período anterior. Ninguém de nenhum dos lados da tela da TV parece se comover com o claro cenário de toma lá dá cá entre os poderes Executivo e Legislativo. Nos condomínios ao redor, é hora do jantar e as panelas agora só servem às refeições. Tudo normal.
No bloco seguinte, a bomba é de gás: empresas petrolíferas ganharam dos deputados uma isenção fiscal que pode chegar a R$ 1 trilhão em 22 anos. A proposta original era de o benefício durar “só” até 2022, mas um deles teve a ideia de ampliar o prazo até 2040. Mais ou menos a diferença que muitos trabalhadores terão de acréscimo para ter direito à aposentadoria integral pela reforma. É um privilégio ter falta de noção à mão como inspiração ao realismo fantástico, mas tanto assim chega a tirar a graça da ficção, diria Gabriel García Márquez.
O esgoto que sai da tela esgota a resiliência. Não dá para querer lucidez nas redes sociais, mas melhor acessar a loucura idiossincrática da internet, onde o bizarro é ser normal. Pelo menos lá ninguém está desavisado de que, se publicar uma pesquisa revelando que a meia dúzia dos sujeitos mais ricos do País acumula o mesmo montante dos 100 milhões mais pobres, alguém pode questionar a falta do Lulinha na turma. E dá-lhe fora Dilma, fora Lula, fora PT.
Enquanto passa a raiva pelo contrassenso de uma burrice conveniente à fuga do cerne da questão, chega um amigo para conversar "inbox". Não dá tempo de cumprimentar antes de ele enviar o link da mais nova atração do portal de um importante jornal: o Monitor da Doutrinação. É uma espécie de disque-denúncia virtual para oferecer um novo serviço: o Monitor “recebe, verifica e reúne casos de doutrinação ideológica e política nas escolas e universidades do país”, diz o texto, sem meias palavras. Esqueça de que “doutrinação ideológica” é uma expressão vaga, além de redundante, e resigne-se com a norma não escrita de que a internet por natureza aninha o grotesco. Mas é que o veículo em questão é o mais lido de seu Estado. Talvez seja a tal “pós-verdade” oficializada como jornalismo.
O Brasil sempre suscitou sobre si olhares de quem gosta de ver o exótico. Basta dizer que a primeira imagem popularizada pelo mundo sobre o que é "ser brasileiro" foi a de uma mulher bonita e jovem com um chapéu cheio de frutas na cabeça. Ah, e ela era portuguesa – Carmen Miranda certamente não ficaria deslocada se tivesse tido uma participação especial no livro de Carroll.
Não deve haver outro lugar onde tenham inventado micaretas coreografadas para exigir a saída de uma governante e o fim da roubalheira, puxando um cortejo de patriotas de ocasião, vestidos com a camisa de uma entidade cujo presidente será preso por corrupção se sair do País. E, no meio daquela turba, políticos com extensa ficha corrida para chancelar o evento.
Não deve haver outra Nação em que um presidente biônico chega ao poder guindado pela oposição, tem a menor aprovação da história, compra apoio para não ser levado ao tribunal acusado de corrupção e, ainda assim, se acha no direito de fazer mudanças estruturais para toda a população. Afinal, o que é falta de popularidade e de legitimidade diante de cargos, de verba para emendas e do humor do Mercado?
O Brasil é a Alice diante do gato. Quer sair de onde está, mas não sabe para onde vai. A população, anestesiada, balança a cabeça, dá de ombros, resignada. Não mais reage. Tanto faz. Em 2018, pode virar à esquerda, pode dar uma guinada para a direita. De um lado, um Chapeleiro; do outro, a Lebre de Março. “Ambos são loucos”, avisa o Gato. Não importa. Porque, para quem não sabe para onde ir, qualquer caminho serve. Até o descaminho.

A mesma população que acredita que “bandido bom é bandido morto” tem medo de ser vítima da PM. Como explicar isso?

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Idealizada pelo senador goiano Wilder Morais, a mudança é elogiada por dirigentes e pesquisadores de universidades. Reitor alerta que o poder público não pode transferir sua responsabilidade