Por Editor

A simplicidade e facilidade que emana da sua obra se deve a um trabalho em filigrana, os pormenores estão trabalhados até à exaustão e a aparente banalidade temática, no fundo, esconde uma grande profundidade estética e humana
[caption id="attachment_95278" align="aligncenter" width="620"] "Moça com brinco de pérola", um dos mais famosos quadros de Johannes Vermeer
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Frank Wan
Especial para o Jornal Opção
Dizia-se que a Holanda se banhava numa alegre e feliz mediocridade, os pregadores protestantes, sempre virulentos contra a posse de bens, iam ajudando a desnudar as casas e os lugares públicos. O protestantismo bom: o iconoclasta, o anti-arte, anti-imagem. Dizia-se ainda que os holandeses viviam franciscanamente despojados.
De alguma forma, os artistas estragam sempre alguma alegre festa burguesa: os pintores mostraram que essa imagem que se tinha dos holandeses é falsa. As igrejas foram vítimas de iconoclastia, mas as casas particulares, os pintores holandeses deixaram esse testemunho para a posteridade, mantinham uma cornucópia visual. A explosão de cor, que antes ficavam apenas nos domínios da corte e do clero, tinha-se transferido para as habitações.
A pintura de temática religiosa vai-se transferir paulatinamente para as “cenas do quotidiano”, uma espécie de reality show avant la lettre, em que os retratados são as pessoas comuns e as cenas de gestão normal da vida corrente se tornam o foco do olhar dos pintores.
Porque gostamos tanto dos “pintores holandeses”? As respostas a esta pergunta são diversas e são dadas de diferentes perspectivas.
Às grandes cenas abertas de conjunto da pintura anterior, os holandeses respondem com um foco nos detalhes em detalhe. O zoom do detalhe confere maior proximidade, humanidade e identificação pessoal ao espetador. A pintura holandesa é humana, graciosa, leve, aparentemente simples e, quase, conseguimos ver a nós mesmos nas cenas retratadas. Temos uma experiência estético-solidária: repare-se que é irresistível ver um quadro desses e não nos imaginarmos vivendo naquela época, com aqueles trajes, naquele local e sentimos ainda que, se isso acontecesse, seríamos felizes – como na audição de grande parte de Mozart, sentimos sempre abrir-se uma bolsa de serenidade dentro de nós logo nos primeiros compassos. Esta experiência está bem retratada na aparente boutade de Woody Allen “quando ouço Wagner, me dá vontade de invadir a Polônia”.
Os objetos do quotidiano levam-nos de volta à natureza, mãe de todas as coisas.
Johannes Vermeer (1632-1675) é acompanhado na sua época por Gerard Dou, Nicolas Maes, Jan Steen, Gerard Ter Borch, Gabriel Metsu, Pieter De Hooch.
A estranha sensação de suspensão do tempo em Vermeer vem dada pela visão tríptica: troca de olhares, circulação do ar e fluidez da luz. O pintor fixa a pintura num ponto e, com isso, educa-nos o olhar: vemos tudo “a partir” de um ponto.
[caption id="attachment_95282" align="alignleft" width="300"] "Mulher de azul lendo uma carta"[/caption]
Note-se que temos sempre a sensação de estar a ouvir uma conversa sem dela ser participantes: Vermeer transforma-nos em “voyeurs”. Os retratados são graves e “vaporosos” e nós sentimos apenas a vibração que exala destes dois extremos. Parece que surpreendemos pessoas comuns num momento inopinado e passamos a saber um segredo grave sobre a vida delas, como em tudo na vida, um fato privado posto a público é sempre, de alguma forma, comprometedor. A vida dos retratados fica “comprometida” pela captura do nosso olhar: o que pesa de tão importante a mulher da balança? O que diz a carta que a jovem vestida de azul lê? Porque bebe vinho, àquela hora, aquele casal?
Eis a magia de Vermeer: capta um momento e, simultaneamente, todo o ritmo da vida pessoal. Entre duas capturas estéticas torna-nos participantes da cena, cúmplices, invasores mesmo.
Sobre a vida pessoal de Vermeer, para além de dados administrativos, mais nada se sabe. Quando tentamos interrogar a sua obra, Vermeer responde-nos pintando o silêncio. Um silêncio em filigrana, leve como o algodão e suave como uma música de câmara.
Hegel, referindo-se aos pintores holandeses da época, afirma que estes pintaram aquilo que era totalmente idiossincrático de cada objeto e situação, “o grau de verdade e de perfeição” é inultrapassável. Para o filósofo alemão, os objetos abandonam-se despreocupadamente o que permite captar o momento ideal. É, na sua belíssima expressão, “o Domingo da vida que tudo iguala e que afasta toda a ideia de mal”.
Schopenhauer destaca a captura do tempo. A dita “captura”, segundo Schopenhauer, dá-se através de uma “redução” do tempo que corre a um único momento. Ao surpreender esse momento, os holandeses dão-nos acesso, por indução, a todo o tempo. Uma vez que, para Schopenhauer, o tempo “em movimento”, passe o pleonasmo, não é capturável.
O ato de escrever uma carta, e esta em si, depende totalmente da intenção e conteúdo e varia diretamente com o momento em que aquele que a escreve, bem como o seu destinatário, vivem, basta “deslocar” ligeiramente o tempo para que um texto mude de sentido. Numa época em que a troca de informação é substancialmente mais lenta, qualquer carta desencadeia um quadro de sensações que perdurarão no tempo – Vermeer procura espargir o ar circundante com as sensações que decorrem da leitura. É todo esse conjunto que Vermeer procura captar. Tenho sempre a sensação que os leitores de Vermeer não leem cartas, mas releem cartas: aquele ar concentrado de quem procura reverificar se o que leu é o que está a pensar.
Élie Faure, na sua histórica “História da Arte”, chama a Vermeer o pintor holandês que tem todas as qualidades médias de todos os outros. Mais que Rembrandt, é bem possível que Vermeer seja a tal “média perfeita” por diversos motivos, alguns óbvios, que não cabem neste espaço. Faure afirma brilhantemente que Vermeer “não tem imaginação”, limita-se a aceitar a vida totalmente como ela é, despoja-se de tudo o que se interpõe entre ele e o objeto e rende-se-lhe, limitando-se a trazê-lo aos nossos olhos. Para Faure, Rembrandt e Vermeer são dois polos da estética da época. Defenderemos, noutro trabalho de caráter diferente do presente, a escandalosa tese de que Rembrandt “não é holandês”.
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Fluidez da luz observável no quadro "Oficial e moça sorridente"[/caption]
Não posso deixar de mencionar a tese famosa e profunda de Théophile Thoré, segundo a qual, Vermeer não pinta objetos, pinta a luz que passa, isto é, pinta quase sempre a luz dos fins de dia e é por isso que uma estranha “sensação de tempo” exala dos quadros. Todos os quadros são um dia e a eternidade é a soma dos dias finitos e respectivos momentos de luz.
Remeto os leitores para outro artigo meu mais técnico onde procuro dar conta da listagem dos quadros “autênticos” de Vermeer. Para não maçar os leitores aqui, direi apenas que é consensual que existem trinta e quatro quadros “autênticos” de Vermeer, apenas vinte e três estão assinados e três perfeitamente datados. Tudo o que sobra é discutível.
Pode-se dizer que Vermeer é um dos maiores mistérios da história da pintura: há poucos pintores sobre os quais se saiba tão pouco.
Todo o escritor tem sempre uma concepção/visão do que é a Literatura e a sua obra é o resultado dessa visão: ou se inscreve numa dada linha e a sua obra respira a sua escola, ou é um pioneiro que procura desbravar na Literatura um novo caminho ainda não percorrido – mutatis mutandis, passa-se o mesmo com os pintores. A pintura, no entanto, é muito mais limitadora: tem um caráter mais artesanal, o trabalho e aprendizagem são feitos em coletivo e, muitas vezes, a própria produção é coletiva ou em ambiente coletivo. Espantosamente, não se sabe quem foi o mestre de Vermeer e nem se consegue perceber qual é a sua concepção de pintura. Esse é, talvez, um dos grandes segredos de Vermeer: não tem qualquer concepção do que é a pintura e limita-se a captar momentos com técnicas “normais” para a sua época.
Vermeer não tem mestre, não tem discípulos, não mantêm um diário como Delacroix, nem escreveu cartas como Van Gogh e nem sequer pintou um autorretrato. A ideia que o personagem da esquerda do “De Koppelaster” (Gemäldegulerie Alte Meister, Dresde, Alemanha), traduzido normalmente como “L'entremeteuse” e “The procuress”, é um autorretrato é muito frágil para os especialistas, mas muito agradável ao grande público. Em grande parte, a ideia fez escola com as publicações de André Malraux. Não só não é um autorretrato, como, provavelmente, nem o quadro é de Vermeer. A gigantesca maioria dos especialistas recusa a autenticidade do quadro liminarmente, a ser autêntico, como afirma, por exemplo, Pieter Svillens, seria mais um estudo-ensaio-tentativa do que “uma obra”, mas como em tudo, e sem entrar em detalhes técnicos, há, no outro extremo, nomes como o de Eduard Trautscholdt que afirmam que não só é autêntico, como é mesmo o início do verdadeiro e mais pujante Vermeer.
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Outro dos quadros mais famosos de Vermeer, "Moça com chapéu vermelho"[/caption]
Vermeer cai praticamente no esquecimento e vai ter de esperar pelos seus dois salvadores: Téophile Thoré e Marcel Proust. Até ao início do século XIX, público e diktat acadêmico, faziam prevalecer as cenas grandiosas, cenas históricas e a arte de temática religiosa.
Vermeer reaparece pela mão de Etienne-Joseph-Théophile Thoré, conhecido como William Bürger, num artigo da famosa revista “Gazette des beaux-arts”.
Teóphile Thoré era advogado e crítico de arte, fundou o “La vrai République” (A verdadeira república) que foi imediatamente interditado pelo governo do general Cavaignac. Fruto de sangrentas perseguições, Téophile Thoré refugiou-se em Bruxelas e é aí que toma o pseudónimo de William Bürger. Só reentra em França em 1859.
Théophile Thoré desde o início da carreira de crítico de arte tinha sempre defendido o “realismo” em pintura, as suas grandes referências eram Jean-François Millet e Gustave Courbet. Em 1866, numa série de três artigos brilhantes publicados na “Gazette des beaux-arts” dá conta de (re)descobreta de Vermeer. Thoré tinha visitado La Haye em 1842 e, através de um catálogo ocasional, vê o totalmente desconhecido nome de Vermeer. O quadro que está em exposição é o “Gezicht op Delft” (Vista de Delt). Em coleções particulares Thoré tem a oportunidade de ver o agora famoso “a leiteira”.
Thoré dedica grande parte da sua vida à procura de obras de Vermeer. Na época, muitas obras se confundiam com as obras de Pieter de Hooch e Théophile Thoré tenta separar as águas. Thoré atribui setenta obras a Vermeer, mas as técnicas científicas desenvolvidas posteriormente e as técnicas de análise contemporâneas extremamente sofisticadas fazem esse número cair para uma lista de quarenta obras. É a Thoré que se deve a descoberta de quase dois terços das obras de Vermeer. Pode-se dizer que o mundo deve Vermeer ao extraordinário Théophile Thoré.
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Marcel Proust, um dos "salvadores" de Vermeer[/caption]
O outro “salvador” de Vermeer é Marcel Proust. Vermeer não é apenas uma referência estética para Marcel Proust, Vermeer está no centro de toda a concepção Proustiana de arte e do que é um escritor, chegando mesmo Proust a lançar a boutade, através de Bergotte, “escrever como Vermeer”. Não me alongo aqui sobre o assunto e remeto o leitor interessado neste eixo Vermeer-Proust para o meu ensaio no nº 2 da revista Scripsi “Proust e Vermeer”. A fama de Vermeer pelo mundo é também devida, em grande parte, à posição maior que ocupa a La Recherche du Temps Perdu [Em Busca do Tempo Perdido] na literatura universal. Relembro que um dos personagens principais, Swann, é, na obra, um especialista em pintura e que, durante a acção, escreve um trabalho sobre Vermeer. A presença de Vermeer é total se nos lembrarmos que Bergotte, a grande referência de Marcel, personagem da Recherche, morre contemplando a “Vista de Delft”.
Se é verdade que, na literatura, a facilidade de leitura é proporcional ao trabalho do autor, em Vermeer também se pode dizer que a simplicidade e facilidade que emanava da sua obra se deve a um trabalho em filigrana, os pormenores estão trabalhados até à exaustão e a aparente banalidade temática, no fundo, esconde uma grande profundidade estética e humana.
Frank Wan vive em Portugal. É ensaísta, poeta, tradutor e professor

Prefeito Jânio Darrot (PSDB) acompanhou o sorteio dos endereços. Cadeirante aposentada foi a primeira sorteada

A última série da parceria Marvel-Netflix foi, na verdade, um grande desperdício de tempo e dinheiro
[caption id="attachment_93725" align="alignleft" width="620"] Finn Jones não consegue mostrar a personagem, que é mestre em kung-fu[/caption]
Ana Amélia Ribeiro
Especial para o Jornal Opção
“Punho de Ferro” é ruim, não há outra definição. É até difícil de acreditar que uma série feita pela Netflix em parceria com a Marvel consiga ser tão ruim quanto essa foi. Um dos motivos dessa crítica ter demorado a sair é esta: não consegui aceitar que “Punho de Ferro” fosse tão ruim quanto foi, assisti a série quatro vezes para que em algum momento eu percebesse um detalhe que desse sentido a todas aquelas cenas intermináveis de reunião, e que me empolgasse de verdade com as lutas, mas foi difícil encontrar esses momentos. O pior de tudo é que “Punho de Ferro” é a série que deveria fechar o ciclo dos heróis da Marvel na Netflix, antes de estrear “Os Defensores”, mas a saga de Danny Rand foi um grande balde de água fria.
Imagina um personagem que nos quadrinhos foi inspirado em grandes nomes das artes marciais dos anos 1960, que tem uma pegada no misticismo. Você conseguiu enxergar essas referências na série? Se sim, meus sinceros parabéns. Mas se você, como eu, não conseguiu enxergar no Finn Jones um lutador de Kung-Fu, #tamojunto.
O interprete de Danny Rand precisa de um dublê de luta, por isso é necessário que ele use o uniforme. A primeira cena em que ele luta é lamentável – “Mortal Kombat 2: A Aniquilação” têm cenas de brigas melhores; fica claro que Finn nem encosta nos seguranças. “Punho de Ferro” é uma série em que o personagem principal estudou artes marciais por 15 anos, mas que tem cenas de lutas mal coreografadas. É claro que não dá para cobrar a postura de um lutador de Kung-Fu de um ator, então bastava colocar um dublê; seria menos vergonhoso.
Outra coisa que deve ser dita: que roteiro difícil de digerir. São tantos flashbacks, que pode ser facilmente confundido com Arrow – série da DC produzida pelo canal de TV norte-americano CW –, que começou indo bem, mas no meio do caminho perdeu o rumo. Claro, colocar 15 anos de treinamento em 13 episódios ficaria pesado, mas não são necessários tantos flashbacks. O roteiro deixa a desejar várias vezes, pois te faz sentir preguiça na construção da história. Quando o enredo entrava em um beco sem saída, o clichê aparecia.
A trama não fica presa só em Danny. Eles focam pouco no protagonista e, às vezes, dão destaque maior a outros personagens, como os irmãos Joy (Jessica Stroup) e Ward Meachum (Tom Pelphrey), ou Colleen Wing (Jessica Henwick) e Claire “Nick Fury” Temple (Rosario Dawson). Isso rende enfadonhas cenas dentro da Rand Enterprises, que não são interessantes para quem está assistindo – fora as horas mostrando Danny tentando provar que é ele mesmo, que ele realmente ficou desaparecido numa cidade chamada K’un-Lun, que só se manifesta na Terra a cada 15 anos, e que ele só conseguiu sair de lá porque lutou contra um dragão e recebeu o título de uma entidade chamada Punho de Ferro. Repetem isso em três episódios seguidos tornando difícil continuar vendo aquela série cheia de becos (aparentemente) sem saída.
Aí vem a brilhante cena de Joy com o pacote de M&Ms: quem precisa de exame de DNA não é mesmo? Sem contar que, nessa sequência, ela chora sem lágrimas e a cara que Collen Wing faz é minha feição em todos os episódios da série. A trama não flui, não convence. São vários os momentos em que as personagens ficam presos em situações absurdas sem dar conclusão alguma às ações anteriores – criaram, em “Punho de Ferro”, uma narrativa truncada que parece uma montanha russa cheia de altos e baixos ao longo de uma única temporada. Dá a impressão de que a série só enche linguiça por ter que preencher o catálogo com treze episódios.
Quando a narrativa da série consegue vencer a barreira do clichê, conseguimos ver o desenvolvimento de todos as personagens centrais, exceto o protagonista. Collen Wing tem boas cenas de luta, e uma história bem clichê; Claire Temple segura a onda bem, apesar do roteiro ruim; Joy e Ward é que demonstram maior transformação ao longo da série. Apesar de Jessica Henwick ser uma atriz pouco expressiva e convincente, no final da série ela até engana bem.
Quem é Danny Rand nisso tudo? Ele é o personagem que sofreu um acidente de avião nos Himalaias e perdeu os pais na tragédia; que foi resgatado por monges e treinou para se tornar o Punho de Ferro. Trata-se de um ser humano cheio de falhas, mas que acredita que todas as pessoas são boas, com uma ingenuidade exagerada a ponto de confiar cegamente em tudo que as pessoas dizem a ele. Ele não tem objetivo, é confuso e leviano, quer vingança, mas não sabe de quem quer se vingar. A série não é coesa, a construção do Punho de Ferro é desconexa e confusa – não dá para saber quem é vilão e quem é mocinho. Tudo isso atrapalha o avanço da história, que fica presa na mesmice com tanta coisa para ser resolvida. É uma série de arte marcial, que não tem arte marcial. Se eu quisesse ficar assistindo reuniões, assistiria “The Office” e “Parks and Recreation” – pelo menos elas têm cenas de reuniões divertidas e interessantes.
O que quero dizer é que “Punho de Ferro” não é uma série terrível, mas também não é empolgante. “Punho de Ferro” é a definição de “ok”: fez um pouco do que havia se proposto a fazer, que é introduzir a personagem dentro do Universo Marvel da Netflix. Só. Mas, o hype que “Punho de Ferro” levou, o trailer de “Os Defensores” nos trouxe de volta. Dia 18 de agosto o “trem do hype” estaciona na estreia da série que reúne o time Demolidor, Jéssica Jones, Luke Cage e Punho de Ferro. Agora só nos resta esperar, pois Finn Jones, durante sua passagem na Comic Con Experience Nordeste, disse que Danny Rand se tornará o lutador místico completo que Punho de Ferro deveria ser apenas no final de “Os Defensores”. Isso se ele conseguir fazer em oito episódios a proeza que não conseguiu em 13. A verdade é “Punho de Ferro” foi um grande desperdício de tempo e dinheiro.
Ana Amélia Ribeiro, jornalista, fã incondicional de quadrinhos, DCnauta, Marvete e muito apaixonada pela Turma da Mônica

Nascida no município, ela era líder dos agentes comunitários e foi presidente de entidade nacional. Lideranças políticas ressaltaram seu papel e legado

Sim, este é melhor que o primeiro e, talvez, o melhor filme da Marvel até o momento
Ana Amélia Ribeiro
Especial para o Jornal Opção
Preciso começar esse texto dizendo que, sim, “Guardiões da Galáxia Vol. 2” é melhor que o primeiro, quiçá melhor filme da Marvel. Além de ser um pouco repugnante e nojento (Calma, já explico). Em 2014, a Marvel iniciou sua segunda fase no Universo Cinematográfico (MCU) e “Guardiões da Galáxia” era um filme que não chamava muita atenção do grande público, porque mostrava, na época, uma espécie de “heróis B” dos quadrinhos.
Depois de sua estreia, o longa chamou a atenção do público por ser diferente. Com a direção de James Gunn, o filme conta a história de um grupo de “super-heróis” formado por: Senhor das Estrelas, Peter Quill (Chris Pratt), Groot, uma árvore humanóide (Vin Diesel), o guaxinim Rocket Racoon (Bradley Cooper), Gamora (Zoe Saldana), e Drax, o Destruidor (Dave Bautista). Juntos, eles lutaram para proteger um orbe que continha uma das Joias do Infinito contra o vilão Ronan, da raça kree, que é um servo de Thanos.
O filme seguiu à risca a fórmula de sucesso da Marvel no cinema, indo na contramão de tudo que foi produzido até então fora do MCU, e teve a quinta maior arrecadação dentre os filmes desse universo, ficando atrás apenas dos dois “Vingadores”, “Homem de Ferro 3” e “Guerra Civil”. Já em “Guardiões da Galáxia Vol. 2” não há Joias do Infinito, nem muitas referências ao MCU – é apenas um grupo de desajeitados aprendendo a trabalhar em equipe enquanto se solidificam e se constroem como família.
“Guardiões” é basicamente um drama familiar, com altas doses de ironias e humor, mas sem ser piegas, embora um pouco clichê. O filme mostra a construção de relacionamentos, desde o amoroso com o “lance não verbalizado” entre Peter e Gamora, passando pela amizade com Rocket e Yondu (Michael Rooker), e chegando ao duelo e rivalidade entre as irmãs Gamora e Nebula (Karen Gillan). E ainda há o mais pesado de todos os laços: o paternal entre Peter e Ego (Kurt Russel).
James Gunn é o diretor e roteirista que articula todas essas histórias de forma simultânea e de maneira surpreendente. O fato de usar o Planeta Vivo Ego como pai do Senhor das Estrelas, por exemplo, foi uma surpresa para todos que são leitores de quadrinhos. O motivo é simples: Ego é uma personagem recorrente do “Quarteto Fantástico” nas HQs, e o Quarteto não pertence ao MCU, visto que seus direitos são da FOX. Quando Gunn escreveu o roteiro de “Guardiões”, ele não sabia que o personagem que viria a ser interpretado por Kurt Russel não era do casting que ele tinha disponível das personagens, e isso já tinha acontecido no primeiro filme, quando ele quis usar a raça alienígena dos Badoons – que também tem origem no Quarteto Fantástico –, e acabou tendo de substituir a Irmandade pela raça Kree no filme. E como James Gunn conseguiu autorização para usar Ego? A resposta é: Deadpool.
Paul Wernick, o roteirista do filme do mercenário tagarela, revelou em uma entrevista que, enquanto escrevia a trama do longa, acabou modificando os poderes da personagem Negasonic Teenage Warhead (Brianna Hildebrand). Nas HQs, a moça tem poderes psíquicos e isso não se encaixava ao que Tim Miller, o diretor do filme, queria para a história. Então, eles pediram autorização da Marvel, que concedeu a mudança, mas (porém, contudo, entretanto, todavia) colocaram uma condição para entrar em acordo: ganhar um personagem em troca. Que personagem foi esse? Ego, o Planeta Vivo.
James Gunn poderia ter optado pelo caminho mais fácil, e ter utilizado o personagem J’son Spartax, que teve um conflito com Ronan nas HQs, e que atualmente nos quadrinhos é o pai de Peter, mas preferiu inovar. Quando se escreve um filme sobre HQs, o leque de histórias é extenso, pois os enredos vão se alterando com os novos arcos criados, e novas Terras que vão surgindo. E desde a origem de Peter muita coisa mudou: ele já foi filho de Ego, e atualmente é filho de J’son.
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James Gunn, diretor do filme[/caption]
Se James Gunn tivesse usado o Rei Spartax no filme, ele teria que trabalhar diretamente no MCU, e o diretor de “Guardiões” quis fazer um filme que fosse outsider do universo; mesmo citando Thanos algumas vezes, ele não queria trabalhar tantas personagens assim e, usando J’son no enredo da trama, ele teria que trabalhar com o Rei Titã. Não era essa a intenção.
De forma geral na história de “Guardiões”, chega um ponto em que há muitos personagens. James Gunn disse, em entrevista ao site “/Film”, achar que os irmãos Anthony e Joseph Russo, em “Guerra Civil”, lidaram muito bem com esse tipo de situação de muitos personagens em cena, mas reconheceu que em “Guardiões” os personagens eram menores, e que durante o longa cada um teria seu próprio arco, sua própria “coisa”. Pensando assim, ele então tirou alguns personagens da história mais ou menos na metade da fase de tratamento.
Foi esse o filme que chegou aos cinemas no dia 27 de abril, cheio de referências ao universo espacial da Marvel, com os galãs brucutus dos anos 80, Baby Groot sendo fofo, nostalgia de videogames e, claro, uma trilha sonora do caramba. Então, agora que você já sabe de tudo o que aconteceu para que esse filme chegasse até aos cinemas, vamos ao que realmente interessa.
A corrente, a família e elo chamado Yondu
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Easter eggs e cenas pós créditos

A grande virtude de Guardiões da Galáxia Vol.2
James Gunn trouxe às telas do cinema uma Space Opera de 2h17min, e fez tamanho esforço para parecer uma brincadeira, que você fica empolgado do início ao fim. As piadas, participações especiais, os fanservices sobre a cultura pop, easter eggs, cenas bastante coloridas de batalhas espaciais, trilha sonora sincronizada ao enredo do filme. O diretor e roteirista conseguiu trabalhar os dramas familiares durante a história do filme sem ficar chato, e isso é incrível. O longa consegue ser uma grande discussão de relacionamento e é divertido, apesar do que está sendo abordado ali ser considerado temas pesados por muitos. O pai ausente, competição entre irmãos, o filho rebelde e as incertezas de ser aceito como é em uma família recém-formada. E James Gunn consegue falar de tudo isso com bastante humor e sensibilidade, sem deixar a narrativa cansativa, e isso é um grande mérito dele. "Guardiões da Galáxia" é um filme repugnante e nojento, porém possui uma beleza interior bastante reflexiva - James Gunn dirigirá e escreverá o roteiro de "Guardiões da Galáxia Vol. 3", mas os nossos heróis espaciais ainda vão aparecer em "Vingadores – Guerra Infinita" no ano que vem e James Gunn é produtor-executivo do filme. Baby Groot é muito fofo, mas agora imagina como será o Teenage Groot, tendo Peter Quill como figura paterna. Que venha a Awesome Mix Vol. 3. Ana Amélia Ribeiro é jornalista, fã incondicional de quadrinhos, DCnauta, Marvete e muito apaixonada pela Turma da Mônica
Reformas da Previdência e Trabalhista são essenciais para destravar a economia do país. Mas, se os Estados não resolverem o problema da folha do funcionalismo, a crise vai permanecer

Líder do governo na Assembleia destaca a importância de a PEC dos Gastos não sofrer mais mudanças e diz que Caiado não trouxe nada de positivo para Goiás com seu mandato de senador

A pressa em compartilhar notícias duvidosas cria problemas, inclusive, no meio jurídico João Paulo Lopes Tito Especial para o Jornal Opção Nesta semana, alguns portais especializados em matérias jurídicas veicularam a notícia de que o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS) teria absolvido um traficante da acusação de porte ilegal de arma, sob a tese de que o criminoso necessitaria da arma para sua proteção pessoal e a de sua atividade ilícita. Obviamente, a notícia viralizou na rede, e as mesmas pessoas que geralmente bradam contra o "bolsa-cadeia" trataram de passar adiante, externando toda a sua descrença no futuro da nação. Afinal, porque o traficante pode portar arma para sua proteção pessoal, e o famigerado "cidadão de bem" não? Mas será que foi isso mesmo? A decisão existiu, mas a interpretação dada a ela passou longe de ser a correta. A ementa resultante do julgamento da Apelação Crime n. 70057362683/2013, pela 3a Câmara Criminal do TJ-RS, dispunha dos seguintes termos: "Porte ilegal de arma de fogo. O uso de arma de fogo é majorante específica do crime de tráfico de drogas, não podendo ser denunciado como conduta autônoma. Concurso material que prejudica o réu, na medida em que importa duas penas somadas, e não uma exasperada, podendo ainda embasar a manutenção da prisão preventiva e agravar o regime carcerário. Porte de arma destinado à proteção pessoal em razão do comércio de entorpecentes praticado e ao guarnecimento da atividade ilícita. Corolário lógico é absolvição por atipicidade." Fazendo-se a leitura cuidadosa da ementa, ou mesmo do inteiro teor do acórdão de julgamento, chega-se rapidamente à conclusão correta de que, nesse caso, o Tribunal gaúcho entendeu que não é possível aplicar duas penas em decorrência de um mesmo fato criminoso (bis in idem), e que no caso em tela é mais correto considerar que o porte ilegal da arma de fogo, apreendida no mesmo contexto fático relativo ao tráfico de drogas, deveria amoldar-se à majorante descrita no art. 40, IV, da Lei nº 11.343/2006, e não configurar delito autônomo, como constou da denúncia. Obviamente que o tráfico é mais grave. Ou seja, não houve desprezo ao porte ilegal de arma, como dizem os incautos. O fato só foi considerado como majorante da pena aplicada ao tráfico. A pressa na interpretação foi tamanha que deixou passar o verdadeiro aspecto merecedor de crítica à decisão. O inciso IV do art. 40 da Lei 11.343/2006 institui a majorante para a hipótese em que o crime foi praticado com violência, grave ameaça, emprego de arma de fogo, ou qualquer processo de intimidação difusa ou coletiva. O fato julgado não traria hipótese de emprego de arma, como diz a lei. Não houve sua utilização. Assim, o mero porte, como conduta autônoma, num primeiro momento, autorizaria a denúncia específica a esse crime. Leia aqui o acórdão na íntegra. João Paulo Lopes Tito é advogado na Tito S. Amaral Advogados

“Idioma de um só” reúne narrativas que subvertem a linguagem formal em favor de uma visão alucinante e sarcástica da realidade
[caption id="attachment_91578" align="alignleft" width="620"] Ricardo Koch Kroeff desconcerta o leitor inúmeras vezes durante as histórias de “Idioma de um só”, seu livro de estreia | Foto: Divulgação[/caption]
Sérgio Tavares
Especial para o Jornal Opção
O título do livro de estreia de Ricardo Koch Kroeff indica uma singularidade que traduz com perfeição o estilo operado pelo autor gaúcho. “Idioma de um só” é o que pode ser entendido convencionalmente como uma reunião de contos, embora não exista nada de convencional na engenharia dos textos.
Kroeff manipula a forma de modo a criar um tipo de moinho mágico através do qual as palavras constituem um painel de natureza pictórica, uma tela animada de intensidade surrealista. A descrição meticulosa se ocupa dos pequenos gestos, da ação que se desprende dos movimentos mínimos, transformando a relação entre seres e objetos num enlace que proporciona uma dupla caracterização. A consciência se transfere de um a outro, nesse espaço de puras excentricidades.
É o caso de “Ruxandra Dragomir”, narrativa que abre o livro. O palco aqui é a final do torneio de Roland Garros. Ruxandra, que entrou na disputa como número 127 do mundo, enfrenta a número dois, a russa Nadiezda Maleeva. Uma missão dificílima, porém o ânimo para a vitória está conectado ao desempenho de um plano secreto.
As tenistas, então, adentram a quadra de pó de tijolo laranja. Ao lado, está uma mesa de plástico branco, dessas com um furo no meio, descontente por estar ali. Ela insiste que nasceu para morar à beira da piscina, sendo suja pelos picolés das crianças, pelos almoços em família. Ruxandra é a primeira a sacar. Pega uma bolinha amarela peluda e a joga para cima. O nome da bolinha é Pômpi, e “(...) sobe quietinha e para no ar; fecha os olhinhos de cílios longos, contrai a face gordinha e espera”.
A narrativa vai ganhando elementos cartunescos sem se dispersar do ponto central, que é a execução da partida. Da mesma maneira, dois instantes se entrecruzam ao presente: o passado da tenista, na antiga Checoslováquia, e a presciência dos acontecimentos depois do último set. Kroeff concentra-se num ritmo ágil, multívago, que por vezes assemelha-se a um desalinho, mas que preserva um fecho nos limites desse recorte de tempo, ainda que esse fecho não signifique o fim.
Os contos são tipos de documentos abertos, cujo eixos dão corda a uma multiplicidade de sentidos. Em “Solidão da baleia”, o narrador vai sendo seduzido por uma mulher chamada Alice, que diariamente passa, por debaixo da porta de sua casa, uma carta em que descreve partes inusitadas de seu corpo, a exemplo da curva de seu tornozelo e da parte interna de sua coxa esquerda.
A sedução cria uma necessidade, cujo resultado é o lançamento para um estado meio de sonho, meio de devaneio. Outra vez, o autor subverte a linguagem formal, agora unindo palavras e fabricando neologismos. “É por medo do mundo pós-alíctico que meu primeiro olho abre e entro em mim para tentar ver o que Alice enxergará-garia. (…) Procuro no chão os filhos desses olhos de terceiros que nasceram do momento-Alice e esmago os momentolhinhos”.
O sexo é retratado (obviamente) com tonalidades vivas em “I'm sexier than a bitchwitch in thigh-high boots”. A narradora descreve, da forma mais lasciva, uma cena que envolve felação. “Van Gogh Dylan” constitui-se a partir de entreatos que acompanham o pintor holandês Vincent Van Gogh e o músico estadunidense Bob Dylan em circunstâncias mobilizadas pelo curso de uma criação artística. É o texto mais complexo, desconcertante; uma coisa de espelhamento, de câmbio de identidade, de transfusão, preparada numa cornucópia de imagens, sons, reproduções, de algo que não se sabe bem o que é.
Todos os diálogos são escritos em inglês (há, ainda no livro, passagens inteiras em francês e no idioma de uma tribo indígena). Um quê de absurdo que transparece o absurdo que tomou a vida comum de assalto.
O mundo de Kroeff se edifica como parte de uma visão alucinante, inventiva e sarcástica da realidade; uma técnica de operar a escrita que remete à literatura de nomes como David Foster Wallace e George Saunders.
A parte final do livro é reservada a duas autoras inéditas que, segundo o autor, são essenciais para o projeto inclusivo que o livro deseja ser. Christine Gryschek, uma jovem paulista, poeta, que “com 27 anos escreveu-leu-ouviu sobre loucura”; e Paola Santi Kremer, porto-alegrense que reside na Argentina, admiradora do portunhol selvagem. Seus contos, em formato e conteúdo, diferenciam-se entre si e de todo o conjunto anterior. Mas será que elas realmente existem?
Independente da resposta, o indefinido é uma maneira perfeita de terminar uma obra cuja força está no poder de desestabilizar o leitor.
Sérgio Tavares é jornalista e escritor
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Serviço:
“Idioma de um só”, 144 páginas Editora: Não Editora Preço: R$ 39,90Trecho do livro

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