“Punho de ferro” se esforça para ser ruim
06 maio 2017 às 16h58

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A última série da parceria Marvel-Netflix foi, na verdade, um grande desperdício de tempo e dinheiro

Ana Amélia Ribeiro
Especial para o Jornal Opção
“Punho de Ferro” é ruim, não há outra definição. É até difícil de acreditar que uma série feita pela Netflix em parceria com a Marvel consiga ser tão ruim quanto essa foi. Um dos motivos dessa crítica ter demorado a sair é esta: não consegui aceitar que “Punho de Ferro” fosse tão ruim quanto foi, assisti a série quatro vezes para que em algum momento eu percebesse um detalhe que desse sentido a todas aquelas cenas intermináveis de reunião, e que me empolgasse de verdade com as lutas, mas foi difícil encontrar esses momentos. O pior de tudo é que “Punho de Ferro” é a série que deveria fechar o ciclo dos heróis da Marvel na Netflix, antes de estrear “Os Defensores”, mas a saga de Danny Rand foi um grande balde de água fria.
Imagina um personagem que nos quadrinhos foi inspirado em grandes nomes das artes marciais dos anos 1960, que tem uma pegada no misticismo. Você conseguiu enxergar essas referências na série? Se sim, meus sinceros parabéns. Mas se você, como eu, não conseguiu enxergar no Finn Jones um lutador de Kung-Fu, #tamojunto.
O interprete de Danny Rand precisa de um dublê de luta, por isso é necessário que ele use o uniforme. A primeira cena em que ele luta é lamentável – “Mortal Kombat 2: A Aniquilação” têm cenas de brigas melhores; fica claro que Finn nem encosta nos seguranças. “Punho de Ferro” é uma série em que o personagem principal estudou artes marciais por 15 anos, mas que tem cenas de lutas mal coreografadas. É claro que não dá para cobrar a postura de um lutador de Kung-Fu de um ator, então bastava colocar um dublê; seria menos vergonhoso.
Outra coisa que deve ser dita: que roteiro difícil de digerir. São tantos flashbacks, que pode ser facilmente confundido com Arrow – série da DC produzida pelo canal de TV norte-americano CW –, que começou indo bem, mas no meio do caminho perdeu o rumo. Claro, colocar 15 anos de treinamento em 13 episódios ficaria pesado, mas não são necessários tantos flashbacks. O roteiro deixa a desejar várias vezes, pois te faz sentir preguiça na construção da história. Quando o enredo entrava em um beco sem saída, o clichê aparecia.
A trama não fica presa só em Danny. Eles focam pouco no protagonista e, às vezes, dão destaque maior a outros personagens, como os irmãos Joy (Jessica Stroup) e Ward Meachum (Tom Pelphrey), ou Colleen Wing (Jessica Henwick) e Claire “Nick Fury” Temple (Rosario Dawson). Isso rende enfadonhas cenas dentro da Rand Enterprises, que não são interessantes para quem está assistindo – fora as horas mostrando Danny tentando provar que é ele mesmo, que ele realmente ficou desaparecido numa cidade chamada K’un-Lun, que só se manifesta na Terra a cada 15 anos, e que ele só conseguiu sair de lá porque lutou contra um dragão e recebeu o título de uma entidade chamada Punho de Ferro. Repetem isso em três episódios seguidos tornando difícil continuar vendo aquela série cheia de becos (aparentemente) sem saída.
Aí vem a brilhante cena de Joy com o pacote de M&Ms: quem precisa de exame de DNA não é mesmo? Sem contar que, nessa sequência, ela chora sem lágrimas e a cara que Collen Wing faz é minha feição em todos os episódios da série. A trama não flui, não convence. São vários os momentos em que as personagens ficam presos em situações absurdas sem dar conclusão alguma às ações anteriores – criaram, em “Punho de Ferro”, uma narrativa truncada que parece uma montanha russa cheia de altos e baixos ao longo de uma única temporada. Dá a impressão de que a série só enche linguiça por ter que preencher o catálogo com treze episódios.
Quando a narrativa da série consegue vencer a barreira do clichê, conseguimos ver o desenvolvimento de todos as personagens centrais, exceto o protagonista. Collen Wing tem boas cenas de luta, e uma história bem clichê; Claire Temple segura a onda bem, apesar do roteiro ruim; Joy e Ward é que demonstram maior transformação ao longo da série. Apesar de Jessica Henwick ser uma atriz pouco expressiva e convincente, no final da série ela até engana bem.
Quem é Danny Rand nisso tudo? Ele é o personagem que sofreu um acidente de avião nos Himalaias e perdeu os pais na tragédia; que foi resgatado por monges e treinou para se tornar o Punho de Ferro. Trata-se de um ser humano cheio de falhas, mas que acredita que todas as pessoas são boas, com uma ingenuidade exagerada a ponto de confiar cegamente em tudo que as pessoas dizem a ele. Ele não tem objetivo, é confuso e leviano, quer vingança, mas não sabe de quem quer se vingar. A série não é coesa, a construção do Punho de Ferro é desconexa e confusa – não dá para saber quem é vilão e quem é mocinho. Tudo isso atrapalha o avanço da história, que fica presa na mesmice com tanta coisa para ser resolvida. É uma série de arte marcial, que não tem arte marcial. Se eu quisesse ficar assistindo reuniões, assistiria “The Office” e “Parks and Recreation” – pelo menos elas têm cenas de reuniões divertidas e interessantes.
O que quero dizer é que “Punho de Ferro” não é uma série terrível, mas também não é empolgante. “Punho de Ferro” é a definição de “ok”: fez um pouco do que havia se proposto a fazer, que é introduzir a personagem dentro do Universo Marvel da Netflix. Só. Mas, o hype que “Punho de Ferro” levou, o trailer de “Os Defensores” nos trouxe de volta. Dia 18 de agosto o “trem do hype” estaciona na estreia da série que reúne o time Demolidor, Jéssica Jones, Luke Cage e Punho de Ferro. Agora só nos resta esperar, pois Finn Jones, durante sua passagem na Comic Con Experience Nordeste, disse que Danny Rand se tornará o lutador místico completo que Punho de Ferro deveria ser apenas no final de “Os Defensores”. Isso se ele conseguir fazer em oito episódios a proeza que não conseguiu em 13. A verdade é “Punho de Ferro” foi um grande desperdício de tempo e dinheiro.
Ana Amélia Ribeiro, jornalista, fã incondicional de quadrinhos, DCnauta, Marvete e muito apaixonada pela Turma da Mônica