Por Editor

Eleitores não estão interessados em questões ideológicas e ataques políticos. Mas a oposição parece não perceber que deve dialogar com a sociedade e não apenas fazer a crítica do governo

Pesquisa constata que um governo isolado não “mexe” muito na questão da desigualdade. Qualidade da educação da maioria das pessoas que estão no mercado é resultado de políticas adotadas há várias décadas

Se Daniel Vilela for derrotado, o vilelismo tende a perder força no confronto com Iris. Com Maguito na disputa, seu filho pode tentar a reeleição

O prefeito de uma capital tem de integrar os municípios vizinhos, pois os problemas são comuns, e precisa ser criativo. Não deve apostar apenas em mais impostos para pagar a máquina

Os irmãos Batista ganharam bilhões, mas, no processo de enriquecimento, comportam-se como arrivistas. Falta grandeza aos chefões da J&F

Presidente da Agetop banca José Eliton como o vencedor da corrida eleitoral e desafia o senador a mostrar o que fez por Goiás. Para ele, o comandante do DEM começaria a campanha com pouca gente e terminaria sozinho

Articulação para a construção do empreendimento é repleta de irregularidades. Mesmo assim, o Ministério Público fez acordo com as construtoras e com a prefeitura, “liberando” a obra

Dirigentes oposicionistas “dormem” há 20 anos, fazem críticas equivocadas e pregam o ódio, o que sugere que estão em profunda desconexão com os eleitores

Político da estirpe dos estadistas, o governador de Goiás é um player nacional e contribuiu para que seu Estado não se tornasse um Rio Grande do Sul e um Rio de Janeiro

Duas pérolas negras que se foram nesta semana. Os amo, meus Ébanos!
[caption id="attachment_101647" align="alignleft" width="620"] Airton Veloso e Marcelo Brice[/caption]
Marcelo Brice
Especial para o Jornal Opção
Dois peregrinos sábios dos enganos se foram. Dois negros, lindos e maravilhosos nos deixam mais só na nossa pobreza. Eu resisti em escrever um texto em homenagem e despedida ao Professor Airton Veloso, e hoje quando acordo, outra pérola negra se foi. O lamento é inevitável. O luto não é só pela morte, é pelos descaminhos, pelos auspícios fugidios do nosso tempo. A morte é o inevitável, que ela chegue, que nos leve dignamente é o mínimo que se espera. O problema maior é o desamparo que se anuncia às voltas da gente.
Há uma alegria em ter compartilhado o mundo com eles. Professor Airton Veloso faz parte do mapa mental da minha memória ativa e é parte da vida de muitos. Todos nós temos professores em volta, principalmente em função da escola, mas a minha situação é mais grave: meu pai é professor, minha mãe, meu irmão, minha avó, minha tia, Takesi (vizinho falecido, grande professor de matemática, amigo, pai de outros grandes amigos, figura exemplar, mas pelo pavor à matemática eu só o chamava pelo nome, não de professor), o professor Airton e tantos outros professores por perto.
Aprendi a me dar com a lida da educação em casa, mas, como santo de casa não faz milagre, valorizamos muito o “nosso” quando olhamos pela janela. Minha janela dava na casa do Professor Airton. Essa janela foi ampla e canalizou uma infinidade de afetos e respeito. Eu nunca o chamei pelo nome, simplesmente. Ele era o “professor”.
Foi professor de História do meu pai, Reinado Assis Pantaleão, o Panta, ainda em 1967, no Colégio Pedro Gomes. Pensa nisso! E moramos do lado um do outro, nossas famílias, já por 25 anos. Professor Airton não pôde completar o curso de Direito na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em função da perseguição política no primeiro momento do regime militar, o que foi agravado pelo preconceito racial; mineiro de Monte Carmelo, aprendeu ali a mediação com a espiritualidade; era um espírita, como no geral eles o são, sem a febre da conversão, nunca fez propaganda disso. Foi viver em Goiânia e foi ser professor de História, onde meu pai teve a sorte de topá-lo no caminho. Sabia de seu papel, negro, espírita e de esquerda. Ensinou muitos sobre a trajetória irregular, peculiar e opressora da história. Na ditadura militar qualquer vacilo era risco de vida. Ele sabia disso, participou da resistência e, embrenhado com os alunos, soube não cair. E contava histórias e histórias sobre meu pai, as reuniões no Bairro Popular (hoje Fama), em que eles por pouco não foram pegos.
Esse cara foi professor de História da UFG, no antigo Colégio de Aplicação. Meu irmão foi aluno ali. Eu não o sabia em sala de aula, mas o tinha como “Professor”. Se interessava enormemente pela minha caminhada acadêmica. Me perguntava, contava histórias da época de seu mestrado, eu me sentia meio ridículo sendo doutor perto dele e de alguns outros. Somos famílias amigas. Nosso vizinho. Falávamos sobre as mudanças do Itatiaia. Me disse certa vez, num desses velórios da vida: “Marcelo, eu, Maria José, seu pai... só saímos do Itatiaia para cá”.
Me deu um estalo, nesse mesmo velório, quando meu pai falava algo público em homenagem ao morto: “Seu pai diz que é ateu, pode até ser, mas no fundo ele é religioso, olha o sagrado pra ele...”. Depois que minha mãe faleceu, ele sempre dizia sobre e para minha irmã: “Ê Cejana... é difícil ser um cristal em meio a esses homens toscos, né?”. A gente ria. Mas era uma lição. Toda temporada de manga ele nos abastecia com as frutinhas. Gostava de cachorros, não muito de gatos. Como toda família de classe média em bairro da periferia da cidade, os irmãos brigavam escandalosamente, quando jovens. Nós três de cá e os quatro deles; mas ninguém nunca interferiu ou deixou de ser doce e apoiador um com outro. Isso é outra lição. Tudo regado pelo humor. Relações também tecidas pelo futebol de golzinho no fim de tarde, na rua.
Professor Airton escreveu um livro sobre a história das linhagens da excêntrica e pacata Monte Carmelo (a foto é de quando ele me deu esse livro, lá em casa). Me comprometi a dar um exemplar a outro amigo da profundamente mineira Monte Carmelo. Ele me perguntava o que ele tinha achado, eu não sabia. Os dois espíritas que se comunicassem, eu pensava. Aposentado, varria a calçada. Isso era bom de ver e era um momento do dia que o encontro sempre rendia uma prosa.
Antes, já findada a relação com a sala de aula, concluiu o curso de Direito e foi trabalhar em Brasília como assessor jurídico. E me dizia: “Seu pai tem que pedir indenização do Estado, eu pedi, porque fui impedido de seguir meu caminho, ele foi mais ativo naquele momento e não pede”. E eu: “É, Professor, ele não se sente bem, porque têm muitos caras, diferentes de vocês, que se aproveitam disso e que, pior, hoje são rapinas do Estado em sua atividade de puxa-saquismo dos poderosos”. Ele discordava do não pedido. E sempre íntegro e coerente, doce, e muito bem-humorado.
Conversava semanalmente sobre política com meu pai e eu ouvia, palpitava. Uma vez, num almoço de domingo, impliquei com uma posição do meu pai, e ele, na mesa de casa, me repreendeu corretamente: “Marcelo, seu pai pode pensar como quiser. Não fique tentando consertar alguém mais velho”. Outra lição. Mas era só porque eu nunca os acho velhos. Eu os sinto próximos de mim, e eu, ainda, sou jovem.
Numa ocasião da adolescência, aconteceu algo fundamental. O Itatiaia sofria com alguns assaltantes – nessa época só queriam levar alguma coisinha das casas e assustar todo mundo, hoje o perigo é muito maior, porque não são vizinhos do bairro, mas gangues dispostas a matar. Enfim, numa noite de fim de semana, um ladrão de pequena monta tentou pular numa casa vazia, mas errou o alvo e foi visto por outras pessoas que estavam na área. Logo, toda a vizinhança estava atenta, as crianças ouriçadas, os meninos achando que era uma batalha e, antes do desenlace, o encaminhamento foi a lição mais forte em meu peito. Meu pai gritou forte para o vizinho: “Mestre Airton, você tá vendo o rapaz aí tentando pular o muro, tá em cima do telhado?”. Professor Airton responde, em alto som: “Tô vendo só uma parte da perna, Panta...”. Meu pai: “Tô armado, mas não vejo, atira que tá na sua mira...”. E então o Professor Airton: “Vou atirar!”. Era o mais puro “caô”. Isso fez com que o ladrão, desesperado, saísse da moita, pulasse rapidamente para outra área, já povoada, e fosse preso sem levar risco para a comunidade das Ruas 18 e 17 da “República do Itatiaia”. Depois disso, eu e seu filho mais novo, o Vinícius, adolescentes, nos “preparávamos” para ser “seguranças” da rua, quando os dois viajavam para ministrar aulas por aí. Nota importante para os desavisados: não havia armas e somos contra a liberação delas – a política de pacificação social passa por outras questões.
Essas lições e tantas outras lembranças me acompanharão. Os vínculos, o afeto, a relação prudente, de comunhão e respeito, nas diferenças e na ação me deixam o recado de alguma esperança. Precisamos nos encontrar pessoalmente, politicamente, na vivência, como encontramos o Professor Airton. Daí virá um mundo. Os bebês nascem, a vida se renova, mas estamos constantemente semeados, que seja por pessoas boas, que façam nossa saudade operar algo no presente, para o futuro. Esta semana, duas pérolas negras. Os amo, meus Ébanos!
Marcelo Brice é doutor em Sociologia pela UFG e professor da Universidade Federal do Tocantins (UFT).

Mais dois vídeos de Marcos Fayad no canal Indicador Cultural. Tem desde Tião Carreiro, Zequinha de Abreu, Carmem Miranda, Charlie Parker (tudo isso no primeiro vídeo, que trata de "Tico Tico no Fubá", o chorinho mais conhecido do mundo) até os contos de autores como João Ubaldo Ribeiro, Rubem Fonseca, Sérgio Santana e Luís Fernando Veríssimo (tema do segundo vídeo)! A não perder! Clique e assista! https://www.youtube.com/watch?v=tGOrV8zwuEU https://www.youtube.com/watch?v=KqdbiN34tNE

Muito longe de uma tentativa de se igualar à composição original, que esta versão seja entendida como uma simples homenagem à série
[caption id="attachment_101627" align="alignleft" width="620"] Brasão da Casa de Lannister, uma das famílias da série Game Of Thrones[/caption]
Pedro Mohallem
Especial para o Jornal Opção
THE RAINS OF CASTAMERE
And who are you, the proud lord said,
that I must bow so low?
Only a cat of a different coat,
that's all the truth I know.
In a coat of gold or a coat of red,
a lion still has claws,
And mine are long and sharp, my lord,
as long and sharp as yours.
And so he spoke, and so he spoke,
that lord of Castamere,
But now the rains weep o'er his hall,
with no one there to hear.
Yes now the rains weep o'er his hall,
and not a soul to hear.
Desde que vi o Serj Tankian cantando "The Rains of Castamere" no The Forum, peguei um interesse enorme à letra da canção. Eu sempre gostei da melodia, mas foi lendo a letra que percebi que George R. R. Martin a compôs na forma tradicional das baladas inglesas: quartetos de tetrâmetros e trímetros alternados, predominantemente iâmbicos (sílaba breve seguida de sílaba longa), mas eventualmente trocaicos (longa + breve) e anapésticos (duas breves + longa), e com rima nos versos pares.
Para o leitor menos íntimo da metrificação inglesa, digamos que os versos ímpares possuem oito sílabas poéticas, e os versos pares seis, e que essas sílabas se dividem em pares de breves (ou átonas) e longas (ou tônicas), soando em sequência mais ou menos nessa forma: tumTUM tumTUM tumTUM tumTUM, tumTUM tumTUM tumTUM (marcando bem a pausa depois do quarto tumTUM) A cada um desses “tumTUM” daremos o nome de pé. Logo, o que temos aí são versos de quatro pés (tetrâmetros) seguidos de versos de três pés (trímetros). Os pés métricos constituídos de uma sílaba breve seguida de uma sílaba longa são chamados de iambos. Tratam-se, portanto, de tetrâmetros e trímetros iâmbicos. A isso, acrescentem-se cá e lá algumas variações de ritmo, mas nada que altere bruscamente esse ritmo rascunhado acima. Vejamos como isso se faz explícito lendo as duas primeiras estrofes e grafando em negrito as sílabas fortes:
And who | are you, | the proud | lord said,
that I | must bow | so low?
Only | a cat | of a di | fferent coat,
that's all | the truth | I know.
In a coat | of gold | or a coat | of red,
a li | on still | has claws,
And mine | are long | and sharp, | my lord,
as long | and sharp | as yours.
Resolvi tentar traduzir a canção, mantendo a forma original na medida do possível. Por capricho, acabei rimando os versos 1 e 5, 3 e 7 (por acaso, os versos 1 e 5 também rimam no original).
Um desafio foi traduzir o trocadilho em "now the rains weep o'er his hall", em que "rains" soa idêntico a "Reynes". E não é por acaso: os que conhecem a história sabem que Reyne é a casa apossada do castelo de Castamere, massacrada pelos Lannister quando os primeiros tentaram sobrepujá-los. E desse episódio nasceu a canção, que se tornou um verdadeiro hino de uma das casas mais odiadas dos sete reinos. Para alcançar o duplo sentido, reproduzi o jogo de palavras em "porém" ("por Reyne"), muito menos sugestivo que o original, mas ainda assim detentor de algum vestígio paronomástico. E, muito longe de uma tentativa de se igualar à composição original, que esta versão seja entendida como uma simples homenagem à série.
§§
CHUVAS DE CASTAMERE
"E quem és tu, tão grande assim,
que rés me prostrarei?
Somente um gato de outra cor,
é o quanto vejo e sei.
Auricolor ou carmesim,
leão ainda é leão:
e minhas garras, meu senhor,
tais como as tuas são."
Assim falou, assim falou
Senhor de Castamere;
o céu, porém, pranteia só
sem ter quem possa ouvir.
Pranteia o céu em seus salões
sem um que o possa ouvir.
Pedro Mohallem é tradutor. Entre seus trabalhos de tradução está “Dicção Poética”, de Owen Barfield (Editora Caminhos, Goiânia. No prelo).
***
Serj Tankian cantando "The Rains of Castamere":
https://www.youtube.com/watch?v=r8Kipc2IRTA

O momento exige certa cautela, mas como não responsabilizar o prefeito de Goiânia e o presidente da Agetul pela falta de manutenção do parque?

Audiência marcada para esta quarta-feira (2/8) foi suspensa após empresas sinalizarem disposição a acordo

Humor cáustico e poesia dão-se as mãos nestas quadrinhas do poeta curitibano Wagner Schadeck. Leia e perceba a correlação mui pertinente com cada personagem abordada
[caption id="attachment_100693" align="aligncenter" width="620"] "Diógenes, o Cínico, procurando um homem honesto, com sua lanterna". Obra de Jacob Jordaens
[/caption]
Wagner Schadeck
Especial para o Jornal Opção
“NINE”
Sem orgulho, inveja, gula,
Avareza, sexo ou ira,
Furino é santo? Mentira!
Quanta propina pulula?
VANA
Para que o pânico cresça,
Petrificaste toda a horda?
Medusa, górgona gorda,
Tens minhocas na cabeça.
“AU TOMBEAU”
O mais baixo entre os soturnos
Seres, cairás, Nosferatus?
Calçando quantos coturnos,
Subiste com quantos pactos?
AÉREO
Grande carreira ele teve,
Mas à qual ainda aspira?
Com o nariz cheio de neve,
Viajou noutra mentira.
MENDAZ
Para que emendas remendes,
Perdes a peruca, Bozo?
De teu reinado orgulhoso,
Gemes quando um peido prendes?
ITALIANO
Entre inúmeras destrezas,
Em seu Curriculum grifas
O comunicar de cifras
Por meio de línguas presas.
AMANTE
Em que chiqueiro chafurdas?
Que gripe te rompe a grimpa
Nasal? Mas de lodo surda,
Ainda desfilas limpa.
FARIAS
Teu nariz em tudo enfaras.
Choras, esperneias, urras...
Em tuas secretas taras,
Mamaste o leite das burras.
PARDAL
Unha de fome, engoliste
Dente de ouro? Nos poleiros
Mais imundos dos calheiros,
Devoras alheio alpiste.
CARANGUEJO
Em escusas rondas punhas
As tuas patas no espólio.
Ora esbugalhas os olhos,
Enquanto prendem-lhe as cunhas?
MARINA SILVA
Eis a cientista do povo,
Trazendo a ciência das matas.
Recomenda usar das patas
A cloaca em vez do ovo.
CIRO
É um Sísifo dos papéis;
Burocrata da resposta.
Mesmo com doutos anéis,
Não passa de um rola-bosta.
GENRO
O ópio dos intelectuais
É a fina flor das esquerdas.
Seus delírios são ideais,
Suas ideias são lerdas.
SARNEY
Pousas de cão magro para
Quê? Com a sarna te promulgas!
Mas como a sarna não sara,
Coça a mordida das pulgas.
