Por A.C. Scartezini

Com saída do ministro Joaquim Barbosa do Supremo, a expectativa é de que o ministro Roberto Barroso vá dar vida mais fácil aos mensaleiros condenados

Em baixa também no Ibope, presidente encara pressão contra decreto de conselhos populares, que retirou da gaveta como se faltasse confiança na reeleição

[caption id="attachment_7078" align="alignright" width="620"] Congresso Nacional: proposta de Dilma esvazia papel dos congressistas e facilita controle da imprensa, objetivo histórico do PT | Foto: Wilson Dias/ Agência Brasil[/caption]
A fórmula para sair do governo sem perder o poder é simples. A seis meses e meio do fim de mandato, a presidente Dilma, com a reeleição em xeque, colocou na rua o decreto que cria conselhos populares destinados a acompanhar, com poder de decisão, as ações de governo a partir de uma superestrutura que alcança em todos os níveis dos mais de 5 mil municípios.
A construção recebeu no palácio o nome de Política Nacional de Participação Social, onde os conselhos se tornam instituições que, em nome da sociedade civil, operam com poder de tutela junto a todos os níveis de gestão pública, inclusive as Forças Armadas. Os meios de ação terão todos os recursos à disposição da participação social, como as audiências públicas.
Outras ferramentas de atuação pública mais ampla são as ouvidorias, fóruns, comissões de políticas setoriais, meios de consulta e conferências – todo esse aparelho em níveis desde o comunitário ao nacional. A atuação seria a título de atuar de todas as formas na articulação das relações do governo com a sociedade em processos desde implementações a decisões.
Ainda falta definir como será o recrutamento dos membros dos conselhos. Poderão ser pessoas eleitas ou indicadas pela sociedade, num processo a ser regulamentado ainda neste governo pela Secretaria-Geral da Presidência da República, entregue aos cuidados do companheiro Gilberto Carvalho, que ainda não se sentiu à vontade para sugerir em público formas de recrutamento.
Trata-se de um mecanismo que, na prática, concorre com o legislativo, desde os vereadores aos senadores. Assim como compete em ação executiva desde secretarias municipais a ministérios. Os comandos dos poderes executivos e legislativos podem passar de um partido a outro, mas os conselhos populares ficam com seus mecanismos.
Tenham os conselheiros mandatos ou não, nenhum partido estará mais bem credenciado do que o PT ao preenchimento das vagas. Nenhuma outra associação se dedica há 34 anos à formação de quadros desde a militância à criação ou infiltração em movimentos sociais. Nenhum outro partido possui a mesma vocação pelo assembleísmo, a caráter dos conselhos populares.
Há uma coerência nessa fixação do PT na relação entre poder e organização social. As propostas petistas de reforma política insistem em privilegiar quadros organizados. É o caso da reforma proposta pela presidente Dilma a partir de uma Constituinte exclusiva com pauta aprovada em plebiscito. Um constituinte esnobaria a agenda determinada pelos eleitores?
Tem mais. A proposta pelo conselho é coerente com o empenho do PT em conquistar meios de impor o controle social da mídia. Os veículos de comunicação passariam a ser orientados pelo Estado com base em apelos de massas chavistas articuladas pela onda bolivariana que atravessa a América do Sul. Coisas que ressurgem quando se registram, sem saudosismo, os 50 anos da ditadura militar.
A criação da estrutura por decreto é uma solução para afastar o Congresso da formulação e, ao mesmo tempo, montar o sistema ainda neste ano. A constitucionalidade do aparelho será inevitavelmente questionada no Supremo Tribunal Federal, onde a aposentadoria do ministro Joaquim Barbosa oferece ao Planalto a chance de ampliar o círculo de amigos entre os juízes.

Na véspera da abertura da Copa, Dilma Rousseff convidou na última hora o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), a acompanha-la a São Paulo para a abertura dos jogos – o presidente do Supremo, ministro Joaquim Barbosa, recebeu o convite na semana anterior. A presença de Calheiros se tornou uma oportunidade para o reencontro com o PMDB.
É verdade que, dois dias antes, Dilma esteve na convenção do partido depois que os peemedebistas decidiram apoiar a reeleição, mas com uma dose de frustração da candidata em queda de prestígio. Em seguida, comandados pelo PMDB, o Senado e a Câmara apoiaram a adesão a uma greve branca convocada pela oposição contra o decreto da consulta popular.
Com o apoio dos partidos de oposição, Calheiros e o deputado Henrique Alves (PMDB-RN) decidiram colaborar com a obstrução dos trabalhos no Senado e na Câmara até que a presidente desista da ideia do decreto e mande a criação dos conselhos populares ao Congresso na forma de medida provisória ou projeto — passíveis de mudanças parlamentares, inclusive de rejeição.
Se Dilma não mudar de ideia, o Congresso deverá insistir na votação de um projeto apresentado pelo DEM, PPS e PSDB para revogar o decreto do Planalto. Por ironia, o decreto seria anulado por outro decreto, mas parlamentar: decreto de projeto legislativo, instrumento que atende por PDL na intimidade.
“Quem representa o povo é o Congresso”, discursou Calheiros no Senado contra o decreto. Aproveitou o embalo e criticou também o controle da mídia, pois uma ideia leva a outra. ”Reitero que não apoio, não comungo, sequer admito discutir iniciativa, a qualquer pretexto, que pretenda regular a mídia.”
Na Câmara, o líder do DEM, deputado pernambucano Mendonça Filho, comanda a oposição na resistência aos conselhos e foi o porta-voz da greve branca. “A partir de agora estamos em obstrução total em defesa da autonomia do Poder Legislativo”, anunciou a paralisação que deve vigorar pelo menos nesta semana, com a colaboração da Copa e do Corpus Christie na quinta.
Apesar da pressão do Congresso e da mídia, a presidente Dilma evita conversa quando o assunto é a criação dos conselhos populares. Apenas dez dias depois de assinar o decreto, ela abordou o tema. Mesmo assim a abordagem foi rápida e indireta em 5 de junho. No bojo de discurso com 5.931 palavras feito para uma reunião com empresários no Planalto.
Sem mencionar os conselhos populares previstos no decreto, Dilma ironizou as denúncias da oposição contra os conselhos populares que assumem funções legislativas. Vagamente, disse que conselhos sociais que operam junto ao Executivo não invadem o Legislativo, pois apenas elaboram ideias, não fazem o projeto:
— Muitas cabeças pensam mais do que só a cabeça do Executivo, muitas cabeças. É uma convicção que nós temos e faz parte, eu acho, da construção da democracia no nosso país.
Quanto à frustração de Dilma com a convenção, o desapontamento veio da circunstância de que ganhou os minutos e segundos à disposição dos peemedebistas na televisão e rádio, mas não levou consigo o partido. Novamente, o PMDB entrará rachado nas urnas presidenciais, dividido entre a presidente e os concorrentes Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB).
Os números falam muito, mas não dizem tudo. Na véspera da convenção o comandante do PMDB e vice-presidente Michel Temer calculou que a reeleição teria o apoio de 55 a 65% dos representantes do partido. No frigir dos ovos, acertou na média: foram 59% a favor.
Mais tarde, com a cabeça fria avaliou que, daqueles 59, uns 20% foram da cota pessoal dele, vinda de correligionários que votaram a favor apenas porque Temer é o nome do PMDB para continuar na vice – posição sujeita a revisão até o fim do mês. Os outros 41% se dividiram entre os que não acreditam na reeleição de Dilma e os insatisfeitos com o seu descaso com políticos.

[caption id="attachment_7082" align="alignright" width="620"] Aécio Neves e Eduardo Campos: eles são adversários, mas Dilma não quer que façam oposição[/caption]
A tensão que se instalou em torno da presidente Dilma Rousseff nos últimos dias incorporou ao comportamento bélico da candidata uma agressividade que deve se projetar ao longo desta semana, inclusive pela falta de tato político. Como fera ferida, Dilma lança provocações que não combinam com a humildade de candidata que precisa recuperar os votos perdidos.
A decadência da reeleição nas pesquisas de opinião colabora para acentuar o espírito guerreiro da presidente num momento crucial da campanha eleitoral. Trata-se de um impulso de fera que contraria o espírito político conciliador que se espera de candidato com menos terreno à medida que as urnas se aproximam. Não sobra espaço tático para uma pausa de trégua.
“Os pessimistas já entram perdendo”, em cadeia de televisão e rádio, a candidata desafiou os brasileiros que não concordam com os gastos e as obras incompletas da Copa do Mundo. Lançou a provocação na noite de terça, dois dias antes da abertura do campeonato. Os pessimistas a que se refere são, sobretudo, eleitores que estão nas ruas em manifestações ou na mídia.
Na mesma terça, pela manhã, Dilma, na convenção do PDT, partiu para cima dos concorrentes que enfrenta em duelo, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB). Acusou ambos de “oportunismo deslavado” porque desejam reciclar programas do PT. Em 1994, Lula combateu o Plano Real como “eleitoreiro” e inaproveitável. Perdeu a eleição para FHC, patrono do Real.
É lícita a conclusão de que a mais recente pesquisa presidencial do Ibope determinou a realização da cadeia nacional de Dilma na noite quarta, véspera da abertura da Copa. O marketing da campanha anda meio sem rumo, sem saber se convinha ou não convocar a cadeia, que, a pretexto dos jogos, foi ao ar mais tarde da noite do que o tradicional.
Agora que reeleição da presidente está a perigo, o PT e o Planalto decidiram colocar para fora uma ideia que permeava os petismo desde que o partido assumiu o poder há quase 12 anos. É a criação de conselhos populares para operar o poder com meios petistas numa superestrutura formada por movimentos sociais quase sempre oriundos do corporativismo, como os sindicatos.

Com a queda do prestígio da presidente em amostragens diferentes, petistas concluem que cabe a Dilma fazer-se mais do mesmo
[caption id="attachment_6348" align="alignleft" width="620"] Marqueteiro de Dilma Rousseff, João Santana sabe que sua cliente não tem proposta a oferecer ao eleitor | Foto: Silas Dias/Divulgação[/caption]
A mais recente pesquisa para consumo interno do PT notou que estacionou o sentimento de confiança popular no futuro. A crise na economia seria a maior razão do descrédito. Os petistas não vazaram, mas certamente os gastos com a Copa do Mundo são contrastados pela população com a alta no custo de vida, o desemprego e as deficiências dos serviços públicos.
Com a pesquisa na mão, oito conselheiros da campanha da reeleição da presidente, com Lula à frente, sugeriram que a propaganda de Dilma Rousseff se dedique a apontá-la como a candidata mais indicada para promover a recuperação econômica e, por consequência, reanimar a esperança dos eleitores num futuro melhor do que hoje.
Um dos sintomas da crise na candidatura se manifestou na conclusão, na noite de segunda-feira no Alvorada, de que a confiança da sociedade pode vir se houver ainda mais exposição de Dilma ao público. Não ocorreu entre os petistas a ideia de que mais visibilidade da presidente pode significar mais oportunidades de desgaste da candidata em tempo de protestos nas ruas.
A presidente, por exemplo, encarava com reserva a presença em estádios na Copa do Mundo com receio de vaias como há um ano. Mas os conselheiros sugeriram que basta Dilma ir ao futebol na companhia de Lula para ser bem recebida pela massa. Assim, ambos compareceriam na próxima quinta à abertura do campeonato com o jogo entre o Brasil e a Croácia.
Os dois voltariam a estar juntos no encerramento da disputa um mês depois, em 13 de julho, no Rio. Porém, se a seleção brasileira não estiver no Maracanã para o jogo que consagrará o campeão, será que a presença de Lula seria o suficiente para conter a explosão da insatisfação da massa perante o poder em carne e osso?
O problema da imaginação petista é que o comando da campanha de reeleição propõe à candidata mais do mesmo. É o caso de mais exposição e fala de Dilma. Se for assim, a falta de ideias novas na campanha leva à conclusão de que os conselheiros não enxergam novos espaços a favor da expansão do prestígio da candidata.
Outro sintoma de crise na criatividade petista está no consolo cínico que o marqueteiro João Santana repassou aos companheiros no Alvorada: a presidente enfrenta dificuldade, mas, em compensação, os dois concorrentes principais, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), não empolgam como alternativas de mudança no governo.
Mais do que um consolo, a observação de Santana sugere a alienação quanto à valorização de Aécio e Campos, revelada em pesquisas. Ambos, apesar de tudo, ainda não representam um sinal de alerta para o PT. Bastaria congelar as posições dos três candidatos no status atual e aguardar as urnas daqui quatro meses. A reeleição se torna mais importante do que a gestão.
Sendo assim, o marqueteiro avaliza a ideia de que basta tocar a vida como está, fazendo mais do mesmo. A presidente que continue a discursar quase diariamente para exaltar as obras de seu governo como garantia de crescimento econômico. Afirme sempre que a inflação está sob controle. Se quem vai às compras de varejo a cada dia pensa que não é bem assim, dane-se.
Como corolário da exaltação do governo, a novidade foram os vídeos recentes que buscam injetar no povo o medo pelo retrocesso social se a oposição vencer a disputa presidencial. Os vídeos foram barrados pela justiça eleitoral como campanha antecipada. Mas podem reaparecer em cartaz no período autorizado à propaganda.
[caption id="attachment_6345" align="alignleft" width="620"] Pesquisa americana constatou que 85% dos brasileiros temem mais o fantasma da inflação do que a corrupção | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção[/caption]
A bola começa a rolar na quinta-feira, mas, depois de um mês com os jogos da Copa do Mundo, o povo pode retornar à realidade com outra percepção a respeito do desempenho do governo Dilma Rousseff. É o que sugere a pesquisa sobre os sentimentos de satisfação do brasileiro feita para o consumo de governos e mercados internacionais.
A amostragem do centro de pesquisa Pew apurou, por exemplo, que a população se preocupava mais com a volta do fantasma da inflação do que com a corrupção. A alta dos preços era o principal problema brasileiro, conforme 85% das respostas. Apesar de todos os escândalos conhecidos, a corrupção política estava em terceiro lugar, com 78%.
Depois da inflação vinha a insatisfação com o desempenho administrativo do governo: a segurança e a saúde públicas conquistaram 83 pontos, dois a menos do que a inflação. Em seguida à corrupção, surgiu em quarto lugar a falta de emprego, com 72%. A soma do aumento do custo de vida e do desemprego tem tudo a ver com mal estar social: atinge o bolso e a boca.
A dois meses da Copa do Mundo, 39% dos brasileiros consideravam que a promoção teria efeito negativo na imagem do país – entre eles, a maioria, 61%, condenava os gastos com o futebol enquanto os serviços públicos eram deficientes. O resultado seria positivo na opinião de outros 35%. O efeito seria nulo, pensavam 23% dos brasileiros.
É verdade que chegou com atraso a pesquisa divulgada em Washington no começo da semana pelo Pew Research Center. O levantamento da opinião de 1.003 pessoas ocorreu em abril, entre os dias 10 e 30. A próxima rodada do Pew virá ao público em setembro, quando estará consolidada a opinião brasileira sobre a Copa. Será conhecida antes da eleição presidencial em outubro.
Quanto à sucessão da presidente, a pesquisa apurou um quadro delicado para Dilma: 63% dos eleitores não aprovavam a gestão econômica contra 34 que a apoiavam. No entanto, com o apoio desses 34%, a economia se tornou o ponto mais positivo do governo segundo os números setoriais do levantamento.
Ainda sobre a sucessão, Dilma é mais bem cotada do que seus dois principais concorrentes. A presidente transmitia uma imagem favorável para 51% das pessoas. Aécio Neves (PSDB) ficou em segundo com 27%. Eduardo Campos (PSB) recebeu a simpatia de 24%.
Porém, depois daquele abril. Dilma desceu um degrau nas pesquisas brasileiras do Datafolha, enquanto os concorrentes subiram. No começo de abril, a presidente contava com o apoio de 38%. Em maio, foi a 37%. No período, Aécio Neves (PSDB) passou de 16% em abril para 20 em maio. Eduardo Campos moveu-se de 10% em abril para 11 em maio.
Ainda no universo da Copa do Mundo e da apreensão com a economia, surgiu uma pesquisa sobre os planos individuais de consumo no varejo depois do campeonato de futebol. Entre mil pessoas consultadas no país em maio. A maioria, 52%, pensa que a situação econômica vai piorar. Apenas 14% acreditam que será melhor. Os outros 34% acreditam que ficará como está. A pesquisa foi feita por uma empresa, com sede em São Paulo e ramificações regionais que vende a lojas de varejo informações cadastrais sobre clientes que são candidatos a compra a crédito, É a Boa Vista SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito). O pessimismo é forte em todas as classes sociais Na classe A, a maioria, 54%, pensa que a situação será pior depois da Copa – durante a campanha eleitoral. Na classe B, são a metade, 50%. Na classe B, 54%. Na classe C, sobem a 55%. Na classe E, cliente de programas sociais do governo, a taxa desceu a 45%.
[caption id="attachment_6340" align="alignleft" width="350"] Peemedebista Paulo Skaf faz questão de se afastar do palanque de Dilma | Foto: Eduardo Biermann[/caption]
A vocação governista sempre vence de maneira irresistível, mas os peemedebistas prometem emoção na convenção nacional de terça-feira, 10, quando estará no palco o apoio à reeleição da presidente Dilma fragilizada pelas pesquisas. Cinco dias antes surgiu a rebeldia no Rio, quando 1.600 líderes estaduais, inclusive de outros partidos, apoiaram o presidenciável tucano Aécio Neves.
“O PMDB deixou os generais com a Dilma e a tropa com o Aécio”, constatou o presidente estadual do PT, Washington Quaquá. “Não se vence guerra com generais. Quem dá tiro é a tropa”, emendou. “Me deem a vitória no Rio de Janeiro que dou a vocês a Presidência”, animou-se o tucano diante da tropa.
Agora, na convenção em Brasília, os generais peemedebistas se renderão à vocação governista, mas haverá um jogo deles com o PT de Lula e Dilma em que o exemplo do Rio vai pairar nas negociações. Um jogo para valorizar a nova adesão ao PT neste ano em que se elegem também governadores, senadores e deputados. Aí, a porca torcerá o rabo.
Os generais, inclusive Michel Temer, vice-presidente de Dilma, poderão pressionar o PT em busca de posições federais e estaduais. Como a convenção nacional petista virá apenas mais à frente, todos terão tempo para negociar composições nas eleições regionais que evitem rebeldias da tropa como a do Rio.
Então, o PT poderá questionar a continuidade do general Temer como vice na chapa da reeleição se ele não comanda a tropa. Assim, o jogo por posições federais e estaduais estará em cena. O PMDB possui posições de prestígio no Congresso por causa, em especial, de suas ramificações nos municípios.
Mas, a cada eleição em que os dois partidos se aliam, os petistas saem mais numerosos e os peemedebistas menos. Nessa dieta o PMDB acaba perdendo posições. Se o partido continuar em dieta, cai o cartaz do próprio Temer junto a políticos, a começar pelos peemedebistas. Que cargo reluzente o general poderia conquistar no voto? O governo de São Paulo? Inatingível a ele.
Neste ano, Temer tem um interesse especial em que o neocorreligionário Paulo Skaf faça bonito na disputa do governo paulista contra a reeleição do tucano Geraldo Alckmin e a concorrência do candidato de Lula, Alexandre Padilha. O bom desempenho de Skaff valorizaria o PMDB na terra de Temer e pode ajudar na eleição de deputados do partido.
Com o seu próprio estilo, o industrial Paulo Skaff, 58 anos, paulistano de Vila Mariana, promete ser destaque na convenção da semana em Brasília. Ele anda brabo porque, há duas semanas, Dilma, em jantar com peemedebistas, valorizou a candidatura dele como se fosse um aliado para retirar o PSDB do governo paulista. A derrota tucana seria mais importante do que eleição em si de Skaff ou Padilha.
Com razão, Skaff protestou e deixou claro que é candidato contra o PT em São Paulo, não um aliado. É claro, não interessa ao empresário, ex-presidente da poderosa Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) ser mais um governista na disputa. Mas, sim, superar Padilha, o lulista que os eleitores desconhecem. Deseja ser tão oposição ao PT como o PSDB de Alckmin.
Enfim, Skaff elimina a possibilidade de oferecer um segundo palanque à presidente no Estado. Se o candidato a governador não deseja se confundir com Dilma, não será por Temer que fará concessão. Porém, até que interessa a Temer que Skaff faça bonito. Assim, ele fortaleceria o PMDB e ajudaria a eleger deputados.
Será a segunda vez que Skaff disputa o governo de São Paulo. Há quatro anos, o capitalista concorreu pelo socialista PSB e recebeu 4,56% dos votos. Ficou em quarto lugar. Atrás de Alckmin, Aloizio Mercadante (PT) e Celso Russomanno (PRB).
Nas pesquisas atuais leva corpos de vantagem sobre Padilha, mas interessa a ele ter o ex-ministro da Saúde na disputa porque poderia provocar um segundo turno na eleição a governador. Se Skaff for ao segundo turno contra Alckmin, aí sim. Poderá agradecer ao apoio inevitável do PT de Lula e Dilma.

A presidente do Brasil é competente e íntegra. Mas, ao contrário do governador de Goiás, não consegue arrancar do papel as principais obras que planeja. Falta-lhe autoridade? Não tem pulso? Falta-lhe firmeza? O mais provável é que esteja sucumbindo ante a força tentacular da burocracia
[caption id="attachment_6287" align="alignleft" width="300"] Dilma Rousseff: a presidente da República é uma política moderna, competente e de rara integridade, mas seus projetos raramente saem do papel. A única coisa que o Programa de Aceleração do Crescimento “acelera” é uma ampla paralisia das ações | Foto: Ueslei Marcelino/Reuters[/caption]
A presidente Dilma Rousseff (PT), além de não ser incompetente, é de rara integridade e, no poder, tem sido mais moderada do que contrapõe o discurso ortodoxo de certos liberais. Mas há dois problemas com o seu governo. Primeiro, parece não ter entendido que é preciso lidar com os políticos reais (não há outros) que apoiam o governo, sem subestimá-los e sem menosprezá-los. Em termos estritamente pragmáticos não dá para exigir apoio e tratar com distanciamento. Nesse ponto, o presidente Lula da Silva é mais “político” do que sua sucessora. O segundo aspecto é mais problemático. Empresários, políticos e cidadãos comuns concordam num ponto: as intenções da presidente são as melhores possíveis, mas seu governo peca na execução de projetos cruciais. Dilma Rousseff parece ter sido engolida pela burocracia. Fica-se com a impressão de que é mais fácil fazer obras em Cuba, com dinheiro brasileiro, do que na terra de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek.
O discurso do governo de Dilma Rousseff é firme, até contundente, mas a ação é flácida. Quando se ouve o discurso da presidente acredita-se que faz o melhor governo, não do Brasil, e sim do mundo. No entanto, quando se sai às ruas, percebe-se que o país, embora não esteja inteiramente parado, vive um processo de relativa estagnação. É possível que, se não existissem os programas sociais e se os sindicatos não estivessem ideológica e politicamente manietados — cevados por vultosos recursos públicos —, o país estaria passando por certa conflagração social.
Na área de segurança pública, a crise parece ser dos Estados, mas, na verdade, o que falta mesmo é uma política nacional que coordene as ações dos governadores. O governo federal, que centraliza os recursos do país em Brasília, tem dinheiro suficiente, até sobrando, para investir, mas os Estados e municípios, vítimas de um pacto federativo que só existe no papel, estão quebrados e não têm como resolver o problema. Fala-se, aqui, sobretudo dos Estados menos poderosos economicamente. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, admitiu, há algum tempo, que, mesmo tendo verbas, o governo federal não conseguiu construir os presídios necessários. Sobrou burocracia e faltou capacidade de fazer. O resultado é que, com mais criminosos nas ruas, a violência é crescente e não decorre necessariamente, como não raro pensa a esquerda, de problemas sociais. A violência explode nos Estados, mas deve ser vista como algo organizado e conectado nacionalmente. Deste modo, urge uma política de segurança pública nacional — dura no trato da criminalidade. Um Ministério da Segurança Pública talvez seja muito mais necessário e útil do que muitos dos ministérios criados pelo PT para agasalhar aliados políticos.
No campo econômico, numa tentativa de impulsionar o capitalismo e contribuir para o crescimento da economia, o governo Dilma adotou, por intermédio do BNDES, a chamada “política dos campeões”. A intenção é positiva. O governo do PT, de matiz socialdemocrata — nada a ver com comunismo, ressalte-se —, está incentivando e financiando a chamada “indústria nacional”, projetando a criação de players competitivos, como o grupo JBS-Friboi, nos mercados interno e externos. O BNDES tem mais de 30% das ações do JBS — o que, do ponto de vista do mercado financeiro, é entendido que a empresa é forte, à prova de tempestades locais e internacionais. Entretanto, o mercado privado — sim, os próprios liberais — tem criticado a “política dos campeões”, sugerindo que, no lugar de um banco público, os bancos privados poderiam financiar os empreendimentos. Há uma certa razão nisto. Porque o dinheiro público poderia ser mais bem utilizado no financiamento de obras de infraestrutura, como portos, ferrovias e recuperação e ampliação de rodovias. O investimento em infraestrutura contribuiria para um crescimento mais geral da economia — e não apenas de empresas específicas, como é o caso da JBS e, antes, as de Eike Batista, o player que soçobrou. No caso de uma “empresa campeã” quebrar, como é sempre possível, o governo, via BNDES, terá de assumir os custos. Os contribuintes brasileiros terão de “financiar” a resolução da crise da empresa, ou, pior, “pagar” por uma empresa que, dependendo do quadro crítico, sairá do mercado e deixará apenas o rombo. No caso das empresas campeãs, o lucro é dos indivíduos ou de grupos de investidores, mas as perdas são da sociedade.
No Brasil fala-se tanto na criação de uma política agrícola — mas nada se cria de estrutural e duradouro — que até os produtores rurais já não se importam muito com sua inexistência. Eles continuam plantando e comercializando sua produção, enfrentando as intempéries da natureza e do mercado, e pouco ligando para o que faz o governo. Se dependessem do governo federal para alavancar seus negócios, os produtores estariam “perdidos” ou, como dizem, “rodados”. Além da falta de apoio direto, como financiamentos e seguros semelhantes aos que são feitos nos Estados Unidos e na França, para citar dois países que valorizam a agricultura e a pecuária — o agronegócio —, há o problema grave das rodovias federais, quase sempre malcuidadas, até abandonadas. Se as rodovias fossem estadualizadas, com o necessário repasse de recursos federais, é bem possível que estivessem em melhor estado. Zelar pelo patrimônio público federal num país gigantesco, continental, é quase impossível sem o apoio e a interferência dos governos estaduais.
Mesmo com escasso apoio do governo federal, o agronegócio é, há muito tempo, a âncora verde da economia. Pode se reduzir a compra de ferro, por exemplo, mas não há como diminuir a aquisição de soja e carne. A China está comprando menos ferro brasileiro, mas não deixa de comprar alimentos para 1,3 bilhão de pessoas. Com o processo de desindustrialização — algo grave, ao qual o governo petista não dá a devida importância —, o agronegócio vem “segurando” a balança comercial e, com isto, garantindo certa estabilidade à economia.
No campo ético, não há o que dizer da presidente Dilma Rousseff. Ou melhor, trata-se de uma gestora e política honesta. Até honestíssima. Mas há problemas sérios em seu governo. A Petrobrás, maior empresa do país, passa pela maior crise de sua história. A aquisição da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, foi um mau negócio. Mais do que isto, foi estudadamente um mau negócio, porque indivíduos que estavam (alguns estão) na empresa possivelmente ganharam ao adquiri-la. Ao revelar que não sabia dos termos integrais do acordo de aquisição, a presidente sugere que o governo petista sonega informações precisas ao gestor. À falta de sintonia soma-se a ausência e quebra de autoridade. A refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, é outro elefante branco do governo petista. A Venezuela, divulgada como parceira, caiu fora e deixou o abacaxi para Dilma Rousseff.
Como pode uma presidente que não é incompetente e é íntegra fracassar? Por uma questão de justiça, não se pode falar em fracasso integral — o governo federal acaba de inaugurar uma obra importante para o país, a Ferrovia Norte-Sul —, mas o fato é que a sociedade sabe que o governo de Dilma Rousseff não corresponde às suas demandas. As pesquisas indicam que o brasileiro não está satisfeito com a gestora petista. Na semana passada, uma pesquisa do Pew Research, um dos institutos mais qualificados dos Estados Unidos, mostrou que 72% dos brasileiros não estão satisfeitos com o país. Só 26% afirmaram que estão satisfeitos — um índice baixíssimo. A pesquisa foi feita entre 10 de abril e 30 de abril deste ano, em todo o país.
Não se pode, porém, acusar a presidente Dilma Rousseff de perseguição política. Ela tem sido republicana no trato com os governadores de oposição, como o goiano Marconi Perillo, do PSDB. No lugar de republicana talvez seja mais exato usar o termo pragmática. A presidente, até por ser economista, sabe que a economia cresce de maneira integrada, mas, num país continental, às vezes com uma região “puxando” a outra. As áreas nas quais o agronegócio é muito forte, como Goiás, estão crescendo mais do que as regiões onde está ocorrendo desindustrialização. Assim, boicotar Goiás, por mesquinharia política, seria um contrassenso em termos de crescimento econômico. No caso, além de se provar moderna, a presidente deixa evidente que sabe como a economia é conectada. Ela sabe o que é “âncora verde”.
Luzes no Centro-Oeste
Nem tudo são flores em Goiás. Não é em nenhum lugar. Estado com área física de país — maior do que Israel, Portugal e Cuba juntos —, Goiás é um Estado novo e sua infraestrutura ainda está sendo construída. Num mercado jovem, os empresários aos poucos estão constituindo negócios sólidos, resistentes às tempestades circunstanciais. Ao mesmo tempo, empresas de outros Estados e, até, países estão se instalando na região, dinamizando a economia e alocando mais dinheiro e capital nos negócios. O resultado é que Goiás mudou e não pode ser interpretado à luz de picuinhas políticas. [caption id="attachment_6293" align="alignleft" width="620"]


A aposentadoria do ministro permite ao Planalto ocupar com aliados em torno de dois terços das 11 cadeiras de juízes no STF
[caption id="attachment_5775" align="alignleft" width="300"] Índios protestam: flechas contra bombas de gás lacrimogêneo - Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr[/caption]
Com ironia, a nossa diversidade étnica sofreu uma prova de modernidade quando a flecha do índio atingiu o soldado de cavalaria enquanto hackers atacavam o Itamaraty.
Os protestos paralelos à Copa do Mundo levam a presidente Dilma Rousseff a acreditar ser vítima de uma conspiração contra sua reeleição. “É gravíssimo tentar fazer política com a Copa”, confidenciou a um dos grupos de empresários convocados ao Planalto para ouvir anúncios de benesses econômicas a empresas.
O grupo de industriais que esteve com Dilma, na terça-feira, foi convidado a ouvir mais uma promessa sobre a desoneração das folhas salariais para permitir a redução de encargos financeiros a uma parte de setores da indústria. Ouviram com da presidente a garantia de que agora a coisa vai.
Concreta mesmo, foi a oportunidade que o grupo recebeu para ouvir desabafos de Dilma, irritada com cenas de violência diante do Planalto, onde índios e movimentos sociais protestavam contra os gastos da Copa. Os empresários ouviram a presidente protestar contra os protestos:
— O que está em jogo é a imagem do país. Não vou permitir que se repitam as cenas de violência da Copa das Confederações.
A violência seria provocada nas ruas com fim eleitoral, segundo Dilma. Não passava pela sua cabeça que o fato de ela estar em campanha para se reeleger, como naquela reunião, poderia ser uma coincidência com a revolta das ruas contra a má gestão do governo e os abusos de gastos com o futebol no meio de denúncias de corrupção que rebaixam a autoestima brasileira.
Dilma comparou as ruas daquele dia às de um ano antes, durante a Copa das Confederações. O que melhorou desde então na vida de segmentos sociais como os índios e os sem teto? A falta de avanços sociais não teria aguçado a insatisfação popular quando comparados às acusações de corrupção, inclusive nos gastos com o futebol?
Há um ano, os índios sempre a reclamar pela demarcação de suas terras, preocupavam-se em especial com falta de prestígio da etnia que levou à desocupação, no Rio, da Casa do Índio para ceder espaço a mais uma obra pela Copa ali ao lado do Maracanã. Nas ruas, agia outro grupo social, o Anonymous, aquele formado por hackers.
Naquela terça-feira, os índios que estavam perto do Planalto disparavam flechas e empunhavam lanças contra a cavalaria da Polícia Militar chamada a desocupar o coração da República. O soldado Kleber Elias Ferreira foi atingido numa perna. Em compensação, o cavalariano foi mais contemporâneo, atacou com o cavalo e bombas de gás lacrimogêneo.
Em outra ponta tecnológica mais high-tech, no mesmo dia o Itamaraty sofreu como vítima a intensificação do ataque cibernético de hackers que há uma semana sitiavam os seus computadores numa escala que atingia as instalações diplomáticas brasileiras planeta afora. A escala do ataque levou os diplomatas a admitirem que estavam na mira de protestos.
Pelo volume do ataque, o Ministério das Relações Exteriores seria vítima de uma rede, que poderia ter ramificações em outros países como acontece com os Anonymous, presentes nas manifestações da Copa das Confederações. As ramificações do Anonymous foram consideradas suspeitas pela Polícia Federal e serão vigiadas ao longo da Copa.
[caption id="attachment_5765" align="alignnone" width="620"] Padilha: o segundo poste de Lula em São Paulo Geraldo Alckmin: Lula quer derrotá-lo de qualquer jeito[/caption]
Por via indireta, a presidente Dilma abriu um desvio no projeto de Lula em eleger a qualquer custo o ex-ministro Alexandre Padilha ao governo de São Paulo. “Quero enfatizar esse (sic) fato: a gente não pode ser ingênuo (sic) e não perceber o que significa uma derrota dos tucanos em São Paulo, sendo bem clara”, discursou Dilma em jantar com o PMDB.
Observe-se que a presidente considerou ‘bem clara’ a sua fala; e não a uma derrota tucana. Mesmo que a intenção de Dilma fosse apenas paparicar o PMDB para garantir o apoio de todo o partido à reeleição, ela apresentou à cúpula peemedebista um viés divergente de Lula, cuja obsessão é colocar o PT na chefia do principal Estado e fechar o império de 20 anos do PSDB.
A derrota de Padilha seria o fracasso do projeto de Lula em eleger postes desconhecidos dos eleitores para posições políticas estratégicas. Elegeu Dilma há quatro anos, mas agora a reeleição da pupila coloca o PT em xeque. Em vão, Lula elegeu Fernando Haddad a prefeito de São Paulo. Hoje, não pode contar om ele. Mas essa é uma história para mais adiante.
Retomemos antes a fala de Dilma ao PMDB no jantar de terça-feira, na residência oficial do vice-presidente Michel Temer, comandante peemedebista em busca da reeleição na chapa do PT. Sigamos a trilha da gravação do discurso, à qual o repórter Rainier Bragon teve acesso. O tom da fala chega a expor uma dramática busca de apoio peemedebista.
A ênfase de Dilma na derrota da reeleição do governador tucano Geraldo Alckmin dispensou o PMDB de renunciar ao projeto de ter candidato próprio ao governo de São Paulo. Dilma se dará por satisfeita se os peemedebistas consagrarem o empresário Paulo Skaf como candidato a governador. Assim, Skaf não iria se compor com Alckmin, pelo menos no primeiro turno.
“Temos duas candidaturas”, referiu-se a presidente às opções Padilha e Skaf. “Acredito que é essa a fórmula do segundo turno”, emendou. Assim, admitia que não se pensa no PT em eleger Padilha no primeiro turno, apesar do apoio de Lula. Se Padilha patina a quatro meses da eleição, Skaf pode atropelá-lo e ir ao segundo turno contra Alckmin.
[caption id="attachment_5750" align="alignleft" width="620"] Gilberto Kassab: o apoio dele pode desequilibrar a eleição em São Paulo / Foto: Daniela Souza-AE[/caption]
O risco de excesso de crescimento de Paulo Skaf como candidato do PMDB ao governo de São Paulo é uma coisa complicada que o PT gostaria de dominar. O empresário Skaf teria de superar a reeleição do tucano Geraldo Alckmin a governador. Mas sem impedir a presença de Padilha no segundo turno.
E Padilha cresceria o suficiente para afastar Alckmin da disputa e ao mesmo tempo poupar Skaf? Se isso fosse possível, quem chegaria em primeiro ao novo turno, Skaf ou Padilha? Se fosse o empresário, seria ele o favorito na disputa, provavelmente com apoio do PSDB de Alckmin.
Na dúvida, há líderes no PT paulista que acham mais seguro esvaziar Skaf para evitar que ele cresça como opção ao PSDB. Mas Lula parece navegar em outra direção, a de dar força maior a Skaf como se o ex-presidente não acreditasse tanto assim em Padilha, com quem, aliás, deixou de excursionar pelo interior paulista. Passou a dar prioridade a Dilma com suas dificuldades.
Ainda na segunda-feira, véspera do jantar de Dilma com o PMDB em Brasília, Lula conversou com Michel Temer, em São Paulo, e pediu que os peemedebistas insistissem numa aliança com o PSD que tenha Henrique Meirelles como candidato ao Senado. Com isso, o ex-prefeito paulistano Gilberto Kassab teria de apoiar Skaf.
O que o chefe Kassab prefere para o PSD? Ter ele próprio como candidato a vice-governador de Alckmin ou levar Meirelles ao Senado conduzido pelo PMDB? Temer indica não ter tanta paciência assim para conversar com Kassab. E Lula, já tentou convencer Kassab a apoiar Skaf e oferecer Meirelles como reforço à chapa peemedebista? Temer convenceria Kassab?
Três dias depois da conversa entre Lula e Temer, Meirelles entregou uma carta pessoal a Kassab. Era a desistência de candidatura a senador pelo PSD de ambos. Ao desistir, Meirelles favorece a adesão de Kassab à chapa do PSDB como vice de Alckmin. Os tucanos não aceitariam que o PSD acumulasse as candidaturas a vice e senador.
É possível que Lula e Dilma tentem iludir o PMDB com propostas para a sucessão em São Paulo. A dupla fala pelo PT, mas a sucessora às vezes avança por conta própria. Mesmo porque o ex-presidente não está tão presente fisicamente na reeleição. Ao contrário da participação intensa que como ambos encenaram quando Lula veio a Brasília no começo de março.
Na época, o ex levou ao Palácio da Alvorada o comando petista da campanha pela reeleição. Juntos, todos celebraram uma aliança entre eles selada com aquela fotografia da troca de punhos entre o ex e a sucessora. Em três meses, não houve outra celebração semelhante, mesmo quando a candidata desceu nas pesquisas.
O discurso de Dilma, de terça-feira perante os líderes peemedebista, pode ser mais um caso de avanço solitário da candidata. Seria complicado para o ex-presidente negociar algo que pudesse afastar Padilha da disputa paulista. É verdade que Lula sugeriu a Temer fórmulas para fortalecer a candidatura de Skaf, mas foi papo mano a mano. Entre os dois.
Dilma discursou para uma mesa peemedebista e sugeriu com ênfase a importância da presença do PMDB na disputa final pelo governo paulista, como se o mais importante fosse a derrota tucana. Não seria fácil para Lula admitir a falência do projeto de seu projeto pessoal de eleger candidatos que são postes desconhecidos dos eleitores.
Ocorreu com a eleição de Dilma há quatro anos. Deu certo. Mas a reeleição não está tão fácil. Há um ano e meio, Lula elegeu o ex-ministro Fernando Haddad a prefeito de São Paulo. Hoje, a falta de popularidade e habilidade política de Haddad sugere ao PT afastá-lo de Padilha para não contaminar.