Quando flechas e ataques cibernéticos se cruzam e ferem o coração da República
31 maio 2014 às 11h28
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Com ironia, a nossa diversidade étnica sofreu uma prova de modernidade quando a flecha do índio atingiu o soldado de cavalaria enquanto hackers atacavam o Itamaraty.
Os protestos paralelos à Copa do Mundo levam a presidente Dilma Rousseff a acreditar ser vítima de uma conspiração contra sua reeleição. “É gravíssimo tentar fazer política com a Copa”, confidenciou a um dos grupos de empresários convocados ao Planalto para ouvir anúncios de benesses econômicas a empresas.
O grupo de industriais que esteve com Dilma, na terça-feira, foi convidado a ouvir mais uma promessa sobre a desoneração das folhas salariais para permitir a redução de encargos financeiros a uma parte de setores da indústria. Ouviram com da presidente a garantia de que agora a coisa vai.
Concreta mesmo, foi a oportunidade que o grupo recebeu para ouvir desabafos de Dilma, irritada com cenas de violência diante do Planalto, onde índios e movimentos sociais protestavam contra os gastos da Copa. Os empresários ouviram a presidente protestar contra os protestos:
— O que está em jogo é a imagem do país. Não vou permitir que se repitam as cenas de violência da Copa das Confederações.
A violência seria provocada nas ruas com fim eleitoral, segundo Dilma. Não passava pela sua cabeça que o fato de ela estar em campanha para se reeleger, como naquela reunião, poderia ser uma coincidência com a revolta das ruas contra a má gestão do governo e os abusos de gastos com o futebol no meio de denúncias de corrupção que rebaixam a autoestima brasileira.
Dilma comparou as ruas daquele dia às de um ano antes, durante a Copa das Confederações. O que melhorou desde então na vida de segmentos sociais como os índios e os sem teto? A falta de avanços sociais não teria aguçado a insatisfação popular quando comparados às acusações de corrupção, inclusive nos gastos com o futebol?
Há um ano, os índios sempre a reclamar pela demarcação de suas terras, preocupavam-se em especial com falta de prestígio da etnia que levou à desocupação, no Rio, da Casa do Índio para ceder espaço a mais uma obra pela Copa ali ao lado do Maracanã. Nas ruas, agia outro grupo social, o Anonymous, aquele formado por hackers.
Naquela terça-feira, os índios que estavam perto do Planalto disparavam flechas e empunhavam lanças contra a cavalaria da Polícia Militar chamada a desocupar o coração da República. O soldado Kleber Elias Ferreira foi atingido numa perna. Em compensação, o cavalariano foi mais contemporâneo, atacou com o cavalo e bombas de gás lacrimogêneo.
Em outra ponta tecnológica mais high-tech, no mesmo dia o Itamaraty sofreu como vítima a intensificação do ataque cibernético de hackers que há uma semana sitiavam os seus computadores numa escala que atingia as instalações diplomáticas brasileiras planeta afora. A escala do ataque levou os diplomatas a admitirem que estavam na mira de protestos.
Pelo volume do ataque, o Ministério das Relações Exteriores seria vítima de uma rede, que poderia ter ramificações em outros países como acontece com os Anonymous, presentes nas manifestações da Copa das Confederações. As ramificações do Anonymous foram consideradas suspeitas pela Polícia Federal e serão vigiadas ao longo da Copa.