Índios protestam: flechas contra bombas de gás lacrimogêneo - Foto:  Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr
Índios protestam: flechas contra bombas de gás lacrimogêneo – Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr

Com ironia, a nossa diversidade étnica sofreu uma prova de modernidade quando a flecha do índio atingiu o soldado de cavalaria enquanto hackers atacavam o Itamaraty.

Os protestos paralelos à Co­pa do Mundo levam a presidente Dilma Rousseff a acreditar ser vítima de uma conspiração contra sua reeleição. “É gravíssimo tentar fazer política com a Copa”, confidenciou a um dos gru­pos de empresários convocados ao Planalto para ouvir anúncios de benesses econômicas a empresas.

O grupo de industriais que esteve com Dilma, na terça-feira, foi convidado a ouvir mais uma promessa sobre a desoneração das folhas salariais para permitir a redução de encargos financeiros a uma parte de setores da indústria. Ouviram com da presidente a garantia de que agora a coisa vai.

Concreta mesmo, foi a oportunidade que o grupo recebeu para ouvir desabafos de Dilma, irritada com cenas de violência diante do Planalto, onde índios e movimentos sociais protestavam contra os gastos da Copa. Os empresários ouviram a presidente protestar contra os protestos:

— O que está em jogo é a imagem do país. Não vou permitir que se repitam as cenas de violência da Copa das Confederações.

A violência seria provocada nas ruas com fim eleitoral, segundo Dilma. Não passava pela sua cabeça que o fato de ela estar em campanha para se reeleger, como naquela reunião, poderia ser uma coincidência com a revolta das ruas contra a má gestão do governo e os abusos de gastos com o futebol no meio de denúncias de corrupção que rebaixam a autoestima brasileira.

Dilma comparou as ruas daquele dia às de um ano antes, durante a Copa das Confederações. O que melhorou desde então na vida de segmentos sociais como os índios e os sem teto? A falta de avanços sociais não teria aguçado a insatisfação popular quando comparados às acusações de corrupção, inclusive nos gastos com o futebol?

Há um ano, os índios sempre a reclamar pela demarcação de suas terras, preocupavam-se em especial com falta de prestígio da etnia que levou à desocupação, no Rio, da Casa do Índio para ceder espaço a mais uma obra pela Copa ali ao lado do Maracanã. Nas ruas, agia outro grupo social, o Anonymous, aquele formado por hackers.

Naquela terça-feira, os índios que estavam perto do Planalto disparavam flechas e empunhavam lanças contra a cavalaria da Polícia Militar chamada a desocupar o coração da República. O soldado Kleber Elias Ferreira foi atingido numa perna. Em compensação, o cavalariano foi mais contemporâneo, atacou com o cavalo e bombas de gás lacrimogêneo.
Em outra ponta tecnológica mais high-tech, no mesmo dia o Itamaraty sofreu como vítima a intensificação do ataque cibernético de hackers que há uma semana sitiavam os seus computadores numa escala que atingia as instalações diplomáticas brasileiras planeta afora. A escala do ataque levou os diplomatas a admitirem que estavam na mira de protestos.

Pelo volume do ataque, o Mi­nis­té­rio das Relações Exteriores seria vítima de uma rede, que poderia ter ramificações em outros países como acontece com os Anony­mous, presentes nas manifestações da Copa das Con­fe­derações. As ramificações do Anonymous foram consideradas suspeitas pela Polícia Federal e serão vigiadas ao longo da Copa.