Sob pressão do PMDB, a presidente terá de encarar o debate sobre o novo aparelho

14 junho 2014 às 12h18

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Na véspera da abertura da Copa, Dilma Rousseff convidou na última hora o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), a acompanha-la a São Paulo para a abertura dos jogos – o presidente do Supremo, ministro Joaquim Barbosa, recebeu o convite na semana anterior. A presença de Calheiros se tornou uma oportunidade para o reencontro com o PMDB.
É verdade que, dois dias antes, Dilma esteve na convenção do partido depois que os peemedebistas decidiram apoiar a reeleição, mas com uma dose de frustração da candidata em queda de prestígio. Em seguida, comandados pelo PMDB, o Senado e a Câmara apoiaram a adesão a uma greve branca convocada pela oposição contra o decreto da consulta popular.
Com o apoio dos partidos de oposição, Calheiros e o deputado Henrique Alves (PMDB-RN) decidiram colaborar com a obstrução dos trabalhos no Senado e na Câmara até que a presidente desista da ideia do decreto e mande a criação dos conselhos populares ao Congresso na forma de medida provisória ou projeto — passíveis de mudanças parlamentares, inclusive de rejeição.
Se Dilma não mudar de ideia, o Congresso deverá insistir na votação de um projeto apresentado pelo DEM, PPS e PSDB para revogar o decreto do Planalto. Por ironia, o decreto seria anulado por outro decreto, mas parlamentar: decreto de projeto legislativo, instrumento que atende por PDL na intimidade.
“Quem representa o povo é o Congresso”, discursou Calheiros no Senado contra o decreto. Aproveitou o embalo e criticou também o controle da mídia, pois uma ideia leva a outra. ”Reitero que não apoio, não comungo, sequer admito discutir iniciativa, a qualquer pretexto, que pretenda regular a mídia.”
Na Câmara, o líder do DEM, deputado pernambucano Mendonça Filho, comanda a oposição na resistência aos conselhos e foi o porta-voz da greve branca. “A partir de agora estamos em obstrução total em defesa da autonomia do Poder Legislativo”, anunciou a paralisação que deve vigorar pelo menos nesta semana, com a colaboração da Copa e do Corpus Christie na quinta.
Apesar da pressão do Congresso e da mídia, a presidente Dilma evita conversa quando o assunto é a criação dos conselhos populares. Apenas dez dias depois de assinar o decreto, ela abordou o tema. Mesmo assim a abordagem foi rápida e indireta em 5 de junho. No bojo de discurso com 5.931 palavras feito para uma reunião com empresários no Planalto.
Sem mencionar os conselhos populares previstos no decreto, Dilma ironizou as denúncias da oposição contra os conselhos populares que assumem funções legislativas. Vagamente, disse que conselhos sociais que operam junto ao Executivo não invadem o Legislativo, pois apenas elaboram ideias, não fazem o projeto:
— Muitas cabeças pensam mais do que só a cabeça do Executivo, muitas cabeças. É uma convicção que nós temos e faz parte, eu acho, da construção da democracia no nosso país.
Quanto à frustração de Dilma com a convenção, o desapontamento veio da circunstância de que ganhou os minutos e segundos à disposição dos peemedebistas na televisão e rádio, mas não levou consigo o partido. Novamente, o PMDB entrará rachado nas urnas presidenciais, dividido entre a presidente e os concorrentes Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB).
Os números falam muito, mas não dizem tudo. Na véspera da convenção o comandante do PMDB e vice-presidente Michel Temer calculou que a reeleição teria o apoio de 55 a 65% dos representantes do partido. No frigir dos ovos, acertou na média: foram 59% a favor.
Mais tarde, com a cabeça fria avaliou que, daqueles 59, uns 20% foram da cota pessoal dele, vinda de correligionários que votaram a favor apenas porque Temer é o nome do PMDB para continuar na vice – posição sujeita a revisão até o fim do mês. Os outros 41% se dividiram entre os que não acreditam na reeleição de Dilma e os insatisfeitos com o seu descaso com políticos.