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Mesclando memórias e análises sobre origens e os desdobramentos do golpe militar de 1964, o ex-governador de São Paulo José Serra narra sua trajetória de filho único de um imigrante italiano vendedor de frutas no mercado de São Paulo ao batismo de fogo como presidente da União Nacional dos Estudantes, de exilado político na França e no Chile ao pesquisador de prestígio de um dos mais respeitados centros acadêmicos do mundo: a Universidade de Princeton

Em “Paisagem de Porcelana”, Claudia Nina dá voz a uma protagonista atacada por diversos níveis de opressão, que desmorona passivamente

Com uma visão do amor, dos sonhos, das utopias, dos sentimentos, da solidariedade, enfim, de valores tão refratários nesse terceiro milênio, Miguel Jorge não se intimida nem se aniquila diante da “ambiguidade das facas”, numa atmosfera em que nos sentimos como num campo de disputas

“Poemas Apócrifos de Paul Valéry Traduzidos por Márcio-André” encontra, a partir de textos heterogêneos em termos estéticos e de proposta de escrita, tonalização perfeita para causar maravilhamento

Ao lado de informações pouco conhecidas sobre a vida de Eça de Queiroz, o livro de Campos Matos traz vasta e preciosa iconografia, além de reflexões críticas que permitem uma visão aprofundada do percurso ideológico do escritor, da repercussão da sua obra e da sua figura pública entre os contemporâneos

“As Fantasias Eletivas”, de Carlos Henrique Schroeder, faz uma ode à literatura, ao mostrar o encontro de dois solitários que buscam reinventar o mundo através do olhar sobre a ficção

Partindo da investigação da morte de uma professora, Bernardo Kucinski expõe, no romance “Alice”, as entranhas de uma universidade corrompida por intrigas, invejas e fraudes

Alguém com interesse em Ronnie Von ou na música que ele fez, vai ter de esperar um próximo livro

Na última parte da trilogia, o jornalista Lira Neto, amparado numa minuciosa pesquisa, reconstitui os últimos anos da vida de Getúlio Vargas procurando elucidar um dos períodos mais importantes da história política brasileira

“O Governo dos Povos” reúne trabalhos apresentados e discutidos por estudiosos de universidades brasileiras e portuguesas com múltiplas visões sobre o passado colonial brasileiro

Em “Mussum Forévis: Samba, Mé e Trapalhões”, Mussum é retratado como um ingênuo. Seu alcoolismo é diminuído a uma questão semântica (“mé”). Seus casos extraconjugais, um pequeno detalhe que em nada parece alterar sua vida. Não é que o livro seja ruim, é um livro de fã

“Jó, Romance de um Homem Simples” agradará a leitor comum e a leitor exigente, pois Joseph Roth tem a magia de um povo milenar cujas narrativas já seduziram todo gênero de público. O romance se insere entre as grandes narrativas do princípio do século 20

Se o livro é belo, seu significado é terrível. No cosmos de Herman Melville, os homens são quase sempre ilhas e embarcações para si mesmos

A pesquisadora Lúcia Garcia escolheu a coleção de cardápios do poeta Olavo Bilac como seu objeto de estudo em busca de reflexos da vida cotidiana que se espraiava pelos lugares frequentados pela elite carioca às vésperas do fim do Segundo Reinado e nos anos iniciais da República
Adelto Gonçalves Especial para o Jornal Opção
Atribui-se a Lucien Febvre (1878-1956), fundador da Escola dos Annales, a ideia segundo a qual a História poderia ser contada a partir da escolha de novos objetos de estudos, o que constituiu uma revolução na historiografia, tal foi o número de trabalhos que se seguiram a partir da década de 1950 com recortes específicos. Deixou-se de lado a concepção tradicional que marcaram os livros de História até então, baseados nos feitos dos grandes nomes — reis, presidentes, primeiros-ministros, governadores. Hoje, um livro que siga esse modelo é visto como quinquilharia de museu, a tal ponto que um autor chegou a ser acusado pejorativamente na universidade de candidato a membro de algum instituto histórico.
É claro que a História vista em mínimos detalhes é sempre mais interessante do que aquela que se baseia nos feitos dos “grandes”. O problema é encontrar nos arquivos resquícios do que pensaram ou disseram aqueles que eram iletrados e, portanto, não deixaram registros de suas vivências, queixas, emoções ou anseios. Quer se queira ou não, a História sempre será escrita a partir da visão dos letrados, daqueles que deixaram registro do que viram e viveram, refletindo obrigatoriamente a visão de mundo da classe dominante.
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Mas a que vêm estas reflexões? Vêm a propósito do livro “Para uma História da Belle Époque: A Coleção de Cardápios de Olavo Bilac”, de Lúcia Garcia, com prefácio do poeta e ensaísta Alberto da Costa e Silva, ex-presidente da Academia Brasileira de Letras e ex-embaixador do Brasil em Portugal, Nigéria, Benim, Colômbia e Paraguai.
A partir da ideia de Febvre, Lúcia Garcia escolheu a coleção de cardápios do poeta Olavo Bilac (1865-1918), que faz parte do acervo da Academia Brasileira de Letras, como seu objeto de estudo em busca de reflexos da vida cotidiana que se espraiava pelos lugares frequentados pela elite carioca às vésperas do fim do Segundo Reinado e nos anos iniciais da República. Aliás, como observa Lúcia Garcia, Bilac, certamente, colecionava menus dos almoços, jantares e banquetes festivos de que participava no Brasil e no mundo.
É de assinalar que, como explica a autora, a palavra cardápio é um neologismo criado pelo filólogo Antônio de Castro Lopes (1827-1901) na década de 1890 para substituir a palavra francesa menu que, a rigor, significa miúdo e não tem em português equivalente, pelo menos no sentido de almoço, jantar ou ceia.
Diz a pesquisadora ainda que Bilac “preservava os cardápios para revisitar os momentos vividos, em benefício da memória, como antídoto ao esquecimento”. Entre os cardápios reproduzidos estão alguns de banquetes em homenagem ao próprio poeta, homem célebre ao seu tempo, e outros que celebravam o IV Centenário do Descobrimento do Brasil, a visita ao Rio de Janeiro da famosa atriz italiana Tina Di Lorenzo (1872-1930) e acontecimentos diversos.
Nos menus, acrescenta a pesquisadora, estão presentes as confeitarias Pascoal e Colombo, entre outros estabelecimentos comerciais conhecidos e frequentados pela classe dominante no Rio de Janeiro no início do século 20. Como diz Lúcia Garcia, a extensa coleção doada à ABL por Bilac, ou por seus familiares, revela a rede de sociabilidade do escritor, quer pela indicação do anfitrião, quer pela assinatura dos comensais. A essa época, é de ressaltar que havia uma “febre” entre as pessoas bem-postas na vida de colecionar autógrafos e cartões postais.
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Como diz Alberto da Costa e Silva no prefácio, esta coleção revela como novos padrões se iam popularizando no País e, como pela lista de pratos, afrancesavam-se cada vez mais as elites. A partir daí, Costa e Silva imagina o que se conversava à época os vizinhos de mesa, já que ecos dessas tertúlias não ficaram, a não ser esparsamente em crônicas, como as que Machado de Assis (1839-1908) e mesmo Bilac assinavam nos grandes jornais.
Diz: “É provável que, num almoço, se discutisse a abertura da Avenida Central pelo prefeito Pereira Passos ou a campanha sanitária de Oswaldo Cruz”. E acrescenta mais adiante: “Pois ainda havia quem não tivesse saído do assombro ou se acostumado, de alma rendida, à aspirina, à lâmpada elétrica, ao telégrafo, ao cabo submarino, do rádio, ao telefone, ao navio a vapor com hélice e casco de ferro, ao motor de combustão interna, ao automóvel com pneu de câmara de ar, às máquinas voadoras, aos raios-X, ao cinematógrafo e à partilha da África e de parte da Ásia entre as potências europeias”.
Da coleção constam ainda fotografias de um almoço — do qual não restou o cardápio — na década de 1910 na fazenda em Louveira, no interior do Estado de São Paulo, de Júlio Mesquita (1862-1927), fundador e proprietário do jornal “O Estado de S. Paulo”, do qual Bilac também era colaborador. De notar, como assinala a pesquisadora, é que Bilac nas fotografias sempre fazia questão de aparecer de perfil. É essa também uma rara foto em que aparece alguém das classes menos favorecidas, o cozinheiro da fazenda de Mesquita, sentado meio a contragosto e sem jeito no primeiro degrau de uma escada à frente dos demais.
Lúcia Garcia (1979) é doutora e mestre em História Política pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Participou de vários projetos de pesquisa histórica documental e iconográfica nos últimos anos, tendo colaborado como consultora na “Comissão para as comemorações do bicentenário da chegada de D. João ao Rio de Janeiro” (Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro). É autora de “Euclides Da Cunha: Escritor por Acidente e Repórter do Sertão” (São Paulo, Companhia das Letras), “A Transferência da Família Real para o Brasil 1808 2008”, com outros autores (Lisboa: Tribuna da História), “Rio e Lisboa: Construções de um Império” (Lisboa: Câmara Municipal) e “Documentos Oitocentistas da Biblioteca Nacional”, coautoria de Lilia Schwarcz (Rio de Janeiro, Biblioteca Nacional). É coautora de “Impresso no Brasil: Destaques da História Gráfica”, organizado por Rafael Cardoso (Rio de Janeiro: Verso Brasil).
Adelto Gonçalves, mestre em Língua Espanhola e Literatura Espanhola e Hispanoamericana e doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo.

Em “Complacência” os economistas Fábio Giambiagi e Alexandre Schwartsman navegam por temas complexos da economia brasileira procurando desmitificar e responder por que o país, mesmo com a grande oferta de empregos, vem crescendo tão pouco