Imprensa

Iúri Rincon
“Intocável — A Estranha Vida e a Trágica Morte de Michael Jackson” (Companhia das Letras, 880 páginas) nem de longe é a biografia definitiva do múltiplo artista.
Fragmentada, com idas e vindas em excesso, histórias que não fecham e uma longa, chata e desnecessária narrativa dos infindáveis problemas jurídicos do rei do pop, “Intocável” pelo menos é corajosa e não foge dos defeitos do astro.
Provavelmente homossexual, insatisfeito com sua imagem, revoltado com a família (exceto a mãe), prisioneiro do sucesso, do seu staff, ainda era um bom pai, trabalhador, inquieto e talentoso.
O livro sugere que Michael tinha duas personalidades, uma pública e outra nos negócios privados, chegando até a mudar de voz quando tratava com a indústria musical e advogados.
Vencer suas mais de 800 páginas em letra pequena, entretanto, é quase uma façanha, apesar de bem escrito. Mas, pra começar, tá bom demais.
Iúri Rincon é jornalista, pesquisador na área de história, poeta e crítico de música bissexto.

Minotauro, agora mais conhecido como Minitouro, foi nocauteado pelo rechonchudo Roy Nelson e, mal saiu do chão, disse que quer uma “revanche” com Frank Mir. Não terá, se depender de Dana White. O chefão do UFC disse que esperou que o lutador brasileiro dissesse, depois do nocaute mais vexatório do ano, que se aposentaria. Como não disse, o empresário decidiu aposentá-lo, ao dizer que não quer mais vê-lo lutar.
A franqueza de Dana White certamente choca os brasileiros, sempre enrolando para dizer a verdade, evitando o conflito, até explodir quando não é mais necessário. Mas o que disse é o que todos aqueles que apreciam MMA — novela para homens que começa a agradar as mulheres — gostariam de dizer. Ninguém quer Minotauro, um lutador de bela história, apanhando, sobretudo sendo surrado, no primeiro round, por um lutador forte, mas do segundo time, limitado. Na luta contra Roy Nelson, o que se viu no octógono foi um Minotauro sem ritmo, sem noção de distância e apático. Em suma, um poste, ou melhor, um saco de pancadas dolorosamente humano.
Ao demitir Minotauro, Dana White está zelando de sua saúde e colaborando para que os brasileiros não fiquem vermelhos — sim, de vergonha, ou, quem sabe, de raiva — depois de suas lutas. Espera-se que, com seu bom senso habitual, o grande Minotauro não se transforme no novo Mirko “Cro Cop” Filipovic. Ele não tem mais idade para ser escada e sparring. Que fique, pois, como mestre, o que é, e dos bons.
Não há como nem disfarçar o caráter político do ¨cala-boca¨ à jornalista Rachel Sheherazade. Não há como. Rachel foi calada pela nova norma do jornalismo do SBT, que simplesmente optou por acabar com os comentários em seu telejornal. Foi a melhor decisão diante do caos que representa esse “cala-boca”. As alternativas eram a demissão da profissional ou o enquadramento – leia-se censura direta – de seus comentários. O SBT entregou os dedos e os anéis, mas preservou minimamente a dignidade. Uma deputada do PCdoB carioca foi autora de uma denúncia contra Rachel na esteira de reação censora incentivada nas redes sociais. Num dos primeiros casos de espancamento de marginais registrados no Brasil recentemente, Rachel disse ¨compreender¨ o ato coletivo de cidadãos comuns, que bateram no marginal e o amarraram num poste até a chegada da polícia. Rachel não disse em nenhum momento que a população estava certa ao fazer o que fez. Disse apenas que compreendia o momento de ira. No final do comentário, como era/é seu estilo, provocou: ¨tá com pena (do marginal agredido), leve para sua casa¨. Um comentário absolutamente claro e transparente: ela compreendia a razão de um grupo de populares ter reagido violentamente contra o marginal e não tinha nenhuma pena dele. Foi isso que matou a liberdade de opinar no jornalismo do SBT? Claro que não. Rachel foi acusada e condenada por grupos por suas opiniões a respeito do governo e da política. Não teve qualquer relação com a bandidagem. Muito mais dramático que a compreensão de Rachel e de sua falta de falsa compaixão pelo marginal são os comentários diretos de apresentadores de programas policiais nas TVs de todos os quadrantes da nação. Para ficar em um só exemplo que vale para o Brasil inteiro, Rachel jamais foi tão ousada quanto José Luiz Datena em sua ojeriza contra a marginalidade e os marginais que infestam a realidade brasileira. O problema de Rachel e de seus comentários é outro. Vai numa outra linha. O que realmente desencadeou a reação contra ela tanto nas redes sociais como pela deputada federal do PCdoB foram os comentários até sarcásticos contra os desmandos e equívocos do governo federal. Cabe a pergunta: conseguiria ela dizer o que já disse contra o governo e governantes se o Brasil ainda estivesse sob o regime ditatorial de 64? Certamente, não. Pois a partir de agora, em plena democracia, ela também não poderá falar. A diferença entre as duas épocas é o pau-de-arara. O silêncio é mesmo. Direitos humanos? Não. O problema foram os direitos políticos. Rachel foi, sim, calada por se manifestar contra o governo. Se há alguma dúvida quanto a isso, que se faça uma comparação entre ela e seus comentários a respeito do marginal agredido e um outro jornalista, também da TV e dono de um blog na internet, que foi acusado de racismo contra um colega de profissão, e condenado pela Justiça. Acusada por populares e pela deputada, Rachel foi calada. O racista condenado pela Justiça continua com seu blog e apresentando faturas mensalmente contra estatais do governo federal. Ela era/é a ácida crítica ao governo, ele é da tropa de ataque a oposicionistas e um bunker da defesa governista. PS – é óbvio, mas ainda assim julgo necessário ressaltar, que neste site, afonsolopes.com, há ¨uma visão dos fatos¨. Não é a visão definitiva, nem a pretensiosamente mais inteligente. E nem se invoca aqui a desgastada – por mau uso – tese da ¨liberdade de expressão¨. Melhor do que essa tal liberdade para expressar a forma como se pensa é semear a pluralidade das ideias. Sem que nenhuma ¨visão/voz¨ tenha que ser calada. O silêncio sempre incomoda. (publicado no site www.afonsolopes.com/category/blog)

O jornalista Marcos Linhares lança a segunda edição do livro “Não Existe Crime Perfeito”, no qual conta os bastidores de crimes célebres, como o assassinato de Ana Elizabeth Lofrano dos Santos pelo marido José Carlos Alves dos Santos, ex-chefe da Assessoria de Orçamento do Senado.
Texto da repórter Gabriela Ferigato (quinta-feira, 17), do Portal Imprensa (http://bit.ly/1pdTbde), conta uma história interessante envolvendo José Carlos Alves, as revistas “Veja” e “IstoÉ” e a polícia. “Preso, José Carlos Alves teria cobrado R$ 1 milhão da revista ‘Veja’ para conceder uma entrevista e entregar os anões do Orçamento. A publicação topou, mas a condição imposta pela polícia é que os repórteres, após a conversa, passassem algumas informações para ajudar na apuração”, relata o portal. “Os jornalistas não cumpriram a promessa, mas a polícia já sabia que ia ser traída e” grampeou “a cela. Então”, os policiais “ligaram para a ‘IstoÉ’ e disseram: ‘Olha, a ‘Veja’ pagou pela entrevista, nós vamos entregar de graça para vocês’”, diz Marcos Linhares. As duas publicações saíram com capas idênticas, o que, certamente, deve ter irritado os repórteres e editores da “Veja”.
A coluna "Radar" (da revista "Veja" que está nas bancas), assinada por Thiago Prado (e não por Lauro Jardim, o editor tradicional), informa que o livro "Assassinato de Reputações" rendeu 700 mil reais ao delegado de polícia e ex-secretário nacional de Justiça Romeu Tuma Junior. O livro permanece na lista dos mais vendidos há semanas. Na lista da "Veja", a desta semana, está em terceiro lugar. É um fenômeno editorial-comercial. Tuminha, filho do falecido senador Romeu Tuma, o Tumão, detona o PT, especialmente o do ex-presidente Lula da Silva. Mais: o delegado, que está prestes a se tornar o homem de 1 milhão de reais da indústria editorial brasileira, está escrevendo, em colaboração com um jornalista, o segundo volume, com o mesmo objetivo: dissecar as ações, tidas como policialescas, do PT no poder. O fato é que, até agora, não conseguiram desmentir as denúncias publicadas pelo delegado. No Twitter, Romeu Tuma corrige a informação publicada pelo Jornal Opção, que baseou-se em nota da "Veja". Ele escreveu: "Bem que eu merecia. Mas a diferença entre seu 'chute' e a realidade é abissal." Sabe-se que, no Brasil, quem ganha mesmo com as publicações são as editoras, quando ganham. Os autores em geral ganham 10% das vendas. Em poucos casos, como o de Fernando Morais, há adiantamentos e participação maior no faturamento. Como livro se tornou um dos maiores best sellers do país, há, possivelmente, uma disputa entre editoras pelo volume 2. "Há um jogo de interesses entre editoras tentando editar o 2 volume. Não estou preocupado com ganhos, mas sim com a história e minha honra", afirma Tuma Junior, no Twitter, em resposta ao Jornal Opção.
O jornalista Thiago Marques é o novo responsável pela Comunicação Setorial da Secretaria de Indústria e Comércio (SIC) do governo de Goiás. Thiago Marques vai trabalhar com o novo secretário, Bill O’Dwyer, indicado pelos líderes empresariais de Goiás e, sobretudo, de Anápolis. O jornalista fez um trabalho consistente na promoção da imagem da Secretaria de Educação, onde atuou ao lado do deputado federal Thiago Peixoto (PSD). Trata-se de um profissional que trabalha e, ao mesmo tempo, contribui na articulação política — sempre reconhecendo que a estrela é o secretário. Integrantes de algumas redações dizem que Thiago Marques tem o hábito de priorizar a redação do “Pop”. Se for verdade, é mesmo um problema sério e a reclamação deve ser feita diretamente ao presidente da Agência de Comunicação (Agecom), Orion Andrade, e, agora, a Bill O’Dwyer.

Recomenda-se aos cientistas brasileiros que inventem o risômetro. Assim, toda vez que adquirir o “Pop”, ou se for ler na internet — missão impossível às vezes até para quem é assinante —, o leitor deve colocar o risômetro na boca e pode começar a rir. Na semana passada, o diário goiano “revelou” que a presidente Dilma Rousseff estava “grávida”, recentemente disse que o coronel Brilhante Ustra combateu a Guerrilha do Araguaia (o que é falso), “elegeu” Thiago Peixoto a vereador (o jovem é deputado federal), confundiu Milton Campos com Milton Alves, trocou iminente com eminente.
No sábado, 12, o jornal continuou o festival de erros que assola sua redação, como se o espírito do Febeapá estivesse “reencarnando” nos computadores dos repórteres. O “Pop” publicou a reportagem “Ex-miss Goiás é absolvida” e cometeu erros primários. Quem leu a reportagem de Thiago Burigato, do Jornal Opção Online, foi informado que Luana Nadejda Jaime foi absolvida da acusação de ter assassinado Gilvânia Lima de Oliveira e que o nome de seu advogado é Pedro Sérgio dos Santos, diretor da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Goiás e doutor em Direito pela prestigiosa Universidade Federal de Pernambuco. Agora, se o leitor consultou o “Pop”, ficou “sabendo” que outra pessoa foi absolvida — uma sra. de nome Luana “Madedja” Jaime. Quem fez sua defesa foi o advogado Pedro “Henrique” dos Santos — que, obviamente, não existe, exceto nas páginas do “Pop”.
Ao comentar os erros, um juiz disse: “Que tal julgar o ‘Pop’ no Tribunal da Língua Portuguesa?” Nem tanto...
Pouco dadas a firulas acadêmicas e discussões filosóficas, Suzana Singer talvez tenha sido uma das “ombudsmen” (termo impróprio para mulheres, mas é assim que o jornal paulistano usa) mais rigorosas da “Folha de S. Paulo” (o mais polêmico talvez tenha sido Caio Túlio Costa), ao lado de Marcelo Leite (possivelmente, o que fazia uma crítica mais técnica). Ela sempre aponta duramente os erros da “Folha de S. Paulo”, mas reconhecendo os acertos com largueza de visão. Singer será substituída na sexta-feira, 25, pela jornalista Vera Guimarães, secretária-assistente de Redação de Semanais. Curiosidade: os dois portais que deram a notícia, o Portal da Revista Imprensa (publicou em primeira mão, na semana passada) e o Portal dos Jornalistas, não publicaram nenhuma fotografia da nova ombudsman. Procurei na internet, inclusive no site da “Folha”, e não encontrei nenhuma foto. Vera Guimarães, ao que parece, é discreta. Singer será a nova editora de Treinamento do jornal — cargo certamente ideal para quem foi ombudsman.

Quem acessa o site da Fnac (há uma ótima livraria no Chiado, em Lisboa, nas proximidades da Praça Luís de Camões) vê que um dos lançamentos destacados é “Holocausto Brasileiro”, da jornalista brasileira Daniela Arbex. O livro saiu, este mês, em Portugal pela Editora Guerra & Paz (256 páginas).
Eis a síntese que está no site da Fnac: “Um pungente retrato de abandono e horror. Um genocídio que roubou a dignidade e a vida a 60.000 pessoas. Milhares de crianças, mulheres e homens foram violentamente torturados e mortos, no Brasil, no hospital de doenças mentais de Colônia, em Barbacena, fundado em 1903. A maioria foi internada sem diagnóstico de doença mental: eram meninas violadas que engravidaram dos patrões, homossexuais, epilépticos, mulheres que os maridos não queriam mais, alcoólicos, prostitutas. Ou simplesmente seres humanos em profunda tristeza. Sem documentos, sem roupa e sem destino, tornaram-se filhos de ninguém. Em ‘Holocausto Brasileiro’, a premiada jornalista de investigação Daniela Arbex resgata do esquecimento esta chocante e macabra história do século XX brasileiro: um genocídio feito pelas mãos do Estado, com a conivência de médicos, funcionários e população, que roubou a dignidade e a vida a 60.000 pessoas.”
No site da Bertrand, outra ótima livraria de Portugal, o livro ainda não recebeu nenhuma menção.
Não deixa de ser interessante que um dos maiores best-sellers do Brasil, nos últimos anos, seja um livro de alta qualidade, resultado de uma pesquisa rigorosa que, aos poucos, começa a obter repercussão internacional. Escrever bem é obrigação, claro. Mas vale o registro de que, além de escrever bem, Daniela Arbex é autora de um texto elegante (o que não quer dizer pomposo), fluente, preciso e de grande clareza. Trata-se de uma obra-prima do jornalismo brasileiro. Fosse americana, a repórter teria faturado o Pulitzer.
O repórter Marcos Nunes Carreiro foi o primeiro colocado no 1º Prêmio UEG de Jornalismo, na categoria "Jornalismo Impresso". A reportagem premiada foi publicada na edição 2006 do Jornal Opção e pode ser lida aqui. A entrega do prêmio será realizada na quarta-feira, 16, no Palácio da Música, no Centro Cultural Oscar Niemeyer durante o Jubileu de Cristal da UEG, evento que comemora os 15 anos da universidade.
Há algum tempo, quando se perguntava: “Qual é o melhor jornal americano?”, os leitores, hesitantes, às vezes citavam o “New York Times”, o “Washington Post” e, mais raro, o “Wall Street Journal”. Agora, um quarto jornal certamente será citado entre os três — o “The Guardian”. Bem, o “Guardian” é inglês. Certo, é. Mas faz sucesso nos Estados Unidos o “Guardian” digital, que, com uma equipe pequena mas competente, publicou as principais denúncias de Edward Snowden, o jovem que pôs a nu a espionagem da NSA, agência de espionagem americana, e do GCHQ, agência de espionagem inglesa. Na segunda-feira, 14, coroando o trabalho do jornalismo que não se agacha ante o poder, a Universidade Columbia anunciou os vencedores do Pulitzer 2014, o mais importante prêmio de jornalismo do país de Thomas Jefferson e Abraham Lincoln. Pelas reportagens-denúncias que divulgaram, de maneira independente e resistindo às pressões dos poderosos de dois países, EUA e Inglaterra, a partir dos arquivos de Snowden — que provaram que as agências NSA e GCHQ espionaram todo o mundo —, o “Guardian” e o “Washington Post” dividiram o prêmio principal, Serviço Público. O “Boston Globe” ganhou o Pulitzer na categoria “Breaking News” (“Últimas Notícias”). O jornal fez a melhor cobertura do ataque terrorista à maratona de Boston, em abril de 2013. Chris Hamby levou o prêmio de Jornalismo Investigativo, do Centro de Integridade Pública. A reportagem premiada denunciou “a negligência de médicos e advogados em processos de mineradores com problemas respiratórios contra suas empresas”, registra o portal da revista “Imprensa”. Na categoria Reportagem Explicativa, Eli Saslow, do “Post”, foi o vencedor. A matéria apresenta a pobreza da América Latina. Na categoria Reportagem Local, Will Hobson e Michael La Forgia, do “Tampa Bay Times”, um jornal de bairro, são os vencedores. Eles investigaram a “oferta de casas populares para moradores de rua na Flórida”, conta o Portal Imprensa. David Philipps, do “The Gazette, faturou o Pulitzer na categoria Reportagem Nacional com reportagem sobre como são tratados os veteranos de guerra dos Estados Unidos. Jacon e Szep e Andrew R. C. Marshall, da agência Reuters, com reportagem a respeito da minoria muçulmana em Myanmar, faturaram o prêmio na categoria Internacional. Não houve ganhador na categoria Melhor Escrita. O que não deixa de ser surpreendente, pois há publicações americanas de qualidade, como a revista “New Yorker”, que primam pela qualidade escrita. Josh Haner, do “New York Times”, levou o prêmio na categoria Melhor Fotografia. Josh fez uma “série sobre a recuperação de uma vítima do ataque terrorista na maratona de Boston”. Nos Estados Unidos, mais do que em alguns países, o trabalho do repórter fotográfico é muito respeitado, mas, quando um jornal do porte do “Times” ganha o Pulitzer apenas nesta categoria, a redação costuma ficar agastada. É sinal de desprestígio. Outras premiações do Pulitzer: Stephen Henderson, do “Detroit Free Press” (Comentarista); Inga Saffron, do “Philadelphia Inquirer” (Crítica); a equipe do jornal “The Oregonian” (Editorial); Kevin Siers, do “The Charlotte Observer” (Chargista); e Tyler Hicks, do “New York Times”, na cobertura de uma chacina no Quênia (Fotografia Factual).
As revelações são do doutor em história Hugo Studart

Repórter do “The Guardian”, baseado em documentos divulgados pelo norte-americano, revela que, na internet e ao telefone, todos nós estamos nus, à mercê de potências tecnológicas e experts em espionagem como Estados Unidos e Inglaterra
[caption id="attachment_1724" align="alignleft" width="300"] Livro mostra que as pessoas, mesmo as comuns, são espionadas diariamente, tanto na internet quanto nas suas ligações telefônicas. O novo Grande Irmão, que espreita, deixaria George Orwell, autor de “1984”, estupefato[/caption]
“No fim das contas, nada é sagrado, exceto a integridade da própria consciência.”
Ralph Waldo Emerson,
“Ensaios”
Você envia um e-mail altamente secreto para um amigo ou fonte. Depois, no in box do Facebook, faz comentários calientes para uma possível namorada ou paquera. Ao telefone, fixo ou celular, faz comentários, pertinentes ou não, sobre determinada autoridade. Por fim, faz uma consulta inofensiva no Google ou no Yahoo sobre Osama bin Laden e a Al-Qaeda. Tudo secretíssimo. Pois não é bem assim. As conversas podem estar sendo monitoradas nacional ou internacionalmente. Os arquivos de Edward Joseph Snowden, 30 anos, ex-funcionário da Agência de Segurança Nacional (NSA), a maior e mais secreta agência de inteligência dos Estados Unidos, sugerem que não há (mais) inocência e liberdade em nenhum país. Num pacto faustiano, duas agências de espionagem, a americana NSA e a inglesa Government Communications Headquarters (GCHQ), com apoio de seus governos, decidiram conhecer tudo (ou quase) aquilo que pensam os indivíduos, desde os mais importantes, como Angela Merkel, chanceler da Alemanha, e Dilma Rousseff, presidente do Brasil, àqueles que não têm poder para fazer mal algum. Digamos assim: se quiserem, a NSA e o GCHQ têm condições de ouvir o que dizem e o que escrevem o prefeito de Goiânia, Paulo Garcia (PT), e o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB). Podem igualmente mapear seus auxiliares mais próximos. Fizeram isto com Dilma e seus principais assessores. “Mesmo que não esteja fazendo nada de errado, você está sendo observado e gravado”, assegura Snowden.
A história de Snowden é bastante conhecida. Mas quem quiser uma síntese de qualidade nada perde se ler o livro “Os Arquivos Snowden — A História Secreta do Homem Mais Procurado do Mundo” (Leya, 279 páginas, tradução de Bruno Correia e Alice Klesck), de Luke Harding, repórter do jornal inglês “The Guardian”.
Snowden era um tranquilo e brilhante administrador de sistemas da NSA — na verdade, de uma empresa terceirizada —, depois de ter passado pela CIA e por outra agência. Não havia feito curso superior, mas era uma craque em tecnologia de informação. De repente, descobriu aquilo que parecia normal à maioria dos colegas: o governo dos Estados Unidos, por meio da NSA, havia decidido conhecer as “profundezas” do que dizem os homens: “a agência tinha se afastado de sua missão original de recolhimento da inteligência sobre o exterior. Agora coletava dados sobre todos”. A observação eletrônica em massa chocou-o.
Com a bomba nas mãos, Snowden decidiu agir: procurou Glenn Greenwald, colunista do “Guardian” baseado no Brasil, e a documentarista Laura Poitras, ambos americanos. Depois de colher dados explosivos, o jovem fugiu para Hong Kong, onde se encontrou com o hesitante Greenwald e a confiante Poitras. Levou para a Ásia quatro laptops “fortemente criptografados”, com “documentos retirados dos servidores internos da NSA e do GCHQ”. Tratava-se do “maior vazamento de inteligência da História”.
Harding, baseado nos arquivos revelados por Snowden, frisa que, “em conjunto com o GCHQ, a NSA tinha ligado secretamente interceptadores de dados aos cabos de fibra ótica submarinos que circundam o globo. Isso permitiu que os EUA e o Reino Unido tivessem acesso à maior parte das comunicações mundiais”. A Justiça, acionada pelo governo americano, obrigava as empresas a se abrirem para a NSA. Obrigava nem é o termo preciso. “Praticamente todo o Vale do Silício estava envolvido com a NSA. Google [quarto a liberar informações para a NSA] Microsoft [primeira a fornecer dados à agência americana], Facebook [quinto a divulgar dados], até mesmo a Apple, de Steve Jobs” colaboraram com a agência de espionagem. “A NSA alegava ter ‘acesso direto’ aos servidores das gigantes da tecnologia.” Também colaboraram PalTalk, YouTube, Skype, Yahoo e AOL.
O inglês George Orwell, autor de uma distopia clássica, “1984”, imaginou alguma coisa, mas localizada, sobre o controle da informação e vigilância dos indivíduos (o Big Brother), mas certamente ficaria estupefato com as revelações sobre o que pretendia (e talvez ainda pretenda) a NSA: “coletar tudo, de todos, em todos os lugares, e armazenar por prazo indefinido”. Seria, observa Harding, “a extirpação da privacidade”. A internet havia sido sequestrada. Ou permanece.
Por que, exatamente, Snowden decidiu revelar os bastidores da espionagem americana e inglesa? No relato a Greenwald, registrado por Harding, o ex-agente disse “que não queria viver em um mundo onde ‘tudo que digo, tudo que faço, todos com quem converso, toda expressão de criatividade, amor ou amizade estejam sendo gravados’”.
Como uma documentação tão extensa saiu dos arquivos herméticos da NSA? Tudo indica que em pen-drives. Para um gênio de T. I., tudo parece mais fácil, e Snowden tinha acesso remoto aos arquivos. Em dezembro de 2012, quando entrou em contato, Snowden sugeriu a Greenwald “que instalasse o programa PGP de criptografia em seu laptop. Depois de instalado, o programa permite que as duas pessoas troquem mensagens pela internet de forma criptografada. Se utilizado corretamente, o PGP garante privacidade”. Greenwald relutava e Snowden disse: “Não posso acreditar que você não instalou”. Aí, para chegar ao então colunista do “Guardian”, Snowden aproximou-se de Poitras, que, como conhecia criptografia, foi mais receptiva.
Snowden decidiu abordar um colunista e uma documentarista críticos do establishment porque não confiava no jornalismo americano. Ele disse a um repórter do “New York Times”: “Depois do 11 de Setembro, muitos dos veículos mais importantes dos EUA abdicaram de seu papel como verificadores do poder — a responsabilidade jornalística de desafiar os excessos do governo —, por medo de serem vistos como antipatriotas e, assim, punidos no mercado durante o período de nacionalismo exacerbado”. Poitras, na visão de Snowden, assumira “a missão mais perigosa que um jornalista pode receber — relatar os malfeitos secretos do governo mais poderoso do mundo”.
À desconfiada Poitras, Snowden enviou “uma bomba”. Contou que tinha cópia da Política Presidencial com a Diretiva 20, “um documento de sigilo absoluto, com 18 páginas, expedido em outubro de 2012. O documento dizia que Obama havia secretamente pedido aos seus funcionários sêniores da segurança nacional e da inteligência que elaborassem uma lista de alvos potenciais para ataques cibernéticos americanos no exterior. Não de defesa, mas de ataque. A agência estava colocando escuta em cabos de fibra ótica, interceptando pontos de telefonia e grampeando em escala global”. Poitras quase desmaiou.
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Edward Snowden, um jovem de 30 anos, que teve a coragem de enfrentar a máquina de moer gente da espionagem americana e inglesa e denunciar que autoridades e pessoas comuns são espionadas diariamente | Foto: Divulgação[/caption]
Greenwald e Poitras finalmente concordaram que Snowden era sério. O primeiro acionou a editora do “Guardian” nos EUA, Janine Gibson, que decidiu enviar para Hong Kong, com os outros dois, o experimentado repórter Ewen MacAskill.
Um dos programas revelados por Snowden, o Stellar Wind, da NSA, tinha quatro alvos operacionais: comunicações e metadados telefônicos, comunicações (como e-mails e pesquisas na web) e metadados de internet. O programa começou a ser operado em 4 de outubro de 2001, no governo de George W. Bush. “O Stellar Wind parece ter contado com o apoio entusiástico das principais empresas de telefonia e provedores de serviços de internet. (...) ‘Parceiros do setor privado’ começaram a fornecer para a agência conteúdo de telefone e internet do exterior em outubro de 2001.” Um dos provedores de serviços, não nominado, deu uma sugestão à NSA: no lugar de pedir, deveria usar a Justiça para obter os dados – o que legalizava a ação de espionagem. Por meio do tribunal secreto da Fisa, obteve-se autorização judicial para se buscar os dados, sob a camuflagem de “prestação de registros de negócios” (artigo 215 do Patriotic Act — contra o terrorismo). No Congresso, o senador Obama contribuiu para a aprovação da legislação. Em 2007, candidato a presidente, disse: “Nada mais de escutas telefônicas ilegais de cidadãos americanos”.
Pressões infrutíferas
Aos atônitos Greenwald, Poitras e MacAskill, no quarto de um hotel de Hong Kong, Snowden explicou que a NSA “era capaz de transformar um celular em um microfone e dispositivo de rastreamento”. MacAskill, que pretendia gravar os diálogos, jogou o celular fora. Prevenido, “quando inseria senhas no computador”, Snowden “colocava um capuz na cabeça e acima do laptop — um tipo de cobertura gigante —, para que as senhas não pudessem ser capturadas por câmeras escondidas”. Aparentemente, Snowden não pensou em ganhar dinheiro com a denúncia de que as agências de espionagem haviam “confiscado a internet”. O experiente MacAskill garante que se trata de um idealista e, mesmo, patriota. Quer mais uma internet livre do que destruir os Estados Unidos. Quando o jornalista do “Guardian” quis saber sobre a agência inglesa, Snowden alarmou-o: “O GCHQ é pior que a NSA. É ainda mais intrusivo”. [caption id="attachment_1721" align="alignleft" width="620"]

[caption id="attachment_1711" align="alignleft" width="620"] Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, e Vladimir Putin, presidente da Rússia: o primeiro quer Edward Snowden (no centro da montagem) preso e o segundo mantém o delator americano como prisioneiro da Rússia | Foto montagem/Jornal Opção[/caption]
Escapando dos longos e, às vezes, mortais tentáculos dos americanos e dos ingleses, Edward Joseph Snowden está na Rússia — “exilado”, para alguns, “prisioneiro”, para outros. No livro “Os Arquivos Snowden — A História Secreta do Homem Mais Procurado do Mundo” (Leya, 279 páginas, tradução de Bruno Correia e Alice Klesck), Luke Harding, repórter do “The Guardian”, tenta explicar como o ex-funcionário da CIA e da NSA, agências de espionagem dos Estados Unidos, deixou Hong Kong e chegou ao país presidido por Vladimir Putin, ex-chefão da KGB, agora FSB.
Julian Assange, editor-chefe do WikiLeaks — Harding tem uma certa má vontade com o australiano topetudo —, entra no jogo quando se trata da fuga de Snowden. “Snowden havia considerado vazar seus arquivos da NSA para Assange”, mas optou, por uma questão de segurança, pelo “Guardian”. O chefe do WikiLeaks está sob vigília permanente tanto da espionagem dos Estados Unidos quanto da inglesa. A serviço de Assange, Sarah Harrison foi despachada para Hong Kong, com “com documentos de salvo-conduto válidos para o Equador”. Snowden preferia a Islândia, mas o Equador parecia mais seguro. “De quem teria sido a ideia para que Snowden fosse para Moscou? Essa é a pergunta de 1 milhão de rublos”, diz Harding. Depois, assinala que “o itinerário de Snowden parece ter o dedo de Assange”. Este “alegou crédito pessoal por toda a operação de resgate. Disse que o WikiLeaks tinha pago pela passagem aérea de Snowden. Que, durante sua estadia em Hong Kong, a organização provera consultoria legal a Snowden”. Não fica claro o motivo da irritação de Harding com Assange. Talvez a arrogância deste seja a causa da implicância.
O líder do WikiLeaks trabalha para o programa “Rússia Today”. Harding sugere que “a missão do canal”, de Putin, “é acusar o Ocidente de hipocrisia, enquanto se mantém mudo quanto às falhas russas”. Acompanhado de Harrison, Snowden deixou Hong Kong em 23 de junho de 2013, num voo da Aeroflot, com destino a Moscou. Os Estados Unidos tentaram evitar a fuga, mas as autoridades de Hong Kong liberaram Snowden. A China, por intermédio do noticiário Xinhua, atacou: “Os Estados Unidos, que há tanto tempo vêm tentando se fazer de inocentes e vítimas de ataques cibernéticos, acabaram sendo o maior vilão da nossa era”.
Ao chegar a Moscou, Snowden ficou retido inicialmente no aeroporto, vigiado pelo Serviço Federal de Segurança (FSB). Snowden “era um presente” para Putin, na visão de Harding. “Apresentava a oportunidade perfeita para que o Kremlin enfatizasse o que Washington interpretava como critérios duplos quando se tratava de direitos humanos, bisbilhotagem do Estado e extradição.”
O presidente Barack Obama implorou à Rússia que lhe entregasse Snowden. Putin rejeitou, alegando que “não havia qualquer acordo bilateral com os EUA”, registra Harding. Avaliando que Snowden poderia sair da Rússia, o governo americano pressionou alguns países. O presidente do Equador, Rafael Correa, revogou o salvo-conduto que havia sido concedido a Snowden em Hong Kong.
Na Rússia, Snowden partiu para o ataque, revelando que, quando trabalhava para a NSA, “tinha a possibilidade de captar e ler” as comunicações das pessoas, “sem qualquer autorização da lei”. O americano revelou que a NSA captava e lia comunicações de milhões de indivíduos, autoridades ou não, em qualquer lugar do mundo. “As comunicações de qualquer pessoa, a qualquer hora. Isso é o poder de mudar o destino das pessoas”, acrescentou. Indicou que a Justiça americana servia aos serviços de espionagem, quando obrigava empresas, como Google, Facebook, Apple, a fornecerem informações de seus usuários.
Snowden, ao contrário do inglês Kim Philby, não é um traidor, pois não havia, ao menos inicialmente, entregue documentos para potências adversárias. Ele havia repassado documentos para o “Guardian”, que os publicou de maneira escrupulosa, para não prejudicar os Estados Unidos e a Inglaterra. Porém, “para ter proteção e apoio” — corre risco de vida —, se tornou “dependente do Kremlin e de suas nebulosas agências de espionagem”. Putin está usando Snowden “para constranger Washington, adversário de Moscou até hoje”. Seus protetores são agentes da FSB.
Snowden garante que não deu informações ao governo de Putin. “Eu nunca dei nenhuma informação a qualquer governo e eles nunca tiraram nada dos meus laptops”, garante o americano intranquilo. Numa carta para o ex-senador Gordon Humphrey, o delator disse: “Eu não forneci qualquer informação que pudesse prejudicar nosso povo — sejam agentes ou não — e não tenho intenção de fazê-lo”.
Espionagem comunista
Putin e a FSB protegem Snowden e atacam os Estados Unidos, o “mal” do ponto de vista dos russos. Mas o que Putin faz na Rússia não é diferente do que faz o país dirigido por Obama. “O sistema russo de interceptação nacional remota é denominado Sorm. O Sorm-2 intercepta o tráfego de internet e o Sorm-3 coleta dados de todas as comunicações, incluindo conteúdos e gravações, e os mantêm armazenados por longo prazo”, relata Harding. Na terra do novo czar não há nenhum mecanismo de supervisão. “Na Rússia, os agentes da FSB também precisavam [como nos Estados Unidos] de uma ordem judicial para interceptar as comunicações de um alvo.” Porém, “uma vez que a possuíam, não precisavam mostrar o mandado a ninguém. Os provedores de telecomunicações não eram informados. (...) A agência de espionagem liga para um controlador especial, na sede da FSB, que está conectado a um cabo protegido, ligado diretamente ao dispositivo da Sorm, instalado em sua rede ISP. Esse sistema é captado por todo o país: em cada cidade russa há cabeamento subterrâneo protegido que conecta o departamento local da FSB a todos os provedores da região. O resultado é que a FSB pode interceptar o tráfego de e-mail de ativistas de oposição e de outros ‘inimigos’, sem supervisão”, denuncia Harding. Depois de 39 dias no aeroporto, em 1º de agosto de 2013, Snowden deixou o aeroporto de Moscou. O governo russo concedeu-lhe asilo temporário. Harding acredita que tenha se tornado “prisioneiro da FSB”.Depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), os alemães não queriam mais saber do grande irmão Hitler, com sua Gestapo. Eles estão sempre com a pulga atrás da orelha quando se trata de espionagem. “Documentos de Snowden, vazados em 2013, revelavam que a NSA espionava intensamente a Alemanha, superando o nível de intromissão da Stasi [polícia da Alemanha Oriental] em muitos aspectos. Por dez anos a agência grampeou o telefone de Angela Merkel, chanceler alemã, a personalidade política mais poderosa da Europa”, revela o jornalista Luke Harding, no livro “Os Arquivos Snowden”. “A NSA rotineiramente colhia comunicações de milhões de alemães.” Ante a gravidade da espionagem, que eliminava a privacidade das autoridades públicas e das pessoas comuns, o intelectual alemão Hans Magnus Enzensberger chegou a falar numa “transição para uma sociedade pós-democrática”. Nas ruas, os alemães expuseram “banners que diziam ‘NãObama’, ‘1984 é agora’”. O fato de a NSA ter grampeado o telefone de Merkel deixou os alemães aterrados. “Merkel ficou lívida quando soube”, garante Harding. “A NSA manteve o telefone de Merkel grampeado a partir de 2002, durante o primeiro mandato de George W. Bush. Merkel tinha um número pessoal e outro do escritório; a agência havia grampeado o pessoal. (...) A espionagem prosseguiu até poucas semanas antes da visita de Obama a Berlim, em junho de 2013”. Em 2009, especialistas alemães, para tentar evitar grampos, deram a Merkel um smartphone criptografado. Não adiantou. A NSA continuou “ouvindo” a líder alemã. O arquivo de Snowden revela que a NSA espionou a França maciçamente. Em trinta dias, entre 2012 e 2013, “a NSA interceptou dados de 70,3 milhões de chamadas telefônicas francesas”. A Noruega, país pacífico, e a Itália foram espionadas pela agência americana. O país de Obama, por meio da NSA, havia criado o que os europeus passaram a chamar de planeta “Big Brother”. Os documentos indicam que a NSA, que deveria zelar pela segurança nacional, “estava hackeando pelo menos 35 líderes mundiais”. A presidente Dilma Rousseff teve suas mensagens vasculhadas pelos espiões dos Estados Unidos. Devido ao Pré-Sal, a NSA também investigou, via o programa secreto de codinome Blackpearl, a rede privada virtual da Petrobrás. Harding chama isso de “espionagem industrial” — e feita pelo Estado, o americano. Harding sugere que, diante da escalada global da grampolândia, os Estados Unidos têm “aminimigos”. O alemão Claus Arndt resume o mundo atual: “Teoricamente, somos soberanos. Na prática, não”. Os Estados Unidos, com Bush e Obama, nunca se julgaram tão donos do mundo como nos últimos anos.