As revelações são do doutor em história Hugo Studart

Em fevereiro, na Universidade de Brasília, o jornalista e historiador Hugo Studart defendeu sua tese de doutorado, “Em Algum Lugar das Selvas Amazônicas: As Memórias dos Guerrilheiros do Araguaia (1966-1974)”, que, embora seja uma obra acadêmica, contém “furos de reportagem” e, exagerando, pode se tornar best-seller antes mesmo da publicação no formato de livro. Jornais, como “O Globo” e o “Jornal Opção”, vasculharam a mina que é a pesquisa do doutor pela UnB e publicaram grandes histórias. No domingo, 13, “O Globo” (página 11) publicou dois textos, “Número de camponeses mortos no Araguaia pode chegar a 31” e “Exército: 36 nomes de ‘apoios fortes’ à guerrilha”, assinados por Cleide Carvalho.

A participação de camponeses na Guerrilha do Araguaia tem sido subestimada, afirma Studart. Na tese, assinala Carvalho, o pesquisador  “reúne 31 nomes de camponeses mortos e de dois desaparecidos na guerrilha”. A Comissão sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, da Secretaria de Direitos Humanos lista seis mortos. “O Globo” assegura que “12 mortes” são “apresentadas como casos consolidados”.

A pesquisa de Studart revela, anota Carvalho, que “76 camponeses pegaram em armas ou serviram de ‘apoio forte’ aos guerrilheiros. Os militantes do Partido Comunista do Brasil (PC do B) eram 79. “Os camponeses foram relegados a mera estatística pelos grupos de direitos humanos, que se preocuparam apenas com os guerrilheiros, a maioria estudantes de classe média e profissionais liberais”, contou Studart ao jornal do Rio de Janeiro.

Um relatório do Serviço Nacional de Informações (SNI), citado por Studart, “informa que até 15 de novembro de 1973 haviam sido presos 161 camponeses considerados ‘apoio’ dos guerrilheiros e outros 42 estavam sendo procurados. Ou seja, o SNI havia identificado 203 camponeses ligados à guerrilha” (o trecho entre as aspas é de “O Globo”).

Noutro documento, aparentemente do Centro de Informações do Exército, “militares identificam 36 nomes de ‘apoios fortes’ à guerrilha”, relata Carvalho. “O documento relaciona 10 camponeses mortos. Outros 142 camponeses são apresentados como ‘apoios fracos’ aos guerrilheiros, sem participação política direta”, conta “O Globo”.

O guerrilheiro José Ribeiro Dourado, citado na pesquisa, foi morto porque deu comida ao guerrilheiro Osvaldo Orlando da Costa, Osvaldão, um dos chefes da guerrilha. A mulher de José Ribeiro relatou a Studart que um filho do casal, Deusdete, foi preso pelos militares. “O rapaz fora obrigado pelos militares a cortar a cabeça do pai morto”, anota “O Globo”.

Deusdete nunca mais se recuperou, deprimiu-se, tornou-se alcoólatra e enlouqueceu.

A reportagem de “O Globo”, no geral correta, contém um erro: os conflitos não começaram em 1971, e sim em 1972.

O Jornal Opção publicou dois textos sobre a tese:

1 — Guerrilha do Araguaia provoca divisão no PC do B e grupo de Amazonas e Grabois não avisou parte do Comitê Central

2 — China de Mao Tsé-tung e Chu En-Lai não deu apoio decisivo à Guerrilha do Araguaia