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A sequência de acontecimentos mostra que a situação na Prefeitura de Goiânia é o reino encantado de Murphy: se pode dar errado, vai dar errado

O Estatuto do Desarmamento é cúmplice dos bandidos, colocando-os em situação de superioridade armada, dando a eles confiança e favorecendo a situação de insegurança em que se vive

Em janeiro de 2011, Marconi herdou uma administração errática, com desequilíbrio projetado em R$ 2 bilhões. Ao final de 2014, foi reeleito batendo seu próprio recorde de votação

[caption id="attachment_23393" align="alignright" width="620"] Leonardo Vilela: cotado para a Secretaria de Saúde de Goiás[/caption]
Ao indicar o vice-governador José Eliton (PP) para a poderosa Secretaria de Desenvolvimento Econômico (engloba Indústria e Comércio; Ciência, Tecnologia e Inovação; Agricultura, Pecuária e Irrigação; e a Agência Goiana de Desenvolvimento Regional), o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), surpreendeu o meio político, e até o presidente do PP. O tucano-chefe quer mesmo surpreender e, em reunião com secretários e outros convidados, na semana passada, no Palácio das Esmeraldas, frisou que vão continuar no governo, mas em cargos diferentes. O anúncio do secretariado deve ser feito a partir do dia 22, mas um (ou outro) secretário pode ser anunciado antecipadamente.
Mesmo com o governador resguardando a lista dos próximos secretários, a bolsa de apostas continua. Na semana passada era a seguinte: Saúde, Leonardo Vilela; Casa Civil, Henrique Tibúrcio; Cidades, Infraestrutura e Meio Ambiente, Vilmar Rocha (também cotado para Governo ou Educação); Desenvolvimento Social e do Trabalho, Flávia Morais (Jovair Arantes disputa a pasta para seu grupo); Controladoria (ou cargo semelhante), José Carlos Siqueira; Sefaz, José Taveira (ou José Paulo Loureiro); Segurança Pública, Joaquim Mesquita (ou outro policial federal) ou João Campos; Educação, Raquel Teixeira (ou um técnico de outro Estado); Governo, Eduardo Machado.

Dilma recebeu o recado como se fosse abuso de autoridade, com alarmismo e uma ordem para demitir petroleiros, o que não aceita

[gallery type="square" ids="23380,23381"] O empresário Vanderlan Cardoso (PSB) disse ao Jornal Opção na sexta-feira, 12 — quando fazia check-up no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo — que pode disputar a Prefeitura de Goiânia, em outubro de 2016. “Porém, e isto é decisivo, só disputarei se conseguir formatar uma aliança política ampla e forte e, assim, conquistar maior tempo de televisão para expor minhas ideias. Não quero mais disputar eleições de maneira isolada, com escassos apoios políticos.” Frisando que só vai articular com mais desenvoltura a partir de fevereiro — em janeiro, viaja para Angola (convidado pelo empresário Odilonzinho Santos, que atua no país africano) e para o Panamá (“pretendo exportar mais, pois no Brasil há impostos em demasia”) —, Vanderlan Cardoso diz que, assim que terminaram as eleições, retornou para o comando de suas empresas. “Estou lidando com política há cerca de dez anos e chegou o momento de cuidar de expandir os negócios. Como tive boa votação em Goiânia, recebo convites frequentes para disputar a prefeitura. Mas insisto que só disputarei se conseguir ampliar o apoio partidário.” Vanderlan Cardoso admite que está “conversando” com o empresário e amigo Júnior Friboi, do PMDB. “Nós almoçamos recentemente. Júnior quer disputar o governo em 2018, mas há um problema: não tem o controle do PMDB. Sugeri que, se quiser ser candidato, deve se filiar noutro partido.” A tese de Friboi é a seguinte: apoiaria Vanderlan Cardoso para prefeito de Goiânia e, na disputa estadual, o ex-prefeito de Senador Canedo o bancaria para governador. “Está cedo. As conversas são preliminares”, sugere o líder do PSB. Quase no final da entrevista, Vanderlan Cardoso retomou o tema inicial: “Posso disputar a Prefeitura de Goiânia, mas só se fizer parte de um projeto ‘encorpado’. Uma campanha solo, isolada, não me interessa”.

[caption id="attachment_23384" align="aligncenter" width="620"] Ministro do STF Teori Zavascki: Lula quer que ele cuide dos interesses do PT | Nelson Jr./ SCO/ STF[/caption]
Completa hoje um mês que a Operação Lava Jato prendeu 18 pessoas acusadas pela participação no petrolão e apreendeu documentos sobre o esquema de pagamento de propinas na Diretoria de Serviços da Petrobrás, no esquema liderado pelo ex-diretor Paulo Roberto Costa junto com o doleiro Alberto Youssef. Outras duas pessoas fugiram e entregaram-se depois.
Oito dias antes, um grupo de construtoras que agiam em conjunto acreditava que seria poupado de uma eventual ação policial. Acreditava que as empreiteiras eram importantes demais para serem punidas. Mesmo assim, o grupo articulava uma ação comum de defesa para o caso de ocorrer o que não esperavam: a repressão. Poderia gastar R$ 1 bilhão na defesa de todos.
A comprovação está em documentos e anotações apreendidos pela Polícia Federal junto à Engevix. “Janot e Teori sabem que não podem tomar decisão”, anotou-se num papel. “Pode parar o país”, desafiou-se alguma decisão policial ou judicial contra as construtoras que prejudicasse a indústria da construção e de exploração de serviços de infraestrutura.
Afinal os planos políticos e econômicos do PT no poder se sustentam no apoio de serviços e investimentos das grandes empreiteiras, patrocinadoras de viagens e palestras caras e exclusivas do ex-presidente Lula. Daí as menções das construtoras a Janot e Teori.
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ainda não revelara a autonomia que agora demonstrou ao denunciar a corrupção no governo a partir do petrolão. Teori Zavascki é ministro do Supremo Tribunal Federal indicado pela presidente Dilma e atua junto a Janot.
Por ironia, agora o Ministério Público Federal (MPF) deseja que as empresas e pessoas envolvidas no petrolão devolvam aos cofres públicos R$ 1,1 bilhão como indenização, quantia que se aproxima daquele R$ 1 bilhão que as construtoras teriam para pagar a defesa conjunta em caso de repressão.
Cabe ao procurador encaminhar as denúncias ao Supremo na pessoa de Zavascki, encarregado de centralizar no tribunal o processo da Lava Jato e depois distribuí-los a tribunais competentes. Indicado por Dilma a ministro, Zavascki é uma referência do governo. Em sua última passagem por Brasília, Lula demonstrou a petistas estar atento à atuação do ministro no petrolão.
A previsão daquele grupo falhou em relação a Janot, agora que o MPF denunciou criminalmente 36 pessoas pela corrupção na Petrobrás. Entre elas, estão 25 donos, executivos e funcionários de seis empreiteiras: Camargo Corrêa, Engevix, Galvão Engenharia, Mendes Júnior, OAS e UTC. Não chegou a vez da Odebrecht.
Como informou Janot, esta é a primeira leva do petrolão. Gradualmente, as denúncias criminais incluirão autoridades e políticos de partidos beneficiados pelos assaltos à petroleira. O clima deve aquecer quando chegar a vez de Renato Duque, antigo tesoureiro do PT, de onde saiu para operar a Diretoria de Serviços, berço do petrolão.
Esclareceu o MPF, todo o trabalho feito até agora com a participação da Polícia Federal se restringe a Serviços da Petroleira desde 2004, quando o governo Lula colocou Paulo Roberto Costa, o amigo Paulinho, como diretor da área para operar em nome do PP, para repartir o lucro dos subornos com o PT e outros partidos aliados.
A certeza de que não demora a vez de Duque consta de documento entregue pelo MPF à Justiça Federal na quinta-feira. “As condutas de Renato Duque e de outros empregados corrompidos da Petrobrás serão denunciadas em manifestações próprias”, registrou a procuradoria. Segundo o documento, a ação de Duque e Paulinho “garantiam que os intentos do grupo fossem atingidos”.
A disposição do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, em denunciar a corrupção do petrolão pairou com uma força inesperada na longa conversa da presidente Dilma com Lula e outros companheiros naquela mesma terça-feira, no Alvorada. Mas o que vazou indica que o PT deseja mais dinheiro da Petrobrás — e não austeridade. Com os olhos no retorno de Lula ao Planalto dentro de quatro anos, companheiros desejam proteger os negócios das empreiteiras, vítimas há um mês de nova etapa da Operação Lava Jato, de modo a permitir a realização de obras no segundo governo Dilma. Entre outras coisas, a Petrobrás bancaria o pagamento de terceirizados pelas construtoras em dificuldades. O problema seria convencer o Ministério Público Federal, chefiado por Janot, a ser compreensivo com questões sociais, como a garantia de emprego, salários e direitos trabalhistas de pessoas empregadas por fornecedores da petroleira. A agressividade recente do procurador-geral pode ser um recurso dele para afastar o MPF da nova trama. Quem esteve no Alvorada relata que Dilma se chocou com a fala de Janot contra a corrupção. Considerou que o procurador cobrava ação dela. Centralizadora e dominadora, ela detesta cobranças, não gosta de prestar contas. Classificou como escândalo a sugestão para a demissão da diretoria da Petrobrás. Chocou-se porque Janot afirmou que o país se “convulsionou” diante do petrolão. A presidente não aceitou que o país seja extremamente corrupto, na fala do procurador. Desapontou-se com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, porque não teria defendido o governo com o vigor e argúcia que ela recomendou ao pedir que respondesse a Janot. Trata-se de algo que pode desviar de Cardozo a vaga de ministro aberta no Supremo Tribunal Federal.

[caption id="attachment_23383" align="aligncenter" width="620"] Lula da Silva aos companheiros petistas: ignorando o escândalo e culpando a “elite” pela criminalização do partido| Ricardo Stuckert/ Instituto Lula[/caption]
Um advogado de júri poderia alegar que a maior prova da culpa dos governistas no petrolão está no fato de que a CPI do Congresso que investigou a Petrobrás encerrou seus trabalhos no meio da semana sem responsabilizar qualquer pessoa e sem encontrar vestígio de saque aos cofres da petroleira.
Ironicamente, a CPI controlada pelo PT fechou as portas na quarta-feira, no intervalo entre dois dias expressivos. Na véspera, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, publicamente, cobrou providências do governo contra a corrupção em seu organismo. No dia seguinte, a procuradoria indiciou criminalmente as primeiras 36 pessoas às voltas com o petrolão.
No entanto, na mesma manhã em que Janot discursou, a presidente Dilma se reuniu por cinco horas com Lula e mais alguns companheiros, na residência do Alvorada, onde almoçaram. Um dos temas servidos foi o impacto no PT do saque à Petrobrás e seu reflexo na estabilidade do governo e no sossego petista.
Enquanto isso Lula participou na noite de quarta de um encontro do PT e demonstrou que está de olho na atuação do ministro Teori Zavascki, indicado por Dilma ao Supremo Tribunal Federal, onde centraliza as informações sobre o escândalo da petroleira. Ocorreu num momento em que comparou mensalão ao petrolão.
Queixou-se de que, no momento em que Zavascki analisar um processo sobre a empresa, a imprensa já terá condenado o PT por antecipação, influenciando a opinião pública e pressionando o Judiciário. Com auditório ocupado por dirigentes e militantes do PT, Lula denunciou a existência de um movimento na elite pela “criminalização do partido”.
“Ah, o PT cometeu o crime de criar políticas que permitiram o reconhecimento internacional de que a fome neste país acabou”, ironizou Lula. “O PT cometeu também o crime imperdoável de ter promovido a maior transferência de renda de todos os tempos através dos aumentos do salário mínimo”, continuou.
E foi em frente com a ironia. “Também cometeu o crime horrível de abrir as portas das universidades para os que nunca sonharam chegar lá. Mas o crime realmente imperdoável foi o fato de a Dilma ter sido reeleita. Nós somos o partido que por mais tempo terá governado este país. Quando Dilma terminar o seu mandato, serão 16 anos.”
Nesse momento, surgiram no público apelos ao “Volta, Lula”. O próprio desviou a conversa. “Ninguém tem que pensar em 2018”, respondeu. “Tem que pensar em primeiro de janeiro de 2015, na posse da presidenta Dilma e na resposta que temos que dar ao país. Ela precisa governar. Vamos repetir aquele refrão: Deixem a mulher trabalhar.”
Era uma nova comparação entre o mensalão e o petrolão feita por Lula. Recorde-se que em 2006, quando ele se apresentou à reeleição, sofria incômodo com contrariedade social diante da corrupção mensaleira. Então surgiu o refrão. “Deixem o homem trabalhar”, propagava o PT.
Agora, entre as palavras de ordem difundidas no encontro petista, estava o apelo à militância para resistir “a toda forma de golpismo”. À saída do auditório, as pessoas recebiam adesivos de outra palavra de ordem antiga, agora adaptada à nova difusão: “Mexeu com Dilma, mexeu comigo”.
A mobilização da militância é um dos recursos táticos discutidos no Alvorada pelos petistas. A ideia é ter um conjunto de táticas que se integrem numa estratégia de autoproteção do governo e do partido diante da onda de denúncias de corrupção, de especial o petrolão.
Aquele auditório de quarta-feira foi alugado, originalmente, para abrigar uma discussão interna dos preparativos para o próximo congresso nacional do partido. No pós-Alvorada passou a ser uma ferramenta de motivação da militância para ir às ruas e redes sociais em defesa do governo e do partido.
Difundiram-se palavras de ordem, para resistir “a toda forma de golpismo”. Como foi dito ao auditório, golpismo são as mobilizações do outro lado, contra a corrupção; o apelo à volta dos militares (que não dispõem de meio de volta); a pregação do impeachment de Dilma; a instalação de uma nova CPI da Petrobrás; e a propagação do petrolão.
A mobilização na posse de Dilma, em 1º de janeiro, é outro recurso tático. O projeto é reunir na Praça dos Três Poderes caravanas vindas de todos os Estados. Assustados com a onda adversa, petistas apostam em grandes manifestações que intimidem e calem o outro. Se alguém mexer com Dilma, mexeu com eles.

[caption id="attachment_23376" align="aligncenter" width="600"] Venina Velosa da Fonseca abasteceu Dilma Rousseff com denúncias | Foto: Reprodução[/caption]
Saiu da sombra a antiga gerente da Petrobrás que prestava depoimentos sobre corrupção na empresa, mas se escondia do público. Agora ela revelou à imprensa o seu simpático rosto, o nome e o sobrenome. Venina Velosa da Fonseca afirmou que, enquanto Dilma Rousseff ministra de Minas e Energia e chefe da Casa Civil, abasteceu-a com denúncias.
O alvo de Venina seria a Diretoria de Serviços na gestão do célebre Paulo Roberto Costa, não por acaso seu chefe. Trabalhou no ninho que gerou e distribuiu entre partidos o dinheiro que vinha do petrolão, doado por empresas que prestavam serviço à Petrobrás.
Se Venina não pode apresentar prova de que Dilma recebeu seus e-mails e documentos sobre o que se passava no seu entorno de sua gerência, a direção da petroleira confirma que acolheu denúncias da moça, examinou, considerou improcedentes e decidiu demitir a então gerente-executiva, mas esbarrou numa licença médica. Mais tarde foi afastada.
A atitude de Venina se enquadra bem naquele código de golpismo que Lula, Dilma e outros companheiros estabeleceram para proteger o PT e o governo contra ataques externos. Sim, a moça é nitidamente golpista. Ainda mais que saiu da sombra e apresentou-se ao público na sexta-feira. Golpista também é a oposição, que se apoia em Venina para pedir a demissão da primeira amiga Graça Foster da presidência da Petrobrás.

[gallery type="square" ids="23372,23373"] Ao escolher de José Eliton (PP) para a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, possivelmente a principal do governo, o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), sinalizou várias coisas. Primeiro, deixou claro que o vice-governador é o segundo político mais poderoso da gestão estadual. Segundo, com um gesto, provocou o fim da disputa acirrada pelo cargo. Ninguém, a rigor, vai questionar o vice que, em abril de 2018, assumirá o governo do Estado. Terceiro, o tucano-chefe sinalizou que não quer e não vai transformar o pepista num novo Alcides Rodrigues (este, quando vice, sentia-se menosprezado; quando assumiu, rompeu com seu criador, tornando-se, mais do que adversário, inimigo de uma ferocidade inaudita, jorcelino-braguiana). Agora, Marconi está sinalizando que vai fortalecê-lo e que criará condições para que, ao assumir o governo, daqui a três anos, José Eliton já esteja forte e bem conhecido em todo o Estado. Quarto, a indicação sugere também que os partidos aliados, como no caso o PP, vão ser contemplados com cargos significativos. Quinto, é preciso considerar os méritos do vice — que é um jovem competente, leal, dedicado e com imensa capacidade de trabalho. E apaixonado por política. A resistência ao seu nome, incrustada mais no PSD, já foi contornada. Postas as questões acima, há uma que fica mais no campo da especulação. Está cedo para dizer com certeza, porque a política, por ser dinâmica, como a vida, muda muito e, às vezes, de um dia para o outro. Um candidato lançado muito cedo precisa segurar a onda por quase quatro anos. Não é fácil. Porém, como o governador Marconi Perillo não pode disputar a reeleição em 2018, os principais nomes da política de Goiás começam a expor seus nomes. Eles sugerem que, sem Marconi, abre-se um imenso vácuo na política em nível estadual. Daí que quem expor seu nome mais cedo, num Estado gigante como Goiás, poderá chegar consagrado em 2018. É o que já estão fazendo Ronaldo Caiado (DEM), Júnior Friboi (PMDB), Daniel Vilela (PMDB) e Antônio Gomide (PT). Há um dado curioso: é provável que, na disputa de 2018, os dois candidatos mais consistentes sejam José Eliton, dados o peso da máquina e o apoio de Marconi Perillo, em si uma verdadeira máquina de fazer política, e Ronaldo Caiado. Quer dizer, um ex-filiado do DEM e um filiado do DEM. Será uma campanha dura, porque José Eliton e Ronaldo Caiado se tornaram, mais do que adversários políticos, inimigos pessoais. O senador eleito não perdoa José Eliton por ter bandeado para o lado do tucano-chefe. José Eliton, por seu turno, critica o “autoritarismo” do líder do partido Democratas. José Eliton e Ronaldo Caiado são políticos bem preparados e com discursos afiados. O segundo é mais experimentado, mas quem viu o primeiro na campanha deste ano ficou impressionado tanto com seu discurso quanto com sua desenvoltura. Parece, na política, um peixe n’água.

Evento, que teve o milho como tema inspirador dos pratos, foi parceria de sucesso entre governo municipal, Senac e Sebrae Goiás

[caption id="attachment_23369" align="alignright" width="620"] Paulo Garcia, prefeito:
o grande derrotado[/caption]
Na política, como sugeriu Tancredo Neves, não há cedo — só tarde. O prefeito de Goiânia, Paulo Garcia (PT), não aprendeu a máxima do político mineiro e por isso não conseguiu eleger o presidente da Câmara Municipal e, pior, assistiu, do Paço Municipal, a vitória de um candidato da oposição, Anselmo Pereira — e logo do PSDB, hoje seu principal opositor. Por que o paulo-garcismo, com a estrutura gigantesca e tentacular da prefeitura da capital, não conseguiu fazer o presidente do Legislativo? A principal responsável é a inabilidade política do prefeito petista e de sua equipe, que parecem não ter entendido com precisão como funciona o equilíbrio de forças na Câmara.Há cerca de dois meses, o chamado Bloco, composto de sete vereadores, procurou Paulo Garcia e seus integrantes disseram: “Seu grupo tem o apoio de 13 vereadores, as oposições podem reunir cerca de 15 vereadores. Nós, com 7, somos o fiel da balança. Queremos, portanto, que um dos sete seja o presidente da Casa”. O prefeito teria dito, de maneira arrogante: “Não vai ser assim, não. Dos 15 das oposições, quando eu bater o pé, muitos virão correndo para o meu lado”. Os membros do Bloco começaram, então, a conversar com as oposições.
Depois de algumas conversas, o Bloco fechou uma aliança com as oposições — ampliadas com a adesão de dois vereadores do PT, Tayrone di Martino e Felisberto Tavares. Paulo Garcia não acreditava que o Bloco e as oposições se uniriam. O prefeito subestimou os vereadores e sua capacidade de articulação. “Nós nos unimos e, importante, sem qualquer tipo de promessa. Queríamos dar um recado à soberba do prefeito, que parece saber de tudo e não gosta de ouvir ninguém. Quando a gente diz: ‘Prefeito, o sr. precisa corrigir os problemas na sua gestão, deve organizar uma grande operação tapa-buraco nas ruas e retirar o lixo dos bairros, ele costuma perguntar: ‘Virou marconista?’. Sempre com a cara irônica, com ar de deboche. Paulo Garcia precisa ser menos arrogante”, critica um vereador.
A partir de certo momento, as oposições, que incorporaram o Bloco dos 7, chegaram a ter o apoio de 19 vereadores. Em seguida, saltaram para 23, aí perderam dois — Tatiana Lemos, que recebeu a promessa de que indicaria o secretário da Habitação na reforma que o prefeito planeja fazer em janeiro, e Wellington Peixoto, porque teriam ameaçado tomar o cargo do pai, Sebastião Peixoto, na prefeitura —, mas sobraram 21, a maioria absoluta.
Para evitar a pressão de Paulo Garcia, que enviou uma série de emissários e deflagrou uma onda de telefonemas — consta que deram mais de mil telefonemas — para todos os vereadores. Porém, isolados num hotel-fazenda, os vereadores não receberam os comunicados inflamados e emocionados do prefeito. Do hotel, depois de confabular e decidir as táticas e a estratégia, fechando um acordo para resistir a toda e qualquer pressão do petista-chefe, voltaram para Goiânia às 6 horas da manhã e foram direto para uma sala da Câmara Municipal, na qual se isolaram e não atenderam ligações do articuladores do paulo-garcismo — como Osmar Magalhães, Olavo Noleto, Paulo Magalhães, Sebastião “Juruna” Ferreira Leite e do próprio Paulo Garcia. Segundo Anselmo Pereira, quando Paulo Magalhães ligou, falando em nome do Paço Municipal, quem atendeu foi Tayrone di Martino, quer dizer, hoje o principal e mais duro adversário do prefeito na Câmara.
O jogo dos vereadores, de tão bem feito e apurado, assustou o prefeito Paulo Garcia e sua equipe. Chegaram a dizer que tanto profissionalismo não poderia ser criação dos vereadores e sugeriram armação do governo do Estado, sobretudo de Jayme Rincon (que se tornou a paranoia número um do prefeito goianiense). Não era nada disso. A articulação foi feita mesmo pelos vereadores, porque alguns deles, como Anselmo Pereira, Geovani Antônio e Elias Vaz, são super experientes. Aliás, a jogada nem é nova. É até manjada.
Aos poucos, as jogadas do paulo-garcismo foram sendo desmontadas. O presidente da Câmara, Clécio Alves (PMDB), um político intempestivo e explosivo, descobriu que o prefeito Paulo Garcia havia prometido a Secretaria de Habitação tanto para um de seus aliados quanto para um dos aliados de Tatiana Lemos (PDT). Ficou profundamente irritado e começou a se aproximar daqueles, percebeu logo, que iriam ganhar a presidência do Legislativo.
Os vereadores dizem, com todas as letras, que queriam e conseguiram derrotar o prefeito Paulo Garcia. Depois, com a Inês já morta, os luas vermelhas do PT tentaram capitalizar, sugerindo que o presidente eleito, Anselmo Pereira, era do agrado do petista-chefe. Não que Anselmo Pereira, político moderado e adepto da governabilidade, desagrade inteiramente ao prefeito. Porém, é um político do PSDB, legenda abominada por Paulo Garcia.
A ordem do chefão petista era para sugerir que Anselmo Pereira era o candidato de todos, não apenas do PSDB. E, de fato, era mesmo. Mas não era e não é o candidato e, agora, o presidente da Câmara associado ao prefeito Paulo Garcia. Durante a votação, aliados de Osmar Magalhães, que esteve presente na Câmara, disseram, quando não dava mais para segurar o processo: “Tudo bem. Aceitamos o Anselmo, mas não queremos Tayrone como vice-presidente e Elias Vaz na Comissão de Constituição e Justiça”. Os vereadores riram e, para contrariar o paulo-garcismo, indicaram Tayrone di Martino e Elias Vaz. Outra derrota do prefeito.
Para piorar a situação do prefeito, o mais irista dos vereadores, Mizair Lemes, votou com o Bloco e as oposições e ainda terá assento na Mesa Diretora. Iris Rezende entrou no circuito e tentou demovê-lo, mas não conseguiu. Ao perceber que não conseguia convencê-lo, o peemedebista-chefe teria dito para que votasse com sua consciência, mas que não deixasse passar a impressão de que havia “vendido” seu voto. Ouviu que o vereador está insatisfeito com Paulo Garcia e que o PT, com o desgaste da gestão, pode “enterrar” o PMDB na capital. Aliados de Paulo Garcia também estão irritados. Célia Valadão avalia que o prefeito não trabalhou, hora alguma, para que fosse candidata a presidente do Legislativo. Denício Trindade voltou para a Câmara, deixando uma secretaria da prefeitura, mas em nenhum momento recebeu apoio e sinal consistentes do petista-chefe. Os vereadores do PMDB está decepcionado com o prefeito, que praticamente não os ouve, e quando o faz, ouve mal e não atende seus pleitos.
Curiosamente, os vereadores não vão adotar nenhum discurso raivoso. Anselmo Pereira é diplomático e vai trabalhar para que as relações entre Câmara e Prefeitura sejam mais azeitadas, porém altivas.
Detalhe extra: o empresário Júnior Friboi (PMDB) entrou no circuito e apoiou Anselmo Pereira. Ele mantém ligações com pelo menos dez vereadores.
Moral da história: fica-se com a impressão de que o próprio prefeito Paulo Garcia conspira contra sua gestão, ao não ter habilidade para articular alianças sólidas. O petista-chefe e seus aliados são, mais do que conciliadores, contenciosos.

[caption id="attachment_22658" align="alignright" width="620"] Helio de Sousa / Foto: Y. Maeda[/caption]
Os detentores do poder agem às vezes com o coração e às vezes com a razão. Se depender do coração do governador Marconi Perillo (PSDB), o deputado estadual eleito Chiquinho Oliveira (PHS) assumirá, em fevereiro, o comando da Assembleia Legislativa de Goiás. O tucano-chefe e o ex-vereador têm ligação política e afetiva. Porém, se depender exclusivamente da razão, o governador tende a bancar a candidatura de Helio de Sousa. Habilidoso, o deputado de Goianésia, filiado ao DEM — mas disposto a migrar para um novo partido, como o PL, que deve conseguir registro em 2015 —, conquistou o apoio do PMDB, do PT e de vários deputados da base governista. Se a eleição fosse hoje, não teria para Chiquinho Oliveira. O líder democrata seria eleito.
O projeto número 1 de Gilberto Kassab é se tornar ministro das Cidades no governo da presidente Dilma Rousseff. Convidado, já aceitou e será anunciado brevemente. Seu principal cacife é a grande bancada de deputados federais. Mas o presidente do PSD tem um 2º projeto. Apoiando o goiano Cleovan Siqueira, está bancando a recriação do PL. Criado, o PL atrairia de 10 a 20 deputados federais, que querem trocar de partido, mas, se não for para um partido novo, não poderão fazê-lo. O projeto de Kassab é fundir o PL com o PSD, criando uma janela para os políticos insatisfeitos. O PSD passaria a ter cerca de 60 deputados. Tornando-se uma força gigante na política nacional.