Paulo Garcia, prefeito:  o grande derrotado
Paulo Garcia, prefeito:
o grande derrotado

Na política, como sugeriu Tancredo Neves, não há cedo — só tarde. O prefeito de Goiânia, Paulo Garcia (PT), não aprendeu a máxima do político mineiro e por isso não conseguiu eleger o presidente da Câmara Municipal e, pior, assistiu, do Paço Municipal, a vitória de um candidato da oposição, Anselmo Pereira — e logo do PSDB, hoje seu principal opositor. Por que o paulo-garcismo, com a estrutura gigantesca e tentacular da prefeitura da capital, não conseguiu fazer o presidente do Legislativo? A principal responsável é a inabilidade política do prefeito petista e de sua equipe, que parecem não ter entendido com precisão como funciona o equilíbrio de forças na Câmara.Há cerca de dois meses, o chamado Bloco, composto de sete vereadores, procurou Paulo Garcia e seus integrantes disseram: “Seu grupo tem o apoio de 13 vereadores, as oposições podem reunir cerca de 15 vereadores. Nós, com 7, somos o fiel da balança. Queremos, portanto, que um dos sete seja o presidente da Casa”. O prefeito teria dito, de maneira arrogante: “Não vai ser assim, não. Dos 15 das oposições, quando eu bater o pé, muitos virão correndo para o meu lado”. Os membros do Bloco começaram, então, a conversar com as oposições.

Depois de algumas conversas, o Bloco fechou uma aliança com as oposições — ampliadas com a adesão de dois vereadores do PT, Tayrone di Martino e Felisberto Tavares. Paulo Garcia não acreditava que o Bloco e as oposições se uniriam. O prefeito subestimou os vereadores e sua capacidade de articulação. “Nós nos unimos e, importante, sem qualquer tipo de promessa. Queríamos dar um recado à soberba do prefeito, que parece saber de tudo e não gosta de ouvir ninguém. Quando a gente diz: ‘Prefeito, o sr. precisa corrigir os problemas na sua gestão, deve organizar uma grande operação tapa-buraco nas ruas e retirar o lixo dos bairros, ele costuma perguntar: ‘Virou marconista?’. Sempre com a cara irônica, com ar de deboche. Paulo Garcia precisa ser menos arrogante”, critica um vereador.

A partir de certo momento, as oposições, que incorporaram o Bloco dos 7, chegaram a ter o apoio de 19 vereadores. Em seguida, saltaram para 23, aí perderam dois — Tatiana Lemos, que recebeu a promessa de que indicaria o secretário da Habitação na reforma que o prefeito planeja fazer em janeiro, e Wellington Peixoto, porque teriam ameaçado tomar o cargo do pai, Sebastião Peixoto, na prefeitura —, mas sobraram 21, a maioria absoluta.

Para evitar a pressão de Paulo Garcia, que enviou uma série de emissários e deflagrou uma onda de telefonemas — consta que deram mais de mil telefonemas — para todos os vereadores. Porém, isolados num hotel-fazenda, os vereadores não receberam os comunicados inflamados e emocionados do prefeito. Do hotel, depois de confabular e decidir as táticas e a estratégia, fechando um acordo para resistir a toda e qualquer pressão do petista-chefe, voltaram para Goiânia às 6 horas da manhã e foram direto para uma sala da Câmara Municipal, na qual se isolaram e não atenderam ligações do articuladores do paulo-garcismo — como Osmar Magalhães, Olavo Noleto, Paulo Magalhães, Sebastião “Juruna” Ferreira Leite e do próprio Paulo Garcia. Segundo Anselmo Pereira, quando Paulo Magalhães ligou, falando em nome do Paço Municipal, quem atendeu foi Tayrone di Martino, quer dizer, hoje o principal e mais duro adversário do prefeito na Câmara.

O jogo dos vereadores, de tão bem feito e apurado, assustou o prefeito Paulo Garcia e sua equipe. Chegaram a dizer que tanto profissionalismo não poderia ser criação dos vereadores e sugeriram armação do governo do Estado, sobretudo de Jayme Rincon (que se tornou a paranoia número um do prefeito goianiense). Não era nada disso. A articulação foi feita mesmo pelos vereadores, porque alguns deles, como Anselmo Pereira, Geovani Antônio e Elias Vaz, são super experientes. Aliás, a jogada nem é nova. É até manjada.

Aos poucos, as jogadas do paulo-garcismo foram sendo desmontadas. O presidente da Câmara, Clécio Alves (PMDB), um político intempestivo e explosivo, descobriu que o prefeito Paulo Garcia havia prometido a Secretaria de Habitação tanto para um de seus aliados quanto para um dos aliados de Tatiana Lemos (PDT). Ficou profundamente irritado e começou a se aproximar daqueles, percebeu logo, que iriam ganhar a presidência do Legislativo.

Os vereadores dizem, com todas as letras, que queriam e conseguiram derrotar o prefeito Paulo Garcia. Depois, com a Inês já morta, os luas vermelhas do PT tentaram capitalizar, sugerindo que o presidente eleito, Anselmo Pereira, era do agrado do petista-chefe. Não que Anselmo Pereira, político moderado e adepto da governabilidade, desagrade inteiramente ao prefeito. Porém, é um político do PSDB, legenda abominada por Paulo Garcia.

A ordem do chefão petista era para sugerir que Anselmo Pereira era o candidato de todos, não apenas do PSDB. E, de fato, era mesmo. Mas não era e não é o candidato e, agora, o presidente da Câmara associado ao prefeito Paulo Garcia. Durante a votação, aliados de Osmar Magalhães, que esteve presente na Câmara, disseram, quando não dava mais para segurar o processo: “Tudo bem. Aceitamos o Anselmo, mas não queremos Tayrone como vice-presidente e Elias Vaz na Comissão de Constituição e Justiça”. Os vereadores riram e, para contrariar o paulo-garcismo, indicaram Tayrone di Martino e Elias Vaz. Outra derrota do prefeito.

Para piorar a situação do prefeito, o mais irista dos vereadores, Mizair Lemes, votou com o Bloco e as oposições e ainda terá assento na Mesa Diretora. Iris Rezende entrou no circuito e tentou demovê-lo, mas não conseguiu. Ao perceber que não conseguia convencê-lo, o peemedebista-chefe teria dito para que votasse com sua consciência, mas que não deixasse passar a impressão de que havia “vendido” seu voto. Ouviu que o vereador está insatisfeito com Paulo Garcia e que o PT, com o desgaste da gestão, pode “enterrar” o PMDB na capital. Aliados de Paulo Garcia também estão irritados. Célia Valadão avalia que o prefeito não trabalhou, hora alguma, para que fosse candidata a presidente do Legislativo. Denício Trindade voltou para a Câmara, deixando uma secretaria da prefeitura, mas em nenhum momento recebeu apoio e sinal consistentes do petista-chefe. Os vereadores do PMDB está decepcionado com o prefeito, que praticamente não os ouve, e quando o faz, ouve mal e não atende seus pleitos.

Curiosamente, os vereadores não vão adotar nenhum discurso raivoso. Anselmo Pereira é diplomático e vai trabalhar para que as relações entre Câmara e Prefeitura sejam mais azeitadas, porém altivas.

Detalhe extra: o empresário Júnior Friboi (PMDB) entrou no circuito e apoiou Anselmo Pereira. Ele mantém ligações com pelo menos dez vereadores.

Moral da história: fica-se com a impressão de que o próprio prefeito Paulo Garcia conspira contra sua gestão, ao não ter habilidade para articular alianças sólidas. O petista-chefe e seus aliados são, mais do que conciliadores, contenciosos.