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Lula da Silva aos companheiros petistas: ignorando o escândalo e culpando a “elite” pela criminalização do partido| Ricardo Stuckert/ Instituto Lula

Um advogado de júri poderia alegar que a maior prova da culpa dos governistas no petrolão está no fato de que a CPI do Congresso que investigou a Petrobrás encerrou seus trabalhos no meio da semana sem responsabilizar qualquer pessoa e sem encontrar vestígio de saque aos cofres da petroleira.

Ironicamente, a CPI controlada pelo PT fechou as portas na quarta-feira, no intervalo entre dois dias expressivos. Na véspera, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, publicamente, cobrou providências do governo contra a corrupção em seu organismo. No dia seguinte, a procuradoria indiciou criminalmente as primeiras 36 pessoas às voltas com o petrolão.

No entanto, na mesma manhã em que Janot discursou, a presidente Dilma se reuniu por cinco horas com Lula e mais alguns companheiros, na residência do Alvorada, onde almoçaram. Um dos temas servidos foi o impacto no PT do saque à Petrobrás e seu reflexo na estabilidade do governo e no sossego petista.

Enquanto isso Lula participou na noite de quarta de um encontro do PT e demonstrou que está de olho na atuação do ministro Teori Zavascki, indicado por Dilma ao Supremo Tribunal Federal, onde centraliza as informações sobre o escândalo da petroleira. Ocorreu num momento em que comparou mensalão ao petrolão.

Queixou-se de que, no momento em que Zavascki analisar um processo sobre a empresa, a imprensa já terá condenado o PT por antecipação, influenciando a opinião pública e pressionando o Judiciário. Com auditório ocupado por dirigentes e militantes do PT, Lula denunciou a existência de um movimento na elite pela “criminalização do partido”.

“Ah, o PT cometeu o crime de criar políticas que permitiram o reconhecimento internacional de que a fome neste país acabou”, ironizou Lula. “O PT cometeu também o crime imperdoável de ter promovido a maior transferência de renda de todos os tempos através dos aumentos do salário mínimo”, continuou.

E foi em frente com a ironia. “Também cometeu o crime horrível de abrir as portas das universidades para os que nunca sonharam chegar lá. Mas o crime realmente imperdoável foi o fato de a Dilma ter sido reeleita. Nós somos o partido que por mais tempo terá governado este país. Quando Dilma terminar o seu mandato, serão 16 anos.”

Nesse momento, surgiram no público apelos ao “Volta, Lula”. O próprio desviou a conversa. “Ninguém tem que pensar em 2018”, respondeu. “Tem que pensar em primeiro de janeiro de 2015, na posse da presidenta Dilma e na resposta que temos que dar ao país. Ela precisa governar. Vamos repetir aquele refrão: Deixem a mulher trabalhar.”

Era uma nova comparação entre o mensalão e o petrolão feita por Lula. Recorde-se que em 2006, quando ele se apresentou à reeleição, sofria incômodo com contrariedade social diante da corrupção mensaleira. Então surgiu o refrão. “Deixem o homem trabalhar”, propagava o PT.
Agora, entre as palavras de ordem difundidas no encontro petista, estava o apelo à militância para resistir “a toda forma de golpismo”. À saída do auditório, as pessoas recebiam adesivos de outra palavra de ordem antiga, agora adaptada à nova difusão: “Mexeu com Dilma, mexeu comigo”.

A mobilização da militância é um dos recursos táticos discutidos no Alvorada pelos petistas. A ideia é ter um conjunto de táticas que se integrem numa estratégia de autoproteção do governo e do partido diante da onda de denúncias de corrupção, de especial o petrolão.
Aquele auditório de quarta-feira foi alugado, originalmente, para abrigar uma discussão interna dos preparativos para o próximo congresso nacional do partido. No pós-Alvorada passou a ser uma ferramenta de motivação da militância para ir às ruas e redes sociais em defesa do governo e do partido.

Difundiram-se palavras de ordem, para resistir “a toda forma de golpismo”. Como foi dito ao auditório, golpismo são as mobilizações do outro lado, contra a corrupção; o apelo à volta dos militares (que não dispõem de meio de volta); a pregação do impeachment de Dilma; a instalação de uma nova CPI da Petrobrás; e a propagação do petrolão.

A mobilização na posse de Dilma, em 1º de janeiro, é outro recurso tático. O projeto é reunir na Praça dos Três Poderes caravanas vindas de todos os Estados. Assustados com a onda adversa, petistas apostam em grandes manifestações que intimidem e calem o outro. Se alguém mexer com Dilma, mexeu com eles.