A disposição do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, em denunciar a corrupção do pe­tro­­lão pairou com uma força inesperada na longa conversa da presidente Dilma com Lula e outros com­panheiros naquela mesma ter­ça-feira, no Alvorada. Mas o que va­zou indica que o PT deseja mais dinheiro da Petrobrás — e não austeridade.

Com os olhos no retorno de Lu­la ao Planalto dentro de quatro anos, companheiros desejam proteger os negócios das empreiteiras, vítimas há um mês de nova etapa da Operação Lava Jato, de modo a permitir a realização de obras no segundo governo Dilma. Entre outras coisas, a Petrobrás bancaria o pagamento de terceirizados pelas construtoras em dificuldades.

O problema seria convencer o Ministério Público Federal, che­fiado por Janot, a ser compreensivo com questões sociais, como a garantia de emprego, salários e direitos trabalhistas de pessoas empregadas por fornecedores da petroleira. A agressividade recente do procurador-geral pode ser um recurso dele para afastar o MPF da nova trama.

Quem esteve no Alvorada re­la­ta que Dilma se chocou com a fa­la de Janot contra a corrupção. Considerou que o procurador co­brava ação dela. Centra­li­zadora e do­minadora, ela detesta cobranças, não gosta de prestar contas. Clas­sificou como escândalo a sugestão para a demissão da diretoria da Petrobrás. Chocou-se porque Janot afirmou que o país se “convulsionou” diante do petrolão.

A presidente não aceitou que o país seja extremamente corrupto, na fala do procurador. Desa­pon­tou-se com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, porque não teria defendido o governo com o vigor e argúcia que ela recomendou ao pedir que respondesse a Janot. Trata-se de algo que pode desviar de Cardozo a vaga de ministro aberta no Supremo Tribunal Federal.