Opção cultural

Um dos maiores romancistas brasileiros vivos agora é também narrador e interpreta uma das vozes do audiolivro: "Desta terra nada vai sobrar, a não ser o vento que sopra sobre ela", lançamento de junho da Tocalivros Studios

Escritora se ocupa também de temas sociais e escreve poemas políticos; afinal, o poeta, ser não alienado, está sempre com as antenas ligadas aos acontecimentos cotidianos

“O bicho passa pelo ar. Vai na saliva e entra pela boca. Daí se você bota uma barreira física na sua cara, dificulta pro bicho entrar. Não é complicado de entender”

“Um sino baterá no ouvido dos homens e eles se esborracharão feito caqui maduro”

Publicadas inicialmente em inglês e ilustradas por Zeka Cintra, irmão da autora, as produções exibem rainhas e princesas com seus poderosos blacks e tudo que eles simbolizam

“Quando o vírus chega, eu estou na bolha de umidade, sujeito ao efeito paralaxe. Ou seja, deslocado do lugar que estou realmente. Aí o vírus tenta me atacar, mas me erra”

Susete recebe uma notícia devastadora e desespera-se. Seu pai. Desmaio. Ambulância. Hospital. É a Covid-19. Deus o socorra

O projeto, concebido e desenvolvido por Lenora Barbo, envolveu um grupo de pesquisadores por dois anos

Fred Le Blu é compositor e urbanista goiano
Especial para o Jornal Opção
Na expectativa lunática de que os sons na clave de Sol produzidos a partir da experiência "supernatural" do Cerrado em Alto Paraíso (Goiás) pudesse ecoar lá na Lua, durante sua fase mais próxima da Terra (Super Lua), nasce a ópera rock "LUA&ANA": uma ode fabulística poética-musical ao astro luminoso de prata tão presente enquanto arquétipo em vários sistemas mitológicos tradicionais (pagãos, cristãos, indígenas e indianos, por exemplo).
Com poema escrito em 2017 em São Paulo e músicas compostas em 2020 em BH, durante a pandemia, LUA&ANA é também uma busca artística por uma brasilidade musical transregionalista, desimplicando hierarquias e estigmas sociais entre regiões das múltiplas brasilidade presentes no Brasil. Entrecortado por um mosaico de elementos musicais variados, colhidos nos frutíferos pés do cancioneiro popular brasileiro, ibérico e anglo-americano, esse polivalente disco de World Music Made In Goiás é um convite para uma trilha (trans)feminista. Nela é possível desvendar e exaltar os mistérios lunares e femininos em todas as fases e faces sagradas e profanas, por incentivar o empoderamento público das minorias de direitos de gênero em ambientes naturais e urbanos (direito à cidade + direito à diferença).
Com eu-lírico feminino da obra faz uma releitura contemporânea das "canções de amigo" da cultura trovadoresca ibérica, que eram declamadas por homens sobre o platonismo do amor feminino à espera de seu vassalo cavalheiresco. Mas em "LUA&ANA" podemos chamá-las de "canções de amiga", já que quem espera é Ana, cujo objeto de desejo é a Lua, seja lá quem ela for, apontando para um caráter emancipatório (trans)feminino, demandante por mais visibilização e direitos no espaço político e público (natural, construído ou virtual), marcado pela violência e exclusão física e simbólica por parta da sistêmica cultura falocêntrica e heteronormativa. A relevância desse tema agora é máxima pois sabemos que na pandemia as mulheres e os LGBTQI+ são os cidadãos mais afetados pelo "neoconservadorismo" em relação causal com o retrocesso das políticas públicas culturais e sexuais no país e o aumento dos casos de violência domésticas e urbanas (trans)feminicídas.
Como em um ritual de iniciação da guerreira xamânica dentro de nós, experienciar essa jornada ecoafetiva é uma forma de fortalecer uma percepção holística da diversidade cultural, sexual e biológica na Terra. Uma declaração de amor à Pacha Mama, LUA&ANA é também manifesto político em um momento de crescente aumento de desmatamentos, queimadas e poluições (sólidas, hídricas, visuais, sonoras,...) no país, estando as pautas ambientalistas e indigenistas sendo atacadas pelos agentes econômicos e políticos antropocêntricos, que querem passar a boiada nas frentes de todos os outros seres vivos e nos obriga a preparar o terreno em outras atmosferas:. Em relação a essa questão ambiental o Le Blue considera que:
"A realidade socioambiental da Chapada dos Veadeiros é marcada por tentativas recentes por parte do setor produtivo energético e mineral de mudanças do plano de manejo para áreas preservação ambiental (APA) junto ao Conselho da Área de Conservação Ambiental (CONAPA). O solitário contato com Alto Paraíso, em especial, me despertou gradualmente para a questão macroambiental, mas percebida e modificada na escala micro. E como é amando nosso espaço imediato que podemos desenvolver compassividade para com os outros e conosco, essa personificação artística do amor através dos entes naturais, no caso a SuperLua & Vale da Lua, surgiu como uma forma de transbordamento da possibilidade de uma harmonia universal que é também singular. Por meio dessa percepção passamos a nos sentir receptáculos das forças vitais e, por isso, responsáveis politicamente pelo futuro do planeta e do amanhã. A ópera rock rural “Lua&Ana” surgiu assim desse chamado amoroso de luta e reverência para com nossa casa comum".
A complexidade e a simplicidade da obra se assemelha ao uso da técnica de construção narrativa leitmotiv nas obras musicais do compositor baiano Elomar. A refundação sertão em bases geopoéticas, musicais e políticas ("Estado do Sertão") singulares, permite perceber o território em sua dimensão cultural, vivida e imaterial, Le Blue aprimorado por meio do movimento e conceito de "artetetura e humanismo". Valorizando o cor-local de sua tribo goiana, o compositor e letrista da obra, Fred Le Blue, aponta para recriação do já considerado espaço mítico do Vale da Lua e do Cerrado, mostrando a importância da arte musical e do (eco)turismo cultural virtual como potencial "artetetônico" para educação e consciência socioambiental em tempos de pandemia.Sobre isso Le Blue comenta:
"Com desmontes nas políticas públicas culturais, ambientais e sexuais após 2018, aguditizados com a pandemia global e a crise econômica a partir de 2020, temos sidos acossados em nosso campo de experimentação por uma humanidade inautêntica causadora de distúrbios psicossociais. Enquanto compositor acostumado ao confinamento criativo, percebi que seria o momento ideal para compartilhar esse infinito universo da solidão para meus interlocutores enlutados pelas inúmeras mortes por COVID-19. A experiência solitária de conhecer o Vale da Lua em uma época de grandes avanços nos direitos ambientais e humanos no Brasil (2005), havia me tornado simbolicamente um astronauta egresso de uma missão. Talvez, por ser um local que permite se ter a percepção distanciada da Terra, como se fosse mesmo uma espécie de Lua terrestre. A poesia musicada iniciada em 2017 em São Paulo, inicialmente, com objetivo de reverenciar somente a SuperLua e o universo (trans)feminista, só tomara o corpo musical e poético geoafetivo em 2020 em minha breve passagem por Belo Horizonte e sua musicalidade eclética esquineira. Na ocasião em que as músicas estavam sendo refeitas 3 astronautas se dirigiam para a Estação Espacial Internacional. Naquela época e até hoje, todos nós estamos confinadas em uma nave espacial caseira, voltando a aderir aos conselhos moralistas de mãe para não falar com estranhos e ficar na rua o dia todo. Então voltar ao Vale da Lua através da música e poesia em um momento em que não se podia viajar me pareceu a melhor vacina mental e turismo cultural para suportar aqueles primeiros meses do pandemônio da pandemia".
O filme-making of videoclíptico que segue a trilha das canções com imagens psicodélicas caseira também artista visual Le Blue tenta trabalhar com esse desafio pandêmico de falar de lugares devolutos usando estratégias que não a filmagem descritivista in locu. Sem nenhum postal do lugar, o material aponta justamente para uma possibilidade visual menos paternalista que permite reorganizar os sentidos em prol de uma potência imaginativa sinestésica por parte de cada observador. O lançamento dessas vídeo-operetas seresteiras de amor à luz estão sendo apresentadas no período entre as 3 Super Luas de 2021 ( 08/04 - Superlua “Rosa”; 26/05 - Superlua “Flores” e 24/06 - Superlua “Morango” ) quando nós estaremos aqui na Terra vivenciando esses fenômenos astronômicos de dilatação da percepção que temos do deslocamento lunar. Do eclipse simbólico desse ponto geopoético (Vale da Lua) e astrofísico (perigeu) de "aproximação" da Terra com a Lua será impossível não se inspirar vendo e ouvindo essa "luana cosmogoiana" cheia de mistérios em seu barroco jogo de luzes e sombras sonoras.
FRED LE BLUE é Doutor em Planejamento Urbano e Regional IPPUR/UFRJ; mestre em Memória Social PPGMS/UNIRIO; graduado em Comunicação Social FIC/UFG; Pesquisador associado do Programa Avançado de Cultura Contemporânea (PACC-UFRJ); Idealizador do Movimento Artetetura e Humanismo e do LAH-AQUI (Laboratório de Artetetura e Humanismo de Ações para Questões Urbanas Insolúveis); Editor da Editora Brasilha Teimosa e da Coleção "Artetetura e Humanismo: Olhar do artista, mãos de arquiteto" e autor de livros, filmes, músicas e WEB séries de educação política patrimonial e socioambiental

Há uma espécie de jogo com o leitor, que deve deixar-se levar pelos poemas-quase retratos fragmentados de histórias de amor, luxúria ou desencantos

Depois de reportagens investigativas sobre trabalho escravo e ataques com ácido, Betina Zetser enfrenta um novo inimigo no último lançamento da série de Luciana de Gnone

Cecília Meireles teve de ir à delegacia, debaixo de humilhações, para prestar esclarecimentos. Mas não foi “presa” pela tradução de um livro de Mark Twain

Heróis da canção legaram valores que permanecem como exercício de liberdade, exercício que inclui responsabilidade e coragem de lutar pelo ideal que se sonha

As obras são importantes ferramentas para entender a luta da comunidade, ao mesmo tempo em que dá voz a elas

Escritor coloca seus personagens diante de situações-limite cuja sedução por energias do outro mundo é um dos elementos que mais hipnotizam os leitores