Reportagens
Com repasses atrasados há mais de um ano e com obras de convênios paradas, prefeitos não sabem o que acontecerá com programas e parcerias
Sebrae estudou o mercado goiano por cinco anos para indicar tendências de negócios e características da nova geração de consumidores
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Documento aponta 17 macrotendências de consumo e 110 oportunidades de negócios para os próximos anos | Foto: Fábio Costa/Jornal Opção[/caption]
O mercado consumidor goiano acompanha a revolução global na forma de adquirir bens e serviços. As gerações passadas empenhavam dinheiro e tempo para comprar bens móveis e imóveis pelo simples prazer de possuí-los. A chamada Geração Z, de pessoas que nasceram a partir dos anos 1990, revolucionou a relação de consumo no mundo. Os jovens dessa geração querem experimentar um bem sem necessariamente possuí-lo.
Essas mudanças nas relações de consumo obrigaram o mercado fornecedor a se reajustar para oferecer experiências e não bens, guardadas as devidas proporções de necessidade de moradia, por exemplo.
O diretor-superintendente do Sebrae em Goiás, Leonardo Guerra Rezende, explica de forma sucinta para apresentar o novo documento publicado pelo órgão. "As pessoas querem viver a experiência de se deslocar até outro lugar sem necessariamente possuir um carro". As analogias, de fato, são aplicadas nos novos modelos de negócios há alguns anos. Vide aplicativos de telefone celular que oferecem variados serviços de entrega de comida, transporte particular e outros. Essas tendências seguem o caminho da economia compartilhada, como explica Leonardo Guerra.
Tendências
"Essa geração vai tomar conta do mercado nos próximos anos. A melhor coisa é observar o mercado e identificar as novas oportunidades de negócios onde os consumidores querem novas experiências de vida", diz o diretor do Sebrae.
O documento do Sebrae aponta 17 macrotendências e 110 oportunidades de negócios em Goiás para os próximos cinco anos. O estudo é resultado de análise de tendências de consumo, mercado e negócios de pequeno porte aos goianos. O livro pretende fomentar a criação de um ecossistema para geração de negócios e difundir o empreendedorismo como estilo de vida.
As 17 macrotendências sugeridas pelo documento são: Mundo digital, O futuro do trabalho, Consumo consciente e sustentabilidade, Economia compartilhada, Agronegócio, Prazer e saúde à mesa, Nichos de mercado, As novas famílias e seu cantinho no mundo, Faça você mesmo, Mercado pet, Envelhecimento da população, O poder da mulher no mercado, Consumo precoce, Economia de tempo e praticidade, Saúde e beleza e (In) Segurança e franquias.
Para identificar os temas, a pesquisa leva em conta a nova realidade demográfica de Goiás, a urbanização e interiorização do desenvolvimento, a universalização da internet e outros tópicos.
"O Sebrae construiu metodologias importantes ao longo dos anos para ajudar os empresários a montarem, estudarem e estruturarem seus negócios", esclarece Leonardo Guerra.
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Diretor-superintendente do Sebrae, Leonardo Guerra Rezende, afirma que as gerações consumidoras mudam a cada cinco anos | Foto: Fábio Costa/Jornal Opção[/caption]
O Sebrae publica o livro com novas tendências a cada cinco anos por causa das variações econômicas no Brasil e no mundo, novas gerações de consumo entrando no mercado e influenciando as decisões políticas.
Casa de cuidados para idosos aposta em "experimentação"
A empresária Iracilda Sindou Doederlein trouxe sua expertise de 30 anos em cuidados para idosos, no Rio de Janeiro, para Goiânia. O Sossego Residencial para Idosos foi aberto no bairro Jardim América há três anos. A casa disponibiliza 18 dormitórios, segurança on-line via monitoramento por câmeras e horário de visita livre como diferencial.
"A diretoria da casa incentiva os familiares a visitarem os idosos diariamente, se puderem, ou ligarem sempre para conversar. Nós cuidamos dos idosos como gostaríamos de ser cuidados. Temos uma equipe técnica qualificada para isso", explica Iracilda.
A ideia surgiu da união entre a necessidade de trabalhar e a situação de saúde do esposo de Iracilda. A empresária é diplomada em Técnicas de Enfermagem e Massoterapia. "Atuo nessa área há 30 anos. Juntei o útil ao agradável", comemora Iracilda.
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Iracilda Doederlein abriu a Sossego Residencial para cuidar de idosos com dedicação máxima como diferencial | Foto: Fábio Costa/Jornal Opção[/caption]
A empresária tem o filho Pedro Paulo Doederlein como sócio no Sossego Residencial para Idosos para ajudar na administração. "Os idosos se sentem em casa, são bem cuidados e isso é importante para a família que os deixam aos nossos cuidados. As famílias ficam receosas, por isso acolhemos os idosos com toda profissionalidade exigida", explica Pedro Paulo.
Casal explora nicho infantil no saturado mercado do jeans
Os empresários Regiane Vargas e Hugo Oliveira abriram uma loja no Goiás Center Modas há menos de um mês, em meio ao saturado mercado de jeans da Rua 44. Mas, o negócio atingiu um nicho relativamente pouco explorado: infanto-juvenil.
Hugo Oliveira conta que escutava das crianças que não gostavam de jeans porque machucava ou era incômodo no corpo. Com o relato de dezenas de crianças, o casal criou a própria confecção, modelagem e contratou profissionais para atender esse mercado tão exigente.
"As crianças nos contavam tudo que incomodavam no uso do jeans. Agora fazemos de tudo para atendê-los de acordo com as expectativas. Outro lado analisado é que tem poucas pessoas fabricando jeans infanto-juvenil em Goiás. A maioria vem de fora apenas para revenda", conta Hugo Oliveira.
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Hugo Oliveira e Regiane Vargas esperam crescer junto com o mercado da moda goiana | Foto: Fábio Costa/Jornal Opção[/caption]
O empresário espera crescer junto com o mercado da moda goiana. A previsão é de um aumento de 3,21% na produção e lucro a cada ano até 2025.
O Governo Federal tenta se aproximar dos Estados Unidos, mas a China compra o dobro das exportações brasileiras em relação aos americanos
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Jair Bolsonaro quer apoio de Donald Trump para entrar na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico | Foto: Isaac Nobrega/PR[/caption]
A visita do presidente Jair Bolsonaro ao colega norte-americano Donald Trump, em março, foi o primeiro passo do brasileiro na tentativa de estreitar laços comerciais, em queda nos últimos anos, e garantir apoio dos americanos para entrar na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), um clube de países ricos. Em outro cenário, a relação comercial com a China cresce ano após ano. O volume de exportações brasileiras para os dois países é desigual, mas as relações comerciais são bem peculiares.
O interesse entre dois países vai além de um governo vender ou comprar de outro. A ligação se completa quando os dois encontram pontos de interesse comum, como parcerias e cooperações para desenvolvimento econômico, pesquisas para avanços tecnológicos, medicinais e outros.
Depois de Bolsonaro visitar Trump, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, vai à China, em maio, para tratar das exportações brasileiras e de possível liberação de novos estabelecimentos para exportação de carne e de relatório pedido por autoridades sanitárias do país com essa finalidade.
“O Brasil exportou para a China no ano passado 88% do total das vendas externas de soja. Nós somos parceiros confiáveis, temos qualidade, nossa soja tem mais proteína. Então, precisamos dizer que continuamos e queremos continuar sendo parceiros. É fundamental ir lá e afirmar isso”, argumentou Tereza Cristina, em entrevista coletiva, após reunião com líderes do setor agropecuário em São Paulo, na segunda-feira, 22.
Exportações para os EUA despencaram a partir de 2015
Os índices de exportações de produtos básicos para os Estados Unidos começaram a cair a partir de 2015, quando desabou para US$ 4,2 bilhões no ano. Variação negativa de 32,7% se comparado com 2014 (US$ 6 bilhões). Em 2016 caiu mais 25,9%, com US$ 3,17 bilhões exportados. Nos dois anos seguintes, 2017 e 2018, a balança voltou a reagir com variações positivas de 50,1% e 5,8%, respectivamente. O Brasil vende uma quantidade menor de produtos para os Estados Unidos ao comparar com a China e, consequentemente, recebe menos dinheiro. Mas, o comércio brasileiro vende um produto mais caro para os americanos: os manufaturados. De acordo com dados do Ministério da Economia, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), o Brasil exportou US$ 28,77 bilhões para os Estados Unidos em 2018. Os produtos com maior presença no carrinho são óleos brutos de petróleo (11%), produtos semimanufaturados de ferro e aço (11%) e aviões (6,8%). Esses produtos trazem mais retorno financeiro ao Brasil por envolver mais tecnologia na produção, como explica a professora de Economia da Universidade Federal de Goiás Andreia Lucena, doutora em Economia e Relações Internacionais. “Exportar produtos de maior valor agregado, como aeronaves, é melhor para o País”, avalia. Em 2018, 58% dos produtos exportados para os Estados Unidos foram manufaturados. Enquanto isso, 88% dos produtos enviados à China são básicos, como soja e minério de ferro, de acordo com o Mdic. Os dados mostram uma parceria qualitativa entre brasileiros e americanos, diferentemente dos produtos básicos exportados aos chineses: do campo ao transporte. O Brasil importa derivados dos mesmos produtos exportados para os Estados Unidos, mas a um preço mais alto. Enquanto os americanos compram do Brasil US$ 3 bilhões em petróleo bruto por ano, o Governo Federal importa a gasolina e etanol já refinados por US$ 7,1 bilhões. E produtos derivados do petróleo estão no topo da lista de importações brasileiras dos Estados Unidos. Outros bens importados são inseticidas, adubos, sangue humano e animal e medicamentos. O Brasil importou US$ 28,9 bilhões dos americanos em 2018. A parceria comercial com os norte-americanos é mais antiga do que com os chineses e ultrapassa os limites de importação e exportação. A relação com os Estados Unidos trouxe fábricas de automóveis para o Brasil e centenas de empresas e linhas de produção e montagem há mais de 50 anos. Investimentos do tipo com os chineses são mais recentes. Porém, colocaram a China na primeira linha de importação e exportação para o Brasil nos últimos anos. E os Estados Unidos caíram para o segundo lugar. “Se analisar apenas o volume de exportação, a China tem uma importância maior. Os números comerciais com os chineses têm crescido nos três últimos anos. Se olharmos esse dado para os Estados Unidos, as exportações brasileiras têm diminuído, em média, 2% ao ano”, explica Andreia Lucena. Informações do Mdic revelam aumento de 16% nas exportações para a China entre 2016 e 2017. De 2017 para 2018 o aumento foi de 26%.É cada vez maior a entrada de "dólares chineses"
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A professora de Economia da UFG, Andreia Lucena, explica que a diferença de exportação entre Estados Unidos e China é no tipo de produto | Foto: Divulgação[/caption]
Os dados do Comércio Exterior mostram uma disparidade das exportações em 2018: US$ 64 bilhões para a China e US$ 28,7 bilhões aos Estados Unidos. “A quantidade de dólares que entra no Brasil proveniente da China é maior e crescente. Mas ainda é preciso analisar o tipo de produto que se exporta para eles. Quase 15% de tudo que o Brasil exporta vão para os EUA e 27%, para a China. A grande questão é como negociar com esses parceiros. Os americanos também produzem bens que interessam à China. Nessa seara, os americanos concorrem diretamente com o Brasil na produção de soja, açúcar e milho”, alerta Lucena.
A professora da UFG revela que 98% das importações brasileiras da China são de produtos manufaturados, como plataformas de exploração de petróleo, gás, mineração e circuitos eletrônicos para telefonia. “A gente importa bens que não produzimos. As nossas importações dos Estados Unidos são diferentes: etanol, gasolina, medicamentos e óleos em geral”.
Política externa
A orientação da política externa do governo Jair Bolsonaro é estreitar relações com vários países e os Estados Unidos estão no topo da lista, segundo Andreia Lucena. “O que abre para questionamentos se o Brasil vai se esforçar da mesma forma para atuar nos pontos de intercessão com os chineses”.
O impacto da visita do presidente Bolsonaro aos Estados Unidos será sentido em médio e longo prazos. “Se a decisão do Brasil de conseguir o apoio dos americanos para entrar na OCDE vai se concretizar, qual preço o Brasil vai pagar por isso? A gente precisa avançar nesse debate. Ainda não dá para estimar possíveis ganhos do país com a OCDE”, esclarece Lucena.
A política externa é um cenário de avanços e retrocessos. Os países vivem num sistema de interdependências. O que um faz afeta o outro. “Isso é complexo porque são múltiplos interesses. Espera-se que a política externa avance para manter boas relações com vários países. Isso foi demonstrado pelo lado da China. Eles não esperam se sentirem afetados de alguma forma e já querem negociar”, explica a professora.
O administrador de empresas com expertise em mercado internacional Edival Lourenço Júnior trabalhou oito anos para o governo chinês, entre 2011 e 2019, e afirma que o presidente norte-americano, Donald Trump, está correto em algumas posições sobre a guerra comercial com a China. "O que o Trump está fazendo na guerra comercial com a China é ousado, mas não errado. A China se beneficiou muito com políticas externas dos Estados Unidos. Uma briga do presidente norte-americano é reindustrializar os Estados Unidos". (Leia a entrevista completa ao final da matéria).
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Presidente da CNI, Paulo Afonso Ferreira, entende que aproximação com americanos não pode arrefecer relação com os chineses | Foto: Reprodução[/caption]
Para o presidente da Confederação Nacional da Indústria, Paulo Afonso Ferreira, os dois países são de extrema importância para o Brasil, cada um no seu mercado específico de importação. Estados Unidos consomem produtos mais industrializados, enquanto a China é a grande player mundial na importação de commodities, segundo Afonso Ferreira.
"Temos que ter habilidades para que esses dois grande players de negócio do mundo estejam próximos do Brasil. Hoje, a China é um grande mercado brasileiro e temos que quebrar algumas barreiras para melhorar. Por isso, defendo a negociação bilateral entre os países, especialmente com os Estados Unidos", diz o presidente da CNI, reforçando que o Governo Federal não pode arrefecer a relação com a China para se aproximar dos americanos.
Couro bovino é mais valorizado na China, segundo exportador
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Emílio Bittar diz que a China mantém as maiores indústrias do mundo | Foto: Reprodução[/caption]
Um dos sócios da empresa Coming, produtora de couro bovino com sede em Trindade (GO), Emílio Bittar afirma que já exportou para os Estados Unidos, mas a China tornou-se sua principal aliada nos últimos anos.
“Meu produto, o couro bovino, é mais valorizado na China porque eles concentram as maiores indústrias de sofás, bancos para automóveis, bolsas, sapatos e cintos. Enfim, produtos que utilizam muito couro. Os chineses são os principais produtores do mundo”, comenta Bittar. O empresário também exporta para outros países, como Índia e Vietnã.
Bittar diz que a China é o maior destino das exportações goianas como um todo, mas os americanos são a principal origem, o que diferencia as relações comerciais do Brasil com os dois países. “As conversas podem ser melhoradas e aproximadas cada vez mais. É isso que o empresariado espera dessa nova etapa do governo”, comenta o empresário.
Fieg teme aproximação entre Estados Unidos e China
Na cesta de relações brasileiras com os dois países, a Federação da Indústria de Goiás (Fieg) teme uma aproximação entre Estados Unidos e China após a guerra comercial que os dois disputam desde o ano passado. “Essa aproximação irá tirar muito mercado brasileiro e, principalmente, dos produtos goianos, visto que os EUA são concorrentes mundiais em várias commodities e produtos produzidos em Goiás”, avalia o gerente do Centro Internacional de Negócios da Fieg, Plínio Viana. O gerente acrescenta que “uma guerra comercial entre ambos não interessa a ninguém. Nesses casos, a reação do mercado mundial é de retração. Até que se estabeleça a normalidade, todos perdem”. [caption id="attachment_180190" align="alignnone" width="512"]
"Aproximação entre Estados Unidos e China pode tirar parte do mercado internacional brasileiro", avalia Plínio Viana | Foto: Divulgação[/caption]
A aproximação política e comercial do Brasil com os Estados Unidos, fortalecida pela visita recente do presidente Jair Bolsonaro a Donald Trump, não pode resultar em um distanciamento com a China, segundo Viana. “Há espaço para se aproximar de ambos e essa briga não é nossa”.
Goiás teve superávit de US$ 3 bilhões
A balança comercial de Goiás fechou o ano de 2018 com saldo positivo em US$ 3 bilhões. As exportações fecharam em US$ 7 bilhões e as importações, em US$ 3 bilhões. Em a 2017, as exportações cresceram 8,75% e as importações, 10,58%. Os destaques das exportações goianas em dezembro de 2018 foram para o minério (US$ 183 milhões), o complexo da soja (US$ 111 milhões) e o complexo da carne (US$ 107 milhões). Em 2018, Goiás exportou principalmente para a China, 23,87% de todos os produtos; Índia (6,80%); Bulgária (6,643%); Itália (4,73%) e Estados Unidos (4,2%). Juntos, esses seis países totalizaram 52,53% das exportações goianas. No ranking das exportações por unidade da Federação, Goiás ocupou a 11ª posição, mesma posição de dezembro de 2017, com participação de 2,5% das exportações do País. Os primeiros colocados foram São Paulo, Minas Gerais e Rio de janeiro. Os municípios goianos que lideraram as exportações em 2018 foram: Rio Verde US$ 853 milhões (16,40%), Alto Horizonte US$ 439 milhões (8,44%), Mozarlândia US$ 391 milhões (7,53%), Barro Alto US$ 378 milhões (7,27%), Goiânia US$ 352 milhões (6,78%), Itumbiara US$ 305 milhões (5,87%) e Ouvidor US$ 270 milhões (5,20%). Esses municípios corresponderam sozinhos a 57,5% das exportações do estado. Em termos da Classificação por Grandes Categorias Econômicas (CGCE), 78,3% das exportações goianas foram de bens intermediários e 20,22% de bens de consumo, em dezembro de 2018. Quanto às importações por município, Anápolis e Catalão foram responsáveis por 67,66% das importações ou US$ 2,4 bilhões no ano passado. Os principais itens foram adubos com 30,76%, produtos farmacêuticos (30,5%), reatores nucleares, máquinas (13,41%). Os principais países de origem são Estados Unidos (US$ 62 milhões), Alemanha (US$ 38), China (US$ 35), Rússia (US$ 22), Suíça (US$ 14) e Argélia (US$ 13). Juntos, esses países responderam por 61% das importações do Estado. Em fevereiro deste ano, as exportações goianas totalizaram US$ 421 milhões e as importações, US$ 334 milhões. As vendas para o exterior apresentaram alta de 4,48% em relação a fevereiro de 2018 (US$ 403 milhões) e aumento de 1,24% em relação ao resultado apresentado em janeiro de 2019. Nesse período, Goiás exportou US$ 416 milhões.Rio Verde sedia negociações bilionárias no agronegócio brasileiro
O município de Rio Verde (GO) tornou-se referência nacional no setor do agronegócio. A feira TecnoShow, sediada na cidade, movimentou R$ 3 bilhões em negócios, segundo o presidente da Assembleia Legislativa de Goiás, Lissauer Vieira (PSB), que tem base eleitoral e produz grãos no município. "Acredito que o aumento significativo da exportação de Rio Verde para China se deve, sobretudo, ao fato de que o município concentra um dos maiores processos de industrialização e comercialização de alimentos do Brasil, tanto de soja quanto do milho, e isso acaba influenciando bastante", explica o parlamentar. Uma das características principais de Rio Verde, segundo Lissauer, é a possibilidade de expansão da produtividade para o mercado internacional. "Podemos avançar ainda mais, principalmente na produção de frangos e suínos e isso contribuirá muito para o crescimento das nossas exportações", espera Vieira. [caption id="attachment_163594" align="alignnone" width="620"]
Lissauer Vieira diz que Rio Verde pode exportar mais se o Brasil tiver menos entraves comerciais | Foto: Fernando Leite | Jornal Opção[/caption]
Outro fator importante apontado pelo deputado é a constante atualização e modernização dos processos industriais e da produção rural de uma forma geral. Os altos investimentos e a implementação da tecnologia no campo são também grandes influenciadores para o aumento nos índices de produtividade e de exportação.
Sobre os obstáculos para vender mais produtos ao exterior, Lissauer diz que a logística é uma das principais dificuldades na exportação, incluindo o alto custo com transporte, as altas tarifas alfandegárias cobradas em portos e aeroportos e as más condições das estradas brasileiras.
Atualmente, o escoamento da produção de Rio Verde, especialmente de grãos, é realizado por meio da malha rodoviária e muitas delas estão em situações caóticas, segundo o deputado. "Por isso é de extrema necessidade a realização de melhorias na infraestrutura logística do País, expandindo os investimentos em ferrovias, desburocratizando os procedimentos de despacho e diminuindo a carga de tributação".
Entrevista | Edival Lourenço Júnior
A tendência da China é exportar tecnologia de informação, segundo expert em mercado internacional
O administrador de empresas Edival Lourenço Júnior tem expertise em relações comerciais com a China. Diplomado pela Universidade de Pequim, morou oito anos no país asiático e trabalhou na estatal CRRC, que atua na exportação de produtos ferroviários. Lourenço Júnior era o único brasileiro na empresa de 185 mil funcionários, que tem planos de expansão na América Latina. Em mesas chinesas de negociação senta-se um de frente para o outro, cada ala de interesse de um lado, quase como uma guerra, porém, num jantar, os chineses sentam-se em mesa redonda para celebrar a união e a proximidade, explica Lourenço Júnior. Após anos de experiência no gigante asiático, o jovem goiano se tornou uma das maiores referências no Brasil em "negócios da China". Leia abaixo a entrevista concedida por ele ao Jornal Opção. [caption id="attachment_180231" align="alignnone" width="620"]
Edival Lourenço Junior diz que os chineses tem enorme capacidade de execução | Foto: Fábio Costa/Jornal Opção[/caption]
Como é a relação comercial entre Brasil e China?
A relação é antiga, mas em 2009 a China se tornou o principal parceiro do Brasil numa relação de complementariedade. A gente exporta matéria-prima para os chineses e importa produtos industrializados, basicamente. Ao longo do tempo, os bens industrializados foram evoluindo. Anteriormente importávamos bugiganga, os chamados produtos “xing-ling”. Inclusive o produto chinês ainda sofre com essa má fama. Porém já faz um tempo que não é bem verdade. O produto Made in China evoluiu. A China hoje exporta tecnologia e maquinário de alto padrão.
Quando aconteceu essa mudança de importar produtos de baixo valor para tecnologia de alto padrão?
Esse processo ainda acontece. Um cidadão comum, que não vive a realidade comercial entre Brasil e China, tem uma grande possibilidade dele associar o produto chinês com algo de baixo valor agregado. A empresa Sany, por exemplo, produz máquinas para construção civil, pavimentação e abertura de estradas e hoje compete igualmente com a Caterpillar (empresa norte-americana do mesmo ramo). Houve uma onda de trazer veículos chineses para o Brasil, mas não pegou na primeira. Neste momento acontece um novo processo. Não tem necessariamente uma virada de chave, isso é um processo. A Chery, Lifan, Jac Motors estão fortalecendo presença em solo brasileiro.
O Brasil também não é um país fácil de fazer negócio e os chineses estão acostumados com a maneira de negociar na China. Na empresa em que trabalhava, tive conversas homéricas com um executivo chinês. Falava para ele que não existem duas Chinas no mundo. É preciso que eles parem de comparar tudo com a China. Tudo lá é muito grande e feito para muita gente. A população deles é de 1,4 bilhão. Uma diferença entre Brasil e China é o tempo de conversa e tomada de decisão. Os chineses têm apenas um partido político dominante, então é tudo muito rápido. O ponto fraco da democracia é o tempo que se perde discutindo. Quando precisa construir uma ponte, por exemplo, os chineses gastam um dia decidindo onde e como será a ponte. No outro dia começam as obras e seis meses depois ela está pronta e operando. No Brasil passa-se seis anos discutindo onde será a ponte e depois acabou o dinheiro. Não tem mais ponte. A China tem muito a exportar para o mundo a sua capacidade de execução.
A China é referência mundial em transporte ferroviário. Eles não quiseram participar do leilão da ferrovia Norte-Sul no Brasil?
A China segue sondando esse projeto por muito tempo, mas não participou porque tinha um gargalo muito forte que beneficiava quem já estava operando, no caso a VLI e a Rumo. Um já tinha saída para o Norte e outro para o Sul. Se outra empresa que não fosse a VLI ou a Rumo tivesse ganhado a licitação, ficaria ilhada. A empresa não conseguiria chegar ao porto Norte ou Sul. A licitação beneficiava essas duas empresas. Mas, vejo com normalidade porque licitação de uma ferrovia não é igual comprar uma marca de café. Quantas empresas no Brasil operam ferrovias? Três: MRS, Rumo e VLI. Não é um mercado de livre concorrência. Como o mercado é muito específico, a China preferiu ficar de fora. Teve outra empresa russa chamada TMH que olhou também e outra empresa do leste europeu, mas não foi para frente. Nessa licitação ninguém quis participar.
Para quais outros países a China exporta tecnologia e produtos ferroviários?
Pra diversos países, em especial na Ásia, África e América do Sul. Neste última área o melhor exemplo é na Argentina. A ex-presidente Christina Kirchner abriu as portas para a China em seus mandatos. O atual presidente da Argentina, Maurício Macri, até tentou restringir um pouco o comércio, mas já era tarde. Atualmente, quase 100% da frota argentina é composta de veículos ferroviários chineses comprados nos últimos sete anos. Os argentinos usam muito a malha ferroviária. Totalmente diferente do Brasil, que não tem esse costume. O metrô de Buenos Aires é o mais antigo da América da Sul.
A especialidade da China é produzir e vender equipamentos ferroviários, mas não operar os trilhos?
Em território chinês, empresas locais operam, mas em outros países não. Os chineses ainda não conseguiram exportar expertise de operação para muitos países. Tem alguns trechos operados na Indonésia e Vietnã e estão negociando operação ferroviária com a Malásia. Isso demanda um tempo maior para entender as regras locais de cada país. Mas já começaram operar portos, por exemplo, a China Communications Construction Company, chamada de CCCC, outra empresa estatal, comprou o porto de São Luís, no Maranhão. Outro exemplo é a participação da China Merchants Group no porto de Paranaguá.
Como funciona a participação das empresas Estatais na China?
Funcionam como tentáculos do governo. Alguns setores considerados estratégicos são dominados por estatais. O transporte é pensado pela quantidade de cidadãos. A mídia, em função do partido único, sofre o controle do que será publicado. O setor de energia, óleo e gás, também é controlado. Assim como o sistema financeiro, segurança pública e etc. O sistema público de saúde funciona bem, apesar de a população pagar uma pequena parte no atendimento médico. A população confia mais no setor público do que no privado porque o governo opera bem todas essas áreas.
Quais Estados brasileiros têm uma presença chinesa grande?
Com certeza São Paulo, que funciona como um para-raio do Brasil. Tudo cai lá primeiro. O bairro Liberdade, antigamente japonês, hoje já tem mais chinês. As ruas do Brás e a 25 de março são dominadas por chineses. O Estado tem essa capacidade para internacionalização forte. Atualmente, a cidade de São Paulo está na lista das mais cosmopolita no mundo.
O foco dos chineses está em São Paulo?
Nâo necessariamente. Depende do setor. É sim verdade que lá já tem um ecossistema grande para receber chineses, restaurantes e hotéis originalmente chineses. Outro bom exemplo é o Instituto Confúcio, que divulga o mandarim e a cultura chinesa. Há a câmara de comércio Brasil-China e a Associação Brasileira das Empresas Chinesas (Abec), que reúne grande parte do empresariado no Brasil
Muitas pessoas acreditam que a 25 de Março, em São Paulo, representa a forma chinesa de fazer negócios. Funciona dessa forma mesmo?
Absolutamente não. A 25 de Março ainda representa a China de 15 anos atrás. Diga-se de passagem, se você olhar com calma os produtos vendidos lá, vai observar que não são mais produzidos na China. Os traders chineses passaram a dominar a cadeia, mas a produção migrou para outros países por causa do custo de mão de obra. Migrou para Bangladesh, parte do Camboja, Índia e Vietnã, lugares onde a mão de obra é consideravelmente mais barata que a chinesa. A Nike tirou toda a produção da China ainda em 2014.
A China não é mais o país com a mão de obra mais barata do mundo?
Com certeza, não. Morei os últimos sete anos no interior da China. A mão de obra de um operário nível iniciante numa fábrica chinesa é maior que o salário mínimo brasileiro. Eles ganhavam R$ 1,3 mil, já fazendo a conversão da moeda. Mas, R$ 1,3 mil lá compram mais que no Brasil. O poder de compra deles é maior e vem aumentando consideravelmente. A China não é mais competitiva em função de valor de mão de obra. Eles são imbatíveis em função de escala. Se algum empresário quiser comprar, por exemplo, 10 cadeiras de escritório, eles não são competitivos. Mas se quiser comprar 1.000, ninguém vai conseguir competir. Eles têm indústrias que vão entregar rapidamente uma enorme quantidade de qualquer produto.
A China tem um ecossistema incrível para fazer protótipos, que é muito importante na indústria. Tem uns makers chineses em Shenzheng, na divisa com Hong Kong, onde foram as zonas econômicas especiais promovidas por Deng Xiaoping em 1978 no processo de reabertura da China para o mundo. Naquele lugar tem um ecossistema para atender essa demanda. Um protótipo que levaria semanas ou até meses para ser finalizado nos Estados Unidos ou na Europa, os chineses conseguem terminar em horas ou dias. Aquele protótipo gera o molde que já vai para a indústria e já produz milhares de produtos em poucas semanas.
Qual o grande diferencial dos chineses?
A capacidade de execução de alto volume. Isso não acontece em nenhum outro lugar do mundo.
O que eles exportam além de produtos?
A China virou um berço de unicórnios, empresas com valor de mercado acima de US$ 1 bilhão. Atualmente eles estão beirando 170 empresas. O Brasil, se você espremer muito, consegue tirar quatro ou cinco unicórnios. E a China chegou nesse patamar de unicórnios devido à liberdade de atuação, desde que não seja nas áreas dominadas pelas estatais. Eles têm um ambiente muito frutífero. Algo interessante também é que quase não circula mais papel-moeda no país. Tudo é feito pelo celular usando aplicativo WeChat Pay. Desde comprar um café até um carro. Essa realidade faz três anos para eles, ao ponto que, se alguém usar uma cédula vão achar que é um alienígena.
O partido é comunista apenas no nome?
A China não é comunista. É um comunismo nos moldes chineses. Na verdade, é um capitalismo agressivo. O Partido Comunista governa o país e ainda há resquícios de comunismo na forma como o governo opera as estatais. Aquele comunismo como Mao Tsé-Tung gostava. Depois do processo de abertura, no final da década de 1970, o processo foi gradual. Mas, ainda tem um pouco de comunismo no interior onde as pessoas plantam e dividem. Ao olhar de pessoas ocidentais essas pessoas são vistas como pobres, mas eles não se sentem assim. Para eles é normal.
É muito diferente da percepção que os brasileiros tem de comunismo, como o cubano, por exemplo.
É muito complexo entender o comunismo chinês. A melhor forma de explicar é sobre a ótica da filosofia confucionista, que tem várias relações hierárquicas. A relação mais alta é entre império e súdito. O império está muito alto, se comparado com o súdito. A figura do imperador na cabeça de um chinês vem de cinco mil anos de história. Eles têm orgulho disso. A filosofia confucionista é presente até hoje. Essa forma do Confúcio de organizar a sociedade foi muito importante. A ordem é de cima para baixo: imperador e súdito, pai e filho, marido e mulher, irmãos mais velho e mais novo e os amigos, únicos que estão iguais na escala.
O chinês não vê de forma negativa um governo tão forte, com tantos poderes. Uma frase do Deng Xiaoping é muito presente na cabeça deles: “Não interessa se o gato é branco ou preto, desde que o gato cace rato”. Para eles não interessa se é comunismo ou capitalismo, o povo não pode ser pobre. A população chinesa quer enriquecer e por isso o país facilita tanto o empreendedorismo. Não há uma percepção no chinês de liberdade restringida. Tudo se pode fazer na China, menos falar mal do governo.
Como é a política na China?
O Partido Comunista Chinês vai se moldando automaticamente. Diferente do que muita gente pensa, o sistema político chinês é o que mais passou por reformas nos últimos 40 anos. Porém segue sendo um partido único. O presidente é eleito de dentro do partido. As cidades têm prefeitos e vice-prefeitos, assim como as províncias tem governadores e seus vices. Mas, tudo sai do partido comunista, por meritocracia. Um sistema onde seus pares de avaliam.
Existem regras claras. Um político não chega à prefeitura de um grande município sem antes ter passado por administrador de bairro, depois prefeito de pequenos municípios. Só depois disso que se pode pensar em ser governador e também precisa observar a questão da idade. Dentro deste sistema, um presidente como Xi JinPing , para chegar lá já foi muito testado. É uma forma de reduzir a margem de erro onde pessoas despreparadas ocupam cargos de muita responsabilidade.
A população não participa da escolha dos políticos?
Não. A população não vota. É muito mais difícil um homem chegar ao topo no sistema político chinês do que no brasileiro. No Brasil tem a velha prática de compra de voto por a população ser tão pobre. Um cara se elege vereador em uma cidade pequena trocando tijolo por voto. Na China são os pares avaliando. Para subir de determinado cargo, um chinês tem que ser melhor do que os outros. Para um político chinês chegar a governador de uma província relevante foi muito testado, passou por prefeito e outros cargos. Obrigatoriamente. Ele não pula a escada. O sistema tem regras e elas são claras.
Os chineses não falam em eleição direta?
Não. Pode ter uma ala, que eu não convivi, mas o voto não está na lista de desejos de um cidadão comum. Para o chinês, o processo de eleger quem vai estar no poder é para quem vive de política, não para o cidadão comum. A política na China é feita por profissionais. Políticos profissionais. Inclusive já testemunhei chineses debochando do sistema político eleitoral. Dizem que é um ciclo vicioso entre a esperança e o arrependimento.
O governo influencia a economia e as relações exteriores?
A China não é um país onde todas as decisões são tomadas de cima para baixo. Posso dizer com tranquilidade que as decisões são tomadas de baixo para cima, ao ponto de ter bancos de financiamento municipal. Os prefeitos têm recursos para fazer obras e não dependem do governo federal. Para exemplificar, temos o porto seco de Anápolis e se outro município construir outro porto seco vai ser concorrente. Isso é o que mais acontece na China: municípios competindo uns com outros.
O protecionismo deles é em cima da indústria nacional?
Exatamente. A China é muito liberal no discurso. Porém, na prática, é extremamente protecionista. Na área automotiva, por exemplo, uma fabricante só entra no país se um parceiro chinês for dono de 50% da empresa. A Ford tem 50% e outra empresa chinesa tem 50% da sociedade. Está acontecendo algo interessantíssimo neste sentido com a Tesla. O presidente da empresa, Elon Musk, está conversando diretamente com o alto escalão do partido chinês para conseguir ser exceção à essa regra. A Tesla está em negociação adiantada para abrir uma fábrica em Xangai, que inicialmente seria de baterias. Vamos ver se o Musk vai ser o primeiro a conseguir essa exceção o Partido Comunista Chinês.
O que Goiás exporta para a China?
Produtos primários. Muita soja. Há uma discussão interessante no sentido de melhorar o nível de industrialização da soja e vender os produtos decorrentes do processo, como óleo de soja e outros derivados. Deixar a soja com mais valor agregado e depois vender. Mas, basicamente, exportamos minério de ferro e produtos agropecuários, em particular a soja. Na balança comercial de exportações de março, o Estado de Goiás exportou mais do que 40% para China. É um nível de concentração perigoso.
O que ainda pode frutificar da aproximação entre a China e o Brasil no futuro?
Principalmente tecnologia. Essas starups consideradas unicórnios ainda não aprenderam a operar fora da China. Quando eles aprenderem a operar esses aplicativos dentro do Brasil, nós vamos ver uma enxurrada de investimentos chineses. Isso é um processo. A Tencent (dona do WeChat) investiu recentemente no Nubank. Foi a última rodada de investimentos da Tencent que transformou o Nubank num unicórnio. Outro exemplo é o aplicativo DiDi Chuxing que comprou a 99Pop e a transformou num unicórnio. O que a gente vai ver de agora para frente é esse perfil de investidor mais jovem e indústrias mais novas. Essa é a tendência.
Com a melhoria na distribuição de renda e uma ascensão de centena de milhões de chineses a classe média, outra grande tendência é a busca por melhores produtos e serviços como por exemplo alimentação, vestuário e turismo. Isso abre uma oportunidade gigantesca para empresas Goianas.
Produtores culturais não acreditam no pagamento do Fundo de Arte e Cultura e cobram a retomada de captação da Lei Goyazes

Desde que a Secretaria da Cultura de Goiás (Secult) foi recriada pelo governador Ronaldo Caiado, a pasta trabalha para organizar sua gestão administrativa do zero. A tarefa não é simples e mostra-se financeiramente árdua. Ao assumir o cargo, o secretário Edival Lourenço encontrou um passivo de R$ 58,8 milhões de repasses não realizados desde 2015. Enquanto isso, a previsão orçamentária para este ano é de R$ 53 milhões. A conta não fecha e o próprio passivo ultrapassa a previsão do orçamento, o que gera insegurança em artistas e produtores culturais, que sofrem para dar andamento aos projetos.
A dívida está ligado ao Fundo de Arte e Cultura, que alimenta atividades tradicionais no cenário goiano, como a Orquestra Filarmônica de Goiás, o Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica), a Mostra Nacional de Teatro de Porangatu (TeNpo) e o Canto da Primavera. No site do Fundo, há 13 listas com mais de 300 projetos dos anos de 2015 e 2016 a serem pagos, no valor total de R$ 31.552.000.
Segundo uma fonte da Secult, os passivos referentes a 2017, que deveriam ter sido pagos em 2018, são os únicos, de fato, que não receberam por falta de recursos do Estado, e enfrentam desde, a administração passada, um cenário de restrição orçamentária.
O passivo de R$ 58,8 milhões se arrasta desde 2015, no governo Marconi Perillo, passou pelo governo de José Éliton e alcançou a atual gestão, entrando no orçamento como “restos a pagar”. O problema é que os “restos a pagar”, segundo a Assessoria de Comunicação da Secult, não podem entrar nos recursos estimados para 2019 e, para resolver o impasse, a Secult tenta desde janeiro estabelecer um cronograma de pagamento com a Secretaria de Economia.
Segundo a secretária da Economia, Cristiane Schmidt, as reuniões com a Secult e a classe artística foram produtivas, e, apesar do cronograma ainda não ter sido acertado, o pagamento escalonado já está definido. Schmidt diz que o Goiás tem um passivo “muito grande com tudo, com várias pastas, não somente a Cultura”, incluindo salários de servidores atrasados. Dentro dessa perspectiva, é realizada uma lista de prioridades e a cultura aguarda nesta esteira para ser contemplada.
Nesse entretempo, todos perdem: os produtores culturais, os artistas, a cadeia criativa envolvida nos projetos, a sociedade e o próprio Estado, que conta com menos variedades em seu cardápio cultural.

Recursos insuficientes
O diretor e pesquisador teatral João Bosco Amaral, da Companhia Teatral Oops!, relata que dois projetos de manutenção do grupo, contemplados pelo Fundo de Cultura em 2017, até hoje não receberam os recursos previstos. Um dos projetos aguarda o repasse de R$ 200 mil e o outro falta captar o equivalente a R$ 50 mil.
"Os recursos já são insuficientes para atender as demandas da população e da classe artística. Quando ele é cortado dessa maneira, qualquer pequena ação fica impedida. A tendência é que acabe praticamente tudo e aconteça o mesmo com a Quasar Cia de Dança, que foi à falência por falta de recursos federais. Essa é a situação atual. É muito preocupante", alerta.
A Oops!, que está comemorando 18 anos de existência, tinha a intenção de usar as verbas para trazer artistas internacionais da Espanha, Peru, Colômbia e México, que viriam dar treinamento não apenas para a companhia, como também para outros grupos da cidade.
"O calote atrapalha a engrenagem do mercado cultural como um todo. Infelizmente, o Estado brasileiro é o responsável pelo direito ao acesso à cultura. Dependemos dele e sofremos pelos atrasos dos repasses", lamenta.
O diretor conta que os espetáculos seriam apresentados em cidades de apenas 5 mil habitantes, onde há carência de projetos culturais e a população depende dessas iniciativas para ter acesso à cultura.

"A cultura nunca foi acessível. Quando você corta os repasses, então, você não permite que a sociedade tenha acesso à cultura de qualidade. O artista perde em trabalho e a comunidade perde em oportunidades. Infelizmente os espaços também dependem desses recursos públicos e eles estão sucateados", salienta.
Na visão de João Bosco, a paralisação da Lei Goyazes e a ausência do Fundo de Cultura é um retrocesso de duas décadas. Ele afirma que não tem esperança de que a situação dos repasses seja resolvida em curto prazo. Além disso, o produtor relata que as reuniões entre as secretaria de Economia e a de Cultura não foram uma iniciativa da Secult, mas sim uma mobilização da própria classe artística.
“A própria Secult não se mobilizou para realizar esses encontros. O que foi pautado nas reuniões foi que a [Secretaria de] Cultura não havia estabelecido nenhum prazo de execução dos pagamentos ou parcelamentos e, por isso, a classe pediu um cronograma, que até hoje não foi repassado”, afirma.
Artistas cobram cronograma de pagamento
João Bosco enfatiza que a definição do pagamento foi pelo escalonamento, mas que nenhuma nota oficial foi registrada nem pela Secretaria de Economia e nem pela Secult. “A informação que nós temos é que não haverá pagamento e que não há caixa para realizá-lo agora. Os repasses seriam feitos daqui três anos, isso se realmente forem feitos”, destaca.
Para os pagamentos do Fundo de 2019, o secretário Edival Lourenço disse ao Jornal Opção que a perspectiva é que sejam feitos entre agosto ou setembro, quando também deve sair o resultado dos contemplados dos últimos editais.
Maria Abdalla, idealizadora e diretora geral do Goiânia Mostra Curtas, que vai completar 19 anos em 2019, além de outros projetos como Icuman Lab e o Cinema Popular, também comenta sobre a falta de repasses e afirma que todos os seus projetos correm o risco de acabar, devido a falta de compromisso do pagamento dos editais.
“Tudo isso é dinheiro público. Quando ele não é bem utilizado, é desperdiçado. Isso está afetando completamente toda a cadeia produtiva. Esses projetos contribuem para a economia e a falta deles causa um grande impacto. É muito sério o que está acontecendo na cultura, não apenas em Goiás, mas em todo o País", ressalta.
A produtora reclama da inexistência de um cronograma para o pagamento dos editais e observa que "não existe um calendário para esses projetos”, que julga ser primordiais para a sociedade. "A Lei Goyazes está parada. Nós não podemos utilizar do mecanismo de captação. O Fundo tem um passivo acumulado e não há previsão para o pagamento, enquanto a lei municipal até hoje não abriu. Ou seja, o cenário mostra uma crise profunda na cultura", destaca.
Abdalla conta que o Icuman Lab, aprovado na Lei Goyazes, foi cancelado em abril, por falta de captação, enquanto o Goiânia Mostra Curtas ainda não conta com o apoio do Estado de Goiás. “O Fundo está à deriva, não tem nada concreto. Eu sigo trabalhando, mas o que vai acontecer é imprevisível”, lastima.

Escritor aguarda recursos para publicar livro
O escritor, professor e pós-doutor, especialista em história medieval, Ademir Luiz, confirma que, de fato, há vários prêmios do Fundo de Arte e Cultura que ainda não foram pagos. “Eu mesmo tenho um romance gráfico, intitulado ‘Errante’, esperando a liberação da verba para ser publicado”, informa.
No entanto, o escritor vai na contramão dos produtores culturais e reconhece que suas experiências com as leis de fomento, até agora, foram positivas. “Tive um primeiro romance gráfico, intitulado “Conclave” e ilustrado pelo artista Rafael Campos Rocha, que foi viabilizado pelo Fundo de Cultura. Depois, consegui viabilizar uma série de oficinas com escritores e quadrinistas em Goiânia, Anápolis e Pires do Rio”, relata.
Ademir acredita que a demora na liberação dos passivos se deve ao processo de reconstrução da Secult e lembra que a secretaria havia sido fundida com a Educação. “[A Educação é] uma pasta muito maior e com demandas próprias”, argumenta.
O escritor confia no trabalho do também escritor e secretário de Cultura, Edival Lourenço. “É preciso lhe dar tempo para trabalhar. A burocracia da máquina estatal é complexa. Outra coisa importante a ser destacada é que, não faz muito tempo, Goiás praticamente não tinha leis de fomento. Ainda estamos no processo de estabelecer o real papel dessas leis no cenário”, avalia.
Ademir Luiz propõe que o Estado não apenas fomente a Cultura, mas também divulgue esses atos, por exemplo, com a realização de um festival de cinema ou evento de lançamento coletivo com filmes produzidos e livros editados via fomento. “Ações desse tipo vão criar uma relação mais evidente entre a classe artística e as autoridades. Reconheço os problemas e compreendo as reclamações, mas sou otimista”, declara.

Ainda não há prazo para a Lei Goyazes
voltar a captar recursos
Enquanto isso, a Lei Goyazes sofre para ser regularizada e voltar a captar. Em dezembro do ano passado, o governo José Eliton publicou um decreto revogando os efeitos da lei e a isenção fiscal foi encarada pelo Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz) como guerra fiscal entre os Estados, apesar dos recursos serem destinados para o incentivo de projetos culturais.
Em março deste ano, o Confaz reviu seu posicionamento e entendeu que a renúncia do ICMS a favor da cultura não constitui guerra fiscal. A Secult argumenta que, como a situação foi resolvida, a Lei Goyazes segue em vigor, restando apenas uma análise dos setores jurídicos de ambas as secretarias para saber se há algum ônus jurídico ou impeditivo para a captação. “Nós acreditamos que não há. Mas vamos nos reunir outra vez para definir a questão”, afirma a assessoria da secretaria.
A pasta alega que o retorno da captação de recursos é uma demanda emergencial para a pasta e o secretário está empenhado para dar regularidade ao mecanismo. Além disso, a assessoria enfatiza que tanto o secretário quanto os produtores culturais já se reuniram diversas vezes com a Secretaria de Economia e que há mais um encontro para ocorrer após o feriado da Semana Santa.
Na saga da captação para a Lei Goyazes, há ainda outra frente sendo trabalhada junto à Assembleia Legislativa para a apresentação de um projeto de Lei que reconheça que o mecanismo não constitui guerra fiscal.
Em entrevista ao Jornal Opção, o secretário Edival Lourenço pontuou o pedido ao deputado Karlos Cabral (PDT), responsável por apresentar o projeto na Assembleia Legislativo de Goiás (Alego). Segundo o secretário, há expectativa da pauta ser votada o mais breve possível.

Sobre os atrasos dos repasses, Lourenço admite que as delongas do pagamento “são uma realidade”, que ocorrem em decorrência do próprio “fôlego que a lei tem”. A Secult, por sua vez, argumenta que a aparente demora em tratar o orçamento, na verdade, está dentro do procedimento normal da pasta, que teve de ser reconstruída do zero.
“Este ano vamos lançar o edital do Fundo em julho e o edital da Lei Goyazes em agosto. [...] Há cinco anos ainda não tínhamos o Fundo. Nem se imaginava que teríamos R$ 40 milhões (atualizados para R$ 53 milhões) por ano para investir nas atividades-fim em Goiás”, ressaltou o secretário.
Na visão de Lourenço, o avanço das leis de incentivo a cultura em Goiás é inegável. Tanto a Lei Goyazes quanto o Fundo “aportam um valor muito grande para a área cultural”, gerando impacto na cadeia criativa da atividade econômica e na sociedade no âmbito cultural. “É uma coisa de grande relevância”, destacou.
A Secult, por sua vez, também defende o trabalho da pasta e reforça que está empenhada em conseguir patrocínios para os festivais. Segundo a assessoria, a prioridade é o Fica, que negocia incentivos com a Caixa e deve ser um modelo para outros eventos como o TeNpo e o Canto da Primavera.

Ainda de acordo com a Secult, as negociações com a Caixa já estão adiantadas, embora o patrocínio ainda não tenha sido firmado. O festival, que tradicionalmente acontece em junho, deve ser adiado e ainda não tem confirmação de data nem valores a serem repassados. A pasta pontua que o orçamento será menor que em 2018, de R$ 3 milhões, mas que a qualidade do evento será preservada.
Apesar de a pasta ainda estar em processo de organização de suas estruturas, a secretaria lembra que a ação cultural continua em Goiás e os espaços seguem com suas atividades normalmente, a exemplo do Teatro Goiânia, o Cine Cultura, a Casa Colagem, a Vila Cultural Cora Coralina e o Centro Cultural Oscar Niemeyer, com a programação atualizada da Orquestra Sinfônica.
“A Secult continua a operar as ações culturais no Estado enquanto realiza os procedimentos internos para reorganizar a gestão da secretaria. Até o meio deste ano novos projetos devem ficar prontos e serão apresentados para essa gestão”, conclui.
Diretoria-Geral de Administração Penitenciária isola cabeças do PCC e do Comando Vermelhos nos presídios de Anápolis e Formosa

Quinta-feira, 18 de abril. A imagem em negativo, produzida por um escaner corporal, mostra o corpo de uma mulher. Na vagina, um objeto chama a atenção dos agentes penitenciários que fazem a segurança do Presídio Estadual de Anápolis. A averiguação comprova: a mulher, cujo nome não foi divulgado, levava cerca de 220 gramas de maconha para o marido, que está preso no local.
A ocorrência é rotineira e não chamaria mais a atenção não fosse um detalhe. Inaugurado há um ano, o Presídio Estadual de Anápolis tem uma população carcerária com perfil específico. É ali que a Diretoria Geral de Administração Penitenciária mantém a custódia de aproximadamente 400 líderes do Primeiro Comando da Capital (PCC), cujo braço goiano está espalhado em praticamente todo o território estadual.
A penitenciária foi uma das últimas obras entregues pelo então governador Marconi Perillo. A construção levou cerca de seis anos. Com R$ 19 milhões aplicados, a capacidade é para 300 presos, mas esse limite frequentemente é extrapolado.
Poucos dias antes, o governador tucano havia entregue outro presídio, o de Formosa. Com estrutura e valor de investimento semelhante, a unidade do Entorno do Distrito Federal é outra que recebe prioritariamente presos faccionados. A diferença é que, em Formosa, são lideranças do Comando Vermelho, facção que nasceu no Rio de Janeiro mas que tem presença em todo o País.
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Os dois casos demonstram como a estrutura da Segurança Pública estadual, assim como ocorre em praticamente todo o Brasil, precisa colocar na balança do planejamento o poderio desses grupos criminosos. Na prática, é a condição de faccionado que determina o local em que um preso cumprirá sua sentença.
Quando da inauguração dos presídios, o então Diretor Geral de Administração Penitenciária, coronel Edson Costa Araújo, afirmou que a intenção era ocupar as vagas gradativamente. Os planos tiveram de mudar após a intervenção do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e as duas unidades foram ocupadas rapidamente.
Divisão busca evitar confrontos
Há muitos anos o alojamento de presos leva em conta a existência de risco para eles dentro dos presídios. Na Penitenciária Odenir Guimarães, no Complexo de Aparecida de Goiânia, entre os critérios da triagem dos presos consta a pergunta: "Você tem divergência com algum outro preso?". O mesmo ocorre na Casa de Prisão Provisória (CPP), que abriga presos que aguardam julgamento.
A diferença é que até há poucos anos a preocupação era com rixas pessoais, divergências que são levadas de fora para dentro dos presídios. Atualmente, o fator com mais peso é a adesão a alguma facção. O resultado, no Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia, é o loteamento das alas e celas entre os grupos criminosos organizados.
Na Odenir Guimarães, o Comando Vermelho domina as alas A e B. O PCC está na ala C. Ali, o grupo divide território e poder com os Amigos do Estado (ADE), uma facção genuinamente goiana que se aliou ao Primeiro Comando da Capital. "O ADE existia antes da chegada do PCC a Goiás. Eram presos daqui mesmo que se juntaram e, agora, se aproximaram do PCC", diz um oficial da Polícia Militar de Goiás, que pede sigilo.
Na Casa de Prisão Provisória, a delimitação de espaço segue a mesma lógica. Ali, o CV domina as alas 1A, 2B, 3B e 4B (essa ligada à ala B da POG). O PCC fica nas alas 1B, 2A, 3A feminino e 4A (essa ligada à ala C da POG). Além desses grupos, há também a facção chamada Bonde do Ozama (BDO).


A divisão faz parte da estratégia da DGAP de evitar confrontos entre os faccionados, como ocorreu em janeiro de 2018, quando nove presos foram assassinados durante uma rebelião. A decisão tem tido resultados. Desde então, não houve novos conflitos de tal envergadura.
Contudo, todo remédio tem efeitos colaterais. Isolados, os grupos acabam ganhando coesão, pois contam com a privacidade necessária para realizar seu planejamento longe dos olhos e ouvidos rivais. É o preço pela "paz" dentro do sistema carcerário.
Essa solidificação dos grupos e a facilidade da comunicação com o mundo fora das grades, seja por meio de mensageiros, seja por aparelhos celulares, tem como consequência conhecida crimes ocorridos por encomenda. A facilidade com que os líderes das facções coordenam as ações nas ruas provoca situações inusitadas. "A maioria dos alvos dos mandados de prisão nas operações contra os grupos organizados já está dentro dos presídios", diz o promotor Luciano Miranda.
Sistema não consegue impedir entrada de armas e de aparelhos telefônicos

As apreensões cotidianas de armas, aparelhos de telefone celular e drogas mostram o quanto o sistema penitenciário é permeável. Na quarta-feira, 17, uma operação interna, que teve participação do Grupo de Operações Penitenciárias, apreendeu 25 celulares, 27 facas e chuchos (facas improvisadas) e porções de drogas no complexo prisional.
Por isso, o controle de visitas nos presídios dedicados aos líderes das facções em Anápolis e Formosa é mais rigorosa que na maioria das demais unidades prisionais. O equipamento utilizado para descobrir a droga nas partes íntimas de uma mulher em Anápolis, o escaner corporal (bodyscan), é raro no sistema.
Mas quem vive a rotina carcerária sabe que as condições necessárias ainda estão muito aquém do necessário. Presidente da Associação dos Servidores do Sistema Prisional de Goiás (Aspego), Jorimar Bastos diz que é preciso mais investimento em métodos e meios eletrônicos de vigilância, como aquisição de aparelhos de raio-x e escaner corporais.
Outras soluções, como os bloqueadores de telefonia celular, nunca funcionaram efetivamente, apesar de a Secretaria da Segurança Pública já ter adquirido equipamentos do tipo. Dessa forma, a rotina, que já é pesada em qualquer presídio, fica ainda mais tensa nas unidades dedicadas a receber líderes das facções. "Esses presos geralmente têm um maior poder aquisitivo e muita influência nos crimes do lado de fora", lembra o presidente da Aspego.
Associação cobra ampliação do efetivo,
mas Governo diz que não fará novos concursos
O presidente da Aspego diz que a resolução dos problemas dos sistema prisional, que ultrapassam a questão das facções organizadas, passa pela recomposição do efetivo, reaparelhamento, armamento e equipamentos de proteção individual dos servidores. Jorimar Bastos cobra, ainda, valorização profissional e reestruturação da carreira dos Agentes Prisionais.

Bastos diz que a comunicação telefônica dos presos com comparsas que estão livres pode ser impedida com bloqueadores eficientes e retirada das tomadas elétricas das celas. "É preciso tratar o sistema de execução penal com a seriedade e profissionalismo que o momento exige, e isso só pode ser feito com quem realmente conhece o cárcere e tem a capacitação técnica e operacional para isso, os agentes prisionais", afirma.
Atualmente, segundo o Portal da Transparência do Governo de Goiás, existem cerca de 1,4 mil agentes penitenciários e 2,4 mil vigilantes penitenciários temporários. Bastos diz que, em Anápolis, em cada plantão atuam até 12 profissionais para fazer a vigilância de 400 presos. No sistema todo, a proporção chega a um agente por grupo de 80 presos.
A reivindicação, contudo, não deve ser atendida este ano. O Governo de Goiás já confirmou que não fará novos concursos públicos, nem mesmo para a Segurança Pública.
Procurado pela reportagem, o presidente do Sindicato dos Servidores do Sistema de Execução Penal de Goiás, Maxwell Miranda, não quis falar sobre o assunto.
Em nota, DGAP diz que Governo
investe para solucionar a questão
As autoridades ligadas à Segurança Pública evitam se estender sobre o assunto. Procurada pelo Jornal Opção, a Secretaria de Segurança Pública de Goiás não se pronunciou. Já a Diretoria-Geral de Administração Penitenciária (DGAP) se manifestou por meio de uma nota. Leia abaixo o texto na íntegra:
A Diretoria-Geral de Administração Penitenciária (DGAP) informa que, por determinação do Governo de Goiás, trabalha com investimentos para as soluções das questōes, por hora pautadas por esse respeitado veículo de comunicação, traçadas também em parceria com o Ministério Público do Estado e Tribunal de Justiça de GO.
O assunto solicitado enseja ações operacionais de restrito conhecimento de segurança penitenciária para o bem do resultado operacional estratégico. Os problemas do sistema prisional local não são exclusivos de GO, mas comuns aos presídios do Brasil.
Ademais, a DGAP esclarece à sociedade que todas as questões referentes ao cárcere no Estado estão sendo tratadas com rigor e seriedade por este Governo.
Figuras como o governador Ronaldo Caiado (DEM), os deputados federais Major Vitor Hugo (PSL), Delegado Waldir Soares (PSL) e João Campos (PRB) ganharam protagonismo na política nacional com chegada do capitão ao poder
Proposta com autoria da presidência foi contestada logo na primeira fase e a maioria dos deputados tem pelo menos uma objeção a seu texto
Especialistas divergem sobre o melhor modelo, mas afirmam que a unificação, que será incluída na reforma tributária, avança na desburocratização tributária
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O Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado da Administração (Sead), anunciou a suspensão dos concursos públicos em Goiás no último dia 8. A medida, que afeta o serviço público no geral, impacta de maneira mais incisiva a Segurança Pública -- o que inclui a Polícia Militar, Polícia Civil e outros.
Isso, porque a Lei Estadual 17.866, de 2012, estipulou que o efetivo da PM em Goiás deveria ser de 30.741. Entretanto, ao acessar o Portal da Transparência, é possível perceber que há por volta de 13.352 policiais militares ativos, ou seja, 17.389 a menos do que o estipulado em Lei. Isto é, falta 56,57% de policiais ativos para que o Estado cumpra o que é estabelecido.
Há também 6.665 reformados e 2.976 pensionistas. Mas essa segunda categoria tende a aumentar até o fim do ano. De acordo com o Portal da Transparência, até dezembro de 2019, mais de mil servidores da PM se aposentarão. Para ser exata, serão 1.291 a menos.
Isso significa que até o fim do ano, sem a realização de concursos e chamamentos, o total efetivo de policiais militares será de 12.061. O déficit, então, passará de 56,57% para 60,76%. Quer dizer, o Estado terá um efetivo correspondente a aproximadamente 2/5 do ideal.
Sindicato
Para o presidente da Associação dos Oficiais da Polícia Miliar e do Corpo de Bombeiros de Goiás (Assof), Coronel Anésio Barbosa, a suspensão de concursos para aumento de arrecadação é lamentável. "A reposição de efetivos é uma necessidade para atender às demandas da sociedade", disse.
Ele afirma que entende as dificuldades financeiras do Estado, mas, por outro lado, acha que o Governo poderia encontrar outras soluções para aumento de arrecadação. "Existem alternativas que inclusive já foram apresentadas, como cortes de incentivos fiscais, combate à sonegação fiscal e outros", explica.
Em sua perspectiva, essa medida penaliza a categoria e a sociedade. "O policial militar acaba trabalhando dobrado, porque a demanda não diminui e, no entanto, os servidores têm que dar conta de tudo o que é demandado. Afinal, nós policiais vamos fazer de tudo para atender o cidadão e acabamos nos sobrecarregando", opina.
Ainda segundo Anésio, esse sobrecarregamento desencadeia uma série de consequências a longo prazo. Entre elas o aumento do estresse entre os policiais. "O que pode gerar situações indesejáveis no futuro", sublinhou.

Polícia Civil
No caso da Polícia Civil, diferente da Militar, não há uma Lei que estabeleça um mínimo efetivo, mas o quadro dispõe de 6 mil vagas no total. Hoje o Estado, no entanto, conta com 3.958 ativos, 1.852 aposentados e 762 pensionistas. Dos ativos, 215 estão prestes a se aposentar.
O presidente do Sindicato dos Policiais Civis de Goiás (Sinpol), Paulo Sérgio, considera que isso representa pouco mais da metade dos cargos preenchidos (aproximadamente 66%). "É um contingente baixo demais, precisamos de concurso público, mas essa medida já era prevista, dado o discurso de terra arrasada do Governo de Goiás", disse.
Ele compartilha da preocupação do presidente da Assof: " Temos um problema sério de acúmulo de funções. Policiais cumprem funções que muitas vezes não são suas, o que é irregular, mas que somos obrigados a fazer para satisfazer a população. O policial tem a profissão mais estressante do mundo, imagina acumulando função?".
Paulo ainda destaca que uma preocupação da população hoje em dia é com a segurança. O papel da Polícia Civil é investigar os crimes. "Mas sem aumento de contingente, não tem como melhorar a Segurança Pública, estamos trabalhando por três ou quatro. O que significa que a população não terá tudo o que necessita de nós, o sentimento é de injustiça", lamenta.
Parlamentares
O deputado estadual Coronel Adailton (PP), que é policial militar, fez duras críticas a essa decisão. "Já passamos por isso no passado e isso trouxe, inclusive dificuldades no fluxo de carreira dos policiais", disse.
Segundo ele, a falta de militares na rua dificulta o trabalho, "que já é penoso". "Nosso policial já atua em horas extras, trabalhando muito além da sua carga horária, e se faltar mais policiais, aumenta ainda mais a dificuldade", criticou. Para ele, a segurança dos goianos que entra em risco.
O deputado Major Araújo (PRP), apesar de ser base do governador Ronaldo Caiado (DEM), disse que a suspensão de concursos afeta de maneira inestimável o efetivo das polícias. "Se você for no setor de pessoal da PM hoje, vai ver que todos os dias são protocolados pedidos de ida para a reserva", disse, considerando que a falta de chamamento pode agredir mais do que se imagina.
Segundo ele, os pedidos de ida para a reserva são motivados pela falta de promoção. A ausência de concursos, conforme o parlamentar, faz com que os policiais fiquem estagnados em seus cargos e uma coisa acaba levando à outra. "E isso oferece um grande risco à sociedade. Na polícia militar não dá para improvisar com temporários, o que resolve é o concurso e se isso não for feito, seguimos cada vez mais abandonados pela segurança", explicou.

Secretaria
O secretário de Estado da Segurança Pública, Rodney Miranda, se manifestou por nota sobre o assunto. Em sua visão, o não empenho da folha de dezembro pela gestão passada levou a atual a tomar essa decisão. Ele também pontua que o Governo, neste momento, prefere acertar as contas com os servidores em atividade do que convocar novos.
"É preciso um diagnóstico detalhado e cauteloso para saber quem é que está em desvio de função, quem é que está em função administrativa e que poderia estar no operacional e, também, tentar aproveitar policiais da reserva para cobrir certas funções que ajudem a liberar os combatentes para o trabalho de rua, seja no policiamento ostensivo, ou no trabalho investigativo", escreveu.
Rodney também disse que sua equipe está empenhada em ver a distribuição atual do efetivo, revendo classificações políticas feitas no passado. "Que não respeitaram as manchas criminais e a alocação técnica de efetivo", disse.
"Por fim, destaca que 300 policiais já foram retirados de funções administrativas para o trabalho efetivo nas ruas e que, dentro em breve, este número chegará a 500, podendo atingir até o fim deste ano um quantitativo de mil novos homens reforçando o policiamento", pontua. No entanto, esses mil novos homens não suprem o total do efetivo que irá se aposentar no mesmo período.

Economia
Para a secretária da Economia, Cristiane Schmidt, a medida é correta e sensata para equilibrar as contas. Para ela, a reclamação sobre a suspensão de concursos é sindical e visa somente aos interesses dos servidores e ignora a população como um todo.
"O sindicato só quer mais e mais para os servidores, mas e o resto da população? Quem fala por eles? Os servidores são os privilegiados", disse. Ela relata, ainda, que a todo momento chegam TACs determinando chamamento de aprovados em concursos de mais de 10 anos atrás, o que, segundo ela, só onera ainda mais o Estado.
Cristiane voltou a dizer que o gasto com servidor público é alto. Ela frisa que, no momento, o Governo quer investir em Saúde e Educação, com foco nos hospitais. Por isso, acha sensato suspender processos seletivos para aumentar arrecadação em outros âmbitos da administração.

Estado é considerado estratégico para facções, que expandem seus tentáculos pelo interior em busca do poder na rota do tráfico
Um fuzil 5.56, uma espingarda calibre 12, quatro pistolas 9 milímetros com kit rajada e mais de 200 municípios. O arsenal, que pode ter sido usado em 50 homicídios, foi encontrado na sexta-feira, 12, pela Polícia Civil de Goiás.
Seis homens, quatro deles cumprindo pena no sistema prisional de Goiás, envolvidos em pelo menos dez homicídios, presos pela Polícia Civil na quarta-feira, 10.
Quatro homens invadem o hospital municipal de Caldas Novas, no dia 20 de março, fazem médicos e enfermeiros reféns e tentam matar Francivaldo Bezerra Malhão. Internado para se recuperar de um ferimento à bala, Malhão consegue fugir, mesmo monitorado por uma tornozeleira eletrônica.
Nove mortos, 14 feridos, 106 foragidos da Colônia Agroindustrial do complexo prisional de Aparecida de Goiânia, na Região Metropolitana do Estado, no dia 1º de janeiro de 2018. Um dos maiores massacres dentro de presídios já registrados em Goiás.
Duas siglas, que são evitadas em declarações públicas pelas autoridades policiais e pela imprensa, unem esses quatro casos de violência explícita: PCC (Primeiro Comando da Capital) e CV (Comando Vermelho). As duas, que travam um duelo sangrento em todo o território nacional, também marcam, com sangue, o seu território em Goiás.
Relatório do Ministério da Segurança Pública estimou, no final de 2018, que as duas facções tinham, juntas, cerca de 1,5 mil integrantes em Goiás. Segundo dados do Banco Nacional de Monitoramento de Prisões do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a população carcerária no Estado é de 21 mil presos, em diversos regimes. Isso significa que 1 em cada 14 detentos é integrante de um dos dois grupos.
Falta de efetivo e sistema prisional vulnerável tornam Goiás um terreno fértil para facções
As facções criminosas atuam em todo o território brasileiro, mas encontraram em Goiás um terreno fértil para plantar raízes. O Estado é geograficamente importante, está no Centro do País e faz divisa com cinco Estados e o Distrito Federal. Por isso, trata-se de uma rota importante para o escoamento da droga que chega, principalmente, do Paraguai (maconha) e Bolívia (cocaína). Daqui, os entorpecentes chegam fácil a grandes centros consumidores, como São Paulo e o DF, além de dar acesso aos mercados do exterior.
Em segundo lugar, o sistema prisional é vulnerável, com unidades antigas e falta de efetivo para fazer a segurança. A Penitenciária Odenir Guimarães, por exemplo, foi construída na década de 1960 e nunca passou por uma intervenção ampla. Com capacidade para menos de 800 presos, a unidade já chegou a ter mais de 2 mil, segundo o CNJ.
Atualmente, a Diretoria Geral de Administração Penitenciária (DGAP) ter cerca de 3 mil profissionais, sendo 1,5 mil Agentes de Segurança Prisional e 2,5 mil Vigilantes Prisionais Temporários para cuidar de mais de 120 unidades.
Em terceiro lugar, há o reconhecido déficit no número de policiais.
"Praticamente todas as unidades prisionais de Goiás têm influência dessas facções, em maior ou menor grau", diz o promotor Luciano Miranda, de Goianésia, ex-coordenador do Centro de Apoio Operacional (CAO) Criminal, do Ministério Público de Goiás. Ano passado, o CAO, munido de dados do Centro de Inteligência do MP, chegou a emitir um alerta de possíveis ataques de facções em Goiás.

Em alguns casos, a DGAP teve de distribuir presos de acordo com a facção. O recém-inaugurado presídio de Anápolis, por exemplo, recebeu líderes do PCC. O de Formosa abriga faccionados do Comando Vermelho. A estratégia visa evitar matanças, como a que ocorreu em janeiro de 2018 no Complexo Prisional de Aparecida, quando nove detentos do semiaberto morreram e outros 14 ficaram feridos. A carnificina obrigou a então ministra do Supremo Tribunal de Justiça, Carmen Lúcia, a realizar uma inspeção no presídio.
Mas, após a visita da ministra, quase nada mudou. "Há alguns anos as facções se instalaram nos presídios goianos e, desde então, elas mantêm o controle do sistema", diz o deputado federal Delegado Waldir (PSL).
Facções se interiorizaram
Nos últimos anos, as facções criminosas deixaram de atuar somente na Região Metropolitana e ganharam os municípios do interior. A situação se intensificou após a rebelião de janeiro de 2018 no Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia. Na época, 84 presos ligados a facções criminosas foram levados para outros presídios.
Essa "interiorização"se reflete na segurança de municípios menores. Em Goianésia, localizada a 177 quilômetros de Goiânia, por exemplo, dos cinco homicídios ocorridos neste ano, quatro estavam relacionados à disputa de poder entre os criminosos faccionados.
Em Caldas Novas, no primeiro trimestre, foram 13 homicídios. Apesar de a Secretaria de Segurança Pública apontar que o número de homicídios tem caído (foram 15 em 2017 e 14 em 2018 no mesmo período), a tensão culminou na troca do comando da Polícia Militar. Na quinta-feira, 11, o coronel Ronny Alves, que já foi comandante da Rotam (Rondas Táticas Metropolitana) e do Giro (Grupo de Intervenção Rápida Ostensiva) assumiu o cargo em substituição ao tenente coronel Francisco Leônidas.
Em 2018, em uma operação da Delegacia de Investigações Criminais (Deic) da Polícia Civil, foi preso em um condomínio de Caldas Novas o piloto Felipe Ramos Morais. Ele é acusado de participar do assassinato de Gegê do Mangue, ocorrido no Ceará. Mangue era apontado como um dos principais líderes do PCC no País.
"O Governo passado decidiu retirar os presos [de Aparecida de Goiânia] e distribuí-los no Estado. O efeito é mais violência no interior", critica o deputado estadual Major Araújo (PRB), que é membro da Comissão de Segurança da Assembleia Legislativa. Araújo cita como exemplos os casos de Anicuns, Jussara, Ipameri e Cachoeira Dourada. "Sem efetivo policial e equipamentos inadequados, o crime organizado encontra o ambiente favorável para se expandir", diz.
Nos últimos anos, houve uma intensificação na busca de novos integrantes para os grupos criminosos em Goiás, especialmente na Região Sudoeste do Estado - porta de entrada do tráfico no Estado. De acordo com policiais civis, presídios de Rio Verde, Jataí e Mineiros tornaram-se focos de recrutamento de faccionados.
Goiás é importante polo logístico para o tráfico
A localização geográfica, o território amplo e as divisas permeáveis tornam Goiás um importante polo logístico para as facções criminosas. A maior parte das drogas distribuídas no Brasil vem do Paraguai (maconha) e da Bolívia, passam pelo Mato Grosso e Mato Grosso do Sul e encontram em Goiás o centro de distribuição para grandes mercados. Por isso, dominar o Estado é ter um grande trunfo.

"Goiás é a principal rota rodoviária das drogas, possui aeroportos e locais isolados onde a droga pode esfriar", explica o ex-secretário de Segurança Pública Irapuan Costa Júnior. Essas vantagens operacionais, segundo o ex-secretário, obrigam que os operadores do tráfico mantenham bases no Estado.
Por isso, as facções criminosas não atuam mais restritas aos presídios, já que é do lado de fora que o comércio fervilha. Em uma operação recente das polícias goianas, foram apreendidos em um condomínio de luxo em Goiânia R$ 21 milhões. As investigações encontraram outros R$ 16 milhões em contas bancárias da quadrilha, ligada ao PCC.
De acordo com Costa Júnior, as investigações revelam a diversificação do ramo de atuação da facção em Goiás. Com tanto dinheiro em mãos, os criminosos atuam como uma organização bancária, alimentada por recursos do tráfico, de assaltos a bancos e ataques a carros-fortes. O grupo também investe em empresas tradicionais para lavar o dinheiro produto do crime.
Para manter o poderio, as facções expandem seus tentáculos. No início de abril, a Polícia Civil deflagrou a Operação Antídoto, que descobriu a influência do Comando Vermelho no Judiciário goiano. O assessor Judiciário Carlos Eduardo Moraes Nunes foi preso junto do advogado Emerson Thadeu Vita Vieira. Nunes é acusado de organizar um esquema de venda de sentenças e desaparecimento de processos para beneficiar integrantes da facção.
Facções agem de forma diferente
Os agentes de segurança percebem que cada uma das duas principais facções que marcam presença em Goiás tem uma forma específica de agir. O Primeiro Comando da Capital é uma organização "empresarial", já o Comando Vermelho atua de forma mais visceral.
O PCC tem hierarquia rígida, o CV é horizontal. Pela importância logística de Goiás, a facção paulista tem, aqui, a figura chamada "sintonia final". Trata-se de um posto avançado no organograma do grupo, abaixo apenas da sintonia final, conselho superior composto por poucos e que tem entre os nomes ilustres Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola.
Fontes na Segurança Pública comentam que, nos últimos anos, o PCC tem sido menos rigoroso no processo de seleção de membros. Os recrutas ou são apresentados por padrinhos ou são identificados e forçados pela liderança. Até há bem pouco tempo, todos tinham de pagar uma mensalidade e passar por um processo chamado "batismo".
Atualmente, há uma espécie de flexibilização dos critérios. "Por isso houve uma explosão no número de faccionados em Goiás", explica o promotor Luciano Miranda. "Há um aumento significativo no número de batizados em Goiás", complementa um coronel da Polícia Militar de Goiás, que solicitou anonimato.
O PCC é uma empresa. Tem controle dos faccionados, contabilidade profissional e os braços regionais respondem ao comando nacional. O CV, segundo o coronel ouvido pelo Jornal Opção, tem uma cultura mais "carioca"- termo usado para caracterizar uma certa informalidade na estrutura. "O PCC é empresarial, funciona como um negócio. O Comando Vermelho é mais 'criminoso'", explica o ex-secretário Irapuan Costa Júnior.
Polícia goiana faz a sua parte

As autoridades da Segurança Pública falam pouco sobre o assunto. Procurado pelo Jornal Opção, o secretário de Segurança Pública de Goiás, Rodney Miranda preferiu se pronunciar por meio de uma nota lacônica. "Qualquer nível de detalhamento sobre o trabalho feito pelas forças policiais e as providências para diminuir a atuação das facções criminosas no Estado podem colocar em xeque as operações que estão por vir", diz o texto enviado à reportagem.
O secretário argumenta que o investimento na inteligência para monitorar as facções, tanto nos presídios quanto fora deles, tem "provocado intensa derrocada no poderio desses grupos". A nota confirma, porém, que as elas têm "forte"atuação no Estado, com ramificações no tráfico de drogas, roubo de bancos, de automóveis e de cargas, "todas elas devidamente monitoradas".
Titular da Delegacia de Repressão a Ações Criminosas Organizadas (Draco), o delegado Alexandre Barros diz que a atuação da especializada envolve investigações "melindrosas e complexas", que devem ser tratadas com sigilo. "Estamos fazendo um trabalho detalhado [de identificação e monitoramento] de todos os faccionados em Goiás", diz.
Responsável pela transferência de oito líderes de facções que estavam em Goiás para presídios federais, Irapuan Costa Júnior diz que o atual secretário "está fazendo uma perseguição" intensa contra os faccionados.
De fato, as forças de segurança têm buscado atacar tanto o PCC quanto o CV. Em dezembro de 2018, 58 integrantes do PCC foram presos na operação Inimigos do Rei. Um deles, identificado apenas como Imperador, era o encarregado de fazer a articulação do grupo goiano com a cúpula nacional da organização.
Na sexta-feira, 12, a Polícia Civil apresentou o resultado da Operação Courier, que apreendeu um fuzil 5.56, uma espingarda calibre 12, quatro pistolas 9 milímetros, além de carregadores e munições. Segundo a Secretaria da Segurança Pública, Aloísio José da Silva mantinha o arsenal, usado por membros de uma das facções na disputa por território e outras ações criminosas. A suspeita é de que o armamento tenha sido usado em cerca de 50 homicídios em Goiás.
Sintomaticamente, tais operações frequentemente atingem homens que já estão atrás das grades. "É interessante [usar] o termo prender, pois os mandados muitas vezes são contra indivíduos que já estão presos comandando a cadeia criminosa", diz o promotor Luciano Miranda.
É paradoxal, mas, diante de tanto poderio dos criminosos, cada conquista das forças de segurança deve ser reconhecida.
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Ação multisetorial mapeia conjuntura econômica para desenvolver potencialidades locais após prisão de João de Deus
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Baixa movimentação na Casa Dom Inácio de Loyola desmoronou o sistema financeiro de Abadiânia | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção[/caption]
A movimentação econômica de Abadiânia se calçava, em grande parte, nos atendimentos religiosos do médium João de Deus na Casa Dom Inácio de Loyola. A cidade recebia quase cinco mil pessoas por semana, segundo levantamentos da própria casa. A saída do religioso desmoronou o sistema financeiro da região, conforme apurado pelo Jornal Opção em janeiro deste ano.
Na segunda-feira, 8, o Instituto Euvaldo Lodi de Goiás (IEL) começou a mapear a cadeia econômica da cidade para escrever o Mapeamento e Diagnóstico Empresarial de Abadiânia. A pesquisa de campo visa encontrar novas oportunidades de negócios que possam recuperar a saúde financeira do município.
A ideia surgiu em reuniões das entidades do Sistema S e a Fecomércio junto a Prefeitura de Abadiânia e o Governo de Goiás, em meados de janeiro, após a queda acentuada de atendimentos na Casa Dom Inácio.
O mapeamento faz parte da primeira etapa da ação multisetorial que envolve o Sistema S, a Federação do Comércio de Goiás (Fecomércio) e o IEL. Após identificar os setores que podem ser recuperados e os que podem ser incentivados, as entidades envolvidas atuarão a fim de efetivar as indicações levantadas no relatório.
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Diretor do IEL em Goiás, Humberto Oliveira, diz que o órgão realiza a pesquisa de campo na cidade | Foto: Divulgação[/caption]
“Essa primeira ação é fazer o diagnóstico e para isso criamos uma metodologia de pesquisa para levantar dados das potencialidades do município. Estamos com duas pesquisadoras nesse trabalho técnico. No trabalho de campo temos parceria com alunos do SENAC que coletam dados na cidade”, explica o Superintendente do IEL em Goiás, Humberto Oliveira, e complementa que vão se reunir também com a Prefeitura da cidade para mostrar o que pode ser feito após o documento ser redigido.
O Sebrae Goiás, como entidade responsável pela promoção da competitividade e desenvolvimento sustentável dos pequenos negócios e pelo fomento ao empreendedorismo goiano solidarizou-se com a problemática dos empreendedores de Abadiânia e está aplicando seus esforços para auxiliar aquela comunidade, dentro de sua competência, segundo o Diretor-Superintendente do Sebrae, Leonardo Guerra de Rezende Guedes.
“Formamos uma parceria entre entidades ligadas ao Sistema S visando compreender a profundidade dos impactos que os empresários de Abadiânia estão passando e, a partir dos resultados, traçaremos estratégias de atuação conjunta para reerguer a economia daquele município”, esclarece Leonardo Guedes.
Basicamente, as atividades fazem parte de um “programa de desenvolvimento com um trabalho local (Abadiânia) e territorial (localidades próximas). Os impactos atingirão toda a região próxima, não só a cidade”, diz a analista do Sebrae Goiás, Mara Cristina Machado.
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Leopoldo Veiga Jardim (Sesc/Senac) e Marcelo Baiochi (Fecomércio) integram equipe multisetorial para recuperar a economia de Abadiânia | Foto: Sílvio Simões[/caption]
Ainda segundo a analista, o Sebrae irá participar do processo com a expertise empresarial. “Nosso foco é o apoio ao desenvolvimento da micro e pequena empresa, com consultorias e capacitações, além programas de educação empreendedora nas escolas e o despertar de vocações empreendedoras da cidade”, conclui.
Cada entidade terá atuação reservada à sua área de competência, como explica o Diretor do SESC/SENAC de Goiás, Leopoldo Veiga Jardim. “Depois de levantar as informações com a pesquisa do IEL, vamos colocar a estrutura do SESC e SENAC de acordo com a necessidade da cidade, através do programa de gratuidade para requalificar a mão de obra e o SESC vai colocar a estrutura de saúde a disposição. Cada um vai ajudar dentro da sua competência”, assegurou Leopoldo Veiga.
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Diretor-superintendente do Sebrae em Goiás, Leonardo Guerra, atuará com foco na capacitação empresarial da região | Foto: Divulgação[/caption]
A pesquisa que começou na semana passada, com a metodologia do IEL, utiliza equipes das Faculdades SENAC e Universo. “O relatório deve ficar pronto em duas semanas”, adiantou Leopoldo.
O presidente da Federação do Comércio de Goiás, Marcelo Baiochi, entendeu que é necessário “fazer algo pelas pessoas daquele município” e por isso decidiu integrar a equipe com o Sistema S e o IEL.
“Nos próximos 30 dias teremos o diagnóstico e as ações a serem desenvolvidas. Vamos reunir os empresários da região e discutir um projeto de qualificação com treinamento e palestras”, revelou Marcelo Baiochi.
Potenciais além da religião
O presidente da Fecomércio diz que o turismo religioso continua sendo a principal atividade econômica da cidade, embora com menos força do que antigamente. Algumas ações já podem ser previstas com a experiência e o conhecimento que Baiochi tem da região. “Ali também passa o caminho de Cora, que deve ser maximizado para melhor retorno econômico aos cidadãos. Podem surgir também outras atividades que não identificamos visualmente, mas indicadas no relatório de campo”, afirma Baiochi. A região tem a BR 153 como principal fonte de acesso à cidade e que tem grande movimentação diária, segundo a analista do Sebrae, Mara Machado, para ser explorada além do turismo religioso. “A cidade tem um patrimônio cultural e artístico muito interessante para ser estudado e a rota de Planalmira, uma rota turística que está sendo inserida no caminho de Cora, e faz um trabalho de resgate de tradições e cultura”, aponta Mara Machado como uma série de possibilidades e competências a serem desenvolvidas na região.
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Segundo o Cremego, Prefeitura desmontou o atendimento nos Cais, mas Materno-Infantil, que é do Estado, também enfrenta deficiências
Quantas crianças vão ter de morrer? A pergunta de Divina Soares de Almeida reverbera nos corredores do Hospital Materno Infantil e ecoam no
Centro de Atendimento Integral à Saúde (Cais) Campinas desde a quinta-feira, 28. Naqueles dia, com apenas 5 anos de idade, Diogo Soares Carlo Carmo tornou-se o mais novo símbolo do descaso no atendimento à Saúde em Goiânia - especialmente em relação à pediatria.
Três dias após chegar ao Centro de Atendimento Integral à Saúde (Cais) Campinas, ser medicado e ter exames considerados "normais" pela equipe que o atendeu, sem melhoras o menino foi levado pela família ao Hospital Materno Infantil, onde morreu após 11 horas nos corredores do hospital, que é referência no Estado.
A agonia da família de Diogo havia começado bem antes. Mais precisamente, na segunda-feira, 25. Naquele dia, o menino foi levado ao Cais Campinas. Com febre alta, os parentes imaginavam que ele havia contraído dengue.
No Cais, recebeu uma medicação e foi mandado de volta para casa. O exame de sangue, segundo nota da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), estava "normal".
Três dias mais tarde, Diogo, sem melhorar, foi levado ao Hospital Materno Infantil, onde chegou por volta das 3 horas de quinta-feira, 28. Recebeu a classificação "amarelo" (sem risco imediato) e ficou na enfermaria improvisada no corredor do hospital, no colo da mãe. Às 13h55 da quinta-feira, a criança morreu.
Por ter sido fatal, o caso de Diogo ganhou repercussão. Mas ele faz parte da rotina de quem busca atendimento médico público em Goiânia, especialmente quando o caso é de pediatria.
O gargalo começa na deficiência da rede básica de atendimento, que é de responsabilidade da Prefeitura de Goiânia. Os Cais e Upas (Unidades de Pronto Atendimento) deveriam dar conta dos casos mais simples, que não requerem internação ou cuidados mais intensos. Um trabalho mais eficiente das equipes da Estratégia de Saúde da Família também seria fundamental.
Mas, quando o atendimento primário falha, a situação se agrava. O Hospital Materno-Infantil, que é gerido pelo Instituto de Gestão e Humanização (IGH), Organização Social (OS) que administra a unidade, no primeiro bimestre de 2019, uma média de 15 crianças que deveriam ter sido atendidas na rede municipal foram encaminhadas diariamente ao HMI.
Os dados apontam que mais de 50% dos pacientes que chegam ao Materno-Infantil poderiam ter sido atendido em uma unidade municipal. A situação, que nunca foi a ideal, se complicou a partir de 2015, quando a Secretaria Municipal de Saúde decidiu acabar com o atendimento pediátrico na rede Cais e concentrá-lo no Cais Campinas.
Desmonte
Em 2018, das 32.605 crianças atendidas no HMI, 16.119 poderiam ter tido a assistência inicial em um Cais. "A Prefeitura de Goiânia desmontou o serviço de pediatria", diz o presidente do Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego), Leonardo Mariano Reis.
Até 2015, havia atendimento pediátrico em todos os Cais de Goiânia. Contudo, como as faltas eram frequentes, por haver poucos médicos contratados pela rede, a Prefeitura decidiu concentrar o atendimento em Campinas. A ideia era que, assim, não haveria lacuna. Mas a realidade é outra.
No ano passado, durante fiscalização, o Cremego encontrou problemas como falta de medicamentos e insumos básicos para o trabalho dos médicos e enfermeiros, como soro fisiológico, água esterilizada e outros. O Conselho, então, determinou a interdição ética da unidade - que é quando os profissionais são proibidos de trabalhar em um local que não dá condições mínimas.
A intenção, segundo o presidente da entidade, era pressionar a Prefeitura a tomar providências. Contudo, a Prefeitura obteve uma liminar que derrubou a interdição.
O Cais Campinas recebe em média 300 crianças por dia. Para cada plantão, o ideal é que fossem escalados quatro pediatras, além de um quinto profissional "reserva". Eles são divididos e cada período de 12 horas é coberto por dois médicos.
Contudo, não é raro que os pacientes não encontrem nenhum médico da especialidade no local. Na sexta-feira, 5, em plena crise detonada pela morte de Diogo Soares, o atendimento só teve início após às 8 horas, quando deveria ter iniciado às 7 horas - conforme constatou o Conselho Tutelar da região.
Caso de polícia
"Havia quatro médicos escalados. Chegamos lá [a equipe do Conselho Tutelar] pouco antes das 8 horas e havia 20 famílias aguardando. O atendimento só começou por volta das 8h10", diz a conselheira tutelar Vera Lúcia Pereira da Silva, que gravou um vídeo que mostra todos consultórios vazios. "O Cais Campinas é um caso de polícia", afirma.
Na noite de quinta-feira, 3, as famílias que foram ao local encontraram parte do atendimento pediátrico fechado. O único pediatra de plantão informou que só atenderia os casos mais graves. Quando a equipe do Jornal Opção chegou ao local, Iara da Silva Marques tentava atendimento ao filho de 1 ano e 8 meses. “Já estamos há uma hora e nada. O menino está com dor de ouvido e dor de garganta. Eles falam que tem pediatra, mas querem agendar para amanhã. Para mim não tem ninguém”, afirmou.
De acordo com Sandro Rodrigues, superintendente de acesso a serviços hospitalares e ambulatoriais da Secretaria Estadual da Saúde (SES), os Cais deveriam ser o primeiro contato da população em busca de atendimento médico. "O Hospital Materno-Infantil é o fim dessa linha", explica.
Nesta semana, durante audiência na Câmara de Vereadores, a secretária de Saúde de Goiânia responsabilizou o Estado pelos casos mais graves de falta de atendimento adequado. Segundo Fátima Mrué, o atendimento de urgência pediátrica deve ser feito no Materno-Infantil.
De fato, um acordo firmado em 2015 entre as secretarias Estadual e Municipal de Saúde pactuou responsabilidades para o atendimento à pediatria. A Prefeitura, inclusive, tem de fazer um repasse anual de R$ 10,3 milhões para o Estado, que deve fazer esse recurso chegar ao HMI.
Mas a melhoria na resolução de casos simples evitaria que eles se agravassem e que dezenas de crianças fossem levadas para o Materno Infantil todos os dias, já em situação mais delicada. "A Prefeitura não tem pediatras. Se o atendimento básico fosse feito, evitaria-se o agravamento de muitos casos que chegam ao Materno Infantil, diz o deputado Zacharias Calil [DEM], que foi cirurgião pediátrico no HMI por muitos anos, obtendo notoriedade ao realizar a separação de gêmeos siameses.
Em 2015, quando da celebração do acordo, o Ministério Público recomendou à Secretaria Municipal de Saúde o reforço e ampliação do atendimento pediátrico nos Cais Campinas e Novo Mundo. Porém, este último, localizado na região leste de Goiânia, está sem pediatra há três anos, segundo denúncia do Conselho Tutelar.
Construído há quase 50 anos, Materno está deteriorado
As deficiências da atenção básica, no entanto, não camuflam as deficiência do próprio Hospital Materno-Infantil. Construído em 1972, portanto, há 47 anos, a unidade também é palco comum de famílias que aguardam atendimento por horas a fio.
Na quinta-feira, 4, a equipe do Jornal Opção encontrou Francine Silva Santos no local. Grávida de um mês, ela esperava há quatro horas por atendimento. "Não deram previsão. Estou grávida, com sífilis, mas não sou prioridade", disse.

A classificação de prioridades segue um sistema de cores. Os casos considerados menos graves recebem classificação verde e azul. As cores amarela, laranjada e vermelha indicam casos que necessitam de mais cuidados.
Diego Soares, o menino de 5 anos de idade que morreu nos corredores do hospital, recebeu classificação amarela quando deu entrada no hospital, por volta das 3 horas de quinta-feira, 28. Segundo esse sistema, a cor amarela apresenta um caso urgente, que requer atendimento médico, mas que não apresenta risco imediato. A direção do hospital e o Ministério Público apuram se houve erro ou negligência.
Superlotado
"O hospital Materno-Infantil está sempre superlotado", diz o presidente do Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego), Leonardo Mariano Reis. Os números comprovam a afirmação. A média de atendimentos mensais na urgência e emergência é de 4.125 pacientes. Desses, 2.805 são crianças.
Os casos mais comuns envolvem queixas de febre, vômitos, diarreia e dificuldade de respirar (dispineia). Já os pacientes que chegam por meio da regulação, geralmente apresentam quadros de infecção generalizada, quadros neurológicos graves, insuficiência respiratória e dores abdominais fortes e difusas (chamado de abdome agudo).
Para atender toda essa demanda, o hospital, que é administrado pelo Instituto de Gestão e Humanização (IGH), uma organização social, desde junho de 2012, conta com 20 leitos de pediatria clínica e 33 de pediatria cirúrgica. Há seis anos, quando a OS assumiu a unidade, eram 12 leitos de pediatria clínica e 57 de pediatria cirúrgica, segundo consta no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde.
Por ser uma unidade de portas abertas, o HMI recebe pacientes classificados com as cores azul e verde, de baixa complexidade. Muitos deles vêm do interior, mas, segundo a direção, em nota enviada ao Jornal Opção, 70% são de Goiânia. "[Isso] reflete a desorganização e a falta de pediatras na rede", diz a nota. "O HMI tem acatado as recomendações do Ministério Público, no atendimento a pacientes de média e alta complexidade, aderindo assim ao seu perfil de atendimento", complementa.
Com tanta demanda e sem estrutura adequada para tanto, a população sofre. "O Materno acabou, não tem infraestrutura", diz o deputado Zacharias Calil.
É fato. Apesar de ser um hospital referência, e talvez mesmo até por isso, o HMI tem uma "enfermaria" improvisada. Ali, crianças são "internadas" em cadeiras. Diego Soares estava em uma assim.
Na sexta-feira, 5, o Jornal Opção foi procurado por um funcionário que denunciou a más condições de trabalho. Em fotos e vídeos enviados ao jornal, mostrou restos de comida no pátio e o espaço para alimentação dos terceirizados em situação insalubre. O IGH afirmou que não tem responsabilidade sobre o tratamento dado aos funcionários terceirizados e quem fornece os equipamentos, como o frigobar, e alimentação é a empresa que os contratou. O IGH também disse que o problema das infiltrações já está sendo resolvido, e que foi ocasionado pelo período de reformas combinado à chuva.
Em inspeção no hospital, o promotor Vinícius Jacarandá Maciel, do Centro de Apoio Operacional de Saúde do Ministério Público Estadual, constatou a precariedade. De acordo com Jacarandá, o prédio está deteriorado e não comporta qualquer intervenção - a última reforma foi inaugurada pelo então governador Marconi Perillo em 2016. Para o promotor, não há outra alternativa, senão a construção de um novo hospital.
Depois da morte, as providências
Seguindo um roteiro repetitivo quando ocorrem tragédias como a morte do menino Diego Soares, que repercutiu em todo o Brasil, as autoridades anunciaram uma série de medidas para tentar estancar a sangria da rede pública de saúde, em especial, na área de pediatria. Governo do Estado e Prefeitura de Goiânia se reuniram com o Ministério Público Estado e prometeram ações.
A Prefeitura de Goiânia publicou edital de chamamento para contratação de novos pediatras. Segundo o superintendente de gestão de redes de atenção à saúde da Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia, Sílvio José de Queiroz, atualmente existem 19 pediatras contratados pelo Município - 12 deles são temporários. O novo edital quer contratar, no mínimo, mais 14.
"Queremos pelo menos dois pediatras em cada um dos sete distrito sanitário de Goiânia"
Sílvio José de Queiroz, superintendente da SMS
Com esse reforço, a SMS mudará o conceito adotado por ela mesma em 2015, descentralizando o atendimento. "Queremos pelo menos dois pediatras para cada distrito sanitário", diz Queiroz. Goiânia tem sete distrito sanitários, distribuídos por regiões.
Os médicos temporários serão contratados para atuar nos Cais e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). Para atraí-los, a Prefeitura oferece um salário maior que o pago atualmente aos profissionais da rede: R$ 11,6 mil para 20 horas semanais e R$ 23,2 mil para 40 horas - atualmente, os vencimento médio é de R$ 7 mil.
Queiroz explica que a Prefeitura tentou vários chamamentos nos últimos anos, mas que esbarrou na falta de interesse. O chamamento atual havia atraído, até a tarde de sexta-feira, 5, quatro candidatos. "[Com os salários melhores] esperamos que haja uma boa adesão", diz.
Enquanto os novos pediatras não são contratados, a SMS adotou alguns processos no Cais Campinas. Equipes de assistentes sociais oferecem transporte para outras unidades. De 180 fichas preenchidas na sexta-feira, 28 pacientes aceitaram o encaminhamento.
Hospital de Urgências
O Governo do Estado, que é responsável pelos casos mais graves, sinalizou com a abertura de vagas para pediatria no Hospital de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira (Hugol), localizado na GO-070, saída para Inhumas. O secretário estadual de Saúde, Ismael Alexandrino Júnior, disse ao hospital que seráo abertos 10 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) pediátrica e entre 39 e 43 leitos de enfermaria.
"Esse é um ganho, estivemos no Hugol e falamos com o serviço de assistência social e fomos informados que eles estão trabalhando para aumentar o atendimento nos próximos dias", diz a conselheira tutelar Vera Lúcia da Silva.
Para a família de Diego, as providência chegaram tarde demais.
Deputados cobram construção de novo hospital municipal
Capital do Estado, maior população, maior orçamento. Apesar de ter características que justificassem, Goiânia não tem um hospital municipal, que poderia desafogar o atendimento público, ao contrário de municípios vizinhos menores e com menos recursos.
O orçamento anual da Prefeitura de Goiânia é de R$ 5,2 bilhões, para uma população de 1,4 milhão de pessoas. Vizinha ao Sul, Aparecida de Goiânia, cujo orçamento para 2019 é de R$ 1,3 bilhão, para uma população de 565 mil, tem hospital municipal. Também o tem o vizinho ao Leste, Senador Canedo - orçamento anual de R$ 535 milhões e 112 mil moradores.
Em um raio de 50 quilômetros da capital, Bela Vista, com orçamento de R$ 76 milhões e 29 mil moradores, tem hospital municipal. Na mesma distância, em outra direção, Anápolis é outra cidade com hospital próprio da Prefeitura. O município tem orçamento de R$ 1,4 bilhão e 381 mil habitantes.
Todos os dados foram consultados nos portais de transparência e no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Hospital da Família
A situação chama a atenção de parlamentares. "O investimento prioritário em Goiânia é a construção de um hospital municipal e de um novo Materno Infantil", admitiu, ao Jornal Opção, o deputado José Nelto (Podemos), aliado do prefeito Iris Rezende há décadas.
Enquanto isso, o deputado federal Zacharias Calil se mexe em Brasília. Na última quarta-feira, 4, o democrata reuniu-se com a equipe da World Family Organization (WFO), organização não-governamental associada ao Conselho Econômico e Social da Organização das Nações Unidas (ONU). A WFO atua no financiamento de hospitais em países em desenvolvimento.
Segundo Calil, a proposta é a construção de um hospital da família em Goiânia. A estimativa de custo é de R$ 100 milhões, para 200 leitos. O custeio seria bancado por emendas da bancada federal goiana e pelo Governo Estadual.
Calil se diz otimista com a concretização do sonho. O democrata diz que haverá um encontro do governador Ronaldo Caiado com representantes da ONG no dia 17 de abril. Segundo ele, como a construção é modular e feita pela própria WFO, seria possível concluí-la em um ano e quatro meses.
Atualizado às 11h28 de 8 de abril de 2019
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