Opção cultural

Filme vencedor do Prêmio do Júri do Festival de Cannes joga com a capacidade interpretativa do espectador

Personagem que trava batalha com o sobrenatural pode levantar comparações com John Constantine, mas é bem diferente
Em 2013, ao aproveitar as manifestações que tomaram as ruas do País, o quadrinista Luciano Cunha lançou o anti-herói Doutrinador. O personagem é, na prática, um vigilante caçador de políticos e empresários. O sucesso foi tão grande, que a criação foi parar no cinema e também na TV, pois virou série.
Além disso, Luciano aproveitou a boa fase para criar o selo Guará Entretenimento, que, além do Doutrinador, traz outras histórias no mesmo universo. Dentre elas, o “Santo”. Adquiri recentemente a edição #1.
A ideia é uma publicação periódica nos moldes Marvel/DC, mas com equipe, histórias e personagens brasileiros. O Santo acompanha a história do médium Salvador Sales, que, apesar de não ter nada a ver com o Hellblazer (o mago inglês John Constantine), logo de cara levanta comentários comparativos.
Sinopse
“Salvador Sales é um professor solitário que rejeita sua mediunidade, latente desde os quatro anos de idade. Mas ele presencia um brutal ataque a um centro de umbanda, perpetrado por uma sociedade secreta que revive o Círculo Vril, uma tenebrosa mistura de magia negra e arianismo. Ele então decide usar seus poderes paranormais para combater os lunáticos e descobre um influente político por trás do grupo. Enquanto forças espirituais poderosas se envolvem numa verdadeira guerra entre luz e sombras, Salvador encontra seu ideal de luta contra falsos profetas.”
Política, religião e nazismo. Um monte de clichês batidos no liquidificador. Apesar disso, é divertido e vale a sequência de leitura para ver onde isso vai dar.
A história não é sutil. Espíritos guias já deixam claro logo de cara que tudo está acontecendo, a batalha do bem e do mal é direta.
Ambientação
O protagonista é um homem negro que tem como uniforme terno branco e chapéu, que provavelmente tenta remeter aos pais de santo. Mas ele aparece em boa parte da história com trajes civis.
Ambientada no Rio, a história tem cenários de acordo e, sendo assim, bem diferente dos estilos de comics dos Estados Unidos. Ponto para arte de Mikhael RS e as cores de Alzir Alves. Já o roteiro é de Luciano Cunha e Gabriel Wainer.
Obras
A primeira edição do Santo, que foi publicada em maio deste ano, mas só chegou por aqui em julho, tem formato 17 x 26 cm e 48 páginas. A número #2 ainda não apareceu, mas quando vier, provavelmente comprarei movido pela curiosidade.
Além do Santo e do Doutrinador, a Guará Entretenimento também possui outras HQs impressas. São elas: “Os Desviantes” e “Pérola”.
“Os Desviantes” traz uma história mais voltada para o universo dos super-heróis. "Num país ainda mais dividido entre ricos e pobres, as castas privilegiadas — a chamada Fortaleza — tenta dominar as zonas periféricas autoproclamadas Resistência, onde vivem os desamparados, as cobaias para experimentos transumanos. É na luta entre essas duas forças que nossos heróis Fióti, Tom e Anita entram em cena. Uma guerra civil ideológica-tecnológica, onde voltar para casa será uma aventura épica”.
Já em “Pérola”, o leitor acompanha “uma dançarina que está juntando dinheiro para tirar ela e Belinha, sua irmã mais nova, dessa vida. Seu cafetão a manda para uma festa na casa de poderosos e Pérola experimenta uma droga que lhe dá habilidades sobre-humanas. Quando volta da festa, sua irmã Belinha é sequestrada por uma quadrilha de prostituição e sua saga para combater o crime só está começando”.

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O cineasta lamenta a Hollywood real e perdida. Lança um olhar saudosista não apenas àquela Hollywood, mas também sobre o mundo que se foi com a invasão dos bárbaros
Marcelo Franco
Especial para o Jornal Opção
“Tarantino e “metalinguagem” e “Tarantino e Sergio Leone” são palavras e nomes que sempre andam juntos. Pois fui ver “Once Upon a Time... in Hollywood” (“Era uma Vez em Hollywood”) já ciente disso — o título do filme, bem se vê, ecoa “Once Upon a Time in America” (“Era uma Vez na América”) e “Once Upon a Time in the West” (“Era uma Vez no Oeste”), ambos do operístico Leone, diretor reverenciado por Tarantino (e por mim: além dos dois filmes mencionados, minha lista de dez melhores filmes ainda inclui outro do italiano, “The Good, the Bad and the Ugly” — para mim, quem não gosta daqueles exageros no limite do kitsch, um cinema, digamos, de “horror vacui” e de saturação, é ruim da cabeça ou doente do pé).
O novo filme de Tarantino é, nas suas quase três horas, o espetáculo prometido. Alguns se entediarão — é preciso compreender que o “nada” que os personagens fazem, tocando suas vidinhas, é apenas a superfície de um mundo em ebulição. Quem leu o romance “O Sol Também se Levanta” (Bertrand Brasil, 294 páginas, tradução de Berenice Xavier), de Ernest Hemingway, reconhece a matéria: no livro, alguns amigos bebem, pescam, correm de touros, amam e traem — e essas vidas quase ordinárias mostram justamente que, como no “Eclesiastes”, não há nada de novo sob o Sol, mesmo com o mundo ao redor se alterando.
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Brad Pitt, Leonardo DiCaprio e Quentin Tarantino | Foto: Divulgação[/caption]
Muito já se escreveu sobre esse novo Tarantino, e a ideia de que 1969 mudaria Hollywood para sempre é evidente no enredo (o crime Charles Manson-Sharon Tate ronda o filme; assassinato, recordo-me agora, ocorrendo no mesmo ano do lançamento de “Easy Rider”, tudo se amalgamando naqueles tempos acelerados). A escritora Joan Didion, aliás, amiga de Tate, escreveu no calor do momento (“The White Album”; “O Álbum Branco”, editora Nova Fronteira): “Many people I know in Los Angeles believe that the Sixties ended abruptly on August 9, 1969, ended at the exact moment when word of the murders on Cielo Drive traveled like brushfire through the community, and in a sense this is true. The tension broke that day. The paranoia was fulfilled”.
É isso. “The paranoia was fulfilled”: a paranoia se cumpriu porque a maçã já estava podre, jamais porque havia hippies em cada esquina (sempre mostrados negativamente no filme), mas sim porque o Ocidente vem praticando um lento assassinato contra tudo aquilo que havia criado para sublimar nosso precário estado neste “vale de lágrimas”.
Talvez haja quem creia que Tarantino tenha pretendido dizer que aquilo que nos mostra — o mundo pré-Charles Manson em confronto com os novos tempos — seja parte de um reino de fantasia (daí o “Era Uma Vez” do título). Não me parece. Ele — ou ao menos o filme que nos apresenta — claramente lamenta aquela Hollywood efetivamente real e desde então perdida. Ou antes: ele — ou o filme — lança um olhar saudosista não apenas àquela Hollywood, mas também sobre o mundo que se foi, por assim dizer, com a invasão dos bárbaros.
Não li entrevistas suas sobre o filme, mas fico com essa versão. Bem sabemos que Tarantino ama os filmes dos anos 60 e 70, o que soa contraditório com a narrativa da contraposição “velha Hollywood versus nova Hollywood”. Não importa: o filme, como toda obra, acaba por se destacar de seu criador. Note: Leonardo DiCaprio vive ao lado de Roman Polanski e Sharon Tate, e, assim, o mesmo furacão está enterrando a carreira de seu personagem e criando oportunidades para Tate, oportunidades que, depois de sua morte, provaram-se ilusórias. Não se vence facilmente um furacão.
Esse tipo de contraponto de épocas que se sucedem rapidamente tem servido muito bem ao cinema e à literatura, como, por exemplo, no soberbo romance “O Leopardo”, de Tomasi di Lampedusa, levado às telas por Luchino Visconti. Mas o Príncipe de Salina de “O Leopardo” suspira, lamenta e tenta se adaptar, ainda que canhestramente. Já Tarantino está mais para o xerife de “Onde os Fracos Não Têm Vez”, que revi outro dia. O título em português, claro, deveria ser “Onde os Velhos Não Têm Vez”, mais fiel a “No Country For Old Men”, um resumo do filme, ou antes, do magnífico livro de Cormac McCarthy (publicado pela Alfaguara, 256 páginas, tradução de Adriana Lisboa), escritor que ainda vai ganhar o Nobel de Literatura. A chave do filme — e do livro, evidentemente — é todo aquele conflito entre a velha e a nova criminalidade, conflito sinalizado pelo xerife, envelhecido e deslocado, tateando com pouca convicção um caminho naquele mundo que desconhece, o que Tommy Lee Jones mostra à perfeição. McCarthy já foi chamado, com razão, de Shakespeare do Oeste. Também a nova Hollywood de 1969 confunde seus antigos moradores.
Mas voltemos a Tarantino, agora com spoiler. Não é sem motivo que Sharon Tate não morre no filme: os bárbaros — a Família Manson, mas podemos acrescentar a Guerra do Vietnã, a contracultura e mais um bocado de outras coisas — são vencidos pelos valores da dupla DiCaprio e Brad Pitt. Ainda que meio confusamente — somos todos falhos —, há ali um código ético de conduta para a vida. Pena que seja ficção: aqui no mundo real, “Hannibal ad portas” venceu a batalha.
Estão afirmando, aqui e ali, que Tarantino, louvando um passado mais glorioso, uma “época de ouro”, acabou por se mostrar retrógrado, crime capital nos tempos atuais. Ele teria feito com 1969 o que Michel Houellebecq faz, em sua literatura e em entrevistas, com 1968, dessacralizando o “annus mirabilis” da turma que quer nos guiar àquela utopia um tanto borrada que, nos garantem, é nosso destino inexorável — um mundo de placidez em que bovinamente todos ouviremos “Imagine” e, superados os conflitos humanos, perceberemos que nossa própria essência se perdeu com eles. Justamente por isso, aliás, na cosmovisão “progressista” a nostalgia é um sentimento absolutamente retrógrado (na verdade, eu diria que o filme é mais uma fábula moral conservadora do que um manifesto retrógrado, mas deixemos essas diferenças para outra hora). Quem não tem olhos de ver e usa lentes identitárias condenará sempre o passado — Richard Brody, na “New Yorker”, acusou Tarantino de fazer um filme “ridiculamente branco”. Mas se os valores (note: os valores, não os defeitos) dos velhos “cowboys” que Brad Pitt e Leonardo DiCaprio interpretam (o achado de eles serem cowboys é de Edson Aran, que escreveu o melhor texto sobre o filme) são resiliência, lealdade e algum tipo de código moral que envolva justiça, tiro a naftalina de uma nostalgia que não querem que sintamos, muito menos no universo pop, e a exibo.
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Brad Pitt e Leonardo DiCaprio estrelas do filme "Era uma Vez em Hollywood"[/caption]
Não desatei aqui nenhuma camada oculta do filme: essas análises sobre ele ser ou não retrógrado ou conservador pululam nas revistas especializadas. De qualquer modo, se disserem que exagero, o fato é que esse tipo de “cultural war” segue ocorrendo em boa medida porque a turma que continua esperando alguma carona para voltar de Woodstock ainda nos faz viver sob a sombra dos anos 60. Aceito então esse Tarantino conservador e o saúdo, ainda que exagerando suas cores.
Ou talvez o filme não seja nada disso, talvez eu esteja fazendo justamente o que critico em progressistas que tudo veem com lentes ideológicas. Será que há apenas ambiguidade onde eu e outros tantos enxergamos conservadorismo? Talvez, talvez, talvez — mas tudo bem: no caso de Tarantino, ficar somente com o espetáculo já é uma grande pedida; contudo, ter nostalgia de um tempo em que se podia justamente sentir nostalgia me parece um pecado menor. Ora, que digo? Sabemos que todas as épocas têm seu lado menos luminoso, seus sótãos escuros, mas ao diabo com qualquer pudor: corrigindo Drummond, sejamos docemente nostálgicos, não pornográficos, e pensemos que a vida, mesmo imperfeita, pode ter alguma coerência; sobretudo, tentemos encontrar essa coerência — ainda que fabulosa e hollywoodiana —, porque é cova medida, muito medida, a parte que nos cabe deste latifúndio terreno.
(Coda: confesso que extraímos muito de filmes e damos muito valor ao cinema, quando é a literatura, somente a literatura, a única arte apta a nos explicar as engrenagens do mundo.)
Marcelo Franco é crítico e não é cinéfilo.

O grupo é formado por Sérgio Pato, Can Kanby, Foka, Marco Outeiro e Fred Praxedes

Serviço oferecerá aos usuários produções da Walt Disney Studios, Pixar, Marvel, Lucasfilm, National Geographic, 20th Century Fox, ESPN e outros
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A “era smart” tem nos proporcionado constantes transformações. Facilidade e conforto são dois pré-requisitos indispensáveis em qualquer negócio. Se precisávamos recorrer às locadoras para assistir um filme ou sair do sofá para trocar o CD, hoje tudo se encontra a distância de alguns cliques.
Ainda no campo do acesso a conteúdos audiovisuais, a Netflix — provedora global de filmes e séries via streaming — ainda é o grande destaque do mercado. O cardápio oferecido pela plataforma é recheado de possibilidades e, apesar da ampla concorrência, ostenta os melhores resultados desde 2007.
Na leva do “recorrente” surgimento de serviços semelhantes ao oferecido pela Netflix, uma nova concorrente está por vir. O nome tem peso: Disney+ (Lê-se Disney Plus). Resta saber se isso tornará, ou não, o páreo mais duro.
O novo serviço é de propriedade de ninguém menos que The Walt Disney Company que oferecerá a seus clientes produções de suas principais marcas como: Walt Disney Studios, Pixar, Marvel, Lucasfilm, National Geographic, 20th Century Fox, ESPN e outros.
A plataforma já foi liberada em caráter experimental para a imprensa americana e os relatos dos primeiros usuários são positivos. As avaliações apontam para a chegada de uma plataforma mais organizada.
O serviço por assinatura da Disney será liberado primeiramente nos Estados Unidos. Lá, o lançamento oficial será no dia 12 de novembro. Ele também chegará ao Brasil, no entanto, a estimativa é de que isso ocorra apenas em 2020.
A Disney já divulgou que deve oferecer inicialmente mais de 500 filmes e 7 mil episódios de séries. O custo benefício do serviço será de U$ 7 - R$ 29,00 - pelo pacote básico nos Estados Unidos.
Outro fator digno de destaque é que a Disney promete liberar novos episódios de séries semanalmente, haja vista que, assim como a Netflix, o Disney+ também contará com a produção de conteúdo próprio e exclusivo para a plataforma. A resolução da transmissão, desde a assinatura básica, será feita em 4k, o que acompanha o avanço dos novos televisores e dispositivos de reprodução.
O serviço poderá ser acessado via aplicativo para smartphones e televisores. Também será possível assistir utilizando o PS4 ou Xbox One. Os usuários dos Disney+ poderão realizar até quatro transmissões simultâneas e criar até sete perfis diferentes em uma única conta.
Ao todo, a Disney já trabalha na pós-produção de quatro filmes que serão disponibilizados na plataforma. Outros dois estão em fase de filmagem e 10 em fase de desenvolvimento. Segundo os primeiros relatos, a interface será mais clean — limpa — com um catálogo de opções mais visual do que textual.
O grande diferencial em relação a gigante do mercado, será o foco mais “família” e menos “adulto”. Porém, apesar deste perfil, o responsável pela assinatura ainda poderá estabelecer restrições de acesso ao conteúdo às contas cadastradas.
Se o novo serviço da Disney terá potencial para incomodar a decana do streaming, isso não se sabe. O certo é que, tratando-se da Walt Disney Company, não se pode esperar pouco. Resta aguardar.

Bárbaro criado na década de 1930 se mantém interessante para velhos e novos leitores