Imprensa

Comportando-se como dona Solange dos editores, Luiz Schwartz tenta retirar biografia de Roberto Marinho das livrarias

Chegada da nova rede pode contribuir para fortalecer e ampliar a qualidade do jornalismo da TV Globo e de outras redes, tornando-as mais críticas do poder

O presidente atrai os principais jornais e revistas do país para temas que podem não ter importância. Mas o fato é que atrai

Poetas se deram muito bem, beijaram-se e, depois, romperam esteticamente. O mais velho disse que o mais novo não era uma chama luminosa, mas uma luz regular

“Menas”, Lula e Bolsonaro. O “pobrema” do “pograma” é outro: trata-se do título feito pelo editor que "estava" assistindo documentário sobre tigres

Cena do rapaz sendo chicoteado após tentar furtar chocolates em um supermercado está longe de ser exceção – em 2014, imagem parecida causou polêmica no País

A cena do jovem chicoteado após tentar furtar chocolates em um supermercado da Zona Sul de São Paulo choca, mas está longe de ser exceção. Diariamente, uma massa de homens de pele escura, baixa escolaridade, empregabilidade mínima e aparência que não serve para comerciais de margarina (coisa que vem mudando, mais por uma espécie de “cota” politicamente correta que por verdadeira representatividade) é transformada em suco nas ruas e presídios brasileiros.
O rapaz em foco tem todas as características para causar repulsa em certa parcela da população. É negro, é morador de rua, é usuário de drogas, tem uma boa ficha corrida na Fundação Casa. Desde os 12 anos, pratica furtos e roubos. É um pária, daqueles que preferimos virar a cara ou trocar o lado da calçada quando nos deparamos com ele. Ele é o tipo que nos mete medo e que, por isso, merece apanhar.
A ironia é que ele, que fora vilão ao tentar furtar, tornou-se vítima de pessoas que estão apenas poucos degraus acima na escada que mede o sucesso pessoal no mundo ocidental capitalista. Eram seguranças que, certamente, têm dificuldade de fechar as contas no final do mês.
Quando se tornaram agentes de autoridade, deixaram aflorar seu sadismo, exerceram seu micropoder. Certamente, despejaram suas frustrações (de um lado, o salário curto; de outro, a pressão dos patrões) sobre monte de carne mais barata do mercado – parafraseando a canção interpretada por Elza Soares.
Não há demônios nem anjos na equação que juntou o jovem ladrão e os seguranças torturadores. São todos carrascos e vítimas (para lembrar Raul Seixas, dessa vez). A cena não é inédita. Em 2014, a jornalista Raquel Sheherazade avalizou a atitude de uma turma que havia amarrado um assaltante, nu, a um poste. Só faltaram os chicotes. Ela tentou se explicar, mas o episódio ficou grudado a ela, feito tatuagem.
As pesquisas demonstram que três em cada quatro vítimas de assassinato no Brasil são negras. Dois terços dos presos são negros ou pardos. Pode-se discutir as metodologias desses estudos, mas não se pode fechar os olhos à realidade. Para ficar em mais uma citação musical, todo camburão tem um pouco de navio negreiro, canta o Rappa.
Em certo trecho de Casa Grande e Senzala, Gilberto Freyre descreve: “Transforma-se o sadismo do menino e do adolescente no gosto de mandar dar surra, de mandar arrancar dente de negro ladrão de cana (...) – tantas vezes manifestos pelo senhor de engenho quando homem feito; no gosto do mando violento ou perverso que explodia nele ou no filho bacharel quando no exercício de posição elevada”.
Cento e trinta anos após a abolição da escravatura, ainda há pelourinhos espalhados nesse Brasilzão de Deus! E há muita gente que bata palmas.
O autor de "Raízes do Brasil" renegou seu romance "O Automóvel Adormecido no Bosque" e trocou a literatura pelos estudos de história

O avô foi governador de Estado e o pai também trabalhou na Cidade de Goiás. Um médico goiano presenteou o escritor com um cocarzinho

Para melhorar o “JN” talvez seja adequado colocar dois blocos com analistas de política e economia
As redes sociais não criaram os radicais excessivos, mas deram-lhe plataformas, de alguma maneira eficazes, para suas manifestações. Seria uma democracia quase direta em ação. De fato, as pessoas passaram a se manifestar mais — o que é democrático. Espaços livres — ou relativamente livres — foram abertos à exposição dos indivíduos, quase sem filtros e monitoramentos. Há vantagens, imensas — como a oportunidade de todos poderem apresentar suas opiniões —, e desvantagens, como o excesso de opinião não estribada em fatos, e sim, por vezes, em desinformação e, até, ressentimentos. Na média, porém, a “abertura” é mais positiva do que negativa. E é incontornável.
[caption id="attachment_207401" align="aligncenter" width="615"] William Bonner, Cid Moreira, Sérgio Chapelin e Renata Vasconcellos: os tempos de ontem e de hoje | Foto: Reprodução[/caption]
Nas redes sociais e em blogs de direita e de esquerda, a TV Globo era e é xingada e achincalhada. O seu carro-chefe em termos de jornalismo, o “Jornal Nacional”, já recebeu variados tipos de crítica. Nos tempos do PT no governo, era visto como anti-petista pelo petismo. Nos tempos do presidente Jair Bolsonaro, é apontado, por seus aliados, como antigovernista. Como a Globo apoiou a ditadura civil-militar — era uma de suas partes civis —, fazendo um mea culpa tardio (deveria ter feito durante a ditadura), sua imagem de governista ficou cristalizada.
Mas há anos a Globo vem deixando de ser governista e, por isso, faz um jornalismo crítico e posicionado — o que sugere uma comunicação anti-governo. Na verdade, faz jornalismo. E, como se sabe, jornalismo não agrada aqueles que estão no poder.
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Cid Moreira e Sergio Chapelin: duas estrelas do Jornal Nacional | Foto: Reprodução[/caption]
A crítica que se faz à Globo hoje não é mais verdadeira, pois a rede deixou de ser, há anos, o sorriso dos governos, do poder. Seus opositores mantêm a crítica feita no passado, deixando de admitir que houve uma mudança significativa do foco jornalístico.
Além de ter se tornado crítica, mostrando tudo, a Globo radicalizou na abertura de espaço para denunciantes e denunciados. Por vezes, na sociedade do justiçamento — que a sociedade do espetáculo radicaliza —, incomoda o fato de a rede ouvir, com atenção e de maneira responsável, o lado que está sendo criticado. Mas está certa: todos devem ser ouvidos. Suspeitos e acusados têm direito a apresentar suas posições, mesmo se estiverem faltando com a verdade.
O “Jornal Nacional”, ao completar 50 anos — meio século —, prova que está vivo. O “JN” faz um jornalismo factual, com os fatos “quentes” do dia. E faz isto muito bem. O que falta, mas aí o modelo teria de ser mudado, é um pouco mais de opinião para situar os telespectadores — que às vezes ficam meio “perdidos” com a quantidade excessiva de informações, na maioria das vezes desconectadas e divulgadas ideologicamente e de maneira mal-intencionada por sites e redes sociais. Uma análise equilibrada — por exemplo de um Demétrio Magnoli — pode esclarecer, de modo amplo, os fatos, contribuindo para informar o telespectador com mais qualidade e precisão.
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Lillian Witte Fibe, Marcos Hummel (goiano de Catalão) e Berto Filho (falecido): o trio apresentou o Jornal Nacional | Fotos: Reproduções[/caption]
A GloboNews, com o programa “Em Pauta”, faz um jornalismo de qualidade, com opiniões equilibradas e, em geral, diversificadas. Não se está defendendo que o “JN” copie o “Em Pauta”, porque os perfis são diferentes. Mas um pouco de opinião abalizada, sobretudo a respeito de fatos mais intrincados, poderia contribuir para deixar o telejornal mais denso. Eventualmente, William Bonner opina, porém mais em termos editoriais.
William Bonner e Renata Vasconcellos são apresentadores equilibrados e emprestam credibilidade ao “Jornal Nacional”. Poderiam, insistamos, posicionarem-se um pouco mais sobre os fatos. Os dois são jornalistas, com formação adequada, e, ao contrário do que parece pensar militantes das redes sociais, não são meros ledores de notícias. William Bonner, além de excelente apresentador — seu ritmo é perfeito, e incomparável —, entrevista muito bem e é firme no enfrentamento com os poderosos, sem perder a civilidade.
A equipe de jornalismo da Globo é uma das mais experimentadas do país e, por isso, sabe que algumas mudanças deverão feitas no “Jornal Nacional” — para que não chegue “envelhecido” aos telespectadores (as notícias estão sendo divulgadas intensamente, durante todo o dia, tanto na própria televisão quanto na internet). O tempo no “JN” é relativamente curto, por isso não há tanto espaço para opinião. Mas poderia acrescentar dois blocos de opinião. Renata lo Prete poderia comentar os fatos políticos do dia, com sua rapidez e profundidade habituais, e outro jornalista, talvez a precisa Monica Waldvogel, poderia analisar os fatos econômicos. Um terceiro bloco, que não precisaria ir ao ar todos os dias, poderia comentar as notícias internacionais. Guga Chacra (é competente, mas falta-lhe certa contenção) — ou o excelente Demétrio Magnolli — pode ser convocado para explicá-las.
A Globo mudou... e você? Percebeu a mudança? Percebeu se você mudou ou se você não mudou?

O profissional trabalhou na TV Anhanguera durante vários anos. Foi apresentador

O que quer o homem no planeta já visitado pelos americanos, em 1969? Água? Sim, e otras cositas más

No dia em que a torcida do Ceará aplaude jogador do Flamengo, pela primeira vez um árbitro interrompe um jogo no Brasil por causa de gritos homofóbicos

Sou cria da geral do Estádio Serra Dourada e das arquibancadas do Estádio Onésio Brasileiro Alvarenga (OAB). Um amigo pagava meu ingresso para assistir aos jogos do Goiás no Campeonato Brasileiro, no final dos anos 1980 e início dos anos 1990 – mal sabia ele que a doutrinação não surtiria efeito, pois eu já era um vilanovense doente (sempre digo que há aí um pleonasmo, uma redundância).
Formei-me torcedor homenageando jogadores, árbitros, bandeirinhas e torcedores rivais com toda sorte de palavrão dicionarizado ou não. Entre o vasto repertório, o xingamento preferido era, é claro, o “viado” (assim mesmo, com ‘i’). Em um ambiente toxicamente masculinizado, nada mais ofensivo que imputar a outrem a desonrosa alcunha. Invariavelmente, o coro “Ei, juiz, VTNC!” se repetia algumas vezes.
Rádio a pilha
Não me lembro de que, naquele tempo, havia algum debate ou discussão sobre o comportamento dos torcedores. Tudo isso fazia parte do ecossistema dos estádios – como o amendoim, o rádio a pilha, os banheiros emporcalhados e o placar do Serra Dourada que nunca funcionava.
Hoje, as coisas mudaram. Há muito mimimi nos estádios e fora deles – ainda bem. Os tempos são outros, o mundo evolui. O que era normalizado passou a ser contestado. Cada vez mais pessoas estão se cansando da incivilidade. É para frente que se anda.
Há algum tempo a Fifa tenta coibir atos de racismo e homofobia nos estádios mundo afora. Clubes e torcedores têm sido punidos. Ainda assim, muita gente ainda prefere se comportar como se estivesse nas arenas romanas.
Neste fim de semana, o mundo assistiu a um marco no futebol brasileiro. Durante o jogo contra o São Paulo, o árbitro Anderson Daronco parou a bola por causa de cantos homofóbicos por parte da torcida do Vasco, virou-se para o técnico Vanderlei Luxemburgo e disse: "Viado não pode!" O técnico pediu que seus torcedores cessassem com os gritos. O time pode ser punido.
Foi um ato simbólico. Pode ser o pontapé para novos tempos. Claro, não colocará um ponto final nas ofensas. Mas, devagarinho, as arquibancadas podem se tornar menos hostis. Quem sabe um dia cenas como a da torcida do Ceará aplaudindo o Arrascaeta, do Flamengo, sejam menos surpreendentes. E que ataques homofóbicos e racistas é que sejam a exceção.

Em 1925, o bardo pernambucano publicou um poema curto, relatando a história de João Gostoso, que, talvez traído pela mulher, se suicidou no mar

O goiano Marcello Brito, CEO da Agropalma, relata que o agronegócio representa 1,2 trilhão por ano, mas pode ser prejudicado por falas e ações de Bolsonaro

A esquerda falha quando não condena, de maneira enfática, a violência, porque a conecta a problemas sociais