Por Walacy Neto
PM acredita que homem estava sob efeito de álcool no momento do acidente. Foi encontrada lata de cerveja próxima ao corpo

Com a eleição, 435 novos membros serão integrados a Casa e 36 dos 100 lugares do Senado também são alterados

Na reunião com prefeitos, primeiras-damas, deputados estaduais e federais, ex-prefeitos e presidentes de Câmaras também vai homenagear o tucano pela vitória no segundo turno

Em dois pareceres encaminhados à Justiça, o MPF contesta este convênio entre a União e a OPAS

A proposta do parlamento Cyro Miranda tramita em caráter terminativo e conta com o voto favorável da relatora, a senadora Ana Amélia

São 36 pessoas envolvidas nesta organização criminosa, sendo que estes desenvolviam diferentes processos dentro do esquema

Ele também foi questionado sobre o Fundo Estadual de Cultura do próximo ano: "já vamos começar a lançar esse ano o edital para 2015", disse.

Os suspeitos foram presos em flagrante e serão apresentados na Delegacia de Investigações Criminais na manhã desta segunda-feira

500 pessoas confirmaram presença no evento, marcado pelas redes sociais

Goiás é o único Estado do País presente na 40ª Sessão do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC), em Copenhague, na Dinamarca, iniciado nesta semana. Por sua vez, autoridades goianas querem adotar uma versão local do Cadastro Ambiental Rural (CAR) e montar a própria rede de preservação do Cerrado. As iniciativas têm um motivo, considerado urgente: a maior parte do desmatamento no Brasil ocorre justamente na região onde se encontra o bioma. Os índices superaram os registrados na Amazônia, que era líder no ranking desde o início desde 2011. Além de Goiás, que tem 100% do território coberto pelo Cerrado, a área chega a Minas Gerais, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Piauí, Bahia, Maranhão e Distrito Federal. A Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Estado (Semarh) não apontou números sobre desmatamentos em Goiás porque haveria controvérsia na estimativa. Mas uma pesquisa do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e da Universidade Federal de Goiás (UFG) mostrou que, em 2011, 6.418 km² da floresta amazônica foram devastados. No Cerrado, foram 7.415 km². “O desmatamento cresce muito em Goiás porque o Estado ainda tem muitos ativos ambientais [áreas intocadas]. Enquanto tivermos área agricultável e solo bom, teremos aumento do desmatamento. Ao proteger o Cerrado, protegemos a Amazônia”, afirmou Jacqueline Vieira da Silva, titular da Semarh.
Prefeitura adia audiência pública da Planta de Valores
Por meio de nota, a prefeitura de Goiânia informou que a audiência pública sobre a Planta de Valores da capital, prevista para ocorrer na última quarta-feira, 29, foi adiada para quinta-feira desta semana, 6. No comunicado, a administração municipal ressalta que, dentro do prazo legal, o projeto de lei que trata dos novos índices pode ser enviado à Câmara Municipal até o dia 30 de novembro. Os vereadores têm até o dia 20 de dezembro para aprovar a matéria, caso contrário, o reajuste não será validado em 2015. A motivação para o adiamento da audiência pública não foi divulgada pelo Paço Municipal.Morcego infectado com raiva é achado em Goiânia
Mais um caso de morcego infectado pelo vírus da raiva foi identificado pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS). O animal foi encontrado na terça-feira, 28, dentro da casa de um morador do Setor Campinas, em Goiânia. O homem de 45 anos percebeu o morcego caído no chão e chegou a dar água e leite para o mamífero. Por medida preventiva, o morador foi encaminhado ao Centro de Atenção Integrada à Saúde (Cais) de Campinas. O homem pode ter sido infectado por meio do contato com a saliva do morcego. Apesar de não ter sido comprovada a contração do vírus, ele ja está tomando vacinas e soros de imunização. Dois cães também podem ter sido infectados e passam pelo mesmo tratamento. Agentes de saúde devem percorrer a região onde o morcego foi encontrado para imunizar animais domésticos que podem ter sido infectados pelo mamífero da ordem Chiroptera.Mulher que mutilou seio em Goiânia tem câncer e depressão
A mulher de 29 anos que mutilou o próprio seio e jogou o mamilo em um cesto de lixo na esquina da Rua do Orvalho com a Avenida Mangalô, nesta semana em Goiânia, sofria de depressão desde 2011. M.C.G.D. passava por tratamento psicológico e psiquiátrico em uma clínica particular na capital. Segundo o delegado responsável pelo caso, Breynner Vasconcelos, a mulher disse em depoimento no final da tarde de terça-feira, 28, que foi vítima de estupro e foi ferida por quatro vezes a facada. Além disso, afirmou que tinha câncer de mama, informação confirmada ao delegado por familiares. Breynner Vasconcelos relatou que M.C.G.D. já teria tentado suicídio cortando os pulsos. Segundo o investigador, a intenção dela era de sangrar até morrer. Porém, procurou atendimento médico pelas dores que sentia. A mulher pegou um ônibus do transporte coletivo para uma unidade de saúde e sentiu tontura. Com isso, aproveitou para jogar a parte da mama no lixo.Dólar tem maior queda diária em um ano
Um dia depois de o Banco Central (BC) aumentar os juros básicos da economia, o dólar teve o maior recuo em mais de um ano. O dólar comercial caiu 2,45% na sna quinta-feira, 30, fechando em R$ 2,408 para venda. A cotação alcançou o menor valor desde o dia 14, quando tinha encerrado em R$ 2,401. A queda de 2,45% é a maior registrada para um dia desde setembro do ano passado. Apenas nos últimos três dias, a divisa acumula recuo de R$ 0,12 (4,56%). A cotação passou a acumular queda de 1,64% no mês.“Tenho orgulho de ser gay”, declarou CEO da Apple
O atual presidente da empresa Apple assumiu em um artigo publicado na “Bloomberg” na quinta-feira, 30, a sua sexualidade pela primeira vez. “Tenho orgulho de ser gay, e eu considero que ser gay está entre os maiores presentes que Deus me deu”, disse. Tim Cook ressaltou que nunca escondeu o fato. O CEO da Apple ainda afirmou que nunca sofreu nenhum tratamento diferenciado dentro da empresa em razão de sua orientação sexual. “Claro, eu tive sorte de trabalhar para uma companhia que adora criatividade e inovação e sabe que isso só pode aflorar quando se abraça as diferenças das pessoas”, declarou. Assumir publicamente sua sexualidade foi, para Cook, uma decisão pensada em relação àqueles que não têm a mesma sorte em relação ao preconceito. Ele diz compreender que deixar isso claro poderia ajudar a sociedade a extinguir o conceito de diferença entre homens, mulheres e homossexuais.

Mesclando memórias e análises sobre origens e os desdobramentos do golpe militar de 1964, o ex-governador de São Paulo José Serra narra sua trajetória de filho único de um imigrante italiano vendedor de frutas no mercado de São Paulo ao batismo de fogo como presidente da União Nacional dos Estudantes, de exilado político na França e no Chile ao pesquisador de prestígio de um dos mais respeitados centros acadêmicos do mundo: a Universidade de Princeton

As amarguras de Gertrudes doíam na alma tropeçante de quem parasse um pouquinho só para observá-las. Havia um sorriso de penumbra sempre lhe embaçando o olhar cor de chuva, de tormento, de desvairo e de profunda solidão.
Gertrudes apareceu na cidadezinha assim como sarna surge, de repente, sem explicação. Chegou com sua maturidade acalmada, retinta de fogo morto, sobrando apenas cinzas fabulosas. Alugou a casa da viúva Eleonora, do seu Tomás, aquele de olhar branco, com os cabelos grudados e que possuía um sorriso tão alto e cheio de estranha sonoridade, que espantava os passarinhos de todas as árvores da praça e os morcegos da torre da igreja de Nossa Senhora do Bom Parto.
Gertrudes montou seu “ateliê de costura” (como escreveu na placa rústica e simpática do portãozinho) e trouxe tecidos de cores primorosas e sem semelhança com outras cores de uso acostumado. Esses panos passavam uma intranquilidade danada no espírito dos homens de todas as idades e um contentamento esfuziante no espírito das mulheres.
A freguesia cresceu como a brisa de maio, assim silenciosa e rápida, inflexível em sua presença, que rangia de tão cheia de frescor. Gertrudes, muito prosa, falava até espumar os cantos da boca e contava grandeza do amor de seu homem, e tocava a pianola, e dava corda nos relógios, e plantava lírios amarelos nos fundos da casa e girassóis no jardim. Mas as amarguras de Gertrudes iam atrás dela, de tão forte presença que se assemelhavam a vultos de espíritos num acampamento solene.
A sociedade amou rapidamente aquela mulher, que dizia com a boca benta de paixão: “Meu marido chegou de viagem tarde da noite, agora dorme. É viajante, não tem porto, o coitado. Ama o lar, mas a profissão o consome. Vamos falar baixo, pois, se ele acordar, fica ansioso o resto do dia”. Puxava a porta, trazia as botinas sujas de lama para perto da bacia no corredor do jardim. A mala abria sobre duas cadeiras ao sol.
Todo mundo que frequentava o ateliê de costura, sempre ouvia as estórias de Romão, esse nome sempre envolto de onírico mistério ruidoso, palpável e, sobretudo, impenetrável. Ninguém nunca o vira, só sinais do cavalheiro distinto que “estralava” de amores por Gertrudes.
Sempre um presente acompanhava o retorno daquele rapaz escalavrado de vítrea aura impermeável, e que sufocava o ambiente com um perfume de macho saudável, vigoroso e quase satisfeito plenamente.
E Gertrudes fazia bolos e broa, peta e biscoitos, rocamboles com frutas cristalizadas, tão perfumadas, e abarrotava de “quitutes” os guarda-comidas. Sempre havia dois pratos, dois copos, duas xícaras, duas chávenas, e assim por diante, na enorme mesa “antigona” e toda trabalhada, acomodada num salão, só para refeições. A toalha rendada de branco céu e, em tudo por tudo, uma zelosa harmonia parecia dançar valsa naquele ambiente. O interior da casa sempre sóbrio, elegante e distinto, bonito de se contemplar.
“Gertrudes não é desse mundo, gente!”, diziam as moças cheias de vida e encantadas com tudo. Leninha jurou de pé junto que viu mais de uma vez seu Romão atravessar o pátio dos lírios desesperados. E contava na praça: “Ele é lindo, altão, moreno claro, tem uns olhos tão verdes como uma folha de parreira nova. É perfumado, o homem. Deixou no ar um cheiro tão bom, que nem dei conta de ir embora dali, até que o sol me queimou e, quando ardeu minha pele, consegui sair andando. Ele tem as mãos longas e macias. Deram-me calafrios. Quando cheguei em casa, tive febre a noite toda. Esse homem veio do começo do mundo, gente!”
A aura do marido de Gertrudes crescia com fama audível, indomável. Seus cheiros, sinais, astros, marcas estavam por todos os cantos e cantoneiras da casa. A curiosidade de vê-lo era atiçada, fora de toda compreensão, quanto mais casos Gertrudes cantava de Romão. De como o conhecera, do dia do casamento, do filho que lhe morreu na barriga, porque um jacaré imenso apareceu rolando no limpo chão.
Esse dia, Gertrudes, entrecortada de dor, pensou que fosse morrer e engomou a mortalha que bordara em noites de espera de Romão. Inteiramente de vidrilhos cor de água, cor de espuma, em desenhos e arabesco geometricamente riscados e que, olhados de longe, imitavam uma biga com sete cavalos e um cavaleiro, como aqueles antigas que corriam nos primórdios dos tempos cristãos, na cidade de Roma, que, de tão conhecida, até pereciam-lhe os encantos.
Era sempre e sempre um martírio sem conta, de uma fundura custosa, aquele sofrido pelas senhoras e moças que visitavam o ateliê de costura de Gertrudes.
E ela voejava pela imensa casa como borboleta, sempre a fazer mil coisas. E, entre uma e outra, olhava-se no espelho e contava mais um caso, e revelava as noites de amor com aquele potro de legítima gentileza e incansável ternura.
No fim de pouco tempo, as pernas das adolescentes, das moças velhas e novas, das donas viúvas e das senhoras casadas tremiam só de pensar em ter de experimentar o vestido, de provar a saia plissada, ou verificar se o chapéu melancólico, mas cheio de luz, estava em ponto de prova satisfatória.
Quem andava com a alma cheia de musgo, zumbindo resignação dolorida de ciúme consistente, como aço, era cada marido, ou cada pai, ou cada irmão.
O perfume de Romão, sempre rarefeito, sufocava e parecia derreter os ossos e nervos das freguesas. E Gertrudes a contar suas noites afogueadas, mostrar os presentes e pedir mais silêncio, pois ele ressonava. Chegara novamente de longa viagem.
A agitação interior das meninas costumava provocar câimbras nos pensamentos delas, as coitadas, ouvintes das confidências pesadas de tão reais, fundindo o coração e a alma, resultando daí um caldo de angustiante desejo e curiosidade sem termo.
Às vezes, quando a ausência da viagem era maior, Gertrudes caía na cama, inapetente, pálida e, todas as tardes, chorava inclementemente, que toda a cidade começava a rezar para que a profunda amargura descesse o rio o deixasse a costureira sossegada. Mas logo chegava o moço, com seus assombros em brasa, seu perfume e paixão indecifráveis, seus suspiros que carbonizavam até planos e bordados. Os quatro cantos da cidade pareciam sacudidos por terremotos dolorosos de tanto carinho.
Ninguém nunca conseguia explicar o porquê da desatinada amargura que emanava sempre e constantemente da costureira Gertrudes, estando o nobre amo e senhor presente ou estando em suas obscuras ausências de ambulante, mascateando miudezas raras e curiosas.
Após mais de ano de tanto martírio, meia dúzia de aventureiras insalubres e desalmadas planejaram invadir o quarto do cavalheiro para vê-lo dormindo e em pelo, pele, suores e suspiros.
Isso, evidentemente, quando Gertrudes fosse às compras na feira do morro ou no mercado velho, onde costumava ficar horas piruetando entre as vendinhas, aproveitando um gole de café, e então contava as façanhas de seu amado distante ou presente bem dentro de sua alcova dominada pela penumbra e cheiro de céu.
Numa manhã cravejada de mau agouro, as meninas tomaram coragem e penetraram no imenso e silencioso recinto. O homem ressonava, coberto de linho puro todo bordado de rosáceas de seda. Bárbara de seu Tonico, o seresteiro afamado, acendeu a vela da cabeceira, enquanto as meninas, devagarinho, para não despertá-lo, foram lhe tocando os linhos com a leveza das mãos e das palavras. O resfolegar da serpente interior das fêmeas mugia solene naquela manhã calorenta e pasmada até a raiz das nuvens.
Com vagar e doçura, foram descobrindo o rosto, os ombros, o meio do corpo daquele homem moreno, fragilizado pelo sono, dormindo tão justo e casto. Até que, por fim, descobriram-no por inteiro, nu, repousando na beleza de um deus grego, tão silencioso como uma estátua perfeita e fascinante de um museu de Tróia.
Era o dia do fim do mundo. Ele, ali, verdadeiro e completo. A menor das moças, Ditinha de Sá Rita, tocou-lhe os lábios. Estavam frios como gelo. Assustadas, vieram todas apalpando os cabelos de seda, os ombros cheios de flores, o peito vigoroso de pelos lisos e dourados e os pés alvos e de perfeição rara de se ver. Ele estava ausente de alma? Habitaria naquele instante o mundo subterrâneo, levado pela “indesejada de todas as gentes?”
Não é possível! Abram as janelas, acendam luzes do alto, escancarem tudo para o sol chegar! O ar fresco, restolho da madrugada há pouco morta, entrou em cheio no aposento. E elas reviravam agora aquele homem acalentado tanto tempo em sonhos, cercado de intenso silêncio e fragilidade exposta.
Os minutos enfraqueciam nos relógios de toda terra, para chegarem a mais esquisita constatação: era um boneco de goma, espécie de uma borracha, perfeito dos perfeitos.
Com mãos trêmulas e úmidas de suores, abriram-lhe com tesoura o ventre delicado viril e incandescente. O grito soou rompendo tímpanos. Uma caixa mecânica incrustada no plexo solar, para que os suspiros, gemidos ali dormitassem cumprindo sua sina cronometrada. O resto era algodão com sementes, saindo aos borbotões. Os olhos de vidro, lindos, brilhantes e lacrimosos. As orelhas, lábios e língua feitos de matéria como uma borracha especial e macia. Gritaram até a outra madrugada chegar. A cidade acorreu em massa. Frei Lauro, o caolho, veio tropeçante em pura castidade, suando frio com roxo beiço tremido.
Depois de três dias de afobação tresloucada, sentiram falta de Gertrudes. Esvaziaram Romão, beijaram-lhe todas as partes, num misto ódio e amor, e o partiram em pedaços nobres e pouco nobres. O perfume no ar, e Gertrudes nunca aparecia. Cada qual pôde levar um pedaço para casa, nem que fosse uma unha, daquele sonho deitado acima de todas as compreensões. As trevas vieram em forma de aguaceiro sem nome, sem tempo, e provocaram mediana enchente, lambendo pontes e pinguelas.
Uma semana depois, na prainha, bem abaixo do matadouro, estava Gertrudes, perfeita como viva, abraçada com os agrados que buscara do seu amado. Eram colônias, sais de banho, presentinhos e enfeites, um anel de pedra lilás, tudo para Romão, homem de suas palavras diurnas e noturnas. Nada sucumbiu à chuvarada e nem à enchente.
Gertrudes guardou entre os seios e braços os presentes do viajante, tudo bem guardadinho, para aquele que havia voltado de mais uma viagem. Mas quem pegou a estrada dessa vez foi Gertrudes, não foi o cavalheiro amoroso. A alma de Gertrudes foi vista mais de uma vez; às vezes, tomava forma de uma pomba sempre esperta e fria.
O corpo em nada foi maculado, mas recendia aquela antiga amargura disfarçante, que ficou repousando por todos os recantos da cidade, vinda daquela mulher que parecia adormecida, na curva maior da prainha, coberta de violetas e solidão. Ninguém nunca esclareceu se a senhora Gertrudes teria morrido na hora exata em que descobriram e violentaram seu sagrado segredo, ou se aguaceiro lhe havia roubado a flor da vida.
Até o último momento, ao fechar o esquife, ainda possuía o frescor dos vivos, a tristeza de quem está partindo e a saudade desmesurada de um ente querido que perdera definitivamente.
Augusta Faro é escritora.

[caption id="attachment_19525" align="alignnone" width="620"] Richard Dormer, em cena de “Good Vibrations”, dirigido por Glen Leyburn e Lisa Barros D’Sa | Foto: Steffan Hill/Divulgação[/caption]
Marcelo Costa
Os anos 1960 na Irlanda do Norte foram bastante tumultuados. Questões políticas e religiosas dividiram o país fortemente (protestantes contra católicos) culminando no trágico Domingo Sangrento, em 1972, quando o exército inglês matou 14 ativistas católicos em uma passeata. O surgimento do IRA (Exército Republicano Irlandês), uma dissidência do fortemente marxista Official IRA, colocou mais pólvora no cenário — ao longo de mais de duas décadas de luta armada, ocorreram mais de 3500 mortes.
A história de Terri Hooley começa em 1948 em Belfast, com seu nascimento. Ainda criança, Terri é atingido por um dardo (arremessado por uma turma de garotos protestantes) e perde a visão de um dos olhos, sendo obrigado a colocar um olho de vidro no lugar. Corta para o começo dos anos 1970: Terry, um apaixonado por música pop, se apaixona por uma garota, se casa e tem uma visão: salvar a alma dos irlandeses espalhando o reggae pelo país. Como? Abrindo uma loja de discos. Nasce a Good Vibrations.
A loja de discos sobrevive a trancos e barrancos, mas tudo muda quando Terri, em meio a uma balada (e uma batida da polícia), assiste ao show da banda Rudi, cinco garotos que tocavam covers de rock and roll e glam rock que, influenciados por Sex Pistols e Buzzcocks, começam a compor material próprio. Inebriado pelo show, Terri Hooley decide bancar o primeiro single do Rudi no que viria a ser o primeiro lançamento do selo Good Vibrations: o compacto “Big Time” é lançado em 1978. “Agora precisamos encontrar 3 mil compradores para o single”, diz o personagem em certo momento.
O país seguia em quase guerra civil e Terri continuava lançando singles pela Good Vibrations: o segundo foi “Strange Thing By Night”, do Victmin, o terceiro foi “Just Another Teenage Rebel”, do Outcasts, e o quarto foi aquele que faria a fama de Hooley além de obter o respeito eterno do radialista e DJ londrino John Peel, que, ao vivo em seu programa na BBC, assim que tocou o single que Terri enviou pela primeira vez, avisou aos ouvintes: “Eu nunca fiz isso, mas a música é tão boa que vou tocar de novo”. A canção era o hino punk “Teenage Kicks”, dos Undertones.
Tudo isso é apresentado ao espectador no filme “Good Vibrations” (2012), dirigido pelo casal Glen Leyburn e Lisa Barros D’Sa, e pouco comentado neste lado debaixo da linha do Equador (não entrou em cartaz no Brasil), um pecado porque “Good Vibrations” é uma deliciosa aula sobre punk irlandês safra 77, com uma trilha sonora empolgante e um retrato interessante de um personagem hippie fadado ao fracasso, mas que sobreviveu a todas as bancarrotas e segue tocando a loja (e arranjando brigas) aos 65 anos.
Interessante que a história de Terri em muitos momentos lembra a de Tony Wilson, um dos caras responsáveis pelo lançamento de Joy Division, New Order e Happy Mondays, mas que também se importava mais com a arte do que com o dinheiro: se Tony tem o mérito de lançar um single do New Order cuja design o fazia ficar mais caro do que o preço que era vendido (e esse single, “Blue Monday”, bateu recordes de venda), Terri Hooley concorre com o concerto que fez na casa mais famosa de Belfast, que visava arrecadar fundos para a loja, mas que deu prejuízo porque praticamente ninguém pagou ingresso (“Terri, você tem a lista de convidados mais longa que eu já vi na vida”, diz um amigo).
Exemplo interessante de homens levantando o dedo médio para o capitalismo, Tony Wilson e Terri Hooley tem trajetórias bastante parecidas, o que faz de “Good Vibrations” um primo próximo de “A Festa Nunca Termina” (”24 Hour Party People”, 2002). No caso de Terri, sua história de altos e baixos também vem costurada por uma trilha sonora empolgante, que além dos grupos lançados pelo selo (Rudi, The Outcasts, Undertones) ainda conta com Stiff Little Fingers (a grande banda do punk irlandês não saiu pela Good Vibrations), David Bowie, Suicide e The Saints, resultando num retrato interessante sobre uma bela cena musical e um país.
Marcelo Costa é jornalista. Editor do Scream & Yell.

Presidente da Agetop afirma que há uma intensa agenda de inauguração de obras ainda neste ano e no primeiro semestre de 2015

Se a reforma administrativa é certa, até porque necessária, o futuro secretariado também causa expectativa e “balões de ensaio” já são jogados no ar
[caption id="attachment_19492" align="alignnone" width="620"] Marconi Perillo comemora reeleição: segundo mandato vai começar com novo organograma administrativo | Foto: Leo Iran[/caption]
Cezar Santos
Depois de uma semana da eleição, há quem pense que o processo que resultou na vitória de Marconi Perillo ao governo é água passada. Não é. O que possibilitou aquele resultado está influenciando no que vai ser o segundo mandato. A conjugação de forças que deu ao tucano a quarta eleição ao governo determina a configuração da futura equipe. Não foi por outra razão que o governador manteve intensas conversas com seus aliados na semana passada, ainda no calor da vitória.
Isso, mesmo que se diga que Marconi dessa vez se comprometeu muito pouco — ou não se comprometeu nada — com nomes ou partidos, razão pela qual isso está mais que nunca livre para formar seu staff. A afirmação é verdadeira só até certo ponto. Afinal, Marconi vai governar com quem o ajudou a se eleger, embora aqui ou ali ele possa escolher um “estrangeiro”, um líder empresarial, por exemplo.
Ou um técnico de fora, como Simão Cirineu, no início do mandato atual. Marconi pode também convocar um adversário para alguma missão — remember 2011, quando guindou o peemedebista Thiago Peixoto para a vistosa pasta da Educação, o que ajudou a desarticular ainda mais o PMDB.
Mas é verdade que o governador reeleito agora está muito mais protegido das pressões em comparação a 2010, quando as disputas internas entre os partidos aliados para ocupar cargos chegaram quase à “briga de foice”. Naquela vez, o governador teve uma margem muito apertada de manobra para compor seu secretariado, o que refletia menor força política em termos estritamente pessoais.
Agora é diferente, a heterogeneidade de forças que apoiaram Marconi aumentou (mais partidos na aliança) na medida em que cresceu também a força pessoal do governador em razão de sua reeleição sem reparos. Evidentemente que nomes começam a pipocar aqui e ali, ao sabor dos desejos, das “plantações” de notinhas em colunas de política.
Como de praxe, a “plantação” tem o objetivo de forçar uma indicação, ou, ao contrário, “queimar” alguém. E tome de aparecer secretários e presidentes de agências, além de “donos” de cargos de segundo e terceiro escalões. Faz parte do jogo pós-eleitoral.
Evidentemente não ficarão de fora da próxima equipe de governo políticos de larga experiência e histórico de caminhar junto com o governador há muitos anos, como Vilmar Rocha, Leonardo Vilela, José Taveira, Carlos Maranhão, Antônio Faleiros, José Carlos Siqueira, João Furtado, Olier Alves, Sérgio Cardoso, para citar alguns.
E outros que se agregaram ao longo dos governos tucanos, como o polícia federal Joaquim Mesquita, secretário de Segurança Pública, o empresário Jayme Rincón, presidente da Agência Goiana de Transportes e Obras (Agetop), e o economista Mauro Faiad, entre outros nessas condições. Pessoas que se enquadram nesse perfil só não continuarão na equipe se não quiserem, embora possam ser deslocados para áreas diferentes das quais estão hoje ou em que estiveram antes.
Marconi já sinalizou que pode manter ocupantes nas mesmas áreas. Ou não. Fala-se na volta de José Paulo Loureiro, coordenador da vitoriosa campanha tucana, que atuou em administrações passadas e tem larga experiência em gestão econômica e financeira. Quem também deve voltar ao governo é a professora Raquel Teixeira, que comandou as pastas da Educação e de Ciência e Tecnologia nos primeiros governos de Marconi.
Sabe-se ainda que o governador vai chamar deputados eleitos (tanto federais quanto estaduais) para a equipe, o que também serve para reacomodar forças regionais nos Legislativos. E mesmo quem não teve sucesso nas urnas, mas tem experiência comprovada como gestor, poderá ser convocado. O que o tucano quer é compromisso e resultado.
O certo é que imediatamente após a eleição, o governador já começou a agir no desenho da reforma administrativa. Em entrevista, o governador falou em redução do tamanho do Estado e enxugamento das contas do governo. É prevista a fusão de pastas e corte de comissionados como forma de conter despesas.
Ao se falar em reforma administrativa, inevitavelmente leva à cogitação de nomes. Mas, independentemente de fulano ou beltrano, sempre que começa um novo governo, uma questão que se coloca é sobre o perfil da nova equipe. E normalmente se especula sobre dois tipos, que seriam excludentes entre si: técnico ou político?
A questão pode ser suscitada a partir do que o próprio Marconi falou assim que foi eleito. Ele ressaltou que em seu segundo mandato será enfatizado o aspecto de modernidade. Ou seja, na nova administração vai vigorar mais o conceito de eficiência de gestão e foco nos resultados rápidos, sustentados pelas novas tecnologias.
Nesse sentido, vai ganhar atenção especial logo de início o sistema Vapt Vupt, unidades de atendimento ao cidadão que estão espalhadas por várias regiões da capital e em vários municípios do Estado — há dez dias foram entregues mais duas unidades fixas, em Planaltina e Novo Gama, ambas na Região do Entorno do Distrito Federal.
O Vapt Vupt se tornou referência de serviço rápido e sem burocracia, onde o cidadão é atendido com conforto. Marconi quer transportar esse sistema para o mundo virtual, disponibilizando grande parte dos serviços na internet, e, assim, facilitar e agilizar ainda mais a vida do cidadão.
Em relação a obras, o carro-chefe do novo governo será a construção do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) em Goiânia. A obra está prevista para ser entregue em 2016 e o novo transporte chegará para substituir a linha de ônibus do Eixo Anhanguera. O presidente da Agetop, Jayme Rincón, prevê início da obra logo no início de 2015.
[caption id="attachment_19494" align="alignnone" width="620"]
Vilmar Rocha, Leonardo Vilela, José Taveira, Carlos Maranhão, José Carlos Siqueira, João Furtado, Olier Alves, Sérgio Cardoso, José Paulo, Loureiro, Raquel Teixeira, além de Jayme Rincón e Antônio Faleiros: nomes que devem integrar a equipe de Marconi Perillo para o segundo mandato | Foto: Fotos: Fernando Leites/Jornal Opção[/caption]
Na Saúde, o tucano assegurou que vai completar a rede Hugo com dez hospitais de urgências em todas as regiões do Estado. Ele também disse que a saúde continuará com os hospitais sendo geridos por Organizações Sociais (OSs). Marconi ressaltou que também a educação vai ser inserida nesse conceito moderno de gestão. Ele não explicitou como isso será aplicado, mas disse que o objetivo é melhorar a qualidade do ensino para manter Goiás na primeira colocação do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica).
A área de segurança pública, que é um problema nacional agravado pela omissão do governo federal, vai continuar sendo prioridade no novo governo. Segundo Marconi, investimentos em inteligência policial, equipamentos novos e monitoramento por câmeras vão aumentar.
Se o que se anuncia envolve tecnologia, pode-se pensar: isso é coisa de técnico, então a nova equipe de Marconi será mais técnica que política. A questão não tem razão de ser para um experimentado auxiliar de Marconi, daqueles de primeira hora mesmo. Segundo ele, não se pode conceber uma equipe só técnica ou só política.
“Só o técnico não adianta, porque toda secretaria tem função política. O bom secretário se cerca de bons técnicos. É preciso mesclar as duas características. Por isso, acho que a equipe tem de ser até muito política, com pessoas que tenham visão de Estado, visão política mais ampla. Não tenho dúvida de que o governador vai pesar esse critério”, diz a fonte.