Se a reforma administrativa é certa, até porque necessária, o futuro secretariado também causa expectativa e “balões de ensaio” já são jogados no ar

Marconi Perillo comemora reeleição: segundo mandato vai começar com novo organograma administrativo | Foto: Leo Iran
Marconi Perillo comemora reeleição: segundo mandato vai começar com novo organograma administrativo | Foto: Leo Iran

Cezar Santos

Depois de uma semana da eleição, há quem pense que o processo que resultou na vitória de Marconi Perillo ao governo é água passada. Não é. O que possibilitou aquele resultado está influenciando no que vai ser o segundo mandato. A conjugação de forças que deu ao tucano a quarta eleição ao governo determina a configuração da futura equipe. Não foi por outra razão que o governador manteve intensas conversas com seus aliados na semana passada, ainda no calor da vitória.

Isso, mesmo que se diga que Marconi dessa vez se comprometeu muito pouco — ou não se comprometeu nada — com nomes ou partidos, razão pela qual isso está mais que nunca livre para formar seu staff. A afirmação é verdadeira só até certo ponto. Afinal, Marconi vai governar com quem o ajudou a se eleger, embora aqui ou ali ele possa escolher um “estrangeiro”, um líder empresarial, por exemplo.

Ou um técnico de fora, como Simão Cirineu, no início do mandato atual. Marconi pode também convocar um adversário para alguma missão — remember 2011, quando guindou o peemedebista Thiago Peixoto para a vistosa pasta da Educação, o que ajudou a desarticular ainda mais o PMDB.

Mas é verdade que o governador reeleito agora está muito mais protegido das pressões em comparação a 2010, quando as disputas internas entre os partidos aliados para ocupar cargos chegaram quase à “briga de foice”. Naquela vez, o governador teve uma margem muito apertada de manobra para compor seu secretariado, o que refletia menor força política em termos estritamente pessoais.

Agora é diferente, a heterogeneidade de forças que apoiaram Marconi aumentou (mais partidos na aliança) na medida em que cresceu também a força pessoal do governador em razão de sua reeleição sem reparos. Evidente­mente que nomes começam a pipocar aqui e ali, ao sabor dos desejos, das “plantações” de notinhas em colunas de política.

Como de praxe, a “plantação” tem o objetivo de forçar uma indicação, ou, ao contrário, “queimar” alguém. E tome de aparecer secretários e presidentes de agências, além de “donos” de cargos de segundo e terceiro escalões. Faz parte do jogo pós-eleitoral.

Evidentemente não ficarão de fora da próxima equipe de governo políticos de larga experiência e histórico de caminhar junto com o governador há muitos anos, como Vilmar Rocha, Leonardo Vilela, José Taveira, Carlos Maranhão, Antônio Faleiros, José Carlos Siqueira, João Furtado, Olier Alves, Sérgio Cardoso, para citar alguns.

E outros que se agregaram ao longo dos governos tucanos, como o polícia federal Joaquim Mesquita, secretário de Segurança Pública, o empresário Jayme Rincón, presidente da Agência Goiana de Transportes e Obras (Agetop), e o economista Mauro Faiad, entre outros nessas condições. Pessoas que se enquadram nesse perfil só não continuarão na equipe se não quiserem, embora possam ser deslocados para áreas diferentes das quais estão hoje ou em que estiveram antes.

Marconi já sinalizou que pode manter ocupantes nas mesmas áreas. Ou não. Fala-se na volta de José Paulo Loureiro, coordenador da vitoriosa campanha tucana, que atuou em administrações passadas e tem larga experiência em gestão econômica e financeira. Quem também deve voltar ao governo é a professora Raquel Teixeira, que comandou as pastas da Educação e de Ciência e Tecnologia nos primeiros governos de Marconi.

Sabe-se ainda que o governador vai chamar deputados eleitos (tanto federais quanto estaduais) para a equipe, o que também serve para reacomodar forças regionais nos Legislativos. E mesmo quem não teve sucesso nas urnas, mas tem experiência comprovada como gestor, poderá ser convocado. O que o tucano quer é compromisso e resultado.

O certo é que imediatamente após a eleição, o governador já começou a agir no desenho da reforma administrativa. Em entrevista, o governador falou em redução do tamanho do Estado e enxugamento das contas do governo. É prevista a fusão de pastas e corte de comissionados como forma de conter despesas.

Ao se falar em reforma administrativa, inevitavelmente leva à cogitação de nomes. Mas, independentemente de fulano ou beltrano, sempre que começa um novo governo, uma questão que se coloca é sobre o perfil da nova equipe. E normalmente se especula sobre dois tipos, que seriam excludentes entre si: técnico ou político?

A questão pode ser suscitada a partir do que o próprio Marconi falou assim que foi eleito. Ele ressaltou que em seu segundo mandato será enfatizado o aspecto de modernidade. Ou seja, na nova administração vai vigorar mais o conceito de eficiência de gestão e foco nos resultados rápidos, sustentados pelas novas tecnologias.

Nesse sentido, vai ganhar atenção especial logo de início o sistema Vapt Vupt, unidades de atendimento ao cidadão que estão espalhadas por várias regiões da capital e em vários municípios do Estado — há dez dias foram entregues mais duas unidades fixas, em Planaltina e Novo Gama, ambas na Região do Entorno do Distrito Federal.

O Vapt Vupt se tornou referência de serviço rápido e sem burocracia, onde o cidadão é atendido com conforto. Marconi quer transportar esse sistema para o mundo virtual, disponibilizando grande parte dos serviços na internet, e, assim, facilitar e agilizar ainda mais a vida do cidadão.

Em relação a obras, o carro-chefe do novo governo será a construção do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) em Goiânia. A obra está prevista para ser entregue em 2016 e o novo transporte chegará para substituir a linha de ônibus do Eixo Anhanguera. O presidente da Agetop, Jayme Rincón, prevê início da obra logo no início de 2015.

Vilmar Rocha, Leonardo Vilela, José Taveira, Carlos Maranhão, José Carlos Siqueira, João Furtado, Olier Alves, Sérgio Cardoso, José Paulo  Loureiro, Raquel Teixeira, além de Jayme Rincón e Antônio Faleiros: nomes que devem integrar a equipe de Marconi Perillo para o segundo mandato | Foto: Fotos: Fernando Leites/Jornal Opção
Vilmar Rocha, Leonardo Vilela, José Taveira, Carlos Maranhão, José Carlos Siqueira, João Furtado, Olier Alves, Sérgio Cardoso, José Paulo, Loureiro, Raquel Teixeira, além de Jayme Rincón e Antônio Faleiros: nomes que devem integrar a equipe de Marconi Perillo para o segundo mandato | Foto: Fotos: Fernando Leites/Jornal Opção

Na Saúde, o tucano assegurou que vai completar a rede Hugo com dez hospitais de urgências em todas as regiões do Estado. Ele também disse que a saúde continuará com os hospitais sendo geridos por Organizações Sociais (OSs). Marconi ressaltou que também a educação vai ser inserida nesse conceito moderno de gestão. Ele não explicitou como isso será aplicado, mas disse que o objetivo é melhorar a qualidade do ensino para manter Goiás na primeira colocação do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica).

A área de segurança pública, que é um problema nacional agravado pela omissão do governo federal, vai continuar sendo prioridade no novo governo. Segundo Marconi, investimentos em inteligência policial, equipamentos novos e monitoramento por câmeras vão aumentar.

Se o que se anuncia envolve tecnologia, pode-se pensar: isso é coisa de técnico, então a nova equipe de Marconi será mais técnica que política. A questão não tem razão de ser para um experimentado auxiliar de Marconi, daqueles de primeira hora mesmo. Segundo ele, não se pode conceber uma equipe só técnica ou só política.

“Só o técnico não adianta, porque toda secretaria tem função política. O bom secretário se cerca de bons técnicos. É preciso mesclar as duas características. Por isso, acho que a equipe tem de ser até muito política, com pessoas que tenham visão de Estado, visão política mais ampla. Não tenho dúvida de que o governador vai pesar esse critério”, diz a fonte.

“Bom 2º mandato vai alavancar projeto nacional”

Marconi Perillo pode alçar voo nacional em 2018, a depender do sucesso do segundo mandato. A o­pinião encontra eco em todos os lí­deres da base aliada, mas é endossada até mesmo nas hostes oposicionistas — nesse caso, quando a conversa se dá em off, naturalmente.

Se não bastasse o extenso histórico de vitórias, a capacidade do tucano em vencer adversidades foi mais uma vez exercida a partir de 2011, quando foi alvo da CPMI da Delta. O presidente da Agetop, Jayme Rincón, tem uma expressão para definir essa virada: “Marconi saiu do fundo do poço para chegar ao cume do topo” [ver entrevista nesta edição].

Além dos problemas políticos com a CPMI, Marconi havia herdado um governo falido de Alcides Rodrigues, conseguiu sanear as contas do Estado, de forma a habilitar o Estado a obter recursos federais para realizar um impressionante rol de obras em todas as regiões goianas. Daí, a razão de ter chegado em 2014 em condições políticas para se reeleger, o que de fato aconteceu.

O ex-secretário de Saúde Antônio Faleiros não tem dúvida de que Marconi Perillo pode sim sonhar com uma candidatura à Presidência da República. Ele diz que essa condição já é real, mas será sobremaneira fortalecida com o sucesso da gestão que se inicia em 1º de janeiro. “Para isso, será importante um segundo mandato realizador, continuando e ampliando programas sociais e obras. E digo mais: quero ser um dos coordenadores da campanha de Marconi à Presidência, em 2018.”

Faleiros diz que o PSDB tem de colocar o nome de Marconi a nível nacional. “Marconi vai disputar com Lula. Entendo que não há ninguém que supere o currículo dele nos próximos anos, ou talvez nas próximas décadas, de ser governador eleito quatro vezes num Estado como Goiás, que tem um leitorado pequeno, mas é importante econômica e geopoliticamente. Marconi terá todas as condições de entrar nessa disputa nacional”, afirma o ex-secretário.