Por Ton Paulo
Nos meses em que as restrições impostas pela pandemia ficaram em maior evidência, a taxa de ocupação de hotéis no Estado ficou abaixo de 15%
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Medidas contra o coronavírus atingiram em cheio o segmento de hotéis do país inteiro | Foto: Reprodução[/caption]
Em épocas de crise, as fontes de lazer e entretenimento parecem ser as primeiras “cortadas na carne”. Com a pandemia do novo coronavírus, que já matou mais de 130 mil pessoas só no Brasil, não seria diferente. Desde março deste ano, quando um decreto estadual determinou a suspensão de atividades consideradas não essenciais em Goiás, mantendo apenas as declaradas de caráter básico como forma de conter a proliferação do Sars-CoV-2, pontos turísticos e demais locais normalmente badalados e atrativos para visitantes ficaram desertos.
As medidas, necessárias mas amargas, atingiram em cheio todos os segmentos ligados ao turismo, e mesmo após a flexibilização das restrições, em julho, os efeitos negativos ecoaram. O segmento hoteleiro, que depende diretamente do fluxo de visitantes e turistas para sobreviver, por exemplo, observou suas taxas de ocupação despencarem.
Segundo dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens Serviços e Turismo (CNC), desde o início da pandemia o turismo acumula perdas na ordem de R$ 121 bilhões e 97 milhões. Os hotéis são, de longe, alguns dos estabelecimentos mais afetados. Conforme estimativa da Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação (FBHA), mesmo com o fim da pandemia, ao menos 3 mil hotéis no Brasil podem não voltar a levantar suas portas.
A avaliação da entidade é a de que hotéis independentes em regiões de lazer ou cidades voltadas para o turismo, além de hospedagem urbanas, terão muitas dificuldades para se reerguer, mesmo após a pandemia.
Em Goiás, taxa de ocupação de hotéis chegou a ficar abaixo de 15%
Ao Jornal Opção, o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis em Goiás (Abih-GO), Fernando Carlos Pereira, desenhou o quadro preocupante do segmento hoteleiro no Estado. De acordo com o presidente, durante os meses em que as restrições provocadas pela pandemia ficaram mais em evidência, como maio, junho e julho, os estabelecimentos do tipo em Goiás chegaram a amargar com taxas de 12% de ocupação. Para se ter uma ideia da discrepância com anos padrões, a taxa de ocupação de hotéis em Goiânia, capital do Estado, em meados de julho de 2018 foi de 61%, conforme levantamento da Abih nacional. “Em janeiro teve um movimento bom, a gente estava muito otimista, o carnaval foi um momento bom. Mas no período da pandemia, a taxa de ocupação caiu demais. A média do semestre inteiro, contando de janeiro até agora, foi de 22%”, informou Pereira. [caption id="attachment_282552" align="alignnone" width="620"]
Fernando Carlos Pereira, presidente da Abih-GO | Foto: Reprodução/Internet[/caption]
Pereira, que é proprietário do Hotel Pousada Recanto do Pai, em Trindade, conta que os hotéis estão “segurando as pontas” para sobreviver, mas as dificuldades impostas pela pandemia fazem com que isso seja uma tarefa árdua. Até os meios de socorro, como a disponibilização pelo governo federal de linhas de crédito voltadas para empresas de turismo e hotelaria, tornam-se um desafio à parte.
Para o presidente da Abih-GO, “as linhas de crédito são muito difíceis de serem acessadas”. “A gente recebeu o anúncio do ministro Paulo Guedes das linhas crédito, via Banco do Brasil ou Caixa Econômica, dinheiro para ajudar o segmento turístico, mas essa linha de crédito é muito burocrática. A maioria dos empresários tem muita dificuldade de ter acesso”, desabafa.
Pereira estima que quatro hotéis em Goiânia e quatro em Trindade tenham baixado em definitivo suas portas. Entretanto, para o presidente da associação, a situação não está das mais amigáveis. “Aqueles que pagavam aluguel pelo imóvel estão fechando de vez. A situação para eles foi muito complicada. Outros estão fechados mas aguardando o momento certo de reabrir, com os contratos suspensos e férias dos colaboradores”, diz.
O proprietário do Hotel Pousada Recanto do Pai revela que tinha a intenção de reabrir seu estabelecimento em agosto. Contudo, os planos foram frustrados. Quanto às necessidades dos empresários que lutam para manter seus negócios dentro do segmento hoteleiro, Pereira garante que a Abih-GO está em contato os associados para orientá-los e “incentivá-los a buscar saídas tanto para as linhas de crédito quanto por buscas de parcerias”.
“Estamos conversando com a GoiásTurismo e demais instituições financeiras, e buscando o apoio de parceiros, negociando os EPIs para o segmento hoteleiro, porque temos que estar afinados com os protocolos de segurança contra o coronavírus”, conclui.
Crise afeta até os tradicionais
Os efeitos negativos gerados pela pandemia do novo coronavírus e, consequentemente, as medidas impostas para controla-lo não estão restritas aos micro e pequenos empresários do ramo de hotéis. Os grandes estabelecimentos, já consolidados no mercado, também padecem pela queda de faturamento. Com mais de 30 anos de existência, o Castro’s Park Hotel, localizado no Setor Oeste, na capital, tornou-se referência em hotelaria no Estado, mas com a pandemia, vive, provavelmente sua pior época. [caption id="attachment_282553" align="alignleft" width="300"]
Fachada do Castro´s Park Hotel, em Goiânia | Foto: Reprodução/Apontador[/caption]
Segundo o gerente comercial do Castro’s, Paulo Araújo, o declínio da taxa de ocupação do estabelecimento levou a uma demissão de metade do corpo de funcionários. “Antes da pandemia nós tínhamos cerca de 120 funcionários. Agora estamos com 70. Foi um corte que infelizmente tivemos que fazer”, afirma Araújo.
O gerente conta que, devido à pandemia, o hotel está com cerca 205 da taxa de ocupação mas que tenta se adequar para atravessar a crise gerada pelo Sars-CoV-2. “O hotel não recorreu às linhas de crédito porque contou com socorro dos investidores. Mas estamos frequentemente negociando com a Enel, Saneago para continuarmos funcionando bem”, afirma.
Com a aproximações do pleito que definirá os novos vereadores e prefeitos de Goiás, partidos deixam de lado rixas históricas para tentar uma caminhada conjunta
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Lívio Luciano, presidente do DEM em Goiânia | Foto: Divulgação[/caption]
Faltando menos de 3 meses para as eleições municipais, previstas para ocorrer em meados de novembro, os partidos políticos têm trabalhado incansavelmente nos bastidores para garantir a eleição exitosa de seus candidatos. Para isso, em Goiás, rezando na tradicional cartilha política, as legendas se movimentam para conseguir compor alianças com outras siglas com as quais têm afinidades e que poderão proporcionar, ao mesmo tempo, recursos políticos e financeiros para o pleito. Mas como águas passadas não movem moinhos, alguns partidos parecem estar dispostos a deixar de lado as convencionais rivalidades para viabilizar uma caminhada conjunta nas eleições.
É o caso de grupos como os do MDB, DEM e PSD. Rivais historicamente, tais legendas, movidas talvez pelas alterações na legislação eleitoral como a extinção da possibilidade de coligações proporcionais, os efeitos da pandemia e o cenário político atípico, têm abertos diálogos e podem, sim, compor alianças que, em outros tempos, seriam, no mínimo, inviáveis.
Em Goiás, o DEM de Ronaldo Caiado e o MDB de Iris Rezende, opositores tradicionais, trocam afagos já há algum tempo. No início de 2018, lideranças que integram uma ala do MDB chegaram a se reunir para explicitar seu apoio à candidatura de Caiado ao governo do Estado. O apoio, além de ter vingado, agora tem sua retribuição. Isso, porque desde o início do ano, mesmo com o prefeito Iris manifestando desinteresse em se candidatar à reeleição, o DEM fincou o pé e declarou total apoio ao emedebista octogenário.
Mesmo com o clamor do MDB e do DEM, Iris acabou cumprindo o que prometeu e anunciou, oficialmente, que não seria candidato e ainda que encerraria sua carreira política em janeiro de 2021. Para o emedebista Gustavo Mendanha, pré-candidato à reeleição de Aparecida de Goiânia, Iris agora ficará como um conselheiro político, “não só para o MDB, mas para qualquer político que queira aprender com sua experiência”.
“E agora, é evidente que talvez outras pessoas que estão no MDB vão ter oportunidade de aparecer um pouco mais”, afirmou o gestor de Aparecida, que adiantou que espera contar com o apoio de cerca de 15 partidos para sua reeleição.
Saída de Iris abala interlocuções
Um nome que se enquadra na fala de Mendanha é o do ex-deputado federal e ex-governador Maguito Vilela que, com a saída de Iris da disputa, vira a figura do MDB para brigar pela cadeira no Paço Municipal. Porém, se com o Iris o DEM tinha o fervor da empolgação, com Maguito o cenário parece ser diferente. Presidente do DEM em Goiânia, Lívio Luciano não demonstra entusiasmo, agora, com uma aliança como o MDB. Ao Jornal Opção, o presidente afirmou que “a interlocução natural seria com o Iris”, e como o prefeito não “manifestou nada até agora, então, a articulação [com o MDB] não tem evoluído”. [caption id="attachment_281039" align="alignnone" width="620"]
Lívio Luciano sinaliza que DEM está mais próximo do PSD do que do MDB | Foto: Reprodução[/caption]
Ainda segundo Lívio, a aposentadoria de Iris Rezende, que deve ocorrer com o fim do atual mandato, fez com que o DEM reavaliasse suas estratégias e, agora, uma candidatura própria passa a ser uma possibilidade. Contudo, a questão ainda é alvo de análise. “A gente tendo uma candidatura própria, vamos fincar bandeiras, ter o nome do partido colocado no debate. Só que tem o efeito colateral, porque quando você faz uma coligação, dá um apoio a um candidato para a contrapartida vir, você está agregando forças politicas a um projeto político futuro”, avalia.
Se com o MDB as coisas andam “frias”, com o PSD de Vanderlan, elas podem estar esquentando. Recentemente, Lívio Luciano confirmou ao Jornal Opção que tem mantido um diálogo com o partido, que, também, já teve suas oposições notáveis ao DEM. “Tem uma linha interlocutora nesta direção. Está evoluindo”, disse.
Porém, o presidente do DEM na capital não fecha questão. “Não é que a gente prefira A, B ou C. Não é que a gente prefere Vanderlan, Ou Maguito. Na verdade, qualquer uma das duas forças políticas que vieram, vão agregar o projeto político. Agora, tem que ter uma conversação, até pra firmar esse compromisso pra frente”, conta.
“Vai depender muito da devolução das conversações pra gente poder ver o que seria melhor: estar apoiando um candidato de outro partido, ou de ter o nosso”, arremata.
PSL pode se aliar a opositores históricos
O PSL se autointitula um “partido independente”, segundo o próprio pré-candidato da sigla ao Paço Municipal, Major Araújo. O deputado estadual conta que é o nome definido para ser homologado candidato em 13 de setembro, na convenção partidária, e avalia que, por conta de sua postura, o PSL pode ter algumas situações emblemáticas na hora de compor alianças. “Tem gente que chama o PSL de um partido radical por causa das bandeiras que ele defende, e isso dificulta alianças. Para completar, eu, particularmente, como pré-candidato que será homologado no dia 13, não concordo com o toma-lá-dá-cá que rola nessas alianças que são feitas. Ninguém vem de graça”, declarou. [caption id="attachment_281040" align="alignright" width="384"]
Major Araújo, pré-candidato à Prefeitura de Goiânia | Foto: Divulgação[/caption]
Araújo, que adiantou ao Jornal Opção que terá uma empresária filiada ao PSL como vice, disse que prefere que o partido caminhe sozinho a se envolver em barganhas. “Basta olhar os candidatos que conseguem realizar uma aliança ampla. Rola caixa 2, dá dinheiro por fora [...]. Não tenho problema nenhum com aliança, mas nesse caso, se for dessa forma convencional, é muito melhor caminhar com as próprias pernas”, conclui.
O presidente do PSL em Goiás, deputado federal Delegado Waldir, corrobora os argumentos do Major Araújo quanto ao repúdio de alianças baseadas em troca de recursos financeiros. Todavia, Waldir sinaliza estar mais aberto ao diálogo para a composição de alianças e pode, inclusive, estar disponível para rivais ferrenhos a nível nacional como o Partido dos Trabalhadores (PT).
“O PSL não vai comprar nenhum apoio. As parcerias que vamos fazer é para ganhar a eleição e não existe essa troca. O que pode existir é a troca de apoio político. Temos diversas parcerias formadas. Temos com o MDB, com PSB, com o PP. Podemos até ter parcerias com o PT”, afirmou.
Segundo o presidente do PSL no Estado, não existe “essa dificuldade nesse momento” para formar alianças com partidos rivais. Para Waldir, o objetivo é marcar a presença da legenda nestas eleições.
“O importante é a democracia. Hoje o ritmo do PSL é fazer as mudanças nos municípios e buscas as melhores propostas. O PSL não tem condições de estar em todos os municípios. É necessário ter essas parcerias em todos os locais”, finaliza.
A pré-candidata petista em Goiânia, deputada estadual Delegada Adriana Accorsi, afirmou que uma resolução do partido dita que alianças políticas no 1º turno somente podem ser feitas com legendas do campo progressista, o que, segundo a parlamentar, não seria o caso do PSL.
Contudo, Accorsi declarou que o PT está aberto ao diálogo e que conversará com qualquer partido que o procurar. "Estamos realizando alguns diálogos e há uma conversa mais adiantada com o PCdoB. Mas estamos abertos para conversar. No 2º turno, essas alianças podem se expandir", pondera.
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Com a impossibilidade de reeleição do atual prefeito de Águas Lindas, Hildo Candango, do PTB, o caminho fica aberto para outros nomes
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Sargento Godoy | Foto: Divulgação[/caption]
Membro da Polícia Militar de Goiás, o Sargento Godoy é pré-candidato confirmado à Prefeitura de Águas Lindas de Goiás, no Entorno do Distrito Federal. O militar, que alega representar a figura popular, deve concorrer pelo partido do governador Caiado, o DEM.
Com a impossibilidade de reeleição do atual prefeito de Águas Lindas, Hildo Candango, do PTB, o caminho fica aberto para outros nomes. Godoy, morador do município há cerca de 20 anos, defende seu legado na polícia e afirma representar a renovação e a postura popular.
De acordo com o pré-candidato, existe uma necessidade de evolução em Águas Lindas. “Precisamos renovar, agora é a vez do povo chegar ao poder. Acredito que por ser morador da cidade, conheço bem a realidade vivida pela nossa população", disse.
"Águas Lindas precisa evoluir, precisa de um representante que realmente entenda e mais que isso, vivencie o dia a dia da cidade”, completou o sargento.
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Profissionais da comunicação têm enfrentado uma onda de violência e perseguição talvez nunca antes vista no Brasil desde que o país foi redemocratizado
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Bolsonaro dá "banana" para jornalistas na saída do Palácio da Alvorada | Foto: Reprodução/YouTube[/caption]
“Por que o Queiroz depositou R$ 89 mil na conta da Michelle?”. Essa pergunta foi repetida por nada menos do que 89 vezes seguidas na coluna de Renato Terra, publicada no dia 26 na Folha de São Paulo. Terra não foi o único. O questionamento também foi destaque nos jornais O Globo, Extra, Estadão, UOL, BBC e diversos outros veículos de comunicação nacionais e até internacionais, como Reuters, CNN, Time e The Guardian.
Os internautas também aderiram. No dia 23, a pergunta que faz referência a depósitos feitos por Fabrício Queiroz e sua esposa, Márcia Oliveira, na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro chegou ao trending topics do Twitter, após ser compartilhada milhares de vezes na rede social.
O efeito dominó do questionamento a respeito dos tais depósitos na conta bancária de Michelle começou depois que o presidente da República, Jair Bolsonaro, disse a um repórter do O Globo que tinha vontade de encher a boca dele de porrada quando o profissional de imprensa fez a pergunta. Não parou por aí. Alguns dias depois de ameaçar o repórter, o presidente chamou outro jornalista de "otário" quando o comunicador fez exatamente a mesma indagação - ainda sem resposta por parte de Bolsonaro.
A pergunta parece realmente incomodar o presidente do Brasil e sua reação é justamente o reflexo do turbilhão de ataques que a imprensa tem sofrido nos últimos tempos. O Art. 220 da Constituição Federal de 1988, prega que "manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo, não sofrerão qualquer restrição". Entretanto, profissionais da comunicação têm enfrentado uma onda violência e perseguição talvez nunca antes vista no Brasil desde que o país foi redemocratizado.
Segundo dados da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), que realiza o monitoramento e análise dos casos de agressões contra jornalistas, o Brasil registrou, em 2019, 208 ataques a veículos de comunicação e jornalistas, um aumento de 54% em relação a 2018. Do total, 114 casos foram de descredibilização da imprensa e 94 de agressões diretas a profissionais.
Além dos ataques, a entidade registrou, ainda em 2019, 2 assassinatos, 28 casos de ameaça e intimidação, 15 agressões físicas, 10 casos de censura ou impedimento do exercício profissional, 5 ocorrências de cerceamento à liberdade de imprensa por ações judiciais, 2 casos de injúria racial e 2 ações de violência contra a organização sindical da categoria.
A Fenaj aponta que os jornalistas do segmento de televisão são os mais agredidos. Em 2019, 35 jornalistas de TV foram vítimas de agressão direta, seguidos dos jornalistas de jornais: 33 profissionais agredidos. Em terceiro lugar estão os jornalistas de mídia digital (portais, sites e blogs) com 23 casos de agressão registrados em 2019.
Para presidente da Fenaj, há institucionalização da violência contra comunicadores
O relatório da Fenaj de 2019 foi o primeiro em que a entidade contabilizou as tentativas de descredibilização da imprensa. Em 2019, a modalidade tornou-se a principal forma de ameaça à liberdade de imprensa no Brasil e foi incluída no relatório diante da institucionalização da prática por meio das falas e discursos do presidente da República. Para ser ter uma ideia, a Fenaj apontou, em outro relatório, que, no primeiro semestre de 2020, Bolsonaro protagonizou, sozinho, 245 ataques contra a imprensa. Foram 211 casos de descredibilização da imprensa, 32 ataques pessoais a jornalistas e 2 ataques contra a Fenaj. A Presidente nacional da Fenaj, a goiana Maria José Braga, garante que a entidade tem monitorado o aumento da violência contra jornalistas e que esse aumento “se deu, principalmente, pela atuação do presidente Jair Bolsonaro”. “O presidente foi responsável, sozinho, por cerca de 54% dos ataques a jornalistas ou a veículos de comunicação. Temos o relatório que descreve cada caso pontualmente, para que ninguém duvide dos nossos números”, revela. [caption id="attachment_278588" align="alignright" width="386"]
Maria José Braga, presidente da Fenaj | Foto: Reprodução/Fenaj[/caption]
Para a presidente, há uma “institucionalização” da violência contra jornalistas e dos ataques à liberdade de imprensa no Brasil por meio da presidência da República. A jornalista manifestou preocupação com os números e reiterou a necessidade de uma resposta da sociedade e das instituições democráticas a esse fenômeno.
A Fenaj é responsável por um considerável número de pedidos de impeachment protocolados contra o presidente Jair Bolsonaro. Segundo Maria José, a entidade também age na Justiça para garantir a integridade dos jornalistas. “A Federação Nacional dos Jornalistas já entrou com uma ação judicial pedindo ao gabinete de segurança institucional que garanta a segurança dos jornalistas que cobrem o presidente da republica. Infelizmente essa ação está no trâmite moroso da justiça federal”, conclui.
Na região Centro-Oeste
A violência contra jornalistas não está restrita apenas às grandes metrópoles do Sudeste (que representa a maioria dos casos de agressões. Conforme a Fenaj, a região Centro-Oeste passou à condição de segunda mais violenta para o exercício da profissão de jornalista, lugar que nunca havia ocupado, desde o início da série histórica dos Relatórios. O maior número de agressões foi no Distrito Federal, que também passou ao posto de segundo estado mais violento, ultrapassando o Rio de Janeiro, que mantinha a posição nos últimos anos. Foram 13 casos (13,83%) de violência no DF. Em Mato Grosso, houve quatro casos e, em Mato Grosso do Sul, um. Segundo o presidente do Sindicato dos Jornalistas de Goiás (Sindjor Goiás), Cláudio Curado, não é raro o sindicato ter que intervir em casos de ataques contra profissionais de comunicação no Estado e cita como exemplo uma situação recente, ocorrida no município de Niquelândia. De acordo com Curado, um jornalista de Niquelândia, que mantém um portal de notícias da região, publicou uma matéria sobre um vereador, que não gostou nada do conteúdo. O parlamentar, então, teria mandado áudios com ameaças para o jornalista, que recorreu à ajuda do sindicato. “Fizemos contato com a Secretaria de Segurança Pública e orientei [o jornalista] a fazer um BO. O secretário de segurança pública de Goiânia ligou na delegacia pedindo providências”, detalha Curado. O caso agora corre na Justiça.Ascensão de onda conservadora no Brasil evidenciou ataques a jornalistas, diz professor doutor
Doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (USP) e pós-doutor em Epistemologia da Comunicação pela Unisinos, o professor da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás), Luiz Signates, acredita que o crescimento da violência contra jornalistas pode estar diretamente relacionado com a “ascensão ao poder de Jair Bolsonaro, ampliando espaço e legitimidade para grupos extremistas de direita, de perfil autoritário e antidemocrático, para quem uma imprensa livre e crítica sempre constituiu uma ameaça”. Para Signates, o aumento do compartilhamento das chamadas fake News também foi decisivo para a existência desse fenômeno social. O professor explica que as fake News “não se limitaram às disputas de campanha, mas prosseguiram como parte da política de comunicação do próprio governo”. “Essa institucionalização de uma relação autoritária e conflitiva com a imprensa tende a criar um clima de quase legitimação da violência contra jornalistas”, esclarece. [caption id="attachment_278589" align="alignleft" width="349"]
Professor doutor Luiz Signates | Foto: Divulgação/UFG[/caption]
Signates, que também é o nome à frente do Instituto Signates de Consultoria e Pesquisa, relata que tal aversão à imprensa não é uma novidade, mas era inibida pela ordem vigente. De acordo com o professor, a ascensão do conservadorismo no Brasil apenas provocou uma evidenciação dessa violência contra os profissionais da comunicação.
“O Brasil é um país profundamente desigual, injusto e violento, e a crise econômica tende a tornar agudas essas características. A emergência de uma onda conservadora na política, tomando conta das instituições, apenas, a meu ver, faz com que tais manifestações se vejam no direito de se tornarem explícitas, como se fossem legítimas”, conta.
Signates também diz que é preciso existir organização por parte da classe jornalística para que haja um comprometimento com “mais vigor” da classe política com a ordem democrática. Para ele, a classe jornalística sempre foi uma das mais "desorganizadas e desunidas do país". “É lamentável, pois, que essa violência aumente nessa proporção e absolutamente nada aconteça, para que esses profissionais sejam protegidos e se garanta o exercício legítimo de sua profissão, tão relevante para a condição democrática”, finaliza.
O evento marcou a inauguração da usina de energia fotovoltaica do Grupo Di Roma, de propriedade da deputada federal Magda Mofatto
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Bolsonaro, Caiado e outras autoridades antes do evento em Caldas Novas Foto: Governo de Goiás[/caption]
O presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), esteve presente na manhã deste sábado, 29, juntamente com o governador Ronaldo Caiado, na solenidade de inauguração da usina de energia fotovoltaica do Grupo Di Roma, complexo turístico em Caldas Novas. Bolsonaro aproveitou a ocasião para voltar a defender o uso da hidroxicloroquina como tratamento para a Covid-19, assim como o uso do nióbio para a produção de "super baterias".
Além de Bolsonaro e Caiado, estiveram presentes também o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, o General Heleno, o deputado federal Major Vitor Hugo (PSL), a deputada federal e proprietária do Grupo Di Roma, Magda Mofatto (PL), o diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Efrain Pereira da Cruz, além de representantes do Executivo e Legislativo de Caldas Novas.
Em sua fala, Ronaldo Caiado elogiou Bolsonaro e se referiu a ele como o "presidente que mais investiu em Goiás" até o momento, citando obras e projetos já entregues ou previstos pelo governo federal, como a Ferrovia Norte-Sul, a internacionalização do Aeroporto de Goiânia e o Centro de Excelência de Tecnologia Ferroviária, que deve ser sediado em Anápolis
"Com isso, vossa excelência alavancará um dos setores mais promissores diante da nova opção de vossa excelência no novo modal, que é a ferrovia que estava parada no Brasil até vossa excelência assumir o governo", disse o governador.
Hidroxicloroquina e nióbio
Bolsonaro agradeceu o apoio de Caiado e comemorou a entrega da usina fotovoltaica em Caldas Novas. O presidente também voltou a defender o uso da hidroxicloroquina e disse que, após conversas com a pessoas do Food and Drug Administration (FDA), referida por Bolsonaro como a "Anvisa americana", e embaixadores de outros países, concluiu que a substância poderia sim ser recomendada por médicos contra o coronavírus. Diante da ausência de estudos que comprovam a eficácia de hidroxicloroquina, o presidente citou um caso que, segundo ele, aconteceu durante a Guerra do Pacífico, em que um soldado foi submetido a uma transfusão de água de coco. "O soldado voltava da frente de batalha ferido, não tinha como conseguir uma transfusão. Até que alguém teve a ideia de injetar na veia dele, Caiado, água de coco e deu certo. Então a hidroxicloroquina é uma realidade", afirmou Bolsonaro. [caption id="attachment_279024" align="alignnone" width="544"]
Bolsonaro falou em evento em Caldas Novas | Foto: Reprodução/Youtube[/caption]
O presidente também ressuscitou a defesa do uso do nióbio para produções industriais e defendeu que o elemento é analisado para a produção de uma "super bateria". "O nióbio está em fase final de estudos em alguns países, juntamente com o grafeno, onde teremos a super bateria. Em primeira fase, ela poderá ser recarregada em poucos minutos", declarou.
Usina fotovoltaica
Construída em perímetro urbano, a usina inaugurada hoje foi idealizada pela deputada federal e proprietária do Grupo Di Roma, Magda Mofatto, e ocupa um espaço físico de 75 mil metros quadrados e possui 16.578 módulos fotovoltaicos. Segundo o grupo, a usina possui uma potência de 5,6 milhões de Watt-pico (Wp), montante capaz de iluminar 4.256 casas, ao considerar um consumo médio padrão de 157 de quilowatt-hora (kWh). O investimento vai viabilizar a garantia de energia limpa e sustentável para o complexo turístico. Segundo o grupo, o excedente elétrico será ofertado à cidade de Caldas Novas. s
A pesquisa pretende promover a avaliação da possibilidade de a utilização bem-sucedida do medicamento experimental poder reduzir as complicações da doença
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Testes serão realizados pela empresa alemã Merck | Foto: Reprodução[/caption]
A agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou o início de testes clínicos para o uso de uma molécula específica para tratamento de pacientes que tenham contraído pneumonia através da infecção da Covid-19, doença causada pelo coronavírus.
A autorização dos testes clínico com a molécula foi publicada no último dia 21 e tem validade até o próximo dia 13 de novembro.
Conforme informações da Agência Brasil, a pesquisa será desenvolvida pela Merck, empresa alemã da indústria química e farmacêutica fundada em 1668 com sede em Darmstadt. Segundo a empresa, o objetivo do estudo é investigar se a utilização da M5049 pode impedir ou melhorar a resposta inflamatória em pacientes, infectados com a covid-19, com pneumonia e barrar a progressão para um quadro mais grave.
Objetivo dos testes
Ainda de acordo com a Merck, a pesquisa pretende promover a avaliação da possibilidade de a utilização bem-sucedida do medicamento experimental poder reduzir as complicações da Covid-19 como sintomas respiratórios graves que geralmente precisam de ventilação mecânica. A princípio, a M5049 será investigada em um estudo controlado por placebo, nos Estados Unidos e no Brasil. Segundo a Merck, além do tratamento padrão, que pode incluir tratamentos antivirais, os indivíduos receberão uma das duas doses de M5049 ou placebo. A empresa destacou que o objetivo é comparar a M5049 ao placebo com base nos resultados do paciente.
Moradora de Goianápolis, Priscilla Neiva de Maria chegou a hospedar Sara Winter em sua casa
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Sara Winter, militante extremista bolsonarista do movimento 300 do Brasil | Foto: Reprodução[/caption]
De ativista extremista contra o patriarcado a convertida ao catolicismo e antiaborto, Sara Giromini, ou Sara Winter, como é conhecida, é uma figura controversa. A militante de extrema-direita é a principal porta-voz do grupo bolsonarista “300 do Brasil” e tem um histórico de polêmicas e problemas com a Justiça.
Na última semana, o Ministério Público do Espírito Santo (MP-ES) acionou a Justiça contra Sara e pediu a condenação da extremista por divulgar na internet os dados pessoais de uma criança de 10 anos que engravidou após passar 4 anos sendo estuprada pelo próprio tio. Caso seja condenada, Sara terá de pagar o valor equivalente a R$ 1,3 milhão por danos morais ao Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente da cidade de São Mateus, no Espírito Santo.
O ato da moça, que já pertenceu a grupos radicais como o Femen, também gerou revolta entre internautas, que a acusaram de expor uma criança que já havia passado por grande sofrimento. O caso ganhou repercussão devido às circunstâncias lamentáveis. Após anos de abuso sexual por parte do tio, a menina obteve autorização da Justiça para interromper a gestação fruto do estupro, o que é previsto em lei.
Ao divulgar o hospital onde a criança estava, Sara Winter tinha como intenção inflar manifestantes contrários ao aborto e impedir a concretização do procedimento. A tática acabou não funcionando e Sara se viu em maus lençóis.
Entretanto, enquanto para alguns as atitudes de Sara chegaram ao ponto da crueldade para com a criança de 10 anos, para amigos próximos da extremista sua intenção era a melhor possível e o objetivo era um só: salvar vidas.
A amiga goiana de Sara
Natural de Goiânia, mas moradora há dois anos do município de Goianápolis, a 40 quilômetros da capital do Estado, a jornalista Priscilla Neiva de Maria é dona de uma marca de roupas homônima enquadrada no gênero ‘moda cristã’. Católica praticante, foi graças às peças de roupas de estilo clássico e a fé cristã que Priscilla e Sara acabaram estabelecendo um relação de negócios e amizade íntima. Ao Jornal Opção, Priscilla revela que parou de confeccionar roupas desde maio do ano passado. Porém, muitas de suas peças exclusivas eram frequentemente usadas por Sara. A jornalista conta que tudo começou quando, no início de 2018, decidiu tentar um contato com a militante para entrevistá-la sobre questões do feminismo, movimento alvo de extrema oposição por parte de Sara. “Ela ainda morava no Rio de Janeiro e eu entrei em contato como o primo dela, pedindo uma entrevista sobre o feminismo. A sara conheceu as minhas roupas e ficou bastante encantada. Mandei algumas peças de roupa pra ela e ela fez um evento só para mulheres no Rio, usando um dos meus vestidos. Aí começou a amizade”, recorda. [caption id="attachment_277316" align="alignleft" width="364"]
Uma pessoa simples, gente como a gente, diz Priscilla sobre a amiga Sara | Foto: Arquivo pessoal[/caption]
Priscilla relata que os ideais conservadores, como a oposição ao aborto, e a religião em comum fizeram com que o laço de amizade entre elas se fortalecesse com o passar do tempo. Em fevereiro de 2019, a jornalista e estilista conta que Sara, que já morava em Brasília, a visitou em sua casa, passando um fim de semana inteiro. Para Priscilla, o que mais chamou a atenção na amiga foi o que ela chama de simplicidade, e defende: “O que falam da Sara não é verdade”.
“Ela é gente como a gente. Uma pessoa muito simples. Quando ela veio aqui em casa, foi um padre que a buscou em Brasília. Ela já trabalhava junto com a [ministra] Damares. Sara entrou na minha casa e a primeira coisa que ela fez foi sentar no chão. Lembro que ela ficava fazendo ligações e convencendo mulheres a não fazer aborto. Ela insistia, falava ‘Não faz, por favor! Fulano vai te procurar aí!’. O que passam da Sara não é verdade. Ela é bastante inteligente, estudada e dedicada”, revela.
Enrolada na Justiça
Priscilla e Sara costumavam se falar com frequência, mas os problemas da extremista com a Justiça acabaram por afastá-las. Em junho deste ano, a Procuradoria da república no Distrito Federal denunciou Sara sob a acusação de injúria e ameaça, crimes que ela teria cometido contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Sara chegou a ser presa por ordem do ministro, decisão essa que foi tomada no âmbito de um inquérito que investiga atos antidemocráticos promovidos, segundo a investigação, com apoio de políticos. Sara também teve suas contas em redes sociais suspensas após determinação de Alexandre de Moraes "para a interrupção dos discursos com conteúdo de ódio, subversão da ordem e incentivo à quebra da normalidade institucional e democrática". Em agosto, as redes sociais voltaram a ser derrubas, dessa vez pelas próprias empresas, após Sara divulgar os dados da menina estuprada. Os imbróglios com a Justiça, que levaram Sara a ter sua comunicação reduzida, acabaram respingando na relação dela com Priscilla. A goiana conta que não fala com Sara desde o início da pandemia do novo coronavírus. Mesmo assim, Priscilla defende a amiga. Para a jornalista, Sara não teve intenções ruins ao divulgar o nome da criança, que, segundo alegado por ela e pela própria Sara, já circulava no Twitter. “Como eu conheci a Sara pessoalmente, por tudo que conversamos, eu sei muito da questão do empenho da missão dela, até pelo histórico de vida. Ela é uma pessoa que ajuda inúmeros casos pró-vida, muitos mesmo. Ela é militante pró-vida, contra o aborto”, diz. “A questão da polêmica do vídeo [em que Sara expõe a criança de 10 anos], eu vi muita gente falando que ela divulgou o nome da criança e o hospital. Realmente, mas ela tem contato com o Brasil inteiro e a missão dela é pró-vida. O que ela esclareceu é que todo mundo já estava vinculando isso no Twitter então eu não acredito que a sara fez isso por maldade ou por querer aparecer”, defende.
O sistema de colaboração é amplamente usado pelo MPF. Mas até onde vão seu risco e eficácia?
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Procurador da República em Goiás, Helio Telho esclarece questão das delações | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção[/caption]
Em relatório assinado no dia 11 de agosto e que veio a público no dia 16, a Polícia Federal (PF) concluiu que trecho da delação premiada do ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci, fechada em 2018 em ação contra Lula, não tem comprovação fática. Conforme o delegado federal Marcelo Daher, no relatório da PF, os "fatos delatados por Palocci foram desmentidos por todas as testemunhas, declarantes e por outros colaboradores da Justiça”.
Antes disso, no início do mês, a 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) também anulou acusações produzidas em conjunto por Palocci e pelo ex-juiz Sergio Moro às vésperas da eleição presidencial de 2018, em ação penal contra Lula. Segundo o ministro Ricardo Lewandowski, "a juntada, de ofício, após o encerramento da fase instrução, com o intuito de gerar, ao que tudo indica, um fato político, revela-se em descompasso com o ordenamento constitucional vigente".
Os acontecimentos envolvendo delações do ex-ministro Palocci trouxeram novamente para o centro dos debates o velho questionamento que nasceu junto com a Lava Jato: até que ponto delações premiadas devem ser usadas e creditadas? Até que ponto elas são úteis para verificar corretamente o dolo, ou não, dos investigados numa operação?
Para o procurador da República e representante do Ministério Público Federal (MPF) em Goiás, Helio Telho, aquilo que ele chama de colaboração é, na verdade, uma moeda de duas facetas. O procurador explica que quando um investigado decide delatar, sua cooperação vira um instrumento de acusação, do ponto de vista de quem é delatado, ou uma tática da defesa, do ponto de vista do delator. Porém, pode ajudar nem um e nem outro.
Tudo depende da situação do acusado e do material coletado pela investigação. “O advogado vai avaliar a situação jurídica do cliente e analisar as opções de defesa. Se ele tiver uma opção que não seja a colaboração que possa trazer uma maior vantagem para o cliente dele, ele vai aconselhar o cliente a não colaborar”, esclarece Telho.
Entretanto, mesmo que o investigado manifeste desejo de colaborar, ele pode não obter sucesso. O procurador relata que se o acordo proposto pelo investigado beneficia apenas o seu lado, oferecendo ao MPF informações já apuradas ou sem base fática, o próprio órgão pode recusar a proposta. “Às vezes, a defesa apresenta uma proposta de acordo que para a acusação não é interessante, porque aquilo que a defesa está oferecendo em termos de colaboração, de informação, de prova, a acusação tem outros meios de conseguir, ou a acusação já conseguiu, ou são coisas que não têm relevância quando comparado com o papel do investigado na organização criminosa”, diz.
Comprovação de informações
Se para comprovar o crime do acusado bastasse a simples palavra, meio mundo de processos já estariam finalizados. Todavia, para se apontar a culpa de alguém, deve-se apresentar provas e esse princípio jurídico também se aplica às colaborações feitas por investigados pelo MPF. Conforme o procurador Helio Telho, sob a ótica da investigação, a colaboração tem por objetivo obter informações e provas que, se não fosse pela colaboração, “ou não se conseguiria ou seria muito difícil, custoso e demorado para se conseguir”. Porém, Telho explica que a palavra do delator só tem validade caso ele apresente, junto aos fatos relatados, evidências que confirmem tudo o que contou aos procuradores. Caso contrário, a simples “boa fé” do colaborador não tem serventia alguma. “O colaborador não é aquele criminoso que se arrependeu de ter cometido o crime. Pode até acontecer isso, mas, via de regra, não é isso que acontece. Ele colabora porque é melhor pra ele”, conta Telho. [caption id="attachment_277106" align="alignnone" width="620"]
Delações devem vir acompanhadas de evidências, diz procurador | Foto: Reprodução[/caption]
“A lei brasileira condiciona que o colaborador só vai receber os benefícios se aquilo que ele está afirmando for corroborado por outras provas. Não basta a palavra, é preciso que haja provas de corroboração. Muitas das vezes o colaborador tem essas provas. Ele pode ter conversas de Whatsapp, tem e-mails, extratos de conta bancária, recibo de depósito, passagens aéreas. E às vezes ele não tem a prova, mas ele sabe onde a prova está e tem condição de indicar”, explica o procurador.
Caso os fatos informados sejam corroborados pelas evidências apresentadas pelo delator, os “prêmios” podem ser muitos. De acordo com Telho, um acordo bem-sucedido dá ao investigado a possibilidade de receber o perdão judicial ou até mesmo não ser denunciado no inquérito. Além disso, o delator pode receber outros benefícios que não o livram da pena, mas pelo menos a suavizam. “Por exemplo, ele pode ter a pena reduzida em até dois terços. Pode ter pena privativa de liberdade substituída por restritiva, em que ele vai cumprir uma pena que não é necessariamente um regime fechado no presidio. Ele pode cumprir a pena em regime domiciliar, prestando serviços à comunidade”, esclarece.
Contudo, caso se comprove que o delator mentiu, sua situação pode ficar ainda mais complicada. “Se ele revela fatos que não têm comprovação, ou que ao final se comprove que eram falsos, além de não receber os benefícios, ele vai responder por crime de denunciação caluniosa”, conta Telho.
O que aconteceu no caso Palocci
Se o MPF cobra evidências das colaborações oferecidas ao órgão por investigados, então como Palocci conseguiu que informações falsas fornecidas por ele fossem homologadas no processo contra Lula? A delação de Palocci foi fechada em 2018 pela própria PF e tem 34 anexos. Nesse anexo que levou a uma investigação aberta em São Paulo, o ex-ministro relatou que André Esteves movimentou no banco BTG, em nome de terceiros, valores recebidos por Lula em crimes de corrupção e caixa 2. Em contrapartida, Esteves teria recebido informações privilegiadas do governo sobre a mudança da taxa Selic, que permitiu que ele tivesse lucro e que usasse parte desses recursos para fazer doações para a campanha do PT em 2014. Porém, o delegado da PF, Marcelo Daher, após investigação, acabou constatando que os fatos narrados Palocci parecem ter sido tirados de "pesquisas na internet" e "notícias dos jornais", sem que sejam apresentadas provas que sustentem a continuidade da investigação. [caption id="attachment_277108" align="alignleft" width="300"]
Antônio Palocci | Foto: Reuters[/caption]
O procurador Helio telho revela que o MPF já sabia que a delação de Palocci era uma furada. Conforme Telho, em 2018 a defesa do Palocci procurou o MPF e ofereceu colaboração em troca de benefícios, apresentando um relato de fatos que ela pretendia incluir no objeto do acordo de colaboração e informando quais as provas que teria a respeito dos fatos.
Porém, Telho conta que o MPF analisou a proposta da defesa do Palocci e as provas que ele disse que tinha, comparou com as provas que já estavam em poder do MPF e as investigações que já tinham sido realizadas até então, e chegou à conclusão que o que o Palocci estava oferecendo não valia um acordo. “O Palocci ou estava falando sobre fatos que já eram de conhecimento do MPF e já estavam investigados e comprovados, ou estava falando sobre fatos que ele não tinha como comprovar. Então o MPF recusou e não fez acordo”, recorda.
Ao ter a possibilidade de colaboração negada pelo MPF, a defesa de Palocci, então, recorreu à Polícia Federal. Em 2018, o STF decidiu que a PF pode negociar e celebrar acordos de delação premiada mesmo sem anuência do Ministério Público. Para a maioria dos ministros, a autorização não fere a Constituição nem prejudica o poder do MPF.
Telho conta que a Justiça chegou a pedir a manifestação do MPF sobre a possibilidade da PF fechar acordo com a PF. A resposta foi categórica. “Nós [do MPF] dissemos que éramos contra. Pedimos pra que não se homologasse o acordo, porque ele não acrescentava em nada, não era útil”, afirma o procurador. Mesmo assim, a PF acatou as informações fornecidas por Palocci e selou o acordo de delação.
O procurador acredita que a PF somente aceitou a proposta da defesa de Palocci por causa da discussão da possibilidade do órgão de ter poder fechar acordos com investigados sem o crivo do Ministério Público. “E essa possibilidade legal estava sendo questionada pelo MP, pela PGR, dizendo que era inconstitucional e que so o MP podia fazer acordo, e a pf queria ter essa possibilidade de fazer acordo, então ela fez. Não porque isso iria trazer fatos novos e trazer novas punições, mas porque isso iria reafirmar a possibilidade legal” da PF, arremata.
Aras é visto como uma "incógnita" até mesmo pelos procuradores mais experientes
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Augusto Aras, procurador-geral da República| Foto: Reuters[/caption]
Segundo o artigo 6º do Decreto-Lei nº 9.608 de Agosto de 1946, o procurador-geral da República funciona perante o Supremo Tribunal Federal (STF) como chefe do Ministério Público Federal (MPF), além de representar os interesses da União e fiscalizar "a execução e o cumprimento da lei em todos os processos sujeitos a seu exame". Trocando em miúdos, é dever do cargo acompanhar e fiscalizar os procedimentos executados pelo MPF, em perfeita consonância.
Entretanto, desde que o jurista Antônio Augusto Brandão de Aras, ou simplesmente Augusto Aras, assumiu a Procuradoria-Geral da República (PGR) no lugar de Raquel Dodge, o clima tem sido estranho entre ele e procuradores do MPF, sobretudo aqueles que integram a famosa força-tarefa Lava Jato em Curitiba, berço da operação.
No ano passado, após alguns meses de negociação, o presidente Jair Bolsonaro decidiu ignorar a lista tríplice divulgada por eleição interna na Associação Nacional de Procuradores da República (ANPR) e escolheu Aras como o novo PGR. Quanto ao currículo, não há dúvidas: Aras tem qualificação para dar e vender. O PGR é bacharel em Direito pela Universidade Católica de Salvador, mestre em Direito Econômico pela Universidade Federal da Bahia e doutor em Direito Constitucional pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Aras Ingressou na carreira do Ministério Público Federal em 1987, foi procurador regional eleitoral, atuou na Câmara de Direitos Sociais e Fiscalização de Atos Administrativos em Geral, Câmara Criminal e Câmara do Consumidor e Ordem Econômica, sendo ainda representante do MPF no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), entre 2008 e 2010.
Prêmios também não lhe faltam. O PGR recebeu demonstrações de reconhecimento de sua atuação por meio de moções, medalhas e diplomas de Mérito nas áreas de Direito Eleitoral, Direito Econômico e Direito Coletivo, em distintos Tribunais do País e de placas comemorativas em reconhecimento aos serviços prestados ao MPF e à sociedade.
Entretanto, desde que assumiu a procuradoria-geral da República, Augusto Aras parece não se importar em emitir posicionamentos considerados, no mínimo, controversos. Quando sua nomeação foi aprovada pelo Senado, em setembro de 2019, Aras, que já se referiu à Ditadura Militar como uma “questão nebulosa” e disse que "há indígenas na Amazônia passando fome porque não têm direito de usar as próprias terras para produzir", adiantou que queria "afastar caprichos pessoais" que prejudicam o trabalho da procuradoria e sinalizou que corrigiria os "excessos da Lava Jato". "Sempre apontei os excessos, mas sempre defendi a Lava Jato", declarou, à época.
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O presidente Jair Bolsonaro dá posse ao procurador-geral da República, Augusto Aras, no Palácio do Planalto | Foto: Agência Brasil[/caption]
Uma das declarações polêmicas mais recentes do PGR em relação à Lava Jato foi feita no final de julho deste ano, quando disse que a operação tinha uma “caixa de segredos” e processos ocultos. A afirmação gerou uma reação em cadeia. A força-tarefa da Lava Jato de Curitiba apresentou esclarecimentos, assinados por Deltan Dallagnol, ao ministro Edson Luiz Fachin, do STF, sobre suas bases de dados e afirmou que não possui "caixa de segredos", classificando como "ilação" a afirmação feita Aras.
Os conflitos entre Aras e a Lava Jato não param por aí. No início deste mês, o ministro Fachin revogou liminar, concedida pelo presidente da Corte, Dias Toffoli, que havia determinado que a Lava Jato compartilhasse com a PGR todos os dados já colhidos pelas forças-tarefas.
Toffoli havia mandado que as forças-tarefas da operação em Curitiba, no Rio de Janeiro e em São Paulo compartilhassem informações com a PGR pois, segundo o ministro, havia indícios de "transgressões" por parte dos procuradores de primeira instância. No despacho, Fachin ressaltou que não haveria respaldo legal no pedido da PGR e que não seria possível atestar que haveria investigações irregulares envolvendo políticos com prerrogativa de foro.
Para alguns, as movimentações de Aras então dentro da legalidade e são executadas de maneira a corrigir falhas que realmente existem dentro da Lava Jato. Para outros, o PGR age de maneira heterodoxa e pode estar chamando atenção demais para si.
Para advogado, postura da ex-procuradora era “mais adequada”
A Lava Jato quebrou tabus e praticou a Justiça, mas cometeu excessos. É o que acredita o advogado e presidente da Comissão de Direito Político e Eleitoral da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Goiás (OAB-GO), Wandir Allan. Segundo o advogado, a operação federal “acabou com aquele dogma de que rico não vai preso, de que grande empresário não paga por suas ações, que político importante não é condenado”. Todavia, conforme Allan como toda medida nova e drástica, ela acaba passando por excessos. “Às vezes, esses excessos podem causar danos tão grandes ao sistema como a própria corrupção, são danos à ordem jurídica. A segurança constitucional não é direcionada para o corrupto, o malfeitor. Ela é destinada a todo cidadão. E pra ela alcançar todos os cidadãos, eu tenho que ter um nível mínimo de garantias. O que a Lava Jato fez: acabou atropelando muitas dessas garantias em nome do punitivismo”, afirma. [caption id="attachment_276950" align="alignleft" width="407"]
Raquel Dodge, ex-procuradora-geral | Foto: Agência Brasil[/caption]
Allan defende que Aras, ao tecer críticas á Lava Jato, está dentro de sua prerrogativa constitucional. De acordo com o advogado, o PGR, além de ser o chefe do MP, é o chefe também do Conselho Nacional do MP, que é o órgão administrativo que regula a atuação administrativa. “Ele tem absoluta legitimidade para levantar essas questões. Se no mérito ele tem razão ou não, aí isso é objeto de prova dentro do processo administrativo ou judicial”, argumenta Allan
Porém, o presidente da Comissão da OAB não parece ver a postura de Aras totalmente com bons olhos. Allan revela que prefere o “perfil de discrição” da ex-procuradora-geral da República, Raquel Dodge, uma vez que, segundo ele, o que deve chamar atenção é a atuação do MP e não o próprio procurador.
“Eu acho que o MP não tem que estar nas primeiras páginas dos jornais, ele tem que cumprir a função institucional dele. E acaba que hoje, o foco na pessoa do procurador está muito maior que o foco no trabalho do MP. Avalio a condução da ex-procuradora como o tipo mais adequado , mas não consigo avaliar se o que Aras está fazendo é mais efetivo ou não, porque até agora a gente não viu nenhum resultado prático”, conclui.
“Já que ele falou, tem que apresentar provas”, diz deputado federal sobre críticas de Aras à Lava Jato
O deputado federal José Nelto, do Podemos, é um defensor assíduo da atuação dos procuradores e juízes da Lava Jato. Conforme o parlamentar, a parcela da sociedade que é crítica à operação “tem que aceitar que os procuradores de Curitiba e Sergio Moro foram heróis e tiveram a coragem de enfrentar os poderosos no Brasil, tanto políticos quanto empresários”. O deputado parte do princípio que foi justamente essa atuação de combate à corrupção que incomodou e “despertou a ira de uma parcela que não quer” que se combata os crimes do colarinho branco. “Não é fácil você enfrentar uma organização criminosa”, diz. José Nelto admite que existem falhas na operação, ao mesmo tempo em que questiona as denúncias de Aras. Segundo o deputado, já que o PGR trouxe tais denúncias à tona, “ele tem que apresentar provas”. “Se tiver, eu condeno. Condeno qualquer investigação ilegal. Eu defendo a legalidade, o Estado de Direito”, afirma. “Toda operação, seja ela na área do campo jurídico, seja operação da PM, do Exército, há alguém que acaba se excedendo. Quem comete excesso, será punido. Mas você não pode, por causa de uma ação com excesso, dizer que a Lava Jato é toda ilegal”, argumenta o parlamentar. O deputado federal diz ver um “conluio” com “gente da PGR, do STF e também do Senado e da Câmara” para barrar investigações da Lava Jato. Sem citar nomes, José Nelto diz que são “os chamados ‘enrolados’”.Uma incógnita
Helio Telho é procurador da República em Goiás. Mesmo com toda a experiência de MPF e suas figuras, Telho ainda não conseguiu decifrar a linha de atuação e a postura adotada por Augusto Aras frente à PGR. “Não se sabe exatamente o que o procurador-geral sabe, o que não sabe, o que ele pretende. Eu não sei te dizer, o procurador-geral pra mim é uma incógnita”, disse. Para Telho, os imbróglios envolvendo Aras e os procuradores da Lava Jato são causados por falta de “organização e comunicação” e o correto seria a abertura maior para troca de informações. [caption id="attachment_276953" align="alignnone" width="620"]
Helio Telho | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção[/caption]
Ele cita o pedido de Aras para ter acesso às informações da Lava Jato e diz que houve reações erradas tanto por parte da PGR quanto por parte dos promotores. “O ideal é todo mundo sentar numa mesa e discutir exatamente o que precisa, quais as informações que o procurador-geral precisa, para quê e de que maneira essas informações podem ser repassadas sem que isso possa ser alvo de questionamentos’, diz.
“Eu acho que tinha que ser conduzido de uma maneira diferente. O modo como isso está sendo conduzido não é produtivo. O modo como essa questão do compartilhamento é feito, o modo como o procurador-geral está querendo ter acesso, o modo como os colegas estão reagindo a isso. Isso tem que ser feito de uma maneira mais organizada. Precisa ser discutido internamente, e não dessa maneira que não acrescenta para o MP”, avalia.
É compreensível que o novo álbum de Alanis, Such Pretty Forks in the Road, já esteja no topo da Billboard dos EUA: o disco é um arauto de superação e alegria que veio para ficar na história
Operação federal nasceu em 2014 e, desde então, divide opiniões sobre o seu modus operandi
