Segmento hoteleiro em Goiás vive crise histórica com pandemia
13 setembro 2020 às 00h00
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Nos meses em que as restrições impostas pela pandemia ficaram em maior evidência, a taxa de ocupação de hotéis no Estado ficou abaixo de 15%
Em épocas de crise, as fontes de lazer e entretenimento parecem ser as primeiras “cortadas na carne”. Com a pandemia do novo coronavírus, que já matou mais de 130 mil pessoas só no Brasil, não seria diferente. Desde março deste ano, quando um decreto estadual determinou a suspensão de atividades consideradas não essenciais em Goiás, mantendo apenas as declaradas de caráter básico como forma de conter a proliferação do Sars-CoV-2, pontos turísticos e demais locais normalmente badalados e atrativos para visitantes ficaram desertos.
As medidas, necessárias mas amargas, atingiram em cheio todos os segmentos ligados ao turismo, e mesmo após a flexibilização das restrições, em julho, os efeitos negativos ecoaram. O segmento hoteleiro, que depende diretamente do fluxo de visitantes e turistas para sobreviver, por exemplo, observou suas taxas de ocupação despencarem.
Segundo dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens Serviços e Turismo (CNC), desde o início da pandemia o turismo acumula perdas na ordem de R$ 121 bilhões e 97 milhões. Os hotéis são, de longe, alguns dos estabelecimentos mais afetados. Conforme estimativa da Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação (FBHA), mesmo com o fim da pandemia, ao menos 3 mil hotéis no Brasil podem não voltar a levantar suas portas.
A avaliação da entidade é a de que hotéis independentes em regiões de lazer ou cidades voltadas para o turismo, além de hospedagem urbanas, terão muitas dificuldades para se reerguer, mesmo após a pandemia.
Em Goiás, taxa de ocupação de hotéis chegou a ficar abaixo de 15%
Ao Jornal Opção, o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis em Goiás (Abih-GO), Fernando Carlos Pereira, desenhou o quadro preocupante do segmento hoteleiro no Estado. De acordo com o presidente, durante os meses em que as restrições provocadas pela pandemia ficaram mais em evidência, como maio, junho e julho, os estabelecimentos do tipo em Goiás chegaram a amargar com taxas de 12% de ocupação.
Para se ter uma ideia da discrepância com anos padrões, a taxa de ocupação de hotéis em Goiânia, capital do Estado, em meados de julho de 2018 foi de 61%, conforme levantamento da Abih nacional. “Em janeiro teve um movimento bom, a gente estava muito otimista, o carnaval foi um momento bom. Mas no período da pandemia, a taxa de ocupação caiu demais. A média do semestre inteiro, contando de janeiro até agora, foi de 22%”, informou Pereira.
Pereira, que é proprietário do Hotel Pousada Recanto do Pai, em Trindade, conta que os hotéis estão “segurando as pontas” para sobreviver, mas as dificuldades impostas pela pandemia fazem com que isso seja uma tarefa árdua. Até os meios de socorro, como a disponibilização pelo governo federal de linhas de crédito voltadas para empresas de turismo e hotelaria, tornam-se um desafio à parte.
Para o presidente da Abih-GO, “as linhas de crédito são muito difíceis de serem acessadas”. “A gente recebeu o anúncio do ministro Paulo Guedes das linhas crédito, via Banco do Brasil ou Caixa Econômica, dinheiro para ajudar o segmento turístico, mas essa linha de crédito é muito burocrática. A maioria dos empresários tem muita dificuldade de ter acesso”, desabafa.
Pereira estima que quatro hotéis em Goiânia e quatro em Trindade tenham baixado em definitivo suas portas. Entretanto, para o presidente da associação, a situação não está das mais amigáveis. “Aqueles que pagavam aluguel pelo imóvel estão fechando de vez. A situação para eles foi muito complicada. Outros estão fechados mas aguardando o momento certo de reabrir, com os contratos suspensos e férias dos colaboradores”, diz.
O proprietário do Hotel Pousada Recanto do Pai revela que tinha a intenção de reabrir seu estabelecimento em agosto. Contudo, os planos foram frustrados. Quanto às necessidades dos empresários que lutam para manter seus negócios dentro do segmento hoteleiro, Pereira garante que a Abih-GO está em contato os associados para orientá-los e “incentivá-los a buscar saídas tanto para as linhas de crédito quanto por buscas de parcerias”.
“Estamos conversando com a GoiásTurismo e demais instituições financeiras, e buscando o apoio de parceiros, negociando os EPIs para o segmento hoteleiro, porque temos que estar afinados com os protocolos de segurança contra o coronavírus”, conclui.
Crise afeta até os tradicionais
Os efeitos negativos gerados pela pandemia do novo coronavírus e, consequentemente, as medidas impostas para controla-lo não estão restritas aos micro e pequenos empresários do ramo de hotéis. Os grandes estabelecimentos, já consolidados no mercado, também padecem pela queda de faturamento.
Com mais de 30 anos de existência, o Castro’s Park Hotel, localizado no Setor Oeste, na capital, tornou-se referência em hotelaria no Estado, mas com a pandemia, vive, provavelmente sua pior época.
Segundo o gerente comercial do Castro’s, Paulo Araújo, o declínio da taxa de ocupação do estabelecimento levou a uma demissão de metade do corpo de funcionários. “Antes da pandemia nós tínhamos cerca de 120 funcionários. Agora estamos com 70. Foi um corte que infelizmente tivemos que fazer”, afirma Araújo.
O gerente conta que, devido à pandemia, o hotel está com cerca 205 da taxa de ocupação mas que tenta se adequar para atravessar a crise gerada pelo Sars-CoV-2. “O hotel não recorreu às linhas de crédito porque contou com socorro dos investidores. Mas estamos frequentemente negociando com a Enel, Saneago para continuarmos funcionando bem”, afirma.