Por Redação

O poeta realça as vivências de anti-heróis, a partir da contemplação do novo mundo que nasce naquela faixa que marca o surgimento do mundo judeu
Adelto Gonçalves
Especial para o Jornal Opção
Uma poesia que traz à tona ideias cabalistas tradicionais que desestabilizam lógicas tradicionais e contemporâneas e, portanto, constitui uma poesia do movimento que retorna e se renova na perspectiva do laço sem fim nem começo. É assim que o tradutor Moacir Amâncio define, no prefácio, o labor poético do poeta israelense Amir Or — que chega pela primeira vez ao Brasil com o livro “A Paisagem Correta” (Relicário, 76 páginas, 2020), traduzido diretamente do hebraico.
É uma poesia que alinha várias tendências, o que a torna difícil de ser explicitada, mas que sobretudo é marcada pela sensação de incompletude, de coisas que não se completam e não chegam ao final. Tradutor do grego clássico e conhecedor de religiões, inclusive aquelas de cunho budista, Or coloca-se numa posição superior diante do mundo, à imitação do Deus criador do Gênesis, mas não pense o leitor que estará diante de um poeta indecifrável porque em sua poesia pode-se encontrar temas tratados sob uma ótica muito pessoal que, de certo modo, como observa o tradutor, ecoa a literatura da beat generation, em meio a elementos orientais, cristãos e judaicos.
Aliás, Or é autor de uma obra intitulada “On the Road” (2018), espécie de homenagem ao livro de 1957 com o mesmo título traduzido como “Pé na Estrada”, no Brasil, e “Pela Estrada Fora”, em Portugal, do norte-americano Jack Kerouac (1922-1969), um dos líderes do movimento literário da geração beat, que no Brasil teve como principal representante o poeta Cláudio Willer (1940).
A filiação à literatura beat fez de Or um divisor de águas na poesia praticada em Israel porque, até pouco antes do aparecimento de sua geração, os poetas e os escritores israelenses de um modo geral estavam ainda vinculados ao sionismo tradicional que procurava fazer com que a construção da nação fosse pautada por ideais coletivistas, com oportunidades para todos aqueles que deixavam seus países de origem, imigrando para a parte que idealmente lhes caberia naquela faixa do Oriente Médio.
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Amir Or: poeta israelense | Foto: Reprodução[/caption]
Segundo o seu tradutor, “Or já se formou num ambiente menos submetido ao peso da sociedade ideológica”. O que não significa, porém, que tenha deixado de lado o tom majestoso e mesmo religioso que caracteriza a poesia épica porque a tradição ainda marca lugar em sua produção. Só que, em vez contar façanhas de um herói que pudesse simbolizar as grandezas de sua pátria, o que o poeta faz é realçar as vivências de anti-heróis, a partir da contemplação do novo mundo que nasce naquela faixa que, de certa maneira, marca o surgimento do mundo judeu e, de pois, do cristão, na raiz também da cultura muçulmana.
Um exemplo dessa perspectiva pessoal que Or passa ao leitor é o poema “Não longe” que pode ser classificado mais como prosa poética: “Não longe da agitação da rua, da hábil colmeia e do barulho do pensamento, além das torres do enxame, além da margem pavimentada, o jorro dos rios de asfalto, / estirada aos olhos do dia e se bronzeando, a nudez animal da cidade das gentes; / escancarada como uma fossa, miqvê de lágrimas e pecados, Tel Aviv de fora / mas dentro, delicia-se consigo mesma no jogo de fluxo e refluxo no baldio da areia e do mar, no rito de mergulho e adoração a o sol, / um burburinho sem sentido faz com que esqueçamos toda vítima / humana, todo esforço, todo heroísmo e toda oração respondida em ato (...). Como observa o tradutor, miqvê é aqui uma referência ao mar de Tel Aviv, comparado com um reservatório de água, em que é feito o banho ritual judaico de purificação.
Pela amostra acima, o leitor já pode ter uma ideia do que vai encontrar neste livro: alguns poemas de Or constituem epigramas, que às vezes são reflexões ou digressões, embora, em outras ocasiões, sejam textos breves. Seja como for, o importante é que, como diz o escritor e professor universitário João Anzanello Carrascoza, que assina o texto de apresentação do livro, a beleza da poesia de Or “está acima das explicações”. E que pode ser resumida na frase inicial do poema “Lembrança. O fora é rasgado de dentro dele” em que ele diz: “(...) o poema é memória, como sol/ que fica no olho após a olhadela no sol; assim / é o poema, verso após verso (...).
O poeta Amir Or (1956), nascido em Tel Aviv, estudou religião comparada na Universidade Hebraica de Jerusalém, onde, mais tarde, foi professor de grego e religião. É também romancista, tradutor de poesia erótica grega, ensaísta e editor, além de ativista cultural, tendo organizado vários festivais. Criou a publicação “Helicon”, da qual surgiu a Escola de Poesia Árabe-Hebraica.
Coordenou o programa Poetas pela Paz, patrocinado pela Organização das Nações Unidas (ONU), que reuniu escritores árabes e israelenses. Recebeu os mais importantes prêmios literários de seu país e tem sido convidado a fazer conferências sobre escrita criativa em universidades de Israel, Europa, Estados Unidos e Japão. Viveu alguns anos no Japão e atualmente reside em Tel Aviv.
É autor de treze livros de poesia em hebraico, dois romances e onze livros de traduções para o idioma hebreu. Um de seus livros mais conhecidos é A Canção de Tahira (2001), ficção épica em prosa métrica. Também atua como ensaísta e tem sido reconhecido como uma das principais vozes da nova geração. Suas obras foram publicadas em mais de 50 idiomas. É autor de “The Madman's Prophecy” (2012), “Loot” (poemas), “Child” (2018) e “Discourse”, ensaios (2018), entre outros. Em 2015, publicou o romance “The Kingdom” sobre a vida do rei Davi e a sociedade contemporânea.
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Moacir Amâncio, poeta, tradutor e professor | Foto: Marcos Santos/USP Imagens[/caption]
O tradutor Moacir Amâncio
Já o tradutor Moacir Amâncio (1949), nascido em Espírito Santo do Pinhal (SP), poeta e professor de Literatura Hebraica na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP), estreou na literatura com a novela “O Saco Plástico” (1974), que foi seguida pela prosa fragmentária de “Estação dos Confundidos” (1977). Jornalista, passou a maior parte de sua vida profissional nas redações dos jornais “Folha de S. Paulo”, “O Estado de S. Paulo”, “Gazeta Mercantil” e “O Globo” e das revistas “Visão” e “Shalom”. Foi correspondente do “Estadão” em Israel.
Publicou os livros de contos “O Riso do Dragão” (1981) e “Súcia de Mafagafos” (1982). Mas, a partir de 1993, rendeu-se de vez à poesia com o livro “Do Objeto Útil”, que lhe valeu o Prêmio Jabuti. Em “Figuras na Sala” (1996) fez uma homenagem à melhor tradição modernista brasileira, assumindo-se como herdeiro do impulso poético de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) e João Cabral de Melo Neto (1920-1999).
Em 1997, publicou um livro de reportagens e artigos, “Os Bons Samaritanos e Outros Filhos de Israel”. Logo voltou à poesia com “O Olho do Canário” (1998). Em 1999, deu à luz “Colores Siguientes” em que reuniu poemas escritos em castelhano. É o livro que marca o início de uma série de peregrinações poliglotas, que vão atingir o seu auge com “Abrolhos” (2007) em que várias composições estão escritas em hebraico. Publicou ainda o livro de poemas Kelipat Batsal (Book Link, 2005), que também foi impresso em ousada edição da antiga e histórica revista d e litera tura e arte Et Cetera, nº 5, de Curitiba.
“Em Ata” (Record, 2007) reuniu seis livros de poemas publicados até então e outros inéditos. Publicou também “Yona e o Andrógino — Notas Sobre Poesia e Cabala” (Nankin/Edusp, 2010), que aborda a obra da poeta israelense Yona Wollach (1944-1985), além de uma antologia de poemas do israelense Ronny Someck (1951), intitulada “Carta a Fernando Pessoa” (Annablume, 2015).
Depois, em “Contar a Romã” prestou homenagem ao idioma de Cervantes (1547-1616). Em 2001, publicou sua tese de doutoramento, “Dois Palhaços e uma Alcachofra — Uma Leitura do Romance ‘A Ressurreição de Adam Stein’ de Yoram Kaniuk” (Nankin), na qual discute as diferentes formas de se ver o Holocausto em estudo sobre a obra do escritor israelense Yoram Kaniuk (1930-2013). Sua tradução anterior é o volume de poemas “Terra e Paz”, do poeta israelense Yehuda Amichai (1924-2010), publicada pela Bazar do Tempo em 2018.
Também traduziu “Badenheim 1939” (2012), livro de Aharon Appelfeld (1932-2018), e participou da tradução dos poemas da poeta israelense Tal Nitzán (1960), incluídos no livro “O Ponto da Ternura” (2013). É autor ainda de “O Talmud”, tradução de trechos e estudos (1995), e organizador de “Ato de Presença: Hineni” (2005), coletânea de ensaios em homenagem à professora Rifka Berezin, da FFLCH/USP. Em 2016, publicou “Matula” (Annablume), seu sétimo livro de poesia.
Uma série de poemas hebraicos medievais e contemporâneos, traduzidos por Moacir Amâncio, saíram neste ano na monumental antologia “Pelo Tejo Vai-se Para o Mundo”, sob coordenação geral da professora Helena Buescu, da Universidade de Lisboa, publicada pela editora Tinta da China, em Portugal.
Adelto Gonçalves é doutor em Letras na área de Literatura Portuguesa pela USP e autor de Gonzaga, um Poeta do Iluminismo (Nova Fronteira, 1999), Barcelona Brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; Publisher Brasil, 2002), Bocage – o Perfil Perdido (Lisboa, Caminho, 2003), Tomás Antônio Gonzaga (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo (Imesp)/Academia Brasileira de Letras, 2012), Direito e Justiça em Terras d’El-Rei na São Paulo Colonial (Imesp, 2015), Os Vira-latas da Madrugada (José Olympio Editora, 1981; Letra Selvagem, 2015) e O Reino, a Colônia e o Poder: o governo Lorena na capitan ia de São Paulo 1788-1797 (Imesp, 2019), entre outros. Colaborador do Jornal Opção. E-mail: [email protected]

As idílicas férias de verão, usufruídas por um grupo de jovens ingleses em um castelo da Campânia italiana, vão definir o futuro e o amadurecimento de cada um deles; protagonista faz uma reflexão sobre os caminhos que se adota na vida

Noé dizia que a memória é lugar de acolhimento, a casa que construímos pra morar. A história é uma visita espaçosa, que tenta reorganizar a casa

Vice-prefeito diz que convivência harmônica com o prefeito facilita confirmação

Presidente municipal do PSD diz que partido conversa com todas as siglas dispostas a integrar aliança

Converso com o caneteiro, que reclama que vende pouco... e ele foi saindo, cabisbaixo, como quem queria arrancar os olhos para chorar

A doutora pela USP saúda o Cerrado e protesta contra o que criminosos do colarinho branco estão fazendo com ele
Aqueles raros jornais goianos que se atreviam a levantar algum questionamento aos atos oficiais restavam submetidos ao guante da censura, quando não empastelados

Valdemar Junior, colocou seu nome à disposição do partido para a disputa do pleito

Após Wagner Rodrigues (SD) ser indicado como candidato do atual prefeito de Araguaína, Ronaldo Dimas (Podemos), como também o MDB decidir pela candidatura do deputado estadual Elenil da Penha, o PSDB de Araguaína também se posiciona e irá oficializar o empresário Batista Capixaba como candidato a prefeito de Araguaína, na próxima quarta-feira, 16/09. O evento acontecerá de forma presencial, no Clube de Enfermagem, contudo, será aberto apenas para convencionais dirigentes de partidos e candidatos, cumprindo o distanciamento social, com uso obrigatório de máscaras devido à pandemia da Covid-19.
Na ocasião, também deverá ser anunciado quem irá compor a chapa como vice de Batista Capixaba e a composição de vereadores, que terão suas candidaturas oficializadas.
Gurupi
Já no terceiro maior colégio eleitoral do Estado do Tocantins, Gurupi, já está definido que o MDB não terá candidatura própria. A executiva estadual decidiu que a sigla apoiará a candidatura de Gutierres Torquato (PSB), o candidato indicado pelo atual prefeito Laurez Moreira (PSDB), cuja convenção partidária ocorrerá na segunda, 14.


Com a decisão, fica determinado o prazo de 30 dias para que o Estado apresente um plano de gestão a fim de solucionar a demanda

Os mandantes e líderes do crime: James Hankins Warne, um ex-confederado dos Estados Unidos, e seu assecla John Jackson Klink, antigo membro da Klan americana
Carlos Russo Jr.
O Império brasileiro, nos anos da década de 1870, buscava desesperadamente alternativas para enfrentar a avassaladora crise econômica e a deterioração das contas públicas, ocasionadas pela longa Guerra do Paraguai. Foi neste contexto que o imperador D. Pedro II julgou adequado abrir as portas do Brasil para ex-soldados confederados (derrotados na Guerra de Secessão Americana pelos Estados do Norte), com a libertação da escravidão no Sul.
Afinal, aqui, aqueles se sentiriam em casa: o trabalho agrícola no Brasil era todo ele tocado pela mão de obra escrava.
[caption id="attachment_244634" align="aligncenter" width="620"] Rodrigues Alves: presidente da província de São Paulo que exonerou o delegado abolicionista, selando seu assassinato por escravocratas | Foto: Reprodução[/caption]
E para cá vieram mais de 20 mil ex-soldados, incluindo membros da organização terrorista Klan (antecessora da Ku Klux Klan), posta fora da lei pelo governo, por exercer extrema violência e assassinatos contra a população afro-americana.
O Império brasileiro, na esperança de que “os gringos” trouxessem dólares e melhorassem a produtividade agrícola, deu-lhes todos os tipos de incentivos, inclusive a posse de enormes contingentes de terras para o plantio do café, principalmente no interior de São Paulo e no Paraná.
As propriedades localizadas em Mogi das Cruzes, Mogi Mirim e a atual Itapira, vizinha de Atibaia, com a chegada dos americanos, realmente passaram a produzir maior volume de riquezas, absolutamente concentradas nos proprietários das grandes fazendas de café, movidas por negros escravos.
Itapira, naquela época, chamava-se Penha do Rio do Peixe.
Em paralelo, o movimento abolicionista que nascera em fins da década de 1870, ganhava força em todo o Brasil e, com destaque, nos territórios paulistas. De um lado, as associações abolicionistas sensibilizavam a opinião pública por meio da imprensa, por outro, angariavam recursos usados para comprar alforrias, para a defesa judicial e mesmo, para a manutenção de negros fugidos.
A força policial, historicamente usada pelo sistema para reprimir, caçar e matar negros, começou, aqui e ali, a gerar policiais inconformados com o escravagismo.
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Joaquim Firmino de Araújo: delegado abolicionista que foi assassinado | Foto: Reprodução[/caption]
E este foi o caso do dr. Joaquim Firmino de Araújo Cunha, bacharel em Direito, que aos 30 anos de idade, assumira o cargo de delegado de Polícia da Penha do Rio do Peixe, em 1885.
O doutor Firmino era casado e pai de quatro filhos. Oriundo de Mogi Mirim, cidade com forte movimento abolicionista. O jornal “A Gazeta” publicava os manifestos libertários do Clube Cosmopolita, do qual era um dos líderes o doutor Firmino.
Logo, logo, os ideais abolicionistas chegaram também às pequenas cidades da Penha do Rio do Peixe e Amparo.
O delegado Joaquim Firmino, desde sua posse, recusou-se a caçar e prender escravos fugidos. Em janeiro de 1888, ele declarou aos fazendeiros de Penha e de Mogi que a Polícia não era destinada à caça de escravos. Joaquim Firmino resistiu às pressões de todas as partes, afrontando aos poderosos fazendeiros e políticos, conservando-se firme na sua primeira declaração.
Ele próprio acobertava diversas fugas, recolhendo fugitivos para dentro de sua própria casa, quando necessário, enquanto que o padre Agostinho Gomes da Costa, vigário da Penha, encaminhava os fugitivos para o quilombo Jabaquara, na cidade de Santos.
O dia 11 de fevereiro de 1888, três meses antes de promulgação da Lei Áurea, passou para a história como um marco na selvageria racista e na impunidade dos poderosos em nosso Brasil.
O brutal assassinato do delegado
Por ordem direta do dr. Francisco de Paula Rodrigues Alves, presidente da Província de São Paulo (futuro presidente da República), o cidadão Joaquim Firmino foi exonerado do cargo de delegado de Polícia, na manhã do dia 11 de fevereiro de 1888, horas antes de sua morte. Com isto, os escravagistas estariam assassinando um cidadão comum e não um agente do Estado.
Os fazendeiros haviam se organizado para o crime. Para tal, contrataram um bando de jagunços e, na noite de 11 de fevereiro, eles se puseram à frente de uma coluna de 200 homens armados com espingardas, garruchas, cacetes e cabos de relho. Chegando à Penha do Rio do Peixe, foram até a residência do delegado.
O grupo se dividiu, cercando a casa pela frente e pelos fundos. Imediatamente, diversos tiros foram dados, deixando as paredes, porta e janelas crivadas de balas, instalando o caos. O grupo que estava posicionado nos fundos da casa forçou o portão e a invadiu, enquanto pela frente a porta e as janelas eram arrombadas.
Dentro da casa estavam Joaquim, sua mulher e quatro filhos, duas escravas domésticas e dois negros fugitivos, que foram dados como desaparecidos após o assassinato.
A mulher do delegado se escondeu dentro de um forno e não viu a morte do marido, apenas ouviu e reconheceu a voz de alguns agressores. Em depoimento, a filha de 9 anos disse que permaneceu no quarto, não vendo o momento da morte do pai, mas ouvindo as agressões. Disse que se ajoelhou aos pés do assassino José Venâncio, pedindo para que não matasse seu pai.
Joaquim Firmino, cercado, tentou empreender fuga pela janela, pulando para a casa vizinha. Não conseguiu, caindo ao solo, sendo cercado e morto a cacetadas, pauladas e chutes.
Após o assassinato de Joaquim Firmino, a canalha, ao estilo da Klan americana, se dirigiu a outros dois locais próximos, onde moravam os abolicionistas Pedro Cândido de Almeida e Bento da Rocha Campos, com o mesmo objetivo, mas encontraram as casas vazias. As três propriedades foram destruídas e incendiadas. O vigário, Padre Agostinho Gomes da Costa, foi o único a não ser molestado.
No “auto do corpo de delito” os mesmos policiais, que tinham sido subordinados ao doutor Firmino, declararam sobre o cadáver do delegado que “na parte de traz do corpo não havia de sinais de luta”. Na da frente, “apenas sinais de equimoses e luxações, talvez provocadas por uma queda”.
Após o assassinato, os fazendeiros contrataram o mais famoso advogado do Estado de São Paulo, dr. Brasílio Machado, pela quantia de 100 contos de réis. Brasílio, que se vangloriava de predizer os resultados dos julgamentos dependendo do juiz do caso, conseguiu fazer com que nenhum dos acusados fosse condenado por falta de provas.
No Museu de Itapira encontramos cópias de dois volumes do vicioso processo, feito para inocentar assassinos.
Em Mogi Mirim, além do sepultamento com presença de grande público e comoção geral, as homenagens ao delegado covardemente assassinado, com a conivência do presidente Rodrigues Alves, foram muitas.
No dia 18, na Câmara de Penha é lida a notícia da morte de Joaquim Firmino “com pesar” e solicitado ao prefeito que ative o serviço de iluminação pública até o final da madrugada, pois a população está revoltada e apreensiva “quanto a novas desordens”.
A pessoa que irá substituir o delegado morto é o major Guilherme Jose do Nascimento, proprietário de cento e oitenta escravos.
Mandantes do crime
A morte de Joaquim Firmino não passou em branco. Toda a imprensa independente noticiou o crime. Noticiou, também, o julgamento. O dr. Brasílio Machado viu seu nome ser acachapado, denegrido, ridicularizado por ser o defensor de um bando de assassinos e por ter pagado para que o caso terminasse nas mãos de um juiz corrupto.
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James Hankins Warne: confederado que liderou o grupo que matou abolicionista brasileiro | Foto: Reprodução[/caption]
Mandantes e líderes do crime: James Hankins Warne e seu assecla, John Jackson Klink.
Após a Guerra Civil Americana (1861-1865), os dois ex-combatentes do exército Confederado seguiram a onda de emigrantes americanos que se estabeleceram no Império brasileiro.
Warne, segundo a revista “The Economist”, era de família moderadamente abastada; após estudar na Filadélfia e cursar Medicina em Nashville, se alistou como cirurgião no 39º Regimento da Carolina do Norte em 1962, sendo dispensado no ano seguinte.
Após trabalhar na região de Bragança, Warne mudou-se para a cidade paulista de Atibaia, onde se casou com a sobrinha de um rico fazendeiro. Transferindo-se para a cidade da Penha, o casal herdou a fazenda. James Warne tornou-se um líder dentre os senhores de escravos, após importar um arado de disco, desconhecido no Brasil naqueles aqueles tempos.
Devido a esse prestígio local, Warne convenceu os fazendeiros locais a se vingarem do delegado Joaquim Firmino e dos outros abolicionistas. Na noite do crime, testemunhas afirmaram que Warne e Klink incitavam seus capangas pedindo “rios de sangue” e que James Warne “parecia tomado de fúria louca”.
O assassinato de Joaquim Firmino, diz Angela Alonso, livre-docente de Sociologia da Universidade de São Paulo, “foi decisivo para acelerar o abandono do escravismo por parte das elites sociais”.
“Isso porque apontou a possibilidade da guerra civil, isto é, que a desobediência civil dos abolicionistas (o incentivo à fuga de escravos) poderia ser respondida por milícias privadas a soldo de proprietários de escravos resistentes à abolição. Estas duas mobilizações políticas correriam ao largo do Estado, tirando, assim, das elites políticas a possibilidade de dirigir o processo político em torno da escravidão", diz Angela Alonso, autora de “Flores, Votos e Balas — O Movimento Abolicionista Brasileiro: 1868-1888” (Companhia das Letras, 568 páginas).
Joaquim Firmino é apontado como um mártir da Abolição. Três meses após seu assassinato, é assinada a Lei Áurea, que liberta os escravos no Brasil. Liberta?
Carlos Russo Jr. é crítico literário.
Leia mais sobre confederados americanos no Brasil
https://jornalopcao.com.br/colunas-e-blogs/imprensa/milhares-de-vitimas-da-guerra-civil-americana-de-lincoln-escaparam-para-o-brasil-132807/
Morre o jornalista Edson Costa, especialista em esportes e polícia, que na coluna Distrito Zero revelava o lado engraçado das ocorrências sérias
Nilson Gomes
Edson Costa era o detetive da máquina azul. Vieram computador pessoal, notebook, smartphone, todo tipo de tablet, mas se manteve fiel à Olivetti mil novecentos e antigamente. A redação do Diário da Manhã foi pioneira na informatização — exceto para seus dois maiores astros, o editor-geral Batista Custódio e Edson Costa. Quando as ocorrências policiais eram como as laudas dos jornalistas, datilografadas em papel jornal, ambas se misturavam na mesa de Costinha, como era chamado por alguns. Sério, nem parecia que aquele sujeito sisudo estava escrevendo os mais bem-humorados textos da crônica brasileira. Na noite de quinta-feira, 11, ocorreu um atentado à graça nacional: Edson Costa morreu por complicações dos males de Parkinson e Alzheimer, que há década o fazia sofrer.
Ainda meninão, Edson Costa foi trabalhar no Jóquei Clube de Goiás, à época o máximo da chiqueza. Começou fazendo serviços gerais. Esperto que só ele, logo foi localizando onde era mais fácil se livrar da faxina e de servir mesas. Acabou nas corridas de cavalo. Alguém notou sua sagacidade e, num tempo em que o auge da tecnologia eram caneta e caderneta, encarregou Edson Costa de anotar os vencedores dos páreos. Assim, virou correspondente de jornais e rádios — dava nomes dos jóqueis, cavalos e suas classificações. Nascia o jornalista.
[caption id="attachment_282125" align="aligncenter" width="620"] Edson Costa: jornalista que escrevia a coluna Distrito Zero | Foto: Reprodução[/caption]
Do turfe, Costinha alargou os assuntos e passou a cobrir também outras modalidades e calhou de se dar bem no futebol. Sua diferença: não se envolvia com paixão clubística, nem com atletas e muito menos com os dirigentes. Por que, então, mudou de área, passando a acompanhar casos policiais?
“Tem muito menos bandidos nas cadeias que nas diretorias dos esportes”, indignava-se o jornalista. Por isso, preferia noticiar os marginais que vão presos aos que vão para os aplausos das torcidas. “Os cartolas são mais perigosos que os ladrões comuns”, sentenciava Edson Costa.
No Diário da Manhã, atingiu seu auge com a coluna “Distrito Zero”. Sua matéria-prima eram as ocorrências policiais referentes a crimes mais prosaicos que graves. Aí se tornou o Nelson Rodrigues do Cerrado, narrando a vida como ela é com cacofonias, socos, pontapés, empurrões e xingamentos.
Hoje, se diria que Edson Costa era mistura de Nelson Rodrigues com Marcelo Adnet. Os casos do “Distrito Zero” em nada distavam de “A vida como ela é”, inclusive no perfil psicológico dos personagens: ninguém prestava, todos alegravam. Além disso, eram gente de carne e osso, como os objetos do deboche de Marcelo Adnet no “Sinta-se em casa”. Outra qualidade incomum entre os três autores: não perdoavam ninguém, afinal, muito menos os malfeitores.
Pessoalmente, Edson Costa era um sujeito maravilhoso. Ficava enfezado quando alguma pauta furava porque era, antes de tudo, repórter. Seu maior motivo de ira: “Por que todo iniciante no jornalismo ou bicho problemático vocês mandam pra Editoria de Polícia? Bota na Política, que tem mais bandido”. Ué, a campeã em gente que não presta deixou de ser a de Esportes? “Ah, ninguém vale nada em lugar nenhum”.
A raiva passava rapidamente, ainda mais se dona Julieta Carmelita dos Santos passasse rapidamente pelo jornal. Havia duas eras, AJC e DJC. Não, não era antes e depois de Jesus Cristo, mas de Julieta Carmelita. Case-se com o primeiro romeu que amar você como o Costinha amava a shakespeariana Julieta. Conheceram-se em decorrência da profissão de um e do drama da outra. Nunca mais se separaram. Está na moda banalizar as palavras herói/heroína e guerreir@. Dona Julieta é uma heroína, uma guerreira, que realmente ficou com Edson Costa na saúde e nas longas doenças.
Costinha descansou. Quem o substituiu não foi a tecnologia dos equipamentos, mas o politicamente correto. A chatice das patrulhas consegue ser pior que a quarentena, pois esta seria alegre se ainda estivesse aberto o Distrito Zero.
O corpo de Edson Costa está sendo velado até 13h30 desta sexta-feira no espaço Fênix (Morro do Além, de onde Edson tirou muito assunto para suas notinhas de a vida como ela continua sendo nos distritos). Será enterrado logo após, no cemitério Jardim da Saudade, no Setor Maísa, saída para Trindade.
Enquanto aguarda-se que alguém reedite o “Distrito Zero”, busque Nelson Rodrigues na prateleira ou na internet e Adnet na Globoplay. Riu muito? Pois é, nosso Costinha era do tipo.
Leia mais sobre Edson Costa
https://jornalopcao.com.br/colunas-e-blogs/imprensa/edson-costa-era-um-nelson-rodrigues-mignon-do-jornalismo-de-goias-282121/
O mestrado com sua orientação esmerada me fez voar alto e para longe, muito longe do ponto incipiente em que eu havia começado na vida do pensamento

A professora de literatura Soninha Santos escreve poema sobre o historiador Noé Freire Sandes, que morreu na terça-feira, 8