Doutora pela Unesp saúda o Cerrado e protesta contra o que criminosos do colarinho branco estão fazendo com ele

O poema é meu jeito de saudar meu Cerrado, bioma de onde vim, e protestar contra o que criminosos de colarinho branco estão fazendo contra ele. Não há muito o que comemorar, ainda mais com o Pantanal em chamas (#savepantanal), então deixo meu protesto cheio de nostalgia e dor.

Protesto pelo Cerrado

Daniella França

Logo bem cedo o barulho das araras

Que em bando vinham livres das veredas do sertão

E as seriemas estridentes cantando juntas

Disputando no mais alto cupinzeiro desse chão

O joão-de-barro amanhecia animado

Junta galho, junta barro, começava a construção

Enquanto isso o sol nascia preguiçoso

Pra depois arder vistoso lá “detrás” do Cerradão

No campo eu via o veado catingueiro

Nas veredas o campeiro lá por trás da cerração

E quando ouvia o anu cantar manhoso

De um galho espinhoso, me enchia de emoção

E os marrecos que chegavam na represa

Completavam o cenário que me enchia de paixão

Até que à tarde o jaó puxava o coro

E eu me entregava ao choro ao escutar a canção

Hoje eu vivo aqui bem longe, na cidade

Sem arara, sem lagoa, sem jaó, sem ribeirão

Mas as memórias da vida no interior

Sempre me enchem de amor, de saudade e inspiração

Me lembro sempre do cheiro de mato verde

Quando a chuva vinha ao longe, com aquela mansidão

E quando olho para os lados nessa selva

Todinha feita de pedras, chega aperta o coração

O meu Cerrado, terra de tantas belezas

Mil sabores e riquezas, inspira admiração

Mas fico triste ao saber que ainda tem gente

Que manipula e mente pra colocar tudo no chão

Desmatam tudo, assoreiam nossos rios,

Dizem que o meu Cerrado não serve pra nada não

Mal sabem eles que se acabar a natureza

Junto com toda beleza vai embora a produção

É engraçado grandes latifundiários

Que acabam com o Cerrado em nome de produção

Onde era lindo, agora é coberto de soja

E o que mais me enoja é saber tanta aberração

Onde era campo com as lindas sempre-vivas

Agora só se vê gado e muita destruição

E a comida produzida aqui na terra

É vendida fora dela pra alimentar o patrão

Enquanto isso, os bolsos dos fazendeiros

Donos do Brasil inteiro (você não faz nem ideia)

Transbordam cheios de ganância e dinheiro

E o pobre, companheiro, morre de fome e miséria

O meu Cerrado, o mais belo e tão amado

Berço de todas as águas e onde tudo se produz

Foi derrubado, destruído e queimado

Pelo neto do aclamado senhor que hoje ainda induz

Induz o pobre a acreditar que é ajudado

E até bem estimado por aquele que o seduz

Mas a verdade, é bem outra, boiadeiro

Seu patrão conquista o mundo inteiro usando o que você produz!

Poema e fotos de minha autoria.

Daniella França é doutora em biologia e poeta. As fotografias são da autora da poeta.