Por Euler de França Belém

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Livro sobre Edward Snowden sugere que usar a internet e falar ao telefone é como participar de um grande comício

Repórter do “The Guardian”, baseado em documentos divulgados pelo norte-americano, revela que, na internet e ao telefone, todos nós estamos nus, à mercê de potências tecnológicas e experts em espionagem como Estados Unidos e Inglaterra [caption id="attachment_1724" align="alignleft" width="300"]Livro mostra que as pessoas, mesmo as comuns, são espionadas diariamente, tanto na internet quanto nas suas ligações telefônicas. O novo Grande Irmão, que espreita, deixaria George Orwell, autor de “1984”, estupefato Livro mostra que as pessoas, mesmo as comuns, são espionadas diariamente, tanto na internet quanto nas suas ligações telefônicas. O novo Grande Irmão, que espreita, deixaria George Orwell, autor de “1984”, estupefato[/caption] “No fim das contas, nada é sagrado, exceto a integridade da própria consciência.” Ralph Waldo Emerson, “Ensaios” Você envia um e-mail altamente secreto para um amigo ou fonte. Depois, no in box do Facebook, faz comentários calientes para uma possível namorada ou paquera. Ao telefone, fixo ou celular, faz comentários, pertinentes ou não, sobre determinada autoridade. Por fim, faz uma consulta inofensiva no Google ou no Yahoo sobre Osama bin Laden e a Al-Qaeda. Tudo secretíssimo. Pois não é bem assim. As conversas podem estar sendo monitoradas nacional ou internacionalmente. Os arquivos de Edward Joseph Snow­den, 30 anos, ex-funcionário da Agência de Segurança Nacional (NSA), a maior e mais secreta agência de inteligência dos Estados Unidos, sugerem que não há (mais) inocência e liberdade em nenhum país. Num pacto faustiano, duas agências de espionagem, a americana NSA e a inglesa Government Communi­cations Headquarters (GCHQ), com apoio de seus governos, decidiram conhecer tudo (ou quase) aquilo que pensam os indivíduos, desde os mais importantes, como Angela Merkel, chanceler da Alemanha, e Dilma Rousseff, presidente do Brasil, àqueles que não têm poder para fazer mal algum. Digamos assim: se quiserem, a NSA e o GCHQ têm condições de ouvir o que dizem e o que escrevem o prefeito de Goiânia, Paulo Garcia (PT), e o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB). Podem igualmente mapear seus auxiliares mais próximos. Fizeram isto com Dilma e seus principais assessores. “Mesmo que não esteja fazendo nada de errado, você está sendo observado e gravado”, assegura Snowden. A história de Snowden é bastante conhecida. Mas quem quiser uma síntese de qualidade nada perde se ler o livro “Os Arquivos Snowden — A História Secreta do Homem Mais Procurado do Mundo” (Leya, 279 páginas, tradução de Bruno Correia e Alice Klesck), de Luke Harding, repórter do jornal inglês “The Guardian”. Snowden era um tranquilo e brilhante administrador de sistemas da NSA — na verdade, de uma empresa terceirizada —, depois de ter passado pela CIA e por outra agência. Não havia feito curso superior, mas era uma craque em tecnologia de informação. De repente, descobriu aquilo que parecia normal à maioria dos colegas: o governo dos Estados Unidos, por meio da NSA, havia decidido conhecer as “profundezas” do que dizem os homens: “a agência tinha se afastado de sua missão original de recolhimento da inteligência sobre o exterior. Agora coletava dados sobre todos”. A observação eletrônica em massa chocou-o. Com a bomba nas mãos, Snow­den decidiu agir: procurou Glenn Greenwald, colunista do “Guardian” baseado no Brasil, e a documentarista Laura Poitras, ambos americanos. Depois de colher dados explosivos, o jovem fugiu para Hong Kong, onde se encontrou com o hesitante Gre­enwald e a confiante Poitras. Levou para a Ásia quatro laptops “fortemente criptografados”, com “documentos retirados dos servidores internos da NSA e do GCHQ”. Tratava-se do “maior vazamento de inteligência da História”. Harding, baseado nos arquivos revelados por Snowden, frisa que, “em conjunto com o GCHQ, a NSA tinha ligado secretamente interceptadores de dados aos cabos de fibra ótica submarinos que circundam o globo. Isso permitiu que os EUA e o Reino Unido tivessem acesso à maior parte das comunicações mundiais”. A Justiça, acionada pelo governo americano, obrigava as empresas a se abrirem para a NSA. Obrigava nem é o termo preciso. “Praticamente todo o Vale do Silício estava envolvido com a NSA. Google [quarto a liberar informações para a NSA] Microsoft [primeira a fornecer dados à agência americana], Facebook [quinto a divulgar dados], até mesmo a Apple, de Steve Jobs” colaboraram com a agência de espionagem. “A NSA alegava ter ‘acesso direto’ aos servidores das gigantes da tecnologia.” Também colaboraram PalTalk, YouTube, Skype, Yahoo e AOL. O inglês George Orwell, autor de uma distopia clássica, “1984”, imaginou alguma coisa, mas localizada, sobre o controle da informação e vigilância dos indivíduos (o Big Brother), mas certamente ficaria estupefato com as revelações sobre o que pretendia (e talvez ainda pretenda) a NSA: “coletar tudo, de todos, em todos os lugares, e armazenar por prazo indefinido”. Seria, observa Harding, “a extirpação da privacidade”. A internet havia sido sequestrada. Ou permanece. Por que, exatamente, Snowden decidiu revelar os bastidores da espionagem americana e inglesa? No relato a Greenwald, registrado por Harding, o ex-agente disse “que não queria viver em um mundo onde ‘tudo que digo, tudo que faço, todos com quem converso, toda expressão de criatividade, amor ou amizade estejam sendo gravados’”. Como uma documentação tão extensa saiu dos arquivos herméticos da NSA? Tudo indica que em pen-drives. Para um gênio de T. I., tudo parece mais fácil, e Snowden tinha acesso remoto aos arquivos. Em dezembro de 2012, quando entrou em contato, Snowden sugeriu a Greenwald “que instalasse o programa PGP de criptografia em seu laptop. Depois de instalado, o programa permite que as duas pessoas troquem mensagens pela internet de forma criptografada. Se utilizado corretamente, o PGP garante privacidade”. Greenwald relutava e Snowden disse: “Não posso acreditar que você não instalou”. Aí, para chegar ao então colunista do “Guardian”, Snowden aproximou-se de Poitras, que, como conhecia criptografia, foi mais receptiva. Snowden decidiu abordar um colunista e uma documentarista críticos do establishment porque não confiava no jornalismo americano. Ele disse a um repórter do “New York Times”: “Depois do 11 de Setembro, muitos dos veículos mais importantes dos EUA abdicaram de seu papel como verificadores do poder — a responsabilidade jornalística de desafiar os excessos do governo —, por medo de serem vistos como antipatriotas e, assim, punidos no mercado durante o período de nacionalismo exacerbado”. Poitras, na visão de Snowden, assumira “a missão mais perigosa que um jornalista pode receber — relatar os malfeitos secretos do governo mais poderoso do mundo”. À desconfiada Poitras, Snowden enviou “uma bomba”. Contou que tinha cópia da Política Presidencial com a Diretiva 20, “um documento de sigilo absoluto, com 18 páginas, expedido em outubro de 2012. O documento dizia que Obama havia secretamente pedido aos seus funcionários sêniores da segurança nacional e da inteligência que elaborassem uma lista de alvos potenciais para ataques cibernéticos americanos no exterior. Não de defesa, mas de ataque. A agência estava colocando escuta em cabos de fibra ótica, interceptando pontos de telefonia e grampeando em escala global”. Poitras quase desmaiou. [caption id="attachment_1715" align="alignleft" width="620"]Edward Snowden, um jovem de 30 anos, que teve a coragem de enfrentar a máquina de moer gente da espionagem americana e inglesa e denunciar que autoridades e pessoas comuns são espionadas diariamente | Divulgação Edward Snowden, um jovem de 30 anos, que teve a coragem de enfrentar a máquina de moer gente da espionagem americana e inglesa e denunciar que autoridades e pessoas comuns são espionadas diariamente | Foto: Divulgação[/caption] Greenwald e Poitras finalmente concordaram que Snowden era sério. O primeiro acionou a editora do “Guardian” nos EUA, Janine Gibson, que decidiu enviar para Hong Kong, com os outros dois, o experimentado repórter Ewen MacAskill. Um dos programas revelados por Snowden, o Stellar Wind, da NSA, tinha quatro alvos operacionais: comunicações e metadados telefônicos, comunicações (como e-mails e pesquisas na web) e metadados de internet. O programa começou a ser operado em 4 de outubro de 2001, no governo de George W. Bush. “O Stellar Wind parece ter contado com o apoio entusiástico das principais empresas de telefonia e provedores de serviços de internet. (...) ‘Parceiros do setor privado’ começaram a fornecer para a agência conteúdo de telefone e internet do exterior em outubro de 2001.” Um dos provedores de serviços, não nominado, deu uma sugestão à NSA: no lugar de pedir, deveria usar a Justiça para obter os dados – o que legalizava a ação de espionagem. Por meio do tribunal secreto da Fisa, obteve-se autorização judicial para se buscar os dados, sob a camuflagem de “prestação de registros de negócios” (artigo 215 do Patriotic Act — contra o terrorismo). No Congresso, o senador Obama contribuiu para a aprovação da legislação. Em 2007, candidato a presidente, disse: “Nada mais de escutas telefônicas ilegais de cidadãos americanos”.

Pressões infrutíferas
Aos atônitos Greenwald, Poitras e MacAskill, no quarto de um hotel de Hong Kong, Snowden explicou que a NSA “era capaz de transformar um celular em um microfone e dispositivo de rastreamento”. MacAskill, que pretendia gravar os diálogos, jogou o celular fora. Prevenido, “quando inseria senhas no computador”, Snowden “colocava um capuz na cabeça e acima do laptop — um tipo de cobertura gigante —, para que as senhas não pudessem ser capturadas por câmeras escondidas”. Aparentemente, Snowden não pensou em ganhar dinheiro com a denúncia de que as agências de espionagem haviam “confiscado a internet”. O experiente MacAskill garante que se trata de um idealista e, mesmo, patriota. Quer mais uma internet livre do que destruir os Estados Unidos. Quando o jornalista do “Guardian” quis saber sobre a agência inglesa, Snowden alarmou-o: “O GCHQ é pior que a NSA. É ainda mais intrusivo”. [caption id="attachment_1721" align="alignleft" width="620"]imprensa0002 Ewen MacAskill, Glenn Greenwald e Laura Poitras: os três jornalistas que, depois de ganhar a confiança de Edward Snowden, contaram como americanos e ingleses espionam todos em redes sociais, telefônicas e sites de busca | Foto: Reprodução[/caption] A sede do “Guardian” fica em Londres, mas seus editores decidiram publicar a história no “Guardian” dos Estados Unidos, que é inteiramente digital, com uma equipe de 31 funcionários e um orçamento de 5 milhões de dólares. Gibson decidiu começar pela publicação de que a Verizon, uma das maiores empresas de telecomunicações dos Estados Unidos, estava fornecendo informações de seus usuários à NSA — a maioria sem qualquer envolvimento com terrorismo — com autorização do tribunal da Fisa. Era uma espécie de pesca de arrasto. A Casa Branca decidiu pressionar o “Guardian”, mas Gibson não recuou. “Com todo o respeito, nós tomamos as decisões sobre o que publicamos”, disse a editora. Sem sorte em Washington, o governo americano procurou o governo inglês com o objetivo de pressionar a sede do jornal. O segundo homem na hierarquia do “Guardian” londrino, Paul Johnson, não acolheu as pressões e mandou seguir adiante. A primeira reportagem, com a assinatura de Greenwald, foi publicada e se tornou um escândalo internacional, com repercussão em todo o mundo. Era a história da Verizon-NSA. Em seguida, o “Guardian” publicou a reportagem sobre o Prism. “A NSA alegava ter acesso secreto e direto aos sistemas do Google, do Facebook, da Apple [a que mais resistiu a repassar dados] e de outras gigantes da internet dos EUA. (...) Analistas foram capazes de coletar o conteúdo de e-mails, históricos de busca, chats ao vivo e transferências de arquivos. (...) O documento informava haver ‘coleta de dados diretamente dos servidores’ de grandes provedores de serviços dos EUA”, relata Harding. A Microsoft e o Yahoo também estavam associados com a coleta do Prism. Detonada a história do Prism, que deixou patente toda a insegurança das comunicações via internet, o “Guardian” divulgou a informação sobre o programa ultrassecreto Boundless Informant. Por meio dele, a NSA mapeia (ou mapeava?), “país por país, a volumosa quantidade de informações que recolhe a partir de redes de computadores e de telefonia. Usando metadados próprios da NSA, a ferramenta fornece um retrato de onde estão concentradas as onipresentes atividades de espionagem da agência — principalmente Irã, Paquistão e Jordânia. (...) Em março de 2013, a agência recolheu avassaladores 97 bilhões de pontos de dados de inteligência a partir de redes de computadores em todo o mundo”, anota Harding. Como não queria que outras pessoas fossem punidas ou investigadas, e porque não se sentia culpado de nada, Snowden decidiu aparecer publicamente como único responsável pelos vazamentos. O “Guardian” divulgou o vídeo, gravado por Poi­tras, e sua imagem foi mostrada em todo o mundo. “Foi a matéria mais vista da história do ‘Guardian’.” Aí americanos e ingleses começaram a caçar Snowden. Embora dependente dos fartos recursos financeiros americanos para espionagem, o GCHQ não fica atrás em capacidade de vasculhar dados de autoridades e cidadãos comuns. “O feito do GCHQ foi desenvolver um meio de construir um gigantesco buffet de internet computadorizado. O buffet poderia armazenar o tráfego. Analistas e mineradores de dados seriam então capazes de, retrospectivamente, vasculhar através desse vasto conjunto de material digital”, escreve Harding. É o projeto Tem­pora. “Estamos começando a ‘controlar a internet’”, vangloriou-se o GCHQ num documento. O Reino Unido estava coletando mais metadados do que a NSA. Assim como a NSA, o GCHQ não tinha (não tem?) limites para espionar. A agência britânica grampeou “chefes de Estado durante as duas últimas conferências do G20 realizadas em Londres, em 2009”. A agência chegou a montar falsos cafés, “equipados com internet e programas com chaves de login. Isso permitiu que o GCHQ roubasse senhas dos membros da delegação para utilizá-las depois. O GCHQ também invadiu seus BlackBerrys para monitorar e-mails e ligações telefônicas. Uma equipe de 45 analistas acompanhava todas as conexões de quem ligava para quem durante a conferência. (...) Isso obviamente não tinha absolutamente nada a ver com terrorismo”, informa Harding. O governo britânico, não tendo poder de pressão sobre o “Guardian” nos Estados Unidos, forçou o “Guar­dian” londrino a destruir computadores com documentos a respeito da grampolândia universalizada. Houve quem, no governo, tenha pensado em fechar o jornal e prender seu editor, Alan Rusbridger. O jornal, que não teme processos judiciais, não recuou. Porque sabe que processo não é um recurso para esclarecer, e sim para intimidar Entretanto, as denúncias alastraram-se por outros jornais, tornando o excesso de controle do governo inglês improdutivo. A revista alemã “Der Spiegel” denunciou que “a NSA havia desenvolvido técnicas para hackear iPhones. (...) A NSA pode interceptar fotos e mensagens de voz. Pode hackear Facebook, Google Earth e Yahoo Messenger. Particularmente úteis são os dados de geolocalização, que apontam onde um alvo esteve e quando”. Entre tantas más notícias, sobretudo a de se saber que não há privacidade alguma na internet — usar o Facebook e o Twitter é como participar de um comício —, Harding divulga uma boa: “Até agora, a NSA e o CGHQ têm sido incapazes de retirar do anonimato a maior parte do tráfego da TOR, a mais popular ferramenta de proteção do anonimato online”. Depois do escândalo, trabalha-se, a contragosto, para regular, de maneira mais democrática, a espionagem. Pura ficção. A espionagem vai ficar, isto sim, cada vez mais sofisticada. Mas não vai cessar. Neste momento, você, leitor, está sendo investigado... e não apenas pelos americanos — obviamente.

Repórter do Guardian aposta que Edward Snowden se tornou prisioneiro do governo de Vladimir Putin

[caption id="attachment_1711" align="alignleft" width="620"]Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, e Vladimir Putin, presidente da Rússia: o primeiro quer Edward Snowden (no centro da montagem) preso e o segundo mantém o delator americano como prisioneiro da Rússia | Foto montagem/Jornal Opção Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, e Vladimir Putin, presidente da Rússia: o primeiro quer Edward Snowden (no centro da montagem) preso e o segundo mantém o delator americano como prisioneiro da Rússia | Foto montagem/Jornal Opção[/caption] Escapando dos longos e, às vezes, mortais tentáculos dos americanos e dos ingleses, Edward Joseph Snow­den está na Rússia — “exilado”, para alguns, “prisioneiro”, para outros. No livro “Os Arquivos Snowden — A História Secreta do Homem Mais Procurado do Mundo” (Leya, 279 páginas, tradução de Bruno Correia e Alice Klesck), Luke Harding, repórter do “The Guardian”, tenta explicar como o ex-funcionário da CIA e da NSA, agências de espionagem dos Estados Unidos, deixou Hong Kong e chegou ao país presidido por Vladimir Putin, ex-chefão da KGB, agora FSB. Julian Assange, editor-chefe do WikiLeaks — Harding tem uma certa má vontade com o australiano topetudo —, entra no jogo quando se trata da fuga de Snowden. “Snowden havia considerado vazar seus arquivos da NSA para Assange”, mas optou, por uma questão de segurança, pelo “Guardian”. O chefe do WikiLeaks está sob vigília permanente tanto da espionagem dos Estados Unidos quanto da inglesa. A serviço de As­sange, Sarah Harrison foi despachada para Hong Kong, com “com documentos de salvo-conduto válidos para o Equador”. Snowden preferia a Islândia, mas o Equador parecia mais seguro. “De quem teria sido a ideia para que Snowden fosse para Mos­cou? Essa é a pergunta de 1 milhão de rublos”, diz Harding. Depois, assinala que “o itinerário de Snowden parece ter o dedo de Assange”. Este “alegou crédito pessoal por toda a operação de resgate. Disse que o WikiLeaks tinha pago pela passagem aérea de Snowden. Que, durante sua estadia em Hong Kong, a organização provera consultoria legal a Snowden”. Não fica claro o motivo da irritação de Harding com Assange. Talvez a arrogância deste seja a causa da implicância. O líder do WikiLeaks trabalha para o programa “Rússia Today”. Harding sugere que “a missão do canal”, de Putin, “é acusar o Oci­dente de hipocrisia, enquanto se mantém mudo quanto às falhas russas”. Acompanhado de Harrison, Snowden deixou Hong Kong em 23 de junho de 2013, num voo da Aeroflot, com destino a Moscou. Os Estados Unidos tentaram evitar a fuga, mas as autoridades de Hong Kong liberaram Snowden. A China, por intermédio do noticiário Xinhua, atacou: “Os Estados Unidos, que há tanto tempo vêm tentando se fazer de inocentes e vítimas de ataques cibernéticos, acabaram sendo o maior vilão da nossa era”. Ao chegar a Moscou, Snowden ficou retido inicialmente no aeroporto, vigiado pelo Serviço Federal de Segurança (FSB). Snowden “era um presente” para Putin, na visão de Harding. “Apresentava a oportunidade perfeita para que o Kremlin enfatizasse o que Washington interpretava como critérios duplos quando se tratava de direitos humanos, bisbilhotagem do Estado e extradição.” O presidente Barack Obama implorou à Rússia que lhe entregasse Snowden. Putin rejeitou, alegando que “não havia qualquer acordo bilateral com os EUA”, registra Harding. Avaliando que Snowden poderia sair da Rússia, o governo americano pressionou alguns países. O presidente do Equador, Rafael Correa, revogou o salvo-conduto que havia sido concedido a Snowden em Hong Kong. Na Rússia, Snowden partiu para o ataque, revelando que, quando trabalhava para a NSA, “tinha a possibilidade de captar e ler” as comunicações das pessoas, “sem qualquer autorização da lei”. O americano revelou que a NSA captava e lia comunicações de milhões de indivíduos, autoridades ou não, em qualquer lugar do mundo. “As comunicações de qualquer pessoa, a qualquer hora. Isso é o poder de mudar o destino das pessoas”, acrescentou. Indicou que a Justiça americana servia aos serviços de espionagem, quando obrigava empresas, como Google, Facebook, Apple, a fornecerem informações de seus usuários. Snowden, ao contrário do inglês Kim Philby, não é um traidor, pois não havia, ao menos inicialmente, entregue documentos para potências adversárias. Ele havia repassado documentos para o “Guardian”, que os publicou de maneira escrupulosa, para não prejudicar os Estados Unidos e a Inglaterra. Porém, “para ter proteção e apoio” — corre risco de vida —, se tornou “dependente do Kremlin e de suas nebulosas agências de espionagem”. Putin está usando Snowden “para constranger Washington, adversário de Moscou até hoje”. Seus protetores são agentes da FSB. Snowden garante que não deu informações ao governo de Putin. “Eu nunca dei nenhuma informação a qualquer governo e eles nunca tiraram nada dos meus laptops”, garante o americano intranquilo. Numa carta para o ex-senador Gordon Hum­phrey, o delator disse: “Eu não forneci qualquer informação que pudesse prejudicar nosso povo — sejam agentes ou não — e não tenho intenção de fazê-lo”.

Espionagem comunista
Putin e a FSB protegem Snow­den e atacam os Estados Unidos, o “mal” do ponto de vista dos russos. Mas o que Putin faz na Rússia não é diferente do que faz o país dirigido por Obama. “O sistema russo de interceptação nacional remota é denominado Sorm. O Sorm-2 intercepta o tráfego de internet e o Sorm-3 coleta dados de todas as comunicações, incluindo conteúdos e gravações, e os mantêm armazenados por longo pra­zo”, relata Harding. Na terra do novo czar não há nenhum mecanismo de supervisão. “Na Rússia, os agentes da FSB também precisavam [como nos Estados Unidos] de uma ordem judicial para interceptar as comunicações de um alvo.” Porém, “uma vez que a possuíam, não precisavam mostrar o mandado a ninguém. Os provedores de telecomunicações não eram informados. (...) A agência de espionagem liga para um controlador especial, na sede da FSB, que está conectado a um cabo protegido, ligado diretamente ao dispositivo da Sorm, instalado em sua rede ISP. Esse sistema é captado por todo o país: em cada cidade russa há cabeamento subterrâneo protegido que conecta o departamento local da FSB a todos os provedores da região. O resultado é que a FSB pode interceptar o tráfego de e-mail de ativistas de oposição e de outros ‘inimigos’, sem supervisão”, denuncia Harding. Depois de 39 dias no aeroporto, em 1º de agosto de 2013, Snow­­den deixou o aeroporto de Moscou. O governo russo concedeu-lhe asilo temporário. Harding acredita que tenha se tornado “prisioneiro da FSB”.

Espionagem anglo-americana retira soberania dos países como o Brasil e Alemanha

Depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), os alemães não queriam mais saber do grande irmão Hitler, com sua Gestapo. Eles estão sempre com a pulga atrás da orelha quando se trata de espionagem. “Documentos de Snowden, vazados em 2013, revelavam que a NSA espionava intensamente a Alemanha, superando o nível de intromissão da Stasi [polícia da Alemanha Oriental] em muitos aspectos. Por dez anos a agência grampeou o telefone de Angela Merkel, chanceler alemã, a personalidade política mais poderosa da Europa”, revela o jornalista Luke Harding, no livro “Os Ar­quivos Snowden”. “A NSA rotineiramente colhia comunicações de milhões de alemães.” Ante a gravidade da espionagem, que eliminava a privacidade das autoridades públicas e das pessoas comuns, o intelectual alemão Hans Magnus Enzensberger chegou a falar numa “transição para uma sociedade pós-democrática”. Nas ruas, os alemães expuseram “banners que diziam ‘NãObama’, ‘1984 é agora’”. O fato de a NSA ter grampeado o telefone de Merkel deixou os alemães aterrados. “Merkel ficou lívida quando soube”, garante Harding. “A NSA manteve o telefone de Merkel grampeado a partir de 2002, durante o primeiro mandato de George W. Bush. Merkel tinha um número pessoal e outro do escritório; a agência havia grampeado o pessoal. (...) A espionagem prosseguiu até poucas semanas antes da visita de Obama a Berlim, em junho de 2013”. Em 2009, especialistas alemães, para tentar evitar grampos, deram a Merkel um smartphone criptografado. Não adiantou. A NSA continuou “ouvindo” a líder alemã. O arquivo de Snowden revela que a NSA espionou a França maciçamente. Em trinta dias, entre 2012 e 2013, “a NSA interceptou dados de 70,3 milhões de chamadas telefônicas francesas”. A Noruega, país pacífico, e a Itália foram espionadas pela agência americana. O país de Obama, por meio da NSA, havia criado o que os europeus passaram a chamar de planeta “Big Brother”. Os documentos indicam que a NSA, que deveria zelar pela segurança nacional, “estava hackeando pelo menos 35 líderes mundiais”. A presidente Dilma Rousseff teve suas mensagens vasculhadas pelos espiões dos Estados Unidos. Devido ao Pré-Sal, a NSA também investigou, via o programa secreto de codinome Blackpearl, a rede privada virtual da Petrobrás. Harding chama isso de “espionagem industrial” — e feita pelo Estado, o americano. Harding sugere que, diante da escalada global da grampolândia, os Estados Unidos têm “aminimigos”. O alemão Claus Arndt resume o mundo atual: “Teoricamente, somos soberanos. Na prática, não”. Os Estados Unidos, com Bush e O­bama, nunca se julgaram tão donos do mundo como nos últimos anos.

Dilma Rousseff propõe governança global da internet para reduzir domínio dos EUA

Espionada e grampeada pelo governo dos Estados Unidos, a presidente Dilma Rousseff vai propor, em encontro com líderes mundiais, em São Paulo, no dia 23 de abril, a governança global da internet. Devem participar do encontro representantes dos Es­tados Unidos, da China, da Rússia e da União Europeia. Dilma Rousseff sugere a redução do peso dos governos na regulação mundial, com o objetivo de garantir mais privacidade aos usuários. No momento, os Estados Unidos mantêm controle quase absoluto daquilo que é exposto na internet. O ministro de Ciência, Tecno­logia e Inovação, Clelio Campolina, disse, em entrevista ao “Estadão”, que a tese do governo brasileiro, próxima do que pensa a chanceler alemã Angela Merkel, será apresentada na Conferência Net Mundial. A “governança da internet não pode ser feita por governos”, frisou o ministro. Ele disse ao jornal paulistano que “Dilma defenderá a adoção de ‘normas comuns’ entre os países para estabelecer diretrizes básicas, como o registro de nomes, domínios e endereços IPs. Hoje, este processo é concentrado pela ICANN, uma entidade sem fins lucrativos que, no entanto, trabalha para o governo dos Estados Unidos, onde é responsável por essas normas. Uma das ideias defendidas por técnicos envolvidos com a NET Mundial é que entidades como ICANN tenham um desempenho semelhante ao IETF, uma comunidade internacional aberta, que cuida da internet do ponto de vista técnico, identificando problemas de funcionamento e desenvolvendo soluções”. “Não existe uma institucionalidade mundial para regular o comportamento dos cidadãos em todos os países, cada um tem que ter o seu, mas precisamos construir um senso comum”, frisou Campolina. “Ficar do jeito que está levará à barbárie. Estamos iniciando um processo irreversível.”

Criticar a jornalista Rachel Sheherazade é lícito mas agir para retirá-la da televisão é antidemocrático

[caption id="attachment_1703" align="alignleft" width="270"]i2 Rachel Sheherazade: PSOL e PC do B querem substitui-la no SBT por uma companheira ou por um profissional insosso? É provável[/caption] A apresentadora do SBT Rachel Sheherazade não é uma jornalista das mais notáveis. É das mais comuns, mas tem coragem de se posicionar, ao enfrentar as patrulhas ideológicas de esquerdistas radicais, incrustados no PSOL e no PC do B. Segundo a profissional, os dois partidos trabalham, evidentemente de maneira antidemocrática, para suspender a concessão do SBT e a publicidade estatal dirigida à rede. “Onde eles pensam que estão? Em Cuba? Na Venezuela? Ainda bem que acima da fúria censora há uma Constituição que garante o livre pensar e o trabalho livre da imprensa”, afirma Sheherazade. Quem discorda de Sheherazade, como os comunistas, no lugar de tomar-lhe o emprego, devem criticar suas ideias e posições políticas, se necessário, com a maior crueza possível. Pedir sua cabeça ou tentar tomar a concessão do SBT são comportamentos antidemocráticos. A velha técnica de espalhar boatos para verificar se se tornam fatos nem sempre funciona. Espalharam na internet, de maneira organizada, que o SBT havia demitido ou, noutros “comunicados”, que demitiria Sheherazade. A jornalista teria sugerido que seus dias na TV estavam “contados”. “Nunca disse isso. Acho temerária essa prática de basear informações em fontes não confiáveis”, defendeu-se. O tiro das esquerdas parece ter saído pela culatra: telespectadores, longe de apoiaram sua censura, passaram a defender a “volta” de Sheherazade. Na verdade, ela havia saído de férias e retorna na segunda-feira, 14. “Fico comovida com a manifestação dos internautas em meu favor, em favor da liberdade de expressão e da im­prensa livre. Quando o sindicato dos jornalistas se cala, o povo fala”, disse a apresentadora à revista “Veja São Paulo”. As críticas de Sheherazade são erradas? Não. São apenas diferentes das ideias das esquerdas. Na democracia, que todos em tese querem e exigem, é preciso aprender a conviver com as diferenças de opinião, sem tentar excluir a do PSOL, a do PC do B e a de Sheherazade.

Diário Manhã ignorou “fantasmas” da Assembleia Legislativa de Goiás

Os sites mais relevantes de Goiás deram, antes dos jornais diários, a notícia de que o Ministério Público denunciou 36 pessoas envolvidas na Operação Poltergeist. Na sexta-feira, 11, o “Pop” publicou como manchete da primeira página: “Poltergeist — 36 são denunciados por esquema de funcionários fantasmas”. O jornal acrescentou, no subtítulo: “Na lista estão [o] deputado Messac, [o] vereador Divino e Toninho Perillo, irmão do governador”. Na página 10, com os títulos de “Operação Poltergeist — MP denuncia 36 por esquema”, “Ação envolve membro da OAB” e “Irmão de Marconi indicou fantasmas, aponta MP”, as repórteres Gabriela Lima e Fabiana Pulcineli contaram a história detalhadamente, sem esconder nada da denúncia do MP. O “Pop” publicou a lista com os nomes de todos os 36 denunciados no esquema de desvio de “verba pública para contratação de funcionários fantasmas na Câmara” Municipal de Goiânia e na Assembleia Legislativa. Na primeira página, “O Hoje” não deu ao assunto a manchete principal — optando por discutir o pacto do transporte coletivo feito entre governo do Estado, prefeituras e empresas —, mas publicou uma chamada, informando que Antônio Pires Perillo, o Toninho, é irmão do governador. Na página 5, na matéria “Poltergeist: irmão de Marconi é denunciado”, a repórter Lênia Soares deu ampla cobertura ao fato. O jornal também listou os 36 denunciados. O “Diário da Manhã” publicou nove manchetes na edição de sexta-feira, 11, mas nenhuma sobre o caso. O jornal não publicou nenhuma linha nas suas páginas internas sobre a denúncia do Ministério Público — nem mesmo nas colunas. Como o jornal não explicitou sua decisão editorial, não se sabe o que ocorreu. Mas esconder um fato não significa que ele não exista. Quando se tenta camuflar um fato mais ele se apresenta forte. E, nos tempos de internet, não dá mais para pensar ou acreditar que é possível esconder alguma coisa. Aqui e ali, as notícias explodem, às vezes alcançando repercussão nacional e, mesmo, internacional. Certo mesmo fez o governador Marconi Perillo, que, ao ser perguntado sobre a denúncia do Ministério Público, disse que a lei serve para todos e que ao irmão cabe apresentar sua defesa. Uma posição, mais do que inteligente, correta — de respeito às leis e às instituições.

Imprensa impede ida do senador Gim Argello para o Tribunal de Contas da União

A presidente Dilma Rousseff e o PTB decidiram: o senador Gim Argello, do Distrito Fe­deral, deveria ser indicado para o cargo de ministro do Tribunal de Contas da União. Estava tudo acertado. Faltava apenas a aprovação do Senado, que seria concedida sem problema algum. Aí entrou a imprensa, no caso a “Folha de S. Paulo”, alertando que o petebista responde a ações na Justiça. O resultado é que Argello não vai mais para o TCU, mas continua no Senado. Isto sugere que o Senado é pior do que o TCU? Não. Indica que se está cumprindo a lei, quer dizer, Argello precisa ser condenado em definitivo.

Imprensa derruba vice-presidente da Câmara, André Vargas, parceiro de doleiro

O deputado federal André Vargas (PT-PR) não é mais vice-presidente da Câmara dos Deputados. Renunciou. Suspeito de associação com o doleiro Alberto Yousseff, preso na Ope­ração Lava Jato da Polícia Fe­deral, Vargas está sob pressão do PT para renunciar ao mandato. Para não prejudicar as campanhas da presidente Dilma Rousseff e da senadora Gleisi Hoffmann, no Paraná, onde vai disputar o go­verno do Estado. O que precipitou a queda de André Vargas? Reportagens do jornal “Folha de S. Paulo”, que mostrou que o deputado viajou em avião do doleiro, e da revista “Veja”, que, com gravações, mostrou que a ligação entre os dois é profunda e envolve, lógico, di­nheiro, muito dinheiro. Politicamente, André Vargas está “morto”. Por isso, apesar da resistência inicial, deverá renunciar. Se não o fizer, e se for cassado pela Câmara dos De­pu­tados, o parlamentar ficará inelegível até 2023.

Deus e o Diabo são fortes criações humanas

O psicólogo José Geraldo Rabelo, entrevistado pelo jornalista Edson Costa, do “Diário da Manhã” (sexta-feira, 11), diz que o Diabo é uma criação humana. Está certo. Mas faltou dizer que o homem criou Deus para protegê-lo de seus medos e para ter um culto para ampará-lo. Para o homem, o Diabo é mais um Deus (não só um anjo) caído. “Não quero ‘cair’, como Lúcifer” — talvez seja o recado do ho­mem para si mesmo. A peça “Entre Quatro Pa­redes” (“Huis Clos”), do escritor e filósofo francês Jean-Paul Sartre, sugere que o inferno são os outros. Porque os outros somos nós, são nossos espelhos. Recentemente, a Companhia Theatral do Gradiva Centro Cultural apresentou a peça em Goiânia, com direção de Renato M. Lucas, com os atores Paulo Faria, Cris Martins, Priscilla Borges e Ione Faleiro. Sob direção segura, os atores conseguiram interpretar muito bem a peça, mantendo a plateia tão pressionada (e atenta) quanto os personagens.

Coluna Giro, de O Popular, está na iminência de perder sua eminência

Um eminente professor envia a nota “Oposição dividida”, da coluna “Giro” (“Pop”, de 30 de março): “Lideranças da base do governador Marconi (...) comemoravam o que consideram eminente racha entre PMDB e PT para o primeiro turno em Goiás”. Sugestão do mestre: “No lugar da palavra eminente (algo ilustre), o repórter deveria ter escrito iminente (algo prestes a acontecer)”. A coluna “Giro” é editada pelo repórter Jarbas Rodrigues Jr. O professor acrescenta: “A coluna está na iminência de perder sua eminência”.

Construção do Serra Dourada deveria ser exemplo para novos estádios

Nayara Reis, do “Diário da Manhã”, publicou uma reportagem, “História do Estádio Serra Dourada — Emoções de um idealizador” (quinta-feira, 10), sobre o engenheiro que coordenou a construção da obra, Lamartine da Silva Júnior. A repórter conta que o estádio, para 75 mil pessoas, foi construído em um ano, onze meses e nove dias, entre 31 de março de 1973 e 9 de março de 1975. Trinta e nove anos depois, mesmo com al­guns problemas, o Serra Dou­rada resiste bem. Agora, com mais tempo e dinheiro, há uma imensa dificuldade de se construir estádios para a Copa de Futebol deste ano. A reportagem, bem feita no ge­ral, poderia ter acrescentado o valor do estádio. Deve ter custado bem menos do que os atuais estádios. Há problemas no texto. A repórter escreve: “uma equipe de auto nível”. No caso, é alto. Depois, diz que a construção do estádio foi uma “proposta de campanha” de Leonino Caiado. O então integrante da Arena não fez campanha, porque não havia eleição direta para governador. Agora, e isto é fato, lutou bravamente para ser candidato, pois o nome do governador Otávio Lage, que o antecedeu, era outro.

Com a imprensa de Rio Verde omissa em relação à gestão de Juraci Martins, a Rádio Líder mostra-se mais independente

Numa cidade em que, para sobreviver, a mídia só tem um editor-mecenas — o prefeito Juraci Martins —, é saudável a autonomia crítica da Rádio Líder FM. O “Jornal da Líder”, apresentado por Edes Lima e tendo como debatedor André Furquim, é crítico e tem mostrado os problemas de Rio Verde. Juraci Martins não é corrupto, é bem intencionado, mas faz uma administração de média para baixa qualidade. Nem é preciso comparar com prefeitos anteriores. A primeira gestão do líder do PSD foi muito melhor do que a atual. Pressionar a imprensa para não publicar os problemas do município é pouco inteligente. Porque os problemas acabam aparecendo, como têm aparecido, sobretudo porque o Ministério Público e o Judiciário são autônomos e não dependem das verbas das prefeituras. O jornalismo das rádios e das emissoras de televisão de Rio Verde não é ruim (e, acrescente-se, há jornalistas da mais alta qualidade — bastam ser acionados), mas piora quando deixa de fazer as críticas necessárias à gestão do prefeito. Se a imprensa não alertar, se não pôr o dedo nas feridas, Juraci Martins vai acabar acreditando que faz uma gestão qualitativa, o que levará o município à inação. O jornalismo não deve promover o achincalhe, especialmente porque Juraci Martins é um político respeitável, mas deve divulgar críticas que podem retirar o prefeito da paralisia atual.

Contos de Monteiro Lobato saem em único volume e mostram vitalidade da prosa do escritor

A Globo Livros, selo Biblioteca Azul, lança, num único volume, os “Contos Completos” de Monteiro Lobado. A obra reúne os textos dos livros “Urupês” (1918), “Cidades Mortas” (1920), “Negrinha” (1922) e “O Macaco Se Fez Homem” (1923). Beatriz Rezende, professora da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), disse ao repórter Ubiratan Brasil, de “O Estado de S. Paulo”: “A contundência com que [Monteiro Lobato] constrói a imagem do País, as imagens que apresenta da gente que o habita, as situações e os conflitos de seus personagens não só provocaram recepção favorável imediata como permanecem importantes no quadro da cultura brasileira, sobretudo pela forma com que Lobato, nestes textos, dá à realidade que quer mostrar, a da ficção”. A crítica literária é autora do prefácio da edição dos contos.

Livro revela que obras de George Orwell não podem ser lidas em Cuba. O governo da oligarquia Castro não permite

imprensa0001A História da Destruição Sem Fim das Bibliotecas” (José Olympio, 419 páginas, tradução de Léo Schlafman), de Lucien X. Polastron, mostra como livros e bibliotecas foram tratados como criminosos. Portanto, fadados à destruição. Um caso notável: em Cuba, ilha dos Castro, os três únicos exemplares de George Orwell não podem ser lidos. Em 2001, aparentemente sabendo qual seria a resposta, um grupo de bibliotecários solicitou “um livro qualquer de George Orwell”. “Os três únicos títulos e exemplares da ilha estavam na Biblioteca Nacional, onde um funcionário respondeu que não podiam ser consultados”, diz Polastron. Tempos atrás, Fidel Castro determinou: “Dentro da revolução, tudo. Fora da revolução, nada!” “O resultado dessa frase reflete-se nas livrarias e nos 3 milhões de volumes das bibliotecas: o universo conhecido se reduziu grosso modo à vida e à obra de Ernesto Guevara ou aparentados políticos. Em novembro de 1999, centenas de livros oferecidos pela Espanha foram destruídos na chegada.” O governo decide o que é bom e o que é ruim e faz as escolhas para os leitores do país. Mas, mesmo na ditadura, a oligarquia Castro não consegue controlar tudo. “Há hoje uma rede de livreiros amadores que adquirem não se sabe como e fornecem silenciosamente livros clandestinos, com grande risco para sua segurança pessoal. Apesar dos aborrecimentos, confiscos e encarceramentos, esses imprudentes eram dezoito em 1999 e cerca de 60 em 2003. As férias europeias permitem comprar um exemplar de ‘A Revolução dos Bichos’, de George Orwell, para ler à beira da piscina.” O autor não diz, mas, se um cubano viajar ao exterior e voltar com um exemplar, dos mais inofensivos, do escritor cubano Guillermo Cabrera Infante, morto no exílio, poderá ser punido. O livro será recolhido e a pessoa poderá responder processo, sob acusação tentar de distribuir propaganda imperialista contra Cuba e a Revolução. A obra de Cabrera Infante é uma ode de amor a Cuba, mas, em entrevistas e artigos, falava mesmo mal, muito mal, da ditadura cubana e dos oligarcas Fidel e Raúl Castro.