Por Euler de França Belém
Eumano Silva é sinônimo de experiência, competência e seriedade profissional. Como repórter e editor, passou pelas principais redações do país, como as das revistas “Veja” e “Época” e de jornais, como “Correio Braziliense”. E escreveu (com Taís Morais) um alentado livro sobre a Guerrilha do Araguaia. Agora, assume a chefia da sucursal da “IstoÉ” em Brasília. Ele é o substituto de Paulo Moreira Leite, também ex-“Veja” e ex-“Época”. Moreira Leite foi para o jornal eletrônico “Brasil 247”.
O Terra, um dos maiores portais do Brasil, demitiu 100 funcionários nesta semana. A redação foi a área que mais sofreu cortes. Em São Paulo, base do portal, foram demitidos mais de 50 trabalhadores, notadamente na redação (50% dos cortes são de jornalistas e fotógrafos). A diretoria afastou todos os fotógrafos e o editor-executivo. As demissões em Porto Alegre chegaram a dezesseis. A redação, na capital gaúcha, ficará com apenas quatro repórteres, e a redação do Rio de Janeiro contará, a partir de agora, com somente dois jornalistas. No comunicado interno, a diretoria informou que o Terra vai passar por uma reformulação, mas não explicitou se fará novas contratações no curto prazo. O Portal Imprensa assinala que há indícios de que “o site deixará de ser atualizado 24 horas”, mas a empresa nada disse a respeito. Comenta-se, nos bastidores, que o Terra, assim como outros empreendimentos de comunicação e entretenimento, demitiu para contratar profissionais com salários mais baixos e, também, com o objetivo de obrigar equipes menores a trabalhar mais. O Sindicato dos Jornalistas de São Paulo deve fazer uma representação coletiva contra o portal Terra. “Estamos vendo qual é a situação juridicamente mais adequada, porque, na base da negociação, não temos conseguido nos entender com eles”, disse José Augusto Camargo, presidente do sindicato. Camargo afirma que, como não se considera como uma empresa jornalística, alguns grupos, como o Terra, “não respeitam as convenções trabalhistas do sindicato”. O presidente da Federação Nacional dos Jornalistas, Celso Schröder, disse a Portal Imprensa que “há uma crise econômica infundada na qual os grandes empresários usam o cenário desfavorável internacional para justificar uma má gestão ou um posicionamento editorial, que escolhe o jornalismo de entretenimento para rebater a concorrência da informação na internet”. Schröder frisa que não há uma crise econômica no Brasil. “Tanto que o setor [a Imprensa] vem ganhando incentivos do governo que não são revertidos para os trabalhadores.” A RBS demitiu, no Rio Grande do Sul, mais de 170 funcionários desde o início do ano. “Há uma limitação prevista na CLT que impede demissões em massa”, diz Schröder, numa referência às demissões do Terra e da RBS.

[caption id="attachment_12515" align="alignnone" width="597"] Candidata Marina Silva durante visita a cidade de Curitiba. Curitiba/PR, Brasil - 30/06/2010. Foto: Geraldo Bubniak | Fotoarena[/caption]
Marina Silva será a candidata do PSB a presidente da República. “Será” nem é a palavra apropriada. O certo mesmo “é”.
Eduardo Campos, que morreu na quarta-feira, 13, não era o melhor nome do PSB, em termos eleitorais, porém, como controlava o partido, havia se tornado candidato a presidente da República. Em termos de conhecimento e popularidade, Marina Silva — que “está” mas não “é” do PSB — é muito superior a qualquer outro nome do partido. Portanto, deve ser anunciada como nova candidata.
Os bolsões de resistência, porque a maioria dos líderes do PSB não aceita as ideias da Rede Sustentabilidade, não vão impedir a candidatura de Marina Silva. O motivo é simples: não há outro nome com sua capilaridade política nacional para a eleição deste ano — que ocorrerá daqui a 53 dias. Não dá tempo de criar um novo Eduardo Campos ou uma nova Marina Silva. Se não for a ex-senadora, o partido não terá candidato a presidente.
É provável, até, que Marina Silva, definida candidata, apareça com intenção de voto um pouco acima da intenção de Eduardo Campos. É provável que se aproxime de Aécio Neves, o candidato do PSDB, mas não o supere, ao menos não agora. Se crescer um pouco, sem retirar eleitores do tucano de Minas Gerais, aí o segundo turno estará mais garantido.
No momento, existe a possibilidade de Dilma Rousseff (PT) ser eleita no primeiro turno. Com a entrada de Marina Silva no jogo, e não mais como coadjuvante, cresce a possibilidade de segundo turno.
Ideologia de Marina
Eduardo Campos podia não ser mais forte eleitoralmente do que Marina Silva — até porque não era tão conhecido; mudou-se para São Paulo com o objetivo de se tornar um político nacional —, mas tinha uma virtude que a política oriunda do Acre não tem: era aberto a alianças não ortodoxas e, portanto, ouvia e dialogava mais. Com Marina Silva, o PSB fica mais “fechado”. A líder da Rede Sustentabilidade, um partido dentro do partido, parece acreditar que é possível governar um país com e para os “escolhidos”. A tendência é que, na campanha, o discurso fique mais radical, atraindo eleitores e aliados que estão descontentes com “tudo”, mas ao mesmo tempo é possível que perca aliados mais tradicionais.
Para Aécio Neves, a escolha de Marina Silva é positiva e negativa. É positiva porque tende a ter mais votos do que Eduardo Campos — o que aumenta a possibilidade de segundo turno. É negativa porque, no segundo turno, a ex-ministra pode optar pela neutralidade e, agindo assim, parte dos líderes e militantes do PSB pode acompanhar Dilma Rousseff, e não Aécio Neves. Há, por fim, a possibilidade de Marina Silva superar Aécio Neves, se se apresentar, e for percebida assim pelo eleitorado, como o verdadeiro e atraente “fato novo”. Marina Silva é uma política que não parece política — parece mais uma missionária religiosa que planeja salvar uma comunidade de “escolhidos” — e isto pode agradar a fatia, cada vez mais maior, de eleitores que não toleram políticos profissionais.
Tese diferente
O Jornalista Alexandre Braga defende outra tese: "Sem Eduardo Campos, que tinha votos no Nordeste, Dilma Rousseff deve ganhar no primeiro turno".
Lucas Vergílio, o mais jovem candidato a deputado federal destas eleições e o único do Solidariedade, vai inaugurar seu comitê de campanha, localizado na Rua 119, número 41, Setor Sul, esquina com a Rua 88, nesta sexta-feira (15), às 19h15. Estão confirmadas as presenças do candidato ao governo, Iris Rezende (PMDB), e ao Senado, Ronaldo Caiado, ambos da Coligação Amor por Goiás.
O jovem empresário de 27 anos, do ramo de seguros, é filho do candidato a vice de Iris, o deputado federal, Armando Vergílio (SD). Lucas tem como principais propostas a implantação de centros de ensino técnico profissionalizantes em colégios estaduais, redução de impostos, inclusão de médicos geriatras no Programa de Saúde Familiar (PSF), mais investimento na segurança pública e redução da carga horária de trabalho de 44 para 40 horas semanais.
Para o candidato a deputado federal Giuseppe Vecci é preciso criar portas de saída para os programas sociais como o Bolsa Família

Uma homenagem de Walt Whitman para Robin Williams, um dos atores mais intensos de Hollywood

Revista Bula é a primeira página do Facebook em Goiás, entre os meios de comunicação, autenticada pela rede social. Criada em 2012, a página tem 775 mil seguidores e alcance semanal de 11 milhões de pessoas.
O símbolo usado para identificar a verificação é uma insígnia azul. Quando o usuário clica o cursor do mouse o sobre o símbolo, aparece o termo “página verificada”, mas a rede social criada por Mark Zuckerberg, juntamente com brasileiro Eduardo Saverin, esclarece que os usuários não podem requisitar a verificação: “Verificamos perfis ou páginas a fim de ajudar você a certificar-se de que essas páginas ou pessoas são autênticas e sua atuação condiz as regras da rede social. Algumas figuras públicas famosas e páginas com um grande número de seguidores são verificadas pelo Facebook. Lembre-se de que nem todos os perfis e páginas autênticas são verificadas, e você não pode solicitar que seu perfil ou sua página seja verificada”, explica a empresa.

Iúri Rincon Godinho
[caption id="attachment_12298" align="alignleft" width="366"] Livro "O Réu e o Rei" de Paulo César[/caption]
Roberto Carlos conseguiu tirar de circulação 10 mil exemplares do livro “Roberto Carlos em Detalhes”, do historiador Paulo Cesar de Araújo. A rigor, a obra não tem nada de ruim contra o rei e pode ser encontrada com facilidade no site do Estante Virtual (estantevirtual.com.br) ou no Mercado Livre por cerca de 400 reais. Foi escrito por um fã, como fã que pesquisou com competência durante 15 anos a vida do rei, que saiu engrandecido após o ponto final.
Mas Roberto não gostou, numa prova de que o ser humano é complexo, complicado e inesperado. Processou Paulo Cesar (inclusive criminalmente, pedindo sua prisão por mais de dois anos) e a Editora Planeta. Levou tão a sério o processo que compareceu à audiência. Com seus olhos tristes e a voz de monstro maior no Olimpo da música (e da cultura popular), o cantor e seu séquito de advogados depenaram (mais moral que financeiramente) o autor e a editora. A obra foi recolhida na Planeta, os exemplares nas livrarias teriam sido comprados e a conta enviada à editora. Segundo desconfia o historiador, os livros estão em algum galpão guardado por seguranças ou teriam sido incinerados.
Paulo Cesar ficou bravo. Na audiência ninguém defendia sua pesquisa rigorosa. Os argumentos de Roberto Carlos, para o réu absurdos, diziam que, com a biografia nas lojas, o cantor teria prejuízo financeiro quando fosse lançar sua própria história. O toque final, kafkiano, se deu quando o juiz chamou o cantor em um canto e lhe pediu que escutasse um cd que gravara. Também soltava seus trinados, tímidos, a julgar pelo pseudônimo que usava.
Sozinho no tiroteio, tendo contra si um ícone nacional, sem seu livro, sem editora, Paulo Cesar foi à forra e preparou a vingança, publicada no início desse ano. “O Réu e o Rei”, da Companhia das Letras, tenta descontruir Roberto Carlos. Ao contar de maneira cronológica e rápida a trajetória do cantor, mostra como ele perdeu relevância a partir dos anos 90 e não consegue, há muitos anos, fazer nada de relevante, lançando músicas raras e ruins, se regravando à exaustão ano após ano. Os cruzeiros do rei são tratados como um passeio de vovozinhas ricas e deslumbradas. Seus shows como excludentes e caros, prejudicando justamente a população humilde que comprou os discos e fez sua fama, e que agora teria sido “abandonada” por ele, privada financeiramente de vê-lo ao vivo.
De maneira desnecessária, relembra o acidente no qual o rei perdeu uma perna (do joelho para baixo), em um acidente na linha férrea, quando criança. Também desnecessariamente desce aos sempre chatos detalhes do processo. Gasta bem umas 100 páginas (e a paciência do leitor) da repercussão (negativa para o cantor, excelente para o autor) da polêmica na imprensa.
Se no primeiro livro Paulo Cesar constrói um herói da música popular, no segundo põe tijolo sobre tijolo num monumento sobre um cantor talentoso mas intolerante, cheio de manias e capaz de influenciar, além dos admiradores, outros artistas e o Judiciário.
Mas a vingança de Paulo Cesar é mais efetiva quando ele dá o caminho de outras obras que não compactuam com a imagem de bom moço de Roberto Carlos. Parte dessa mágoa, para além do processo, foi o fato de os advogados do rei não terem processado também Pedro Alexandre Sanches, autor de “Como Dois e Dois São Cinco”, sobre Roberto, Erasmo e Wanderléa. E nem a ex-mulher do costureiro Dener, Maria Stela Splendore.
Maria Stela (Sri) era uma moça bonita que, ainda adolescente, caiu nas graças do maior costureiro do Brasil e se casou com ele por pouco tempo, para logo depois ter um caso com Roberto Carlos. Em seu livro “Sri Splendore – Uma História de Vida”, ela conta seu envolvimento com o rei e revela as dúvidas sobre quem seria o pai de sua filha: Dener ou Roberto Carlos. De maneira vaga, conta um encontro das duas com o cantor e que ele prometera algo (ela não diz o quê) e não cumpriu. Paulo Cesar parece achar que esse livro seria suficiente para um processo.
Se com Maria Stela nada aconteceu, Nichollas Mariano teve problema semelhante a “Roberto Carlos em Detalhes”. Nichollas era funcionário de rádio no Rio de Janeiro que se aproximou do cantor em início de carreira e trabalhou como seu divulgador — uma espécie de relações públicas. Roberto Carlos o levou pra casa — ainda morava com a mãe, Laura.
Quando o cantor se mudou para São Paulo, demorou para chamar Nichollas, que parecia se sentir abandonado quando não estava com Roberto Carlos. O fato é que o cantor confiava nele mas Mariano não tinha qualificação na vida profissional que o rei entrara, cheia de grandes empresários, advogados e contratos. O jeito que Roberto achou foi contratá-lo como mordomo, na verdade um empregado doméstico de luto, que atendia telefone e fazia compras nos supermercados.
Estar perto do ídolo — e do poder advindo disso — era o bastante e quando os dois se desentenderam e Nichollas foi mandado embora, perdeu o rumo. Tentou vários empregos, até gravou um disco. Tudo fracasso. Voltou a procurar Roberto, pediu dinheiro, recebeu mas não foi o bastante. Em 1979 lançou “O Rei e Eu – Minha Vida com Roberto Carlos”.
Naquele ano, o cantor estava no auge. O sucesso adolescente da Jovem Guarda passara e no final dos anos 60 ele entrara em uma fase mais adulta, densa, um pé na soul music e sem o som pastiche e piegas que faria a partir da metade dos anos 80. Em resumo, seu melhor período, quando, com certeza, produziu algumas das melhores músicas de nossa história.
Roberto Carlos conseguiu proibir o livro até com facilidade — e proibido está até hoje. Até porque Nichollas Mariano não é o Paulo Cesar, que tem estilo, sutileza e estudo. E pegou pesado. Narra a “ginástica” que a família fazia para esconder a deficiência física de Roberto, conta que ele dirigia de maneira quase suicida (disputando quem chegava em menos tempo), diz que Laura não gostava da primeira mulher do filho, Nice, e outros detalhes no limite entre informação e fofoca.
O livro de Nichollas Mariano é bem mais difícil de conseguir, nunca por menos de mil reais. E em tempos de internet não adianta muito proibir a circulação de qualquer texto. Por mais dialético que pareça, ao mesmo tempo, é também necessário que se defenda o direito de quem não quer ver sua história exposta. Mesmo que essa pessoa seja Roberto Carlos.
Iúri Rincon Godinho, jornalista e publisher da Contato Comunicação, é colaborador do Jornal Opção.
[caption id="attachment_12128" align="alignleft" width="300"] Biografia revela o Primo Levi que livros autobiográficos não mostraram[/caption]
O judeu italiano Primo Levi foi levado para Auschwitz, mas sobreviveu. Em larga medida, por ser um químico competente. Ao sair, continuou trabalhando como químico e se tornou um dos mais poderosos escritores do século 20. “É Isto um Homem?” (Rocco, 256 páginas, tradução de Luigi Del Re) é um dos livros mais notáveis sobre o cotidiano dos indivíduos no campo de extermínio nazista. O leitor que quiser conhecer a história do campo localizado na Polônia talvez deva começar por esta obra séria e penetrante.
Com seus livros sobre Auschwitz — escreveu ficção sobre outros assuntos —, Primo Levi consagrou-se como um dos principais memorialistas, senão o maior, do horror nazista. Fica-se com a impressão de que sobreviveu para contar, para contar bem, com largueza de visão e certa implacabilidade. Porém, mesmo consagrado e respeitado praticamente em todo o mundo — Philip Roth é um dos mais apaixonados leitores de sua obra, que ajudou a divulgar e estabelecer nos Estados Unidos —, Primo Levi tinha depressão, às vezes chamada de “mal silencioso”.
Em abril de 1987, aos 67 anos, Primo Levi matou-se, jogando-se da escada do edifício no qual morava, em Turim. Estava muito deprimido. Não houve testemunhas, mas ninguém o empurrou. A conclusão da perícia técnica de Turim é que se suicidou. Recém-operado de uma cirurgia de próstata, estava mal psiquicamente, e dizia não acreditar que algum dia ficaria bem (da depressão) e admitia que era muito difícil receber visitas. A enfermeira Elena Giordanino, que cuidava da mãe de Primo Levi, Ester, contou à polícia que o escritor estava “muito alterado. Às vezes o via sentado com a cabeça entre as mãos, pensando”. Estava angustiado. Lucia, mulher do escritor, relatou que ele estava “deprimido”. “Primo estava cansado da vida... Fizemos o possível para nunca deixá-lo só. Nunca. Mas só um momento foi suficiente.”
Não é fácil contar a vida de Primo Levi, porque ele próprio revelou parte dela, aparentemente “encobrindo” detalhes, quem sabe por julgá-los sem importância, e não com o objetivo de falsificar. Era cioso com sua própria história. O inglês Ian Thomson, de 53 anos, embora desencorajado por algumas pessoas, decidiu pesquisar a vida do escritor com o objetivo de escrever uma biografia não definitiva, porque isto é ficção, e sim a mais ampla possível. Descobriu, por exemplo, que, mesmo antes de ser enviado para Auschwitz, na década de 1940, Primo Levi já sofria de fortes crises de depressão. O campo de extermínio por certo potencializou seu problema de saúde. Porém, mesmo com depressão, trabalhou como químico e se tornou um dos maiores escritores do século 20. A depressão levou-o à morte, mas não impediu que escrevesse bons livros, como “É Isto um Homem?” e “A Trégua” (Companhia das Letras, 360 páginas, tradução de Marco Lucchesi). A Companhia das Letras publicou a ótima coletânea “71 Contos de Primo Levi” (528 páginas, tradução de Maurício Santana Dias).
A intenção do biógrafo não é demolir Primo Levi, até porque não há o que demolir, e sim compreender como este homem, atormentado a vida inteira, sobreviveu a Auschwitz e escreveu uma obra literária e de testemunho a um só tempo bela, dolorosa e poderosamente informativa. O autor italiano é a prova de que o indivíduo — aquelas pessoas ímpares — faz a diferença em qualquer lugar.
“Primo Levi” (Belacqva, 743 páginas, tradução de Julio Paredes), do escritor e jornalista inglês Ian Thomson, é uma biografia de alta qualidade, absolutamente imperdível. Citei trechos da história do suicídio, mas a biografia revela muito mais do que a morte, que, claro, não é o centro da vida de nenhuma pessoa. Vale a pena traduzi-la no Brasil. Denise Bottmann se candidataria a transpor a bíblia sobre Primo Levi para o português?
A edição comentada saiu em Barcelona em 2007 e o texto original foi publicado em 2002 na Inglaterra. Quando lançada, “Observer” anotou: “Uma das melhores biografias literárias do ano... Soberba... Levi, acreditamos, a apreciaria”.
Outra publicação, “London Review of Books”, adotou tom parecido: “Esta biografia é inteligente, brilhante, notável, excelente e importante”. Os adjetivos não são exagerados. As duas publicações têm razão: “Primo Levi” é um exemplo de biografia muito bem escrita, e com um rigor impressionante, digna das melhores pesquisas de scholars americanos e ingleses e da estirpe das excelentes biografias “Chatô — O Rei do Brasil”, de Fernando Morais, e “Nelson Rodrigues — O Anjo Pornográfico”, de Ruy Castro.

A presidente Dilma Rousseff não faz um governo ditatorial e nem o PT é apóstolo da implantação de uma ditadura no Brasil. Tanto Rousseff quanto o PT, apesar de certa má vontade e relutância, aceitam as regras do jogo democrático. Aqui e ali, como se tivessem saudade das ideias comunistas, tentam alguma medida autoritária, com o objetivo de controlar instituições, como o Ministério Público e, mais recentemente, a Imprensa. Porém, pressionados, têm recuado. Teoricamente, o ranço autoritário do petismo está sob relativo controle. Mas há as “escapadas”. Na semana passada, o jornal “O Globo” revelou que dois dos mais qualificados jornalistas das Organizações Globo, Miriam Leitão e Carlos Alberto Sardenberg, tiveram seus perfis na Wikipédia modificados pela rede de internet do Palácio do Planalto. As análises econômicas de Miriam são apontadas como “desastrosas” e ela teria ligações com o empresário-banqueiro Daniel Dantas — duas informações, mais do que equivocadas, manipuladas. Sardenberg é citado como responsável por previsões erradas e como defensor de juros altos, supostamente porque tem ligações com o economista-chefe da Federação dos Bancos (Febraban), Rubens Sardenberg, seu irmão. Inicialmente, o Palácio do Planalto disse que não havia como investigar o caso, devido a uma questão técnica, porém, dada a repercussão na imprensa, recuou. A Secretaria-Geral da Presidência afirmou que vai investigar, mas é provável que não se chegue ao responsável. Cortar na própria carne, sobretudo em períodos eleitorais, não é muito comum. Uma pergunta não foi feita: por que dois jornalistas especializados em economia foram atacados e não jornalistas de política? A frase “é a economia, estúpido!”, do marqueteiro americano James Carville, explica os ataques a Miriam e a Sardenberg? Talvez. Politicamente, por ter a imagem de ser austera, mesmo que haja corrupção em seu governo, Rousseff não é malvista — exceto por alguns políticos, e não apenas do PMDB. No entanto, como a economia vai mal, porque praticamente não cresce — o crescimento este ano deve ficar abaixo de 1% —, o governo de Rousseff tem sido mal avaliado. Na mente conspiratória de alguns petistas, quem sabe sobretudo daqueles que trabalham no Palácio do Planalto, os analistas econômicos, ao explicarem o que está ocorrendo, estariam contribuindo para aumentar, se não a crise, a sensação de que a crise é muito mais ampla. Daí, portanto, os ataques. A falsificação dos perfis de Miriam e Sardenberg é grosseira e preocupante. Rousseff diz que nada tem a ver com isto, e é provável que não tenha mesmo, mas precisa controlar seus auxiliares. Senão o que parece apenas ranço autoritário, recaída ao estilo stalinista, terá de ser considerado como uma espécie de “ética” do petismo.

[caption id="attachment_12143" align="alignleft" width="270"] Paulo Lacerda deixa a gerência comercial e vai cuidar apenas da área de eventos
Divulgação/Twitter[/caption]
Uma mudança na gerência comercial do “Pop” foi feita com discrição — exceto por uma leve mexida no expediente. O nome de Paulo Lacerda, gerente comercial durante vários anos, não é mais apontado. Por intermédio do correio eletrônico, ele informou aos proprietários e diretores de algumas agências de publicidade que sua saída da gerência comercial, com a consequente transferência para a coordenação de eventos do jornal, não significa uma queda, como se especulou no mercado, e sim uma promoção. Publicitários falam em “queda para o alto”. Porém, como o Grupo Jaime Câmara vai investir maciçamente em eventos, com a possibilidade de constituir uma empresa para geri-los, é possível mesmo que não se trate de uma “queda”. A empresa, se criada, organizaria eventos do GJC e de outros setores da iniciativa privada.
A um publicitário, do qual é amigo, Paulo Lacerda diz que está “satisfeito” e que “aprecia” cuidar de eventos.
O que o GJC pretende fazer é transformar os eventos, cada vez mais, em motivos para aumentar o faturamento comercial. A nova gerente comercial, Alexandra Lima, é apontada como uma profissional experimentada. Ela trabalhou na empresa durante algum tempo, depois foi para Belo Horizonte, para acompanhar o marido, e retornou para Goiânia. Devido à “competência”, foi recontratada. No “Daqui”, foi uma das organizadoras das promoções, tidas como bem-sucedidas. Fora do mercado jornalismo, dirigiu o marketing das lojas Novo Mundo.
Publicitários dizem que a ascensão de Alexandra não muda quase nada, mas admitem que o “Pop” precisava mesmo de um profissional “mais presente” e, quem sabe, “motivado”. Os publicitários dizem que a equipe do comercial permanece a mesma, assim como a política da empresa, que, com uma tabela comercial rígida, tem sido criticada pelos profissionais do ramo.

O nazista estava incógnito na Argentina? “Eichmann nunca quis, nem mesmo como fugitivo, a obscuridade. Queria ser visto na Argentina como o símbolo de uma nova era"
O Adolf Eichmann que foi julgado, condenado à morte em Israel e dissecado no livro “Eichmann em Jerusalém — Um Relato Sobre a Banalidade do Mal” (Companhia das Letras, 344 páginas, tradução de José Rubens Siqueira), da filósofa alemã Hannah Arendt, pode ter sido um personagem habilmente construído para tentar salvá-lo? É provável. O nazista, aliado de Heinrich Himmler, tinha o hábito, por assim dizer, de construir personagens (ou personalidades), adaptando-se aos ambientes. Hannah Arendt, na sua excelente e problemática obra, pode ter capturado, até à perfeição, “um” Eichmann, mas os “outros”, aparentemente, escaparam-lhe. Ao condenar Eichmann à morte, o tribunal israelense pode, compreendendo ou não o homem complexo e dissimulado, ter acertado mais do que a filósofa judia.
“Adolf Eichmann — Historia de un Asesino de Masas” (Edhasa, 642 páginas, tradução de Silvia Villegas), de Bettina Stangneth, de 48 anos, é um livro extraordinário (inédito em português). Seu objetivo não é demolir a obra de Arendt, que a autora admira, especialmente pela coragem e inteligência da argumentação. Pelo contrário, quer ampliar sua compreensão sobre quem era Eichmann.
Doutora em Filosofia com uma tese sobre Kant, a alemã Bettina procura entender e explicar Eichmann antes do fuzuê de Jerusalém. “Há uma perspectiva [sobre o nazista] que, em sua maior parte, permanece inexplorada: a esfera pública. Falta verificar o ‘fenômeno Eichmann’ antes de Jerusalém e, em consequência, a imagem de Eichmann nas diferentes etapas de sua vida.” Arendt não tinha como ter uma visão nuançada de Eichmann, porque em 1961, durante o julgamento, havia pouca documentação de qualidade sobre o nazista. Bettina afirma que agora há um “excepcional conjunto de fontes”. “Existem mais documentos, testemunhos pessoais e relatos de testemunhas da época referentes a Eichmann do que sobre todos os demais líderes nazistas.”
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Adolf Eichmann: julgamento em Jerusalém | Foto: Reprodução[/caption]
“Eichmann concebeu uma nova versão de si mesmo em cada etapa de sua vida, segundo o público e os fins que motivavam suas ações”, escreve Bettina. Na Argentina, ele escrevia e lia muito. À margem dos livros, fazia anotações críticas, às vezes irritadas. Os “Argentien-Papiere” são os textos do próprio Eichamm, escritos no exílio. Ele concedeu entrevistas a Willem Sassen (“Entrevistas Sassen”).e, assim, causar o mesmo impacto que já havia causado anteriormente. (...) Eichmann não era um pária na Argentina”.
Na Argentina, Eichmann mantinha contatos com outros nazistas. Os nazistas “elaboraram planos subversivos, construíram com esmero uma rede de simpatizantes, se dedicaram inclusive a falsificar documentos com o objetivo de defender sua visão do ‘glorioso’ nacional-socialismo das críticas e evidências, e Adolf Eichmann era uma figura central entre eles. Era seguro de si mesmo, comprometido e consultado como especialista respeitado devido aos milhões de assassinatos, como quando era assessor da Reichssicherheitshauptamt [Escritório Central de Segurança do Reich]. ‘Eichmann na Argentina’ não é, portanto, uma peça unipessoal, e sim a crônica da surpreendente segunda carreira de um tenente-coronel aposentado das SS: sua carreira como especialista em história e, uma vez mais, expert na ‘questão judaica’”.
Perspicaz, Eichmann construiu, posteriormente, a imagem de que estava totalmente escondido, isolado e afastado das lides políticas na Argentina. A história fantástica e heroica do sequestro executado pelo Mossad, sugerindo que foi uma operação mais complexa do que realmente foi, colaborou para o mito de que ele não tinha importância, de que não articulava e não se movimentada. “Eichmann nunca quis ser o inofensivo e pacífico Ricardo Klement, exceto quando ocupou sua cela na prisão de Israel. Na Argentina, assinava orgulhosamente as dedicatórias das fotos para seus camaradas como ‘Adolf Eichmann, tenente-coronel aposentado das SS’”, registra Bettina.
Ao ler cuidadosamente as atas dos interrogatórios do nazista em Jerusalém, Arendt pode ter caído numa “armadilha” preparada meticulosamente pelo esperto nazista. “Ninguém leu as atas dos interrogatórios e o julgamento com tanto detalhamento. Mas foi assim que [Arendt] caiu na armadilha, porque Eichmann em Jerusalém não foi mais do que uma máscara. E se não logrou dar-se conta, era sumamente consciente de que ainda não havia compreendido o fenômeno como gostaria”, anota Bettina. Talvez seja possível dizer que Arendt compreendeu o Eichmann exibido por Eichmann, mas não o nazista muito mais complexo do que um mero funcionário administrativo, um cumpridor de ordens, quase uma besta quadrada.
Bettina diz que é preciso admitir que mesmo pessoas sem inteligência extraordinária podem chefiar pessoas muito mais dotadas e, ao mesmo tempo, “enganar” magistrados, procuradores, jornalistas e filósofos muito bem preparados. Em Jerusalém, Eichmann, por vias indiretas, esculpiu com certa precisão a imagem de que era um funcionário do segundo escalão. “Só ante a Justiça de Jerusalém tentou aparecer como um funcionário menor, subalterno e substituível, sem nome e sem rosto. (...) Há numerosos indícios de que a partir de 1938 Eichmann não era um desconhecido nem lhe interessava ocupar um lugar nas sombras. Quando começamos a seguir esses indícios, aparece a clara imagem do homem que urdiu uma trama criminosa.” Eichmann não era Hitler, Himmler, Göring ou Goebbels, mas foi uma figura importante na política — tida como parte central do ideário nazista — de extermínio dos judeus. Menor talvez seja a interpretação que fizeram de seu papel na história a partir do que relatou em Jerusalém, quando se tornou um culpado-quase vítima do nazismo.
Rozane Monteiro, de 47 anos, apontada como jornalista brilhante, matou-se na segunda-feira, 4. A profissional teve um aneurisma cerebral, conseguiu recuperar-se, mas, ao receber o diagnóstico de outro aneurisma, optou pelo suicídio. Profissional experiente, especializada em jornalismo nos Estados Unidos, ex-correspondente na República Tcheca, Rozane foi editora de Internacional do “Jornal do Brasil”, trabalhou em “O Dia” e, daí, foi para o “Extra”.
[caption id="attachment_12116" align="alignleft" width="255"] O último volume da trilogia do balacobaco sobre o líder político Getúlio Vargas[/caption]
Está nas livrarias o último volume da trilogia biográfica que o jornalista e escritor Lira Neto escreveu sobre o presidente Getúlio Vargas. “Getúlio — Da Volta Pela Consagração Popular ao Suicídio: 1945-1954” (Companhia das Letras, 464 páginas. O livro impresso custa R$ 49,50 e o e-book sai por R$ 34,50).
Nenhum personagem histórico sai incólume das biografias feitas com rigor e o máximo de objetividade possível. Porque todos os seres humanos, não apenas os políticos, são um poço de contradições. Pesquisador do tipo que avalia que Deus está nos detalhes, mas precisa-se do conjunto para avaliar, Lira Neto pesquisou minuciosamente e, depois, evitando o relatório puro e simples, escreveu um livro de história, que aqui ganha o nome de biografia, do balacobaco. Getúlio é exposto por inteiro e o resultado final é um político importante para a história do país, mas com seus (e dos aliados) problemas devidamente apontados.
Os três livros (na verdade, um só dividido em três partes), mais do que uma biografia de Getúlio, é uma alentada radiografia da história brasileira, dos fins do século 19 ao século 20 (até 1954, quando o presidente, para não ser afastado ou não ter de enfrentar uma grave crise política, preferiu se matar. Sua morte abortou o golpe civil-militar... por dez anos).
O site do Jornal Opção (www.jornalopcao.com.br) publica um capítulo do livro. Leia AQUI