Ataque a Miriam e Sardenberg seria uma espécie de ranço autoritário do petismo

09 agosto 2014 às 11h05

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A presidente Dilma Rousseff não faz um governo ditatorial e nem o PT é apóstolo da implantação de uma ditadura no Brasil. Tanto Rousseff quanto o PT, apesar de certa má vontade e relutância, aceitam as regras do jogo democrático. Aqui e ali, como se tivessem saudade das ideias comunistas, tentam alguma medida autoritária, com o objetivo de controlar instituições, como o Ministério Público e, mais recentemente, a Imprensa. Porém, pressionados, têm recuado. Teoricamente, o ranço autoritário do petismo está sob relativo controle. Mas há as “escapadas”. Na semana passada, o jornal “O Globo” revelou que dois dos mais qualificados jornalistas das Organizações Globo, Miriam Leitão e Carlos Alberto Sardenberg, tiveram seus perfis na Wikipédia modificados pela rede de internet do Palácio do Planalto. As análises econômicas de Miriam são apontadas como “desastrosas” e ela teria ligações com o empresário-banqueiro Daniel Dantas — duas informações, mais do que equivocadas, manipuladas. Sardenberg é citado como responsável por previsões erradas e como defensor de juros altos, supostamente porque tem ligações com o economista-chefe da Federação dos Bancos (Febraban), Rubens Sardenberg, seu irmão.
Inicialmente, o Palácio do Planalto disse que não havia como investigar o caso, devido a uma questão técnica, porém, dada a repercussão na imprensa, recuou. A Secretaria-Geral da Presidência afirmou que vai investigar, mas é provável que não se chegue ao responsável. Cortar na própria carne, sobretudo em períodos eleitorais, não é muito comum.
Uma pergunta não foi feita: por que dois jornalistas especializados em economia foram atacados e não jornalistas de política? A frase “é a economia, estúpido!”, do marqueteiro americano James Carville, explica os ataques a Miriam e a Sardenberg? Talvez. Politicamente, por ter a imagem de ser austera, mesmo que haja corrupção em seu governo, Rousseff não é malvista — exceto por alguns políticos, e não apenas do PMDB. No entanto, como a economia vai mal, porque praticamente não cresce — o crescimento este ano deve ficar abaixo de 1% —, o governo de Rousseff tem sido mal avaliado. Na mente conspiratória de alguns petistas, quem sabe sobretudo daqueles que trabalham no Palácio do Planalto, os analistas econômicos, ao explicarem o que está ocorrendo, estariam contribuindo para aumentar, se não a crise, a sensação de que a crise é muito mais ampla. Daí, portanto, os ataques.
A falsificação dos perfis de Miriam e Sardenberg é grosseira e preocupante. Rousseff diz que nada tem a ver com isto, e é provável que não tenha mesmo, mas precisa controlar seus auxiliares. Senão o que parece apenas ranço autoritário, recaída ao estilo stalinista, terá de ser considerado como uma espécie de “ética” do petismo.