Por A.C. Scartezini

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Ao voltar da praia, Dilma revela os cinco companheiros que se tornam seus conselheiros

[caption id="attachment_25835" align="alignnone" width="620"]Aloizio Mercadante, Jaques Wagner, Miguel Rossetto, Pepe Vargas e Ricardo Berzoini: os cinco homens da presidente Dilma Rousseff Aloizio Mercadante, Jaques Wagner, Miguel Rossetto, Pepe Vargas e Ricardo Berzoini: os cinco homens da presidente Dilma Rousseff[/caption] Nenhum deles lidera o PT ou se destaca como articulador político. Nem são propriamente populares no PT, partido multiplicado em correntes e subcorrentes internas. Mas são os cinco ministros que a presidente Dilma chamou para conversar na noite de terça-feira, quando ela voltou um dia mais cedo da nova temporada na praia baiana. Ao lado da presidente na mesa do Alvorada se sentaram Aloizio Mercadante (Casa Civil), Jaques Wagner (Defesa) ,Miguel Rossetto (Secretaria-Geral), Pepe Vargas (Relações Institucionais) e Ricardo Berzoini (Comunicações). Dois nomes chamam a atenção no grupo: Wagner e Berzoini, que não trabalham ao lado na vizinhança de Dilma no Planalto. Entre os dois, o judeu Wagner sempre foi mais chegado e, agora que deixou o governo da Bahia, poderia estar no Planalto, mas a chefe preferiu que ficasse ao lado dos militares na Defesa. Nasceu no Rio, militou no sionismo e depois no movimento estudantil. Perse­guido pela ditadura, escondeu-se em Minas, um dia fugiu de ônibus para a Bahia e lá ficou. O movimento de Berzoini é di­fe­­rente. Estava no Planalto, como ar­ticulador político, até se mudar pa­ra o Ministério das Comunica­ções, mas agora se demonstrou que ele continuará presente no palácio. A ida seria um agrado a Lula e aos petistas mais à esquerda, pois teria no ministério a missão de desengavetar o projeto de controle da mídia. Porém, parece que não será bem assim. Ao se retirar do Planalto, demonstrou que pretende fazer um novo projeto a começar pelo zero, a partir de um amplo debate com empresas, sindicatos e a sociedade. Na discussão, seriam recolhidas sugestões a serem, então, seriam enviadas ao Congresso como colaboração. “Quem regulamenta é o Congresso Nacional”, avisou. Enfim, não haveria mais aquela pressa que a assessoria petista de Lula desejava quando, há quatro anos, ao deixar o governo legou para a sucessora Dilma o duro projeto pronto e acabado feito pelo companheiro e jornalista Franklin Martins, secretário de Comunicação Social, que encerrou ali seu expediente ao entregar o texto a Lula. A matéria não empolgou a presidente, que preferiu repassar o projeto ao então novo ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, pois o projeto abrange televisão e rádio. O companheiro percebeu que seria melhor esquecer ao assunto numa gaveta. Dilma não reclamou. Lula se lembrava do projeto apenas quando se sentia perseguido pela imprensa, como a TV Globo. Agora, quando chegar ao Congresso, se chegar, a matéria deve voltar a dormitar. Se a presidente revelar interesse pela tramitação do projeto, oferecerá aos insaciáveis mais uma oportunidade para negociar com o Planalto verbas e posições. Os únicos estímulos que viriam da mídia seriam conselhos para esquecer o assunto. Agora, a acolhida ao projeto se tornaria ainda mais sinistra depois do histórico e bárbaro espetáculo proporcionado por terroristas muçulmanos em Paris, na quarta-feira, com o atentado contra a irreverência do jornal satírico “Charlie Hebdo”. O que queriam os terroristas? Controlar os jornalistas, censurar com morte a ironia deles diante de mitos religiosos, de Cristo a Maomé. A missão dos novos conselheiros não seria a de abrir novas frentes de conflitos em tempo tão difícil para o governo. Ao contrário, é momento de o palácio fazer amigos e influenciar pessoas de modo que fluam pelo Congresso, o mais levemente possível, as duras propostas para o reordenamento da economia.

As denúncias contra Eduardo Cunha e Anastasia são diferentes, mas há suspeito comum

[caption id="attachment_25831" align="alignnone" width="620"]Procurador Eugênio Aragão: ação estranha no interesse de ir para o STF? | Foto: Nelson Jr. /TSE Procurador Eugênio Aragão: ação estranha no interesse de ir para o STF? | Foto: Nelson Jr. /TSE[/caption] Há a suspeita no Congresso de que o subprocurador-geral da República, Eugênio Aragão, seja o autor do vazamento sobre o envolvimento com o petrolão do líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha, e do senador eleito Antonio Anastasia (PSDB), ex-governador de Minas. São dois casos diferentes. Cunha, desafeto do Planalto por causa de sua voracidade por cargos e verbas, é o candidato favorito à presidência da Câmara contra o PT, na mudança do mês. Sua implicação com o petrolão viria da delação premiada do doleiro Alberto Youssef. Para ganhar pontos na redução de sua pena, Youssef teria que provar o que disse. O envolvimento de Anastasia, que assume no Senado também na virada do mês, teria surgido em depoimento de um preposto de Youssef, o polícia federal Jayme Alves de Oliveira Filho, o Careca. Depoimento não exige prova. Nele, Careca teria dito que, em nome do doleiro, entregou pessoalmente a Anastasia R$ 1 milhão para a sua campanha eleitoral a governador de Minas. A notícia desgasta o senador Aécio Neves, de quem Anastasia era vice-governador. Em 2010, Aécio elegeu-se senador e Anastasia se reelegeu ao Palácio da Liberdade. Saiu do governo mineiro para se candidatar ao Senado no ano passado, quando Aécio concorreu a presidente contra a reeleição de Dilma Rousseff. A missão de Careca junto ao doleiro era entregar dinheiro vivo a pessoas indicadas por Youssef. Cunha e Anastasia seriam duas delas. Agora, o senador eleito se oferece a uma careação com Careca. Entre outras coisas, deseja que o policial aponte o endereço aonde teria ido com uma sacola para recolher a grana. O procurador Eugênio Aragão permaneceu onde estava, na Procuradoria Geral da República. Mas é candidato a promoção: deseja a vaga de Joaquim Barbosa no Supremo Tribunal Federal. No fim do ano passado, foi autor de uma causa polêmica, derrotada pelo Tribunal Superior Eleitoral. Questionou no TSE a indicação do ministro Gilmar Mendes a relator da prestação de contas da campanha de Dilma a presidente em 2010. O recurso era estranho porque não caberia ao Ministério Público duvidar de indicação de relator no tribunal. O questionamento deveria vir de partido político, mas não veio.

O chega pra lá de Dilma em Lula abre espaço para a oposição e outros petistas na sucessão

A emancipação da sucessora deixou o ex sem ter olhos e ouvidos no Planalto que o informem sobre o que se passa na intimidade presidencial

Chegou o encontro da presidente com a herança maldita que deixou e recebeu no governo

[caption id="attachment_25037" align="alignleft" width="620"]Arno Agustin: malabarista das contas maquiadas na Secretaria do Tesouro Arno Agustin: malabarista das contas maquiadas na Secretaria do Tesouro | Foto: Antonio Cruz/ Agência Brasil[/caption] Ao voltar da nova temporada em praias baianas, a presidente Dilma en­controu a realidade de que a herança que recebeu de si mesmo no primeiro mandato é pior do que pensava: o saldo positivo de R$ 10 bilhões nas contas públicas que esperava deixar em 2014 se transformou, até novembro último, em déficit de R$ 18,3 bilhões, sem contar os juros da dívida. “Estamos esperando para dezembro um resultado positivo de dois dígitos”, manteve o otimismo o secretário do Tesouro, Arno Au­gustin, aquele companheiro perito em contabilidade criativa. O alcance do saldo positivo de R$ 10 bilhões ao longo do ano passado exigiria do governo a economia de R$ 28,3 bilhões em dezembro, taxa inédita nesse período do ano. Ele contava com a receita que viria na segunda e na terça-feira. “Ainda temos dois dias de receita e isso vai influenciar bastante o resultado”, comentou. Quando saírem, os números de dezembro não encontrarão Augustin na chefia do Tesouro. “Vou tirar férias”, confirmou que não estaria na nova equipe econômica. Na verdade, a saída de Augustin com seu malabarismo contábil combina com a disposição de Dilma em contar com nomes mais confiáveis ao mercado no Ministério da Fazenda. Em nome da transparência, o governo deve desistir da assinatura de contrato com a Petrobrás para a exploração de quatro áreas do pré-sal, que provocou suspeita no Tribunal de Contas da União. Se o contrato fosse assinado em dezembro, como o governo desejava, ele teria à sua disposição uma nova receita de R$ 2 bilhões em 2014, pagos antecipadamente no ato da assinatura, embora o correto fosse pagar em 2015. Em 2016, seriam R$ 3 bilhões. Em 2017, R$ 4 bilhões. Em 2018, ano da próxima eleição presidencial, a receita se manteria em R$ 4 bilhões. Nos dois casos, troca de secretário do Tesouro e suspensão do contrato com a petroleira, é possível encontrar as digitais dos novos ministros da Fazenda e do Plane­jamento, Joaquim Levy e Nelson Barbosa. Ambos prometem transparência nas contas públicas, mas até quando serão ouvidos por Dilma? Até as eleições municipais em 2016? O próprio Augustin, antes de sair reconheceu que os gastos eleitorais do governo no ano passado têm a ver com as despesas maiores do que as receitas. Assim como os programas de desoneração de impostos com que a presidente beneficiou setores da indústria com a expectativa de que as empresas reduzissem os custos e vendessem mais. Não funcionou. A troca de ministros exibiu a disposição da presidente em ampliar a qualquer custo a sua base parlamentar, em nome da governabilidade. Mas a mediocridade dos ministros indicados pelos partidos amigos indica que eles estão chegando para gastar dinheiro público em benefício de projetos particulares de poder. Como Dilma, gastadora por natureza, poderá conter a gastança da Esplanada S/A? Daqui a dois anos, as eleições municipais.

Apesar de tudo, o Planalto espera para um cenário mais favorável na economia em 2016

[caption id="attachment_25035" align="alignleft" width="620"]Início de privatização da CEF vai irritar os esquerdistas do governo | Foto:  Divulgação Início de privatização da CEF vai irritar os esquerdistas do governo | Foto: Divulgação[/caption] A ideia da presidente Dilma em abrir o capital da Caixa Econômica Federal em 2016 é uma aposta otimista no futuro, com a economia estável daqui a menos de dois anos, nas mãos conservadoras dos novos ministros da Fazenda e do Plane­jamento, Joaquim Levy e Nelson Barbosa. Ambos, responsáveis pela desejada adesão de capitalistas à compra de ações da CEF na bolsa. Se a economia estiver bem, a dificuldade que restará será política, com resistência à venda de ações no PT e outras organizações de esquerda que já começam a mobilizar-se para barrar tentações capitalistas que pressentem no novo comando da economia. A venda de ações da Caixa no mercado tem a ver com privatização, ainda que parcial. Seria a quebra de um dogma. Sim, o Banco do Brasil tem ações à venda na bolsa, como a Petrobrás, mas isso vem de antes da era PT no poder central. Há cinco anos, a esquerda não chiou quando, no governo Lula, a mesma Caixa pagou R$ 739,2 milhões para incorporar uma fatia do Banco PanA­mericano, do apresentador Silvio Santos. Não chiou porque se tratava de estatização. Má estatização. O banco estava quebrado, mas a Caixa percebeu apenas ao assumir o controle de 49% das ações preferenciais da empresa, que representava a posse de 35,54% do capital do banco, cujo foco estava no varejo de cartões de crédito, mais empréstimos pessoais e consignados. Para salvar a cara da Caixa e do banco e sanear o novo patrimônio estatal veio o socorro com R$ 4,3 bilhões do Fundo Garantidor de Crédito, entidade privada com a participação da CEF e outros bancos. O seu objetivo é garantir a estabilidade do sistema bancário. E o PT combatia o Proer de FHC, programa de recuperação de bancos. O mercado não esquece o mau negócio do governo Lula com a compra do PanAmericano. Outro problema é o prazo curto em que Dilma deseja levar a Caixa à bolsa, depois das atribulações que se esperam neste novo ano. A cotação das ações, principalmente das estatais não poderia oscilar como hoje, inclusive por efeito dos escândalos que se sucedem no governo. Apesar da renovação do comando econômico, o mercado pode não se interessar por ações da Caixa lançadas no próximo ano. A absorção do lançamento por investidores pode não dar certo por falta de credibilidade, nem tanto nos novos ministros, que conhecem a área bancária. Mais por desconfiança quanto à liderança da presidente nas empreitadas econômicas. A privatização da CEF não combina com os planos da frente de esquerda que se esboça para atuar nas ruas, no governo e no Congresso contra o capitalismo. Quatro partidos discutem o projeto: PT, PCdoB, PSol e PSTU. Pelo menos duas centrais sindicais estão interessadas no caso, a CUT e Intersindical (PSTU). Entre os movimentos sociais, a resistência de esquerda agrada ao MST e ao MTST (sem teto). Há ainda a Via Campesina e Levante Popular da Juventude, que se apresentou nas manifestações de rua de junho de 2013. Outro movimento jovem é o Consulta Popular. Todos estiveram na nova posse de Dilma com suas bandeiras. Entre elas, a reforma política. A governabilidade da presidente em seu novo mandato poderá entrar em risco com as manifestações previstas pela nova frente. Mesmo porque a atuação do movimento implica evitar desvios conservadores da própria Dilma, a quem apoia na defesa de uma constituinte exclusiva para a reforma política.

Antes da posse, o arrocho começou por um dos mais suaves, nos benefícios trabalhistas

[caption id="attachment_25032" align="alignleft" width="284"]producao Pacote de arrocho de Dilma tira direitos dos trabalhadores brasileiros[/caption] A posição das centrais sindicais nas manifestações sobre a nova posse da presidente Dilma passou pela reunião que tiveram no Planalto, no começo da semana, com representantes de quatro ministérios, mais a coordenação do chefe da Casa Civil, Aloizio Merca­dante, no Planalto para conhecer o arrocho trabalhista com que o governo espera economizar R$ 18 bilhões anuais. As centrais não tiveram a oportunidade de discutir as mudanças no seguro desemprego, abono salarial, pensão por morte e auxílio doença. Mesmo porque as alterações em seguida entraram em vigência como medida provisória. As propostas sindicais com alterações do pacote ficaram para a tramitação da medida no Congresso e as manifestações de rua planejadas. Mas não houve nada que as­­sus­tasse as centrais. As mu­danças afetam os beneficiários apenas daqui em diante, sem efeito retroativo. O seguro desemprego deixa de ser pago a quem já trabalhou por seis me­ses. Agora serão necessários 18 meses de carência. O abono salarial passa a ser pago a quem trabalhou pelo menos seis meses – e não mais um mês. No caso da pensão por morte, o segurado terá de contribuir para a Previdência por dois anos de contribuição — e não mais um mês. A exceção é a morte em acidente de trabalho ou por doença relacionada à sua profissão. O auxílio doença será pago pelo empregador durante um mês. Depois a despesa se torna da Previdência – hoje ela assume o pagamento depois de 15 dias de afastamento.

O novo governo Dilma nasce agora, mas com aparência mais insegura do que o primeiro

A perspectiva para os próximos quatro anos é de uma gestão minada por denúncias de corrupção que a tornam mais incerta do que a dos últimos anos

Um estudo de caso: a composição psicológica ou política do surto presidencial que levou a Janot

[caption id="attachment_24603" align="alignleft" width="300"]O ex-ministro Barbosa avisou e o procurador-geral Rodrigo Janot confirmou: Ministério Público não pode dar informação /  Foto: Nelson Jr. / STF e Geraldo Magela/Agência Senado O ex-ministro Barbosa avisou e o procurador-geral Rodrigo Janot confirmou: Ministério Público não pode dar informação / Foto: Nelson Jr. / STF e Geraldo Magela/Agência Senado[/caption] O comportamento da presidente Dilma a respeito da consulta externa sobre novos ministros sugere, a interessados, a reflexão sobre os componentes psicológicos no processo de decisão política. A presidente se traiu algumas vezes na entrevista de fim de ano a repórteres. Uma delas ocorreu no momento em que foi fotografada ao cobrir o rosto com as mãos e abaixar a cabeça na mesa de café da manhã. Um gesto expressivo, mas às vezes banal, com componentes de desamparo, abandono, desespero, rendição, depressão, desânimo... Com certeza, o marqueteiro que serve o PT não aprovou o impulso, que o pessoal do cerimonial poderia considerar falta de compostura diante de fotógrafos e repórteres. Como a corrupção foi a conversa que mais se serviu no café, é lícito relacioná-la ao gesto. Outra situação em que Dilma se traiu relaciona-se à pressão externa contra a presença da primeira amiga Graça Foster na presidência da Petrobrás. A propósito, Dilma apresentou este comentário significativo em 56 palavras: “A situação dela não é uma situação fácil. Ela recebe todos os dias uma pressão que poucas pessoas seguram — e ela segura, pelos compromissos que ela tem com a Petrobrás. Acho que se criou um clima sem apontar sequer uma falha dela. Mas só porque o clima está muito difícil para ela eu preciso tirá-la?” Em linguagem política, bastaria aquele “a situação dela não é uma situação fácil” para soar como um apelo à amiga Foster para que peça demissão e poupe Dilma do constrangimento em demiti-la. Porém, entre duas amigas, Foster poderia se sentir estimulada a permanecer diante de duas outras observações de Dilma: a petroleira suporta a pressão; e a presidente não sente que deva tirá-la de lá. O terceiro ponto em que a presidente se traiu foi ao agraciar Janot em seu impulso. Pode ser que Dilma não conheça bem a função do Ministério Público, mas parece claro que ela o entende como uma instituição rigorosa e com credibilidade. Portanto, Janot poderia emitir atestados de bons antecedentes. Mas isso ele não fará. Já avisou informalmente que o MP não pode prestar consultoria. Então a quem Dilma poderia recorrer? À Agência Brasi­leira de Informações (Abin)? Jamais. Poderia ouvir a Contro­ladoria-Geral da República (CGU), diretamente subordinada à presidente. O problema é que o controlador Jorge Hage, com status de ministro, entregou seu cargo a Dilma há semanas, pronto a voltar para casa. Mas o Planalto não lhe dá satisfação nem quanto a nisso. Há muito tempo, ele pediu espaço nas audiências da presidente para conversar sobre o combate à corrupção. Não mereceu resposta. Zangado, Hage espera para sair, mas Dilma o cozinha até na despedida. Em resposta, o controlador divulgou o resultado de auditorias horripilantes no governo e continua a esperar por sua liberação. Enquanto isso, a CGU age. Denunciou o prejuízo de 659,4 milhões de dólares na compra da Refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos – operação que contou com a assinatura da presidente. Concluiu que a operação custou além do que seria justo, considerando-se o estado das instalações da petroleira. Mas a presidente não está nem aí para a CGU e Hage. Também zangada.

Sujeita a chuva, a nova posse no Planalto sugere a ideia de construção de liderança pessoal

[caption id="attachment_24615" align="alignleft" width="620"]2011 08 BRASÍLIA DF (159) Rampa do Planalto: Dilma quer porque quer subi-la de novo no dia 1º / Foto: Anderson Santana[/caption]   Um capricho pessoal da presidente Dilma a separou da turma do cerimonial do palácio nos últimos dias. Ela quer porque quer subir a rampa do Planalto e ir ao parlatório e ser aclamada, ali, pelas caravanas de companheiros que o PT pretende atrair à Praça dos Três Poderes na próxima quinta-feira, quando inaugura o segundo mandato. Mas o quê, de tão peculiar, ela teria a dizer dali? A ideia de escalar a rampa em caso de reeleição é bizarra porque o novo presidente, quando sobe, é para ser recebido pelo antigo lá em cima, aquele que lhe passará a faixa presidencial. Porém, se não há a figura do antecessor para passar a faixa, o que Dilma quer da rampa? Ela entregará a faixa a si própria? Retira o pano e depois o repõe no lugar? Outro problema é a chuva diária que cai sobre a cidade nas últimas semanas. Toldos especiais serão colocados ao longo da rampa e sobre a tribuna? Se forem acionados, mancham a estética do palácio, projeto de Oscar Niemeyer, morto em dezembro de 2012. A própria figura de Dilma receberia menor projeção sob a lona. Na primeira posse, em 2011, ela nem pôde desfilar em carro aberto pela Esplanada dos Ministérios por causa da chuva torrencial. Algo que poderia ser tão imperdoável quanto o não desfilar na rampa e no parlatório. Para vê-la mais de perto, companheiros militantes precisaram correr na lama. E o que a presidente diria daquela tribuna externa? Em busca de apelo à militância para se mobilizar em defesa do partido e do governo, é previsível que volte a recorrer à reforma política como tema caro ao projeto petista de governo de poder permanente. Ajuntaria o caso à proposta mais recente de um pacto nacional contra a corrupção. A ideia de somar o país num pacto, como a reforma política petista é típica de governantes inseguros, com dificuldades para agregar apoio político a si ou a um projeto de governo. No caso de Dilma a tendência mais recente é a de colocar-se como vítima de processo antigo de corrupção, numa inversão de papel que lhe cabe e ao partido de Lula. Como vítima, a presidente pensa sensibilizar massas populares. A concepção de Dilma quanto à rampa e parlatório pode estar por aí. Projetar sobre a militância a imagem de uma liderança carismática que lhe assegure socorro nas ruas e redes sociais entre os solavancos previsíveis em novas inquietações populares em momento de afirmação econômica do governo. Por tabela, pressionados nas ruas e na loteada Esplanada dos Ministérios, os partidos aliados no Congresso poderiam se curvar mais facilmente à ordem-unida despachada pelo Planalto para ordenar a posição da tropa. Alinhamento a ser acionado contra uma oposição que promete ser a mais incômoda da era PT até agora.

A presidente e Lula jogam juntos como se fossem os autores do ataque atual à corrupção

Em entrevista, o jornal chileno “El Mercurio”, perguntou à presidente Dilma pelos efeitos políticos da corrupção no segundo mandato no Planalto. Queria saber como ela poderia liderar uma “campanha séria” contra a corrupção, se o partido dela se é responsável pelo que acontece no petrolão. Ela respondeu que não é bem assim, ao contrário. O saque à Petrobrás seria coisa antiga: — Essas investigações têm levado ao desmantelamento de um esquema que é suspeito de ter décadas de existência, antes dos governos do PT. Garantiu que “o Brasil não vive uma crise de corrupção, como afirmam alguns”. Ela negou a existência de esquema para arrecadar dinheiro na petroleira em benefício do PT e aliados que formam a maioria governista no Congresso. Em vez disso, o governo estaria é punindo corruptos, assegurou: — Nos últimos anos começamos a pôr fim a um largo período de impunidade. É um grande avanço para a democracia brasileira. Ao mesmo tempo em que o jornal chileno publicou a entrevista com Dilma às vésperas do segundo governo da companheira, o ex Lula surgiu em público com um vídeo gravado para circular em redes sociais na internet. Em seu pronunciamento, ele parece repreender a companheira, coisa para fazer média com os militantes do PT. Mostrar presença. Recomenda que Dilma seja mais aberta à convivência com a militância, justamente o movimento que a sucessora tenta seduzir com os seus planos para a nova posse presidencial, com vontade de marcar liderança sobre os militantes. Quem sabe com projetos para um terceiro mandato? Ela tem 67 anos. Em 2022, teria 75. Em 2026, 79 anos. Lula é dois anos mais velho. Cada um ao seu modo no cerco à militância, o ex apresentou em seu vídeo uma conclusão que retirou das últimas eleições, em outubro, e agora exibiu com os olhos na sucessora tendo todos os companheiros como testemunha de sua aula: “A lição que ficou foi a seguinte: o povo quer mais democracia, mais participação, mais esperança, mais ética. O povo quer ser mais ouvido e continuar sonhando. Essa é a mensagem que a presidenta Dilma deve assimilar e fazer do seu mandato um mandato histórico. Ou seja, o povo está mais exigente, o povo quer mais.” Recomendou à presidente combate à corrupção, com transparência. “Nós devemos conversar sempre com o povo no sentido de que nada seja escondido”, receitou Lula, que considera necessário “continuar” a punir a corrupção. “Continuar a política forte de combate à corrupção, onde toda e qualquer coisa deve ser dita e tem de ser dita porque um governo não pode esconder nada.” Sugeriu Lula que a sucessora se abra mais ao diálogo com a sociedade em geral, sem se desligar dos movimentos sociais. Incluiu políticos e empresários nesse universo. As denúncias sobre corrupção, pelos dados do ex-presidente, seriam responsáveis pela rejeição ao petismo, inclusive na dificuldade que Dilma encontrou para se reeleger no segundo turno contra o tucano Aécio Neves. “Se Dilma fizer uma relação com a sociedade, tal como foi o segundo turno das eleições terá toda possibilidade de fazer um governo exitoso e fazer com que o povo sinta que valeu a pena fazer a campanha e eleger a Dilma”, divulgou Lula, que, depois do susto da sucessora, não deseja correr risco em 2018, época que deverá ser adversa na economia.

O governo está em ponto morto, move-se apenas se alguém empurrar, mas não embala

Em caso de corrupção, os governistas e aliados só reagem, no Planalto e no Congresso, sob pressão, como ocorreu com Dilma e na mudança do relatório da CPI

O PT e o PMDB abrigam 16 dos 28 políticos delatados com certeza por conta do petrolão

[caption id="attachment_24031" align="alignright" width="620"]Ex-ministros Antonio Palocci, Gleisi Hoffman e Humberto Costa: com a grana do petrolão na mão Ex-ministros Antonio Palocci, Gleisi Hoffman e Humberto Costa: com a grana do petrolão na mão[/caption] O vazamento da relação de 28 políticos denunciados como clientes dos pagamentos do petrolão não assegura que todos sejam denunciados à Justiça antes de fevereiro. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pode dar um tempo para verificar quem não se elegeu em outubro último e definitivamente ficou fora de mandato no Congresso. Com essa cautela de Janot, seria encaminhado ao julgamento pelo Supremo Tribunal Federal somente quem disponha de foro especial na época do envio da representação. Os outros continuariam a ser encaminhados à Justiça Federal em Curitiba, onde o caso corre na mão do juiz Sérgio Moro. Entre os 28, o único ministro a­tual é o de Minas e Energia, Edi­son Lobão (PMDB), que deve voltar ao Senado em janeiro. Há quatro ex-ministros, três do PT: Antonio Pa­locci (Fazenda e Casa Civil), Glei­si Hoffman (Casa Civil) e Hum­ber­to Costa (Saúde) — os dois últimos são senadores. O outro ex-ministro é do PP, Mario Negromonte (Cidades). No bolo dos 28, o campeão é o PP, onde nasceu o petrolão em es­quema montado por Paulo Roberto Costa, ao tornar-se diretor da Pe­tro­brás em 2004. O PP contribui com dez nomes. A se­guir, despontam o PT e o PMDB, cada um com oito. Os outros dois já morreram e eram de Per­nam­buco, o ex-governador Eduardo Campos (PSB) e o ex-deputado Sérgio Guerra (PSDB). Na relação, todos os 28 nomes surgiram na delação premiada do ex-diretor Costa, que saiu da cela para a prisão em casa graças à sua colaboração na entrega dos nomes dos 28, mais outras pessoas de empreiteiras que atendiam à Pe­trobrás em troca de propinas. Todas as pessoas já na mão da Operação Lava Jato. O nome de cada um surgiu em 80 depoimentos de Costa. A relação vazou no momento em que a presidente Dilma era diplomada pelo Tribunal Superior Eleitoral, na quinta-feira, mas foi divulgada na imprensa apenas na sexta. A relação inclui os dois presidentes do Congresso, ambos do PMDB: senador Renan Calheiros e deputado Henrique Alves. O PMDB contribui com dois ex-governadores, Sérgio Cabral (Rio) e Roseana Sarney (Maranhão). Mais dois senadores, Valdir Raupp (Rondônia) e Romero Jucá (Ro­rai­ma). O oitavo peemedebista da lista é o deputado Alexandre José dos Santos (Rio). Na cota do PT está o governador reeleito Tião Viana (Acre). São quatro senadores, entre eles Gleisi Hoffman e Humberto Costa, já mencionado como ex-ministros. Os outros dois são Lindbergh Farias (Rio) e Delcidio Amaral (Mato Grosso do Sul). Enfim, dois deputados, Cândido Vaccarezza (São Paulo) e Vander Couber (Mato Grosso do Sul). O campeão PP tem em seus dez nomes, além do ex-ministro Ne­gro­monte e do ex-deputado Pedro Corrêa (Pernambuco), dois senadores: Ciro Nogueira (Piauí) e Bene­dito de Lira (Alagoas). Os outros seis são deputados: João Pizzolatti (Santa Catarina), Nelson Meurer (Pa­raná), Simão Sessim (Rio), José O­távio Germano (Rio Grande do Sul), Luiz Fernando Faria (Minas) e Aline Lemos de Oliveira (São Paulo).

O marketing demonstrou que seria melhor negócio não deixar a CPI terminar em branco

[caption id="attachment_24029" align="alignright" width="620"]Deputado Marco Maia teve de mudar relatório mentiroso da CPI do Petrolão Foto: Wilson Dias/ Agência Brasil Deputado Marco Maia teve de mudar relatório mentiroso da CPI do Petrolão Foto: Wilson Dias/ Agência Brasil[/caption] Sob pressão do relatório alternativo da oposição, onde revelaria aquilo que o governo escondeu na CPI da Petrobrás, o PT, como a presidente Dilma, demonstrou que pode admitir irregularidade na petroleira, mas sem comprometer partidos, políticos ou atuais diretores da estatal, muito menos a chefe da diretoria, Graça Foster. Foi alterado o primeiro relatório governista, que não encontrou nada de errado, nenhum vestígio de um tal petrolão. A nova versão, aprovada definitivamente na quinta-feira, é um pouco dura, mas sem amolecer muito. Contra 8 votos da oposição, 19 governistas decidiram que 52 pessoas são responsáveis por irregularidades. Elas já respondem à Operação Lava Jato. Além disso os 52 são apenas antigos diretores da Petrobrás ou executivos das empreiteiras que pagavam propinas ao petrolão e, em troca, superfaturavam os serviços prestados à petroleira. São três antigos diretores: Paulo Roberto Costa, que geria o esquema; Renato Duque, ex-tesoureiro do PT; e Nestor Cerveró, que participou da compra da Refinaria Pasadena. O marketing determinou a mudança do comportamento governista na CPI. A mudança não se originou de consciência pesada de políticos do governo. A boa repercussão na mídia do relatório alternativo da oposição comprovou que aquele, sim, correspondia à imagem que as denúncias sobre o petrolão formaram na sociedade. Aquele outro relatório, em branco, se chocava com a realidade das ruas. Além disso, a oposição prometia levar seu relatório alternativo ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que encaminha à Justiça os fatos apurados no petrolão. Aí, o governo mudou de ideia, mas a oposição continua disposta a levar seus papéis e comprovantes de culpa a Janot, numa operação que chegará ao público.

Com altivez, a presidente se aproxima de militares e impõe o compromisso democrático

[caption id="attachment_24027" align="alignright" width="620"]Presidente Dilma com militares: discurso para agradar a tropa Foto:Valter Campanato/ Agência Brasil Presidente Dilma com militares: discurso para agradar a tropa Foto:Valter Campanato/ Agência Brasil[/caption] Em clima de confraternização pelo fim de ano, a presidente Dilma se dedicou nos últimos dias à aproximação gradual com os militares desde a apresentação do relatório final da Comissão Nacional da Verdade, que indicou 377 responsáveis por abusos contra os direitos humanos na ditadura do golpe de 64, num ambiente onde apenas ela falou e os generais ouviram. “Ao concluir meu primeiro mandato, estamos mais seguros no mar, em terra e no ar”, gabou-se a presidente de contribuir ao profissionalismo da Marinha, Exército e Aero­náutica ao equipar os militares com recursos modernos. A seguir, apontou a missão profissional que espera deles, com o tratamento informal que companheiros se aplicam na segunda pessoa do plural, vocês: — O Brasil conta com o profissionalismo de vocês nesta nova etapa de suas carreiras, na qual, estou certa, continuarão honrando o compromisso de defender a soberania, de defender os poderes constitucionais e a democracia de nosso País. Em seguida, reiterou o papel democrático que espera dos novos oficiais promovidos no nível de generais. “Ao assumirem suas funções como almirantes, generais e brigadeiros, os senhores terão um papel de destaque na construção de um Brasil mais seguro e mais forte, mais justo e mais democrático”, predestinou o caráter democrata. Tudo planejado estrategicamente de modo a ordenar a convergência en­tre si de quatro atos no espaço de uma semana neste fim de ano. No pri­­meiro ato, veio a ofensiva civil que incomodou a tropa: o lançamento do relatório da Comissão Nacional da Verdade, no Planalto, no último dia 10. Dois dias depois, o segundo ato. Dilma foi aos militares. Visitou a base naval de Itaguaí, no Rio, onde se projeta a construção de submarinos. Não discursou, apenas falou sobre a importância da obra naquele primeiro passo pós-Verdade em território militar como quem sonda a caserna, na companhia do ministro da Defesa, Celso Amorim, que levou os três comandantes militares. A sondagem do terreno agradou à presidente, em especial pela fala, de obediência hierárquica, do comandante da Marinha, almirante Julio Moura Neto, a repórteres, a respeito do relatório sobre crimes da ditadura, na terceira vez em que foi perguntado a respeito: “A Comissão Nacional da Ver­dade cumpriu o papel dela. Fez o relatório sobre o qual nós (militares) não tivemos a oportunidade de nos debruçar. Então não podemos analisar o que foi escrito A presidente disse que ia se debruçar sobre o relatório; e estamos esperando isso.” Encorajada, a aproximação de Dilma dos chefes veio mais firme no terceiro ato, quatro dias depois. Os novos brigadeiros, almirantes e generais foram ao Planalto se apresentar à presidente, que os recebeu com aquele discurso sobre a missão democrática que espera deles. Mais duas horas e Dilma encontrou, na mesma terça-feira, um grupo mais amplo da caserna no salão do Clube da Aeronáutica. Era a vez do quarto ato, o tradicional almoço de fim de ano do presidente com os chamados oficiais-generais. Ela tratou de refrescar a memória de todos sobre a visita à base naval, no interior do Rio: — Na última sexta-feira, eu participei da inauguração do prédio principal do estaleiro de construção de submarinos em Itaguaí. Recordou seu compromisso com o reequipamento militar, abordou a inclusão de submarinos convencionais no programa, mais a promessa de outros nucleares no futuro. Mencionou os aviões da Aero­náutica e os blindados do Exército. “Meu governo tem dado grande atenção às necessidades das Forças Armadas”, garantiu buscar a “valorização da carreira militar”. À mesa de almoço dos aviadores, o discurso foi três vezes mais longo do que a fala no Planalto. O roteiro de convivência com a caserna nos últimos dias estava firme. Todos ouviam a presidente. “Nas eleições de outubro último, deram importante apoio para que a festa maior da democracia se realizasse em clima de tranquilidade”, agradeceu o sossego em sua reeleição.

Celso Daniel, a sombra do cadáver ainda insepulto no armário do PT depois de 12 anos

[caption id="attachment_24024" align="alignright" width="208"]Celso Daniel: morto quando ia  parar esquema petista de propinas Celso Daniel: morto quando ia
parar esquema petista de propinas[/caption] O fantasma de Celso Daniel voltará a assombrar o PT pelos próximos anos com a denúncia da suspeita de que o então prefeito de Santo An­dré foi assassinado há quase 13 anos porque estava disposto a acabar com o esquema de companheiros pe­tistas para cobrar propinas de em­presas com interesse nos serviços da prefeitura da cidade no ABC paulista. O caso volta à cena na Justiça graças a um empate no Supremo Tribunal Federal que, praticamente, reabre o processo desde o início com nova coleta de provas, embora só faltasse julgar uma das oito pessoas acusadas de participar da morte do prefeito do PT para garantir as propinas, além de queima de arquivo. O empate também foi controvertido. Numa das turmas de juízes do Supremo, dois ministros aceitaram o pedido de anulação do julgamento apresentado pelo advogado de defesa de Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, Roberto Podval: Marco Aurélio Mello e Dias Toffoli. Outros dois recusaram, Rosa Weber e Luís Alberto Barroso. Em caso de empate, beneficia-se o réu. Faltava julgar o amigo que acompanhava Celso Daniel até o momento em que ele marchou para a morte depois de jantarem numa churrascaria paulistana, Sérgio Gomes da Silva, o Sombra. Ele seria o mandante do crime e coordenador da cobrança de propinas. Todos os outros sete foram condenados no processo que se reabre a pedido do advogado de Sombra. Há dois anos, a defesa de Sombra conseguiu que o Supremo suspendesse o julgamento em Itapecerica da Serra porque o réu estaria sendo prejudicado em sua defesa. Agora, a reabertura quase na fase inicial deve acrescentar pelo menos mais cinco anos ao processo. Como o prefeito foi assassinado em janeiro de 2002, a causa pode ser prescrita dentro de sete anos. A prescrição interessa a Sombra porque estaria definitivamente isento de culpa. A reabertura interessa também à família de Celso Daniel para provar que o crime não ocorreu num sequestro comum do então prefeito. Os Daniel acreditam em crime político, a mando de Sombra em nome do PT. O Ministério Público do Estado concorda. Ao partido interessa a prescrição. A controvérsia se justifica. O adolescente que confessou ser autor do sequestro foi assassinado no presídio ao receber uma visita no parlatório. Também foram assassinadas outras seis pessoas que testemunharam sobre fatos relacionados à morte do prefeito. Quem deve saber de coisas é o companheiro Gilberto Carvalho, então secretário de governo do prefeito. Hoje, secretário-geral da Presidência, ele está prestes a ser removido pela presidente Dilma para o conselho de administração do Sesi, onde reencontraria o velho companheiro Jair Mene­guelli, que desde o governo Lula preside confortavelmente o Serviço Social da Indústria. Um dos irmãos de Daniel, João Francisco, diz que chegou a ouvir de Carvalho que o próprio teria carregado malas de dinheiro de Santo André para a cidade de São Paulo. Grana entregue ao companheiro José Dirceu, na época presidente do PT. Dirceu nega tudo, como Carvalho, naturalmente. O fato é que o caso seria precursor do mensalão, engendrado no fim daquele 2002, com a eleição de Lula.