Com altivez, a presidente se aproxima de militares e impõe o compromisso democrático
20 dezembro 2014 às 10h35
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Em clima de confraternização pelo fim de ano, a presidente Dilma se dedicou nos últimos dias à aproximação gradual com os militares desde a apresentação do relatório final da Comissão Nacional da Verdade, que indicou 377 responsáveis por abusos contra os direitos humanos na ditadura do golpe de 64, num ambiente onde apenas ela falou e os generais ouviram.
“Ao concluir meu primeiro mandato, estamos mais seguros no mar, em terra e no ar”, gabou-se a presidente de contribuir ao profissionalismo da Marinha, Exército e Aeronáutica ao equipar os militares com recursos modernos. A seguir, apontou a missão profissional que espera deles, com o tratamento informal que companheiros se aplicam na segunda pessoa do plural, vocês:
— O Brasil conta com o profissionalismo de vocês nesta nova etapa de suas carreiras, na qual, estou certa, continuarão honrando o compromisso de defender a soberania, de defender os poderes constitucionais e a democracia de nosso País.
Em seguida, reiterou o papel democrático que espera dos novos oficiais promovidos no nível de generais. “Ao assumirem suas funções como almirantes, generais e brigadeiros, os senhores terão um papel de destaque na construção de um Brasil mais seguro e mais forte, mais justo e mais democrático”, predestinou o caráter democrata.
Tudo planejado estrategicamente de modo a ordenar a convergência entre si de quatro atos no espaço de uma semana neste fim de ano. No primeiro ato, veio a ofensiva civil que incomodou a tropa: o lançamento do relatório da Comissão Nacional da Verdade, no Planalto, no último dia 10.
Dois dias depois, o segundo ato. Dilma foi aos militares. Visitou a base naval de Itaguaí, no Rio, onde se projeta a construção de submarinos. Não discursou, apenas falou sobre a importância da obra naquele primeiro passo pós-Verdade em território militar como quem sonda a caserna, na companhia do ministro da Defesa, Celso Amorim, que levou os três comandantes militares.
A sondagem do terreno agradou à presidente, em especial pela fala, de obediência hierárquica, do comandante da Marinha, almirante Julio Moura Neto, a repórteres, a respeito do relatório sobre crimes da ditadura, na terceira vez em que foi perguntado a respeito:
“A Comissão Nacional da Verdade cumpriu o papel dela. Fez o relatório sobre o qual nós (militares) não tivemos a oportunidade de nos debruçar. Então não podemos analisar o que foi escrito A presidente disse que ia se debruçar sobre o relatório; e estamos esperando isso.”
Encorajada, a aproximação de Dilma dos chefes veio mais firme no terceiro ato, quatro dias depois. Os novos brigadeiros, almirantes e generais foram ao Planalto se apresentar à presidente, que os recebeu com aquele discurso sobre a missão democrática que espera deles.
Mais duas horas e Dilma encontrou, na mesma terça-feira, um grupo mais amplo da caserna no salão do Clube da Aeronáutica. Era a vez do quarto ato, o tradicional almoço de fim de ano do presidente com os chamados oficiais-generais. Ela tratou de refrescar a memória de todos sobre a visita à base naval, no interior do Rio:
— Na última sexta-feira, eu participei da inauguração do prédio principal do estaleiro de construção de submarinos em Itaguaí.
Recordou seu compromisso com o reequipamento militar, abordou a inclusão de submarinos convencionais no programa, mais a promessa de outros nucleares no futuro. Mencionou os aviões da Aeronáutica e os blindados do Exército. “Meu governo tem dado grande atenção às necessidades das Forças Armadas”, garantiu buscar a “valorização da carreira militar”.
À mesa de almoço dos aviadores, o discurso foi três vezes mais longo do que a fala no Planalto. O roteiro de convivência com a caserna nos últimos dias estava firme. Todos ouviam a presidente. “Nas eleições de outubro último, deram importante apoio para que a festa maior da democracia se realizasse em clima de tranquilidade”, agradeceu o sossego em sua reeleição.