Chegou o encontro da presidente com a herança maldita que deixou e recebeu no governo
02 janeiro 2015 às 15h13
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Ao voltar da nova temporada em praias baianas, a presidente Dilma encontrou a realidade de que a herança que recebeu de si mesmo no primeiro mandato é pior do que pensava: o saldo positivo de R$ 10 bilhões nas contas públicas que esperava deixar em 2014 se transformou, até novembro último, em déficit de R$ 18,3 bilhões, sem contar os juros da dívida.
“Estamos esperando para dezembro um resultado positivo de dois dígitos”, manteve o otimismo o secretário do Tesouro, Arno Augustin, aquele companheiro perito em contabilidade criativa. O alcance do saldo positivo de R$ 10 bilhões ao longo do ano passado exigiria do governo a economia de R$ 28,3 bilhões em dezembro, taxa inédita nesse período do ano.
Ele contava com a receita que viria na segunda e na terça-feira. “Ainda temos dois dias de receita e isso vai influenciar bastante o resultado”, comentou. Quando saírem, os números de dezembro não encontrarão Augustin na chefia do Tesouro. “Vou tirar férias”, confirmou que não estaria na nova equipe econômica.
Na verdade, a saída de Augustin com seu malabarismo contábil combina com a disposição de Dilma em contar com nomes mais confiáveis ao mercado no Ministério da Fazenda. Em nome da transparência, o governo deve desistir da assinatura de contrato com a Petrobrás para a exploração de quatro áreas do pré-sal, que provocou suspeita no Tribunal de Contas da União.
Se o contrato fosse assinado em dezembro, como o governo desejava, ele teria à sua disposição uma nova receita de R$ 2 bilhões em 2014, pagos antecipadamente no ato da assinatura, embora o correto fosse pagar em 2015. Em 2016, seriam R$ 3 bilhões. Em 2017, R$ 4 bilhões. Em 2018, ano da próxima eleição presidencial, a receita se manteria em R$ 4 bilhões.
Nos dois casos, troca de secretário do Tesouro e suspensão do contrato com a petroleira, é possível encontrar as digitais dos novos ministros da Fazenda e do Planejamento, Joaquim Levy e Nelson Barbosa. Ambos prometem transparência nas contas públicas, mas até quando serão ouvidos por Dilma? Até as eleições municipais em 2016?
O próprio Augustin, antes de sair reconheceu que os gastos eleitorais do governo no ano passado têm a ver com as despesas maiores do que as receitas. Assim como os programas de desoneração de impostos com que a presidente beneficiou setores da indústria com a expectativa de que as empresas reduzissem os custos e vendessem mais. Não funcionou.
A troca de ministros exibiu a disposição da presidente em ampliar a qualquer custo a sua base parlamentar, em nome da governabilidade. Mas a mediocridade dos ministros indicados pelos partidos amigos indica que eles estão chegando para gastar dinheiro público em benefício de projetos particulares de poder. Como Dilma, gastadora por natureza, poderá conter a gastança da Esplanada S/A? Daqui a dois anos, as eleições municipais.