A presidente e Lula jogam juntos como se fossem os autores do ataque atual à corrupção
27 dezembro 2014 às 11h34
COMPARTILHAR
Em entrevista, o jornal chileno “El Mercurio”, perguntou à presidente Dilma pelos efeitos políticos da corrupção no segundo mandato no Planalto. Queria saber como ela poderia liderar uma “campanha séria” contra a corrupção, se o partido dela se é responsável pelo que acontece no petrolão. Ela respondeu que não é bem assim, ao contrário. O saque à Petrobrás seria coisa antiga:
— Essas investigações têm levado ao desmantelamento de um esquema que é suspeito de ter décadas de existência, antes dos governos do PT.
Garantiu que “o Brasil não vive uma crise de corrupção, como afirmam alguns”. Ela negou a existência de esquema para arrecadar dinheiro na petroleira em benefício do PT e aliados que formam a maioria governista no Congresso. Em vez disso, o governo estaria é punindo corruptos, assegurou:
— Nos últimos anos começamos a pôr fim a um largo período de impunidade. É um grande avanço para a democracia brasileira.
Ao mesmo tempo em que o jornal chileno publicou a entrevista com Dilma às vésperas do segundo governo da companheira, o ex Lula surgiu em público com um vídeo gravado para circular em redes sociais na internet. Em seu pronunciamento, ele parece repreender a companheira, coisa para fazer média com os militantes do PT. Mostrar presença.
Recomenda que Dilma seja mais aberta à convivência com a militância, justamente o movimento que a sucessora tenta seduzir com os seus planos para a nova posse presidencial, com vontade de marcar liderança sobre os militantes. Quem sabe com projetos para um terceiro mandato? Ela tem 67 anos. Em 2022, teria 75. Em 2026, 79 anos. Lula é dois anos mais velho.
Cada um ao seu modo no cerco à militância, o ex apresentou em seu vídeo uma conclusão que retirou das últimas eleições, em outubro, e agora exibiu com os olhos na sucessora tendo todos os companheiros como testemunha de sua aula:
“A lição que ficou foi a seguinte: o povo quer mais democracia, mais participação, mais esperança, mais ética. O povo quer ser mais ouvido e continuar sonhando. Essa é a mensagem que a presidenta Dilma deve assimilar e fazer do seu mandato um mandato histórico. Ou seja, o povo está mais exigente, o povo quer mais.”
Recomendou à presidente combate à corrupção, com transparência. “Nós devemos conversar sempre com o povo no sentido de que nada seja escondido”, receitou Lula, que considera necessário “continuar” a punir a corrupção. “Continuar a política forte de combate à corrupção, onde toda e qualquer coisa deve ser dita e tem de ser dita porque um governo não pode esconder nada.”
Sugeriu Lula que a sucessora se abra mais ao diálogo com a sociedade em geral, sem se desligar dos movimentos sociais. Incluiu políticos e empresários nesse universo. As denúncias sobre corrupção, pelos dados do ex-presidente, seriam responsáveis pela rejeição ao petismo, inclusive na dificuldade que Dilma encontrou para se reeleger no segundo turno contra o tucano Aécio Neves.
“Se Dilma fizer uma relação com a sociedade, tal como foi o segundo turno das eleições terá toda possibilidade de fazer um governo exitoso e fazer com que o povo sinta que valeu a pena fazer a campanha e eleger a Dilma”, divulgou Lula, que, depois do susto da sucessora, não deseja correr risco em 2018, época que deverá ser adversa na economia.