Celso Daniel, a sombra do cadáver ainda insepulto no armário do PT depois de 12 anos
20 dezembro 2014 às 10h34
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O fantasma de Celso Daniel voltará a assombrar o PT pelos próximos anos com a denúncia da suspeita de que o então prefeito de Santo André foi assassinado há quase 13 anos porque estava disposto a acabar com o esquema de companheiros petistas para cobrar propinas de empresas com interesse nos serviços da prefeitura da cidade no ABC paulista.
O caso volta à cena na Justiça graças a um empate no Supremo Tribunal Federal que, praticamente, reabre o processo desde o início com nova coleta de provas, embora só faltasse julgar uma das oito pessoas acusadas de participar da morte do prefeito do PT para garantir as propinas, além de queima de arquivo.
O empate também foi controvertido. Numa das turmas de juízes do Supremo, dois ministros aceitaram o pedido de anulação do julgamento apresentado pelo advogado de defesa de Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, Roberto Podval: Marco Aurélio Mello e Dias Toffoli. Outros dois recusaram, Rosa Weber e Luís Alberto Barroso. Em caso de empate, beneficia-se o réu.
Faltava julgar o amigo que acompanhava Celso Daniel até o momento em que ele marchou para a morte depois de jantarem numa churrascaria paulistana, Sérgio Gomes da Silva, o Sombra. Ele seria o mandante do crime e coordenador da cobrança de propinas. Todos os outros sete foram condenados no processo que se reabre a pedido do advogado de Sombra.
Há dois anos, a defesa de Sombra conseguiu que o Supremo suspendesse o julgamento em Itapecerica da Serra porque o réu estaria sendo prejudicado em sua defesa. Agora, a reabertura quase na fase inicial deve acrescentar pelo menos mais cinco anos ao processo. Como o prefeito foi assassinado em janeiro de 2002, a causa pode ser prescrita dentro de sete anos.
A prescrição interessa a Sombra porque estaria definitivamente isento de culpa. A reabertura interessa também à família de Celso Daniel para provar que o crime não ocorreu num sequestro comum do então prefeito. Os Daniel acreditam em crime político, a mando de Sombra em nome do PT. O Ministério Público do Estado concorda. Ao partido interessa a prescrição.
A controvérsia se justifica. O adolescente que confessou ser autor do sequestro foi assassinado no presídio ao receber uma visita no parlatório. Também foram assassinadas outras seis pessoas que testemunharam sobre fatos relacionados à morte do prefeito.
Quem deve saber de coisas é o companheiro Gilberto Carvalho, então secretário de governo do prefeito. Hoje, secretário-geral da Presidência, ele está prestes a ser removido pela presidente Dilma para o conselho de administração do Sesi, onde reencontraria o velho companheiro Jair Meneguelli, que desde o governo Lula preside confortavelmente o Serviço Social da Indústria.
Um dos irmãos de Daniel, João Francisco, diz que chegou a ouvir de Carvalho que o próprio teria carregado malas de dinheiro de Santo André para a cidade de São Paulo. Grana entregue ao companheiro José Dirceu, na época presidente do PT. Dirceu nega tudo, como Carvalho, naturalmente. O fato é que o caso seria precursor do mensalão, engendrado no fim daquele 2002, com a eleição de Lula.