Um estudo de caso: a composição psicológica ou política do surto presidencial que levou a Janot
27 dezembro 2014 às 11h36
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O comportamento da presidente Dilma a respeito da consulta externa sobre novos ministros sugere, a interessados, a reflexão sobre os componentes psicológicos no processo de decisão política. A presidente se traiu algumas vezes na entrevista de fim de ano a repórteres. Uma delas ocorreu no momento em que foi fotografada ao cobrir o rosto com as mãos e abaixar a cabeça na mesa de café da manhã.
Um gesto expressivo, mas às vezes banal, com componentes de desamparo, abandono, desespero, rendição, depressão, desânimo… Com certeza, o marqueteiro que serve o PT não aprovou o impulso, que o pessoal do cerimonial poderia considerar falta de compostura diante de fotógrafos e repórteres. Como a corrupção foi a conversa que mais se serviu no café, é lícito relacioná-la ao gesto.
Outra situação em que Dilma se traiu relaciona-se à pressão externa contra a presença da primeira amiga Graça Foster na presidência da Petrobrás. A propósito, Dilma apresentou este comentário significativo em 56 palavras:
“A situação dela não é uma situação fácil. Ela recebe todos os dias uma pressão que poucas pessoas seguram — e ela segura, pelos compromissos que ela tem com a Petrobrás. Acho que se criou um clima sem apontar sequer uma falha dela. Mas só porque o clima está muito difícil para ela eu preciso tirá-la?”
Em linguagem política, bastaria aquele “a situação dela não é uma situação fácil” para soar como um apelo à amiga Foster para que peça demissão e poupe Dilma do constrangimento em demiti-la. Porém, entre duas amigas, Foster poderia se sentir estimulada a permanecer diante de duas outras observações de Dilma: a petroleira suporta a pressão; e a presidente não sente que deva tirá-la de lá.
O terceiro ponto em que a presidente se traiu foi ao agraciar Janot em seu impulso. Pode ser que Dilma não conheça bem a função do Ministério Público, mas parece claro que ela o entende como uma instituição rigorosa e com credibilidade. Portanto, Janot poderia emitir atestados de bons antecedentes. Mas isso ele não fará. Já avisou informalmente que o MP não pode prestar consultoria.
Então a quem Dilma poderia recorrer? À Agência Brasileira de Informações (Abin)? Jamais. Poderia ouvir a Controladoria-Geral da República (CGU), diretamente subordinada à presidente. O problema é que o controlador Jorge Hage, com status de ministro, entregou seu cargo a Dilma há semanas, pronto a voltar para casa. Mas o Planalto não lhe dá satisfação nem quanto a nisso.
Há muito tempo, ele pediu espaço nas audiências da presidente para conversar sobre o combate à corrupção. Não mereceu resposta. Zangado, Hage espera para sair, mas Dilma o cozinha até na despedida. Em resposta, o controlador divulgou o resultado de auditorias horripilantes no governo e continua a esperar por sua liberação.
Enquanto isso, a CGU age. Denunciou o prejuízo de 659,4 milhões de dólares na compra da Refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos – operação que contou com a assinatura da presidente. Concluiu que a operação custou além do que seria justo, considerando-se o estado das instalações da petroleira. Mas a presidente não está nem aí para a CGU e Hage. Também zangada.