Sujeita a chuva, a nova posse no Planalto sugere a ideia de construção de liderança pessoal
27 dezembro 2014 às 11h35
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Um capricho pessoal da presidente Dilma a separou da turma do cerimonial do palácio nos últimos dias. Ela quer porque quer subir a rampa do Planalto e ir ao parlatório e ser aclamada, ali, pelas caravanas de companheiros que o PT pretende atrair à Praça dos Três Poderes na próxima quinta-feira, quando inaugura o segundo mandato. Mas o quê, de tão peculiar, ela teria a dizer dali?
A ideia de escalar a rampa em caso de reeleição é bizarra porque o novo presidente, quando sobe, é para ser recebido pelo antigo lá em cima, aquele que lhe passará a faixa presidencial. Porém, se não há a figura do antecessor para passar a faixa, o que Dilma quer da rampa? Ela entregará a faixa a si própria? Retira o pano e depois o repõe no lugar?
Outro problema é a chuva diária que cai sobre a cidade nas últimas semanas. Toldos especiais serão colocados ao longo da rampa e sobre a tribuna? Se forem acionados, mancham a estética do palácio, projeto de Oscar Niemeyer, morto em dezembro de 2012. A própria figura de Dilma receberia menor projeção sob a lona.
Na primeira posse, em 2011, ela nem pôde desfilar em carro aberto pela Esplanada dos Ministérios por causa da chuva torrencial. Algo que poderia ser tão imperdoável quanto o não desfilar na rampa e no parlatório. Para vê-la mais de perto, companheiros militantes precisaram correr na lama.
E o que a presidente diria daquela tribuna externa? Em busca de apelo à militância para se mobilizar em defesa do partido e do governo, é previsível que volte a recorrer à reforma política como tema caro ao projeto petista de governo de poder permanente. Ajuntaria o caso à proposta mais recente de um pacto nacional contra a corrupção.
A ideia de somar o país num pacto, como a reforma política petista é típica de governantes inseguros, com dificuldades para agregar apoio político a si ou a um projeto de governo. No caso de Dilma a tendência mais recente é a de colocar-se como vítima de processo antigo de corrupção, numa inversão de papel que lhe cabe e ao partido de Lula.
Como vítima, a presidente pensa sensibilizar massas populares. A concepção de Dilma quanto à rampa e parlatório pode estar por aí. Projetar sobre a militância a imagem de uma liderança carismática que lhe assegure socorro nas ruas e redes sociais entre os solavancos previsíveis em novas inquietações populares em momento de afirmação econômica do governo.
Por tabela, pressionados nas ruas e na loteada Esplanada dos Ministérios, os partidos aliados no Congresso poderiam se curvar mais facilmente à ordem-unida despachada pelo Planalto para ordenar a posição da tropa. Alinhamento a ser acionado contra uma oposição que promete ser a mais incômoda da era PT até agora.