O governo está em ponto morto, move-se apenas se alguém empurrar, mas não embala
20 dezembro 2014 às 10h39
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Em caso de corrupção, os governistas e aliados só reagem, no Planalto e no Congresso, sob pressão, como ocorreu com Dilma e na mudança do relatório da CPI
A presidente Dilma se colocou em ponto morto, quanto à corrupção no governo, até a última quinta-feira, quando aproveitou a diplomação que a habilita à nova temporada no palácio e foi ao ataque em defesa da Petrobrás contra alguém que não mencionou. Assim como propôs um oportunista pacto contra corrupção e que seria uma forma de dividir responsabilidade.
A circunstância de o discurso ocorrer na diplomação, pelo Tribunal Superior Eleitoral, induz ao entendimento de que as providências de correção ética no governo são um compromisso para o próximo mandato. Não para este de hoje, que ainda se arrasta por dez dias. Tanto que Dilma prometeu uma renovação na estatal, mas não disse como, quando e em qual escalão de gestão:
— Vamos converter a renovação da Petrobrás em energia transformadora do nosso país.
Antes, o discurso afirmou que “alguns funcionários da Petrobras foram atingidos no processo de combate à corrupção”. Complementou a frase com este registro: “Estamos enfrentando essa (sic) situação com destemor”. O uso do pronome esse, mais o gerúndio enfrentando ocorrem como se aquela situação se realizasse distante da presidente, que enfrenta a onda adversa como vítima.
A posição de vítima se reforça com a menção anterior a “alguns funcionários”, expressão pode estar correta, mas sugere que a direção da petroleira, como a própria Dilma que a nomeou e aprovou a compra de Pasadena, nada tivesse com isso. Nem o PT com os aliados PMDB e o PP. Alguns funcionários agiram por conta própria e não dividiram o roubo com o governo.
E o pacto? Oportunista, o discurso convoca ao engajamento nele de todos os tipos de representação social e institucional do país, num universo inatingível. Repete outra lorota de quem não tem o que fazer consigo próprio: propõe que se aproveite a ocasião para fazer a reforma política, que, entre os partidos, interessa sobretudo ao projeto de poder eterno do PT.
Leia-se como o pacto imaginário se envolve num pacote que procura dividir com o país, no futuro, a responsabilidade pela corrupção que hoje pertence ao patrimônio do governo central, o que inclui os partidos que o apoiam:
“Chegou a hora de firmarmos um grande pacto nacional contra a corrupção, envolvendo todos os setores da sociedade e todas as esferas de governo. Esse pacto vai desaguar na grande reforma política que o Brasil precisa promover a partir do próximo ano. Vamos convidar todos os poderes da República e todas as forças vivas da sociedade para elaborarmos, juntos, uma série de medidas e compromissos duradouros.”
Seria mais prático, viável, objetivo e convincente se o Planalto chamasse todos os seus aparelhos e combinasse que não se roubasse mais. Quem persistisse no assalto seria sumariamente demitido e iria para a cadeia com os bens confiscados. O problema seria a volta do bumerangue na cabeça de quem o lançou. Mas isso é com os de casa, não os de fora.
Se a coisa fosse séria, o presidente do TSE, companheiro e ministro Dias Toffoli não realizaria o discurso que fez ao diplomar Dilma. Antigo advogado do PT no próprio tribunal que hoje preside, Toffoli se antecipou aos colegas com uma linguagem invulgar no meio e pressionou a oposição a não contar com o TSE ao contestar a eleição de Dilma naquele mesmo dia:
— Não haverá terceiro turno na Justiça Eleitoral. Que os especuladores se calem.