Por A.C. Scartezini

[caption id="attachment_11649" align="alignnone" width="620"] Tucano Geraldo Alckmim: pesquisas dão sua vitória no 1º turno em S. Paulo. Foto: Antonio Cruz/ Agência Brasil[/caption]
A mais nova pesquisa do Ibope confirma que a reeleição de Dilma Rousseff ficará mais fácil se a presidente conseguir se colar ao mesmo tempo a dois candidatos ao governo paulista, Paulo Skaf (PMDB) e Alexandre Padilha (PT). Lula ficaria feliz com a possibilidade de levar um os dois governistas ao segundo turno contra a reeleição do governador tucano Geraldo Alckmin.
Há duas semanas, a pesquisa do Datafolha atribuiu a Alckmin a preferência de mais da metade dos eleitores paulistas, 54%. Agora, veio o Ibope e reduziu a opção pelo tucano à metade exata, 50 pontos. A cotação de Skaf também foi desvalorizada: desceu de 16% no Datafolha para 11 no Ibope. Padilha cresceu de 4% no Datafolha para 5 no Ibope.
Nas duas pesquisas, Alckmin seria reeleito em primeiro turno, mas o Ibope ofereceu, na hora certa, um estímulo ao PT-PMDB para trazer Skaf à companhia de Dilma. Se o peemedebista rebelde, em linha de queda ibopiana, se juntar ao PT, teria mais chance de um duelo em segundo turno contra o também decadente Alckmin — ou Padilha em ascensão.
O momento da recomposição entre candidatos teria de ser este, a dois meses do primeiro turno. Para os petistas, está passando da hora de Dilma conquistar Skaf para, pelo menos, reduzir a rejeição que recebe em São Paulo.
A diminuição viria com o apoio de eleitores e empresários que hoje estão com o peemedebista. Os amigos continuariam com Skaf apesar de Dilma ao lado do governadoriável? O Ibope atribuiu 30% dos votos no Estado a Dilma, 25 a Aécio e 6 pontos a Eduardo Campos (PSB).
O vice-presidente Michel Temer distribuiu a amigos uma versão severa sobre uma conversa que manteve, por telefone, no começo da semana, com o candidato do PMDB ao governo paulista, empresário Paulo Skaf, O vice teria exigido que Skaf fizesse campanha ao lado de Dilma no Estado. Do contrário, não se justificaria o partido ter Temer na chapa presidencial do PT. Na primeira parte, a ordem de Temer seria uma tentativa de obter tudo do empresário, ou seja, a dominação pelo vice. No outro capítulo, o nada: Skaf acata o chefe ou devolve ao PMDB a candidatura a govenador. Seria um ultimato no sentido do dá ou desce, mas como funcionaria isso? Com toda a experiência de empresário bem sucedido em São Paulo, Skaf se renderia na política? O questionamento começa por Temer. Ele possui autoridade para dar ordem sumária ao PMDB, mesmo que seja o de seu Estado, São Paulo? Uma das razões de sua volta à presidência do partido não foram negócios eleitorais que comandantes petistas no Nordeste começaram a fechar no mercado paralelo com o PT? Além do mais, Skaf, vai sair no grito se tem nas costas dez anos como presidente da poderosa Fiesp – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo? E se Skaf se retirar da disputa, quem o PMDB colocará na vaga em condições de somar seus votos ao do petista Alexandre Padilha e provocar um segundo turno em que um deles concorreria contra a reeleição do tucano Geraldo Alckmin? A importação de Skaf, vindo das indústrias, por si é uma prova da carência de lideranças do PMDB em São Paulo. Se o partido ainda tivesse poder no Estado, o candidato a governador seria Michel Temer, que no Palácio dos Bandeirantes estaria mais bem servido do que no Palácio do Jaburu, onde dorme em Brasília o vice-presidente da República. A penúria de lideranças no PMDB paulista explica porque o partido não disputa o governo do Estado desde 2002, quando concorreu com o deputado e pastor evangélico Lamartine Posella, a quem restou o quinto lugar. O último peemedebista a governar foi Luiz Antonio Fleury, que se retirou do mandato em janeiro de 1995. O candidato do partido à vaga de Fleury, em 1994, era Barros Munhoz, que ficou em quarto lugar. O governador eleito foi Mário Covas, que inaugurou os 20 anos de domínio do PSDB sobre o Palácio dos Bandeirantes. Em 1998, Orestes Quércia (PMDB) tentou a volta ao governo paulista depois de quatro anos, mas ficou em quinto. Covas foi reeleito. Desde que Fleury saiu, há 20 anos, a melhor chance para o PMDB é agora, com a possibilidade de Paulo Skaf estar no segundo turno. Ele contraria Michel Temer e se recusa a ser o segundo candidato do Planalto, além de Padilha (PT) porque, em seu espírito empresarial, tem noção de que não será governador sem superar o tucano Alckmin e o petista Padilha.
Não teria sentido a presidente Dilma Rousseff pensar em medidas pessoais contra o Santander por causa da crítica à deterioração econômica. Até porque, quando se trata de presidente da República, não há como separar a pessoa física da jurídica. Ainda mais a partir de um episódio cercado por tanto simbolismo institucional. Em consequência, a via de resposta teria o mesmo circuito institucional. Há também o fato de que a crítica não se dirigiu ao comportamento pessoal de Dilma, mas a política de governo que prejudica o desempenho econômico. Como empresa a quem os correntistas confiam depósitos e investimentos, cabe ao banco retribuir com orientações de mercado. A circunstância de campanha eleitoral tende a aguçar e não a suavizar a análise. A crítica à condução econômica veio numa espécie de prestação de contas que o Santander distribuiu a 40 mil correntistas com mais de R$ 10 mil de renda mensal. Trata-se de uma análise do ambiente que envolve variáveis políticas à disposição de investidores e governo na definição de negócios e políticas. Convém que se conheçam também as pessoas que captam investimentos. Os espanhóis que comandam o Santander são atrevidos com propensões dominadoras sobre os clientes. Se com o correntista é assim, imagine-se como será com a engrenagem do pessoal interno, de onde viria aquela crítica econômica. O cliente mal atendido pode ir ao Procon, e o funcionário? A chefia suprema do Santander insinua que demitiu uma analista. Mas será que demitiu mesmo? Naquela estrutura de dominação, a subalterna ousaria criticar o governo brasileiro? Ainda mais que as coisas na Espanha vão mal e renderam apenas 7% do lucro do banco no ano passado, o que aumentou mais a dependência ao Brasil, de onde vieram 27% da renda. Os concorrentes, possivelmente, são os que melhor conhecem o modo de atuação do Santander num mercado agressivo. Eles se assustaram com a reação de Dilma e perguntam a si mesmo se precisam ter mais cautela na divulgação de suas orientações a investidores. A boca miúda, como se dizia antigamente, teme-se que o governo intervenha mais e policie as análises financeiras.

Dilma transformou em desafio um recado do Banco Santander a correntistas, enquanto Michel Temer caminha para um impasse com o PMDB de São Paulo

A ideia de lulistas é evitar que deficiência de gestão do governo de Dilma inviabilize a continuidade do partido no poder

[caption id="attachment_11081" align="alignright" width="620"] Vice-presidente Michel Temer: interesse em ter Lula na campanha do PMDB, o que choca com interesse do PT[/caption]
A vitória da oposição na disputa presidencial nunca foi tão possível desde a primeira eleição de Lula contra o tucano José Serra em 2002. A 70 dias do primeiro turno presidencial em outubro, as urnas dificilmente deixarão de ser abertas num momento de inquietação social com preços em alta, economia paralisada e empregos em risco.
E depois? Virão os reajustes inevitáveis em preços administrados, como os de combustíveis, transportes e da energia elétrica. Se Dilma não se reeleger, poderá afrouxar a corda mais dois meses e deixar os desgastes para o sucessor, seja quem for. O concorrente tucano Aécio Neves não admitiu a necessidade de medidas rigorosas? Então que as assuma.
O impasse do PT infla o fator Lula 2018. Os companheiros lulistas desejam a presença do líder desde logo à frente da campanha a tempo de influir com autoridade em reajustes na economia que serão legados por Dilma – a si própria, se reeleita. Com ou sem reeleição, há a necessidade petista de evitar que a impopularidade inviabilize o brilho da estrela do PT nas urnas de 2018.
A preliminar da futura sucessão presidencial está em jogo desde a atual eleição. E o jogo de hoje é a prorrogação de uma gestão federal que o próprio Lula propôs, iniciou-se em 2011 e chegou aonde está. O ex-presidente tem, pois, suas razões para não deixar a sucessora muito solta na gerência das políticas de governo.
O que se pretende, no lulismo, é o controle em cadeia de Dilma Rousseff desde logo para não comprometer o futuro. O jogo que virá depois desta sucessão presidencial interessa, além do PT, aos nove partidos aliados com os quais a presidente se reuniu na terça-feira, no aconchego do Alvorada, para animar todos a seguirem em frente unidos com trabalho e confiança.
O símbolo da fala de Dilma foi o fato de que estão todos no mesmo barco com o PT, para aventura ou desventura. Como se desejasse tranquilizar os aliados, ela disse que a maior vantagem de sua candidatura são os 11 minutos e 48 segundos à disposição diária do horário de televisão e rádio a partir de 19 de agosto. O PSDB tem 38,3% disso. O PSB de Eduardo Campos, 8,6%.
A propósito, o vice-presidente Michel Temer observou a Dilma que o PMDB cedeu o tempo do partido ao latifúndio petista para colaborar na reeleição (o que inclui a dele) quer ocupar nesse horário um tempo digno para promover seus candidatos ao Senado e Câmara. Aí, a porca torce o rabo. Porque o PT do poder, historicamente, esmaga os aliados.
Nesse capítulo, Temer tocou no foco do delicado impasse na cúpula do PT. Mostrou interesse pela presença de Lula na campanha do PMDB. Era uma reiteração no sentido de que os petistas não podem cuidar apenas dos candidatos do partido deles. Os peemedebistas desejam espaço na jornada em busca de votos e preferem a companhia de Lula nos palanques à da presidente.
[caption id="attachment_11078" align="alignright" width="620"] Antes, o ministro Gilmar Mendes foi constrangido por Lula da Silva; agora, foi a vez do ministro José Múcio[/caption]
É a segunda vez em dois anos. A primeira foi em abril de 2012. Lula veio a Brasília, procurou o ministro Gilmar Mendes e tentou uma chantagem diante da iminência de o Supremo Tribunal Federal iniciar o julgamento do mensalão.
“O Zé Dirceu está muito preocupado”, disse o ex a Mendes antes de insinuar que Mendes poderia ser investigado pela CPI do Cachoeira por causa de sua relação com o ex-senador Demóstenes Torres. Não deu certo. O ministro resistiu à pressão.
A segunda ocorreu na terça-feira, na véspera de o Tribunal de Contas da União julgar a compra da Refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, pela Petrobras. Lula chamou a São Paulo o ministro José Múcio e disse que estava “muito preocupado” com o envolvimento da presidente Dilma Rousseff no caso. Deu certo. O TCU absolveu por unanimidade os conselheiros da petroleira.
Em fevereiro de 2006, num processo sumário, dez conselheiros administrativos da Petrobrás, sob a presidência de Dilma, então Chefe da Casa Civil de Lula, aprovaram por unanimidade a compra de Pasadena, numa operação que rendeu à petroleira o prejuízo de 792,3 milhões de dólares, pelo cálculo fechado na quarta-feira pelo TCU durante o julgamento.
Os conselheiros não levaram em conta que a tramitação da análise técnica da compra foi feita em 20 dias pela auditoria da Petrobrás. No fim do prazo os auditores devolveram o processo à chefia, em 31 de dezembro, com a reclamação, em relatório confidencial, de que o tempo para a análise foi “muito curto” Dois dias depois, o negócio de 1,25 bilhão de dólares foi aprovado pelo conselho.
Naquele ano, cada um dos conselheiros, agora absolvidos recebeu da Petrobrás 176 mil dólares, entre bônus e jetons, para aconselhar a empresa em seus negócios. Aprovaram a operação Pasadena numa única sessão com base num sumário de contrato que a detalhista Dilma considerou “técnica e juridicamente falho”.
A absolvição dos conselheiros que não aconselharam corretamente deixa, entre outras, uma dúvida no ar. Para que servem os conselhos de administração das estatais se não são responsáveis na função? Em moeda de hoje, o pagamento feito pela Petrobrás há oito anos corresponde a R$ 400 mil. Ou R$ 33,33 mil mensais para cada conselheiro.
Generosos com os conselheiros, os ministros do TCU foram duros com 11 atuais e antigos dirigentes da petroleira. Eles tiveram bens bloqueados para a hipótese de futuro ressarcimento à empresa. No grupo, o companheiro e presidente na época José Sérgio Gabrielli e os antigos diretores Paulo Roberto Costa e Nestor Cerveró.
Eles prometem recorrer para argumentar que a responsabilidade é do conselho. Argumentam que o estatuto da Petrobrás atribui ao conselho responsabilidade pela aquisição de ativos – e não a diretores. Dilma era a presidente do conselho.
Com pretensões ao governo da Bahia, o companheiro Gabrielli se deu mal, mas é a vítima do PT, além de pessoa não muito simpática à presidente Dilma, mas a reeleição recebeu um refresco do tribunal e respira com alívio no Planalto e no partido. Mas a absolvição não deixa de ser mais um tema ético para a oposição questionar na campanha presidencial.
As denúncias petistas contra adversários são um dos pontos que separam dilmistas e lulistas na campanha pela reeleição. O marketing do PT de Lula defende agressividade contra o tucano Aécio Neves na sucessão presidencial. A comunicação de Dilma prefere ser mais maneira, apesar do terrorismo daquele anúncio sobre a extinção de programas sociais pelo PSDB. Agora, o PT, anonimamente, serviu à imprensa o prato sobre o aeroporto da família de Aécio junto à fazenda em Cláudio, a 140 quilômetros de Belo Horizonte, com investimentos do governo de Minas. É um negócio confuso onde a área do aeroporto é um misto de pública e privada. Aécio terá de destrinchar a confusão, que já chegou ao avô Tancredo Neves. A fazenda, Santa Isabel, pertence a Múcio Tolentino, irmão de Risoleta, mulher de Tancredo. Nessa linha, Múcio é tio-avô de Aécio, neto de Risoleta. Tudo começou em 1983, quando o governador Tancredo repassou Cr$ 30 milhões, na moeda da época, à prefeitura de Cláudio para a construção do aeroporto de terra batida na fazenda do cunhado. Dois anos depois, presidente eleito, Tancredo morreu. Em 2000, o Ministério Público mineiro investigou Múcio e bloqueou os bens do fazendeiro e ex-prefeito de Cláudio para a hipótese de um futuro ressarcimento. Três anos depois, o MP arquivou o inquérito e Risoleta morreu. O MP mudou de ideia e reabriu a investigação. Em 2008, o governador Aécio desapropriou a área do aeroporto. O governo ofereceu R$ 1 milhão como indenização. Múcio não se conformou e foi à Justiça. Em 2009, o governo mineiro investiu R$ 13,9 milhões no asfaltamento da pista de um quilômetro. Falta o presidenciável explicar melhor o caso dos investimentos públicos no aeroporto e a situação da desapropriação. Ao lado, a seis quilômetros da Santa Isabel, há a Fazenda da Mata, que está no espólio de Risoleta para a partilha entre os três filhos. Era o refúgio quase secreto de Tancredo quando queria se afastar do mundo para repousar. Ter o número do telefone da fazenda era o sonho de consumo de políticos, empresários e repórteres. Raros o tinham.
[caption id="attachment_11072" align="alignright" width="605"] Oposicionistas Eduardo e Aécio: este manteve índices, o outro caiu[/caption]
A última rodada de pesquisa do Ibope foi às ruas entre os dias 18 e 21, uma semana depois do fim da Copa do Mundo em 13 de julho. Comparada à rodada divulgada em sete de junho e apurada uma semana antes do início do torneio, a nova demonstra que o resultado do futebol não afetou a opinião quanto ao voto em Dilma ou Aécio, mas mexeu no ânimo do eleitor.
A favorita Dilma Rousseff (PT) tinha 38% de apoio antes da Copa e ficou com o mesmo índice depois. Aécio Neves (PSDB) estava com 22% e manteve o número. Eduardo Campos (PSB), oposicionista que nada tem a ver com o futebol, sim, despencou, pagou mico: tinha 13% e desceu para 8. Em quarto, Pastor Everaldo (PSC), manteve os 3%. No Datafolha, Dilma tinha 36%, Aécio contava com 20, Campos com 8 e Everaldo tinha 3.
Na pesquisa mais recente do Ibope, no segundo turno entre Dilma e Aécio, a presidente venceria o senador por 41% a 33, com uma frente de oito pontos. No Datafolha, a diferença era menor: 44% a 40. Contra Campos, Dilma teria uma frente de 12% com 41 pontos a 29. No Datafolha, a diferença menor, de sete pontos: 45% a 38.
Mais expressiva é comparação que não levar em conta a cotação dos candidatos, mas observa o ânimo do eleitor em votar, constata-se que o desencanto cresceu depois da Copa. Antes, o voto branco ou nulo estava com 13%. Depois foi a 16. Os indecisos eram 7% e foram a 9.
A última pesquisa inovou ao perguntar ao eleitor não apenas em quem votaria, mas também quem ganharia na opinião dele. O resultado demonstrou que a maioria, 54% , espera a vitória de Dilma. Aécio recebeu 16%. Campos, apenas 5%.
A rejeição da presidente medida pelo Ibope foi a maior entre os três principais candidatos, 36%. Aécio arrebatou 16%. Campos, o menos conhecido, levou 8%. Mais da metade dos eleitores, 53%, considera que o país está no “rumo errado”. Outros 44% julgam o contrário.

A esperança de Aécio Neves e Eduardo Campos marcha para o jogo de apoios do segundo turno, sem perspectiva de vitória antes

[caption id="attachment_10471" align="alignright" width="620"] Governador Geraldo Alckmin: 54% das intenções de voto em SP | Foto: Antonio Cruz/ Agência Brasil[/caption]
O ex-presidente Lula reuniu 3 mil militantes do PT num comício em São Paulo, o primeiro da temporada, em defesa do candidato que criou para retirar os tucanos dos 20 anos de poder no Estado, o ex-ministro Alexandre Padilha, que subiu um ponto nas duas últimas pesquisas do Datafolha. Foi de 3% para 4.
A reeleição do governador Geraldo Alckmin (PSDB) ameaça o sonho de Lula. Com 54%, pode se eleger no primeiro turno. A aprovação paulista ao governo tucano subiu de 41% para 46. Em segundo, o empresário Paulo Skaf tem 16%. Em rejeição, Padilha vence. Tem 26%, contra 20 de Skaf e 19 de Alckmin.
Em cima de um carro de som, Lula tentou erguer o moral de Padilha dizendo não acreditar em pesquisas, sem se referir às presidenciais deste ano. “Na eleição de 2012 para prefeito de São Paulo, exatamente em julho como agora com Padilha, Haddad tinha três por cento e venceu a eleição”, referiu-se a Fernando Haddad, outra criação dele.
Mencionou uma pesquisa presidencial, mas de 1989, quando tentou pela primeira vez ser presidente. “O Gallup dava, em setembro, que eu tinha 5,57 por cento e eu fui para o segundo turno com mais de 15 por cento”, recordou um antigo instituto de pesquisas no mês anterior à eleição.
Lula desafiou os tucanos a discutir corrupção. “Temos que debater a corrupção neste país”, reclamou. “Eu desafio que eles entrem nessa discussão. No nosso tempo, só tinha uma forma do (sic) cidadão não ser denunciado: se fosse honesto. No tempo deles, havia um tapete grande para onde se jogava a sujeira para debaixo dele.”
O ex-presidente reconheceu que as acusações de corrupção abatem os petistas. “Eles dizem que o PT é corrupto e às vezes andamos de cabeça baixa por isso. Mas nós não construímos o PT para isso. Esse é um tema que estou disposto a discutir nesta campanha”, prometeu.
A imprensa mereceu uma investida de Lula. “Eu vou dar um conselho para você”, olhou para Haddad, ao lado. “Não fique esperando que a ‘Folha de S. Paulo’ fale bem de você. Não fique esperando que o “Estadão” fale bem de você. Quem tem de falar bem do seu governo é você, de divulgar as coisas que a prefeitura faz”, reclamou ação do prefeito.
Lula deu um exemplo da impopularidade de Haddad. “Você liga a televisão e todo dia você apanha às oito da manhã. Você apanha às três da tarde, às sete da noite. Às seis da manhã você já está apanhando”, pediu providência ao prefeito que se esquiva de atos públicos para não receber críticas.

[caption id="attachment_10468" align="alignright" width="620"] Lula da Silva ainda não acompanhou Dilma em eventos: cada um tem seu grupo em briga pelo mando na campanha | Foto: Ricardo Stuckert/ Instituto Lula[/caption]
A Copa chegou, rolou e foi embora, mas deixou sequelas no PT, que devem aumentar diante do crescimento da rejeição à presidente Dilma de 32% para 35% entre as duas pesquisas do Datafolha antes e depois do desfecho da Copa.
Lula ainda não embarcou na campanha pela reeleição da sucessora. Campanha que, na opinião de companheiros que cercam o ex-presidente, não vai para frente nem para trás. Lula tem algo a ver com essa paralisação. Recusou-se a chefia da campanha e disse que preferia fazer um esforço paralelo ao circuito de palanques da companheira.
Como ocorreu no mundial de futebol, Lula continua sem acompanhar a presidente em atos públicos. Enquanto isso, ambos disputam o controle da campanha como corredor de passagem para o domínio de um possível governo reeleito.
Eles não se defrontam em pessoa, mas cada um tem o seu grupo de companheiros empenhados na disputa pelo mando da campanha. Nitidamente, surgem duas correntes em confronto, a dilmista e a lulista.
A separação se tornou mais visível depois das hostilidades a Dilma nos estádios da Copa. Desde a abertura do campeonato em 12 de junho, alimentam-se rancores no PT que empurram o ex para um lado e a atual para outro.
No torneio pelo mando, dilmistas escalam o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho como o símbolo do poder a ser esvaziado. Os lulistas miram o chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante.
As brasas ainda ardem no rescaldo das ofensas a Dilma no Itaquerão, quando a presidente atribuiu a manifestação a elites. Seis dias depois, 18 de junho, em entrevista a blogueiros amigos, Carvalho disse que a hostilidade não era apenas da elite branca. Dois dias depois, Lula endossou a fala do secretário, contestando a presidente.
Dilma não gostou. Comprou briga nos bastidores. Não admite a desenvoltura com que Carvalho atua no Planalto em nome dos interesses lulistas, ainda mais para contestar a presidente naquela reunião de duas horas com blogueiros no palácio durante o expediente.
É a missão do secretário no Planalto, representar os interesses de Lula, que o colocou na secretaria-geral. Carvalho apenas expressa aquilo que Lula gostaria de manifestar pessoalmente, mas se cala. Dilma sabe que o buraco é mais em cima. Finge, porém, que é mais embaixo mesmo.
Para afastar o secretário do palácio, renovam-se na imprensa as informações anônimas de que ele vai sair para trabalhar na campanha da reeleição junto aos movimentos sociais – como no Planalto. No início, Carvalho negava. Depois passou a admitir que pode cuidar da campanha, mas nas horas vagas, fora do expediente na secretaria.
Os lulistas reagiram. Desejam que Aloizio Mercadante, sem deixar a Casa Civil, vá arregaçar as mangas também na campanha. Afirmam que campanha precisa de alguém com autoridade para dar ordem no governo. Lula se cala, como se nada tivesse contra a militância dupla do companheiro Mercadante.

[caption id="attachment_10460" align="alignright" width="620"] Secretáro Gilberto Carvalho: minando por dentro a autoridade de Dilma | Foto: Marcelo Camargo Agênica Brasil[/caption]
No meio da semana, Carvalho, novamente assim como quem não quer nada, avançou mais uma casa no tabuleiro do poder. Com a autonomia de sempre, comunicou que o governo examina a assinatura de um novo decreto presidencial para criar um fundo que banque a operação dos conselhos populares.
“Estamos trabalhando na ideia de um Fundo Financeiro de Participação Social”, anunciou o secretário diante de representantes do Conselho Nacional de Saúde, um dos braços dos movimentos sociais com que interage. “Vamos fazer também por decreto, a presidente Dilma pode fazer isso”, emendou.
Ora, se o objetivo do PT é instalar a militância do partido no controle dos conselhos populares, criados para aparelhar o Estado com um mecanismo de representação que assegure aos petistas perenidade de influência no poder à margem do sistema eletivo constitucional, a operação dos militantes é coisa para Gilberto Carvalho, que nunca fez outra coisa.
A manifestação do secretário foi ainda uma forma dele reiterar a função que lhe cabe no coração do poder em nome de Lula. Atuar ali e não na periferia da campanha, como um subordinado da candidata à reeleição. Ao mesmo tempo, Carvalho se antecipou ao anunciar algo que a presidente gostaria de comunicar ela mesma na campanha.
O pior para Dilma pode estar naquele momento em que o secretário afirmou que a presidente criaria o fundo por decreto. A declaração ocorreu quando propriamente se inicia a campanha com os partidos na rua. Se o PT já fala em financiar os conselhos, como ficam os aliados que não desejam disputar o poder legislativo com militantes?
Outra coisa. Os aliados não aceitam a criação dos conselhos por decreto presidencial. Querem votar um projeto a respeito no Congresso, quando poderia emendar o texto. Os aliados têm poder para se impor.
Na véspera da fala do secretário Carvalho, o Planalto mobilizou todas as duas forças para evitar que a Câmara aprovasse um decreto legislativo que derrubasse o outro decreto, o presidencial. Mesmo assim, os aliados se uniram à oposição e aprovaram por 294 a 54 um pedido de urgência para a votação do decreto que revoga o outro.
No entanto, veio o recesso branco e tornou incerto o dia da votação do decreto que revoga os conselhos. Apesar de tudo, no dia seguinte, Carvalho aumentou o estrago no governo ao falar em mais um decreto. Pura provocação. Ao palácio, diga-se.
Se a ideia de Clécio Andrade (PMDB), ao renunciar ao mandato de senador, fosse apenas abafar o seu julgamento pelo Supremo Tribunal Federal por causa do mensalão mineiro, ele poderia fazer como o ex-deputado e governador Eduardo Azeredo (PSDB): renunciar em cima da hora e esperar que o processo fosse para Minas e adormecesse por lá. Na prática, a dois meses e meio da eleição presidencial, a renúncia de Andrade renovou um marco histórico em Minas, onde a política tradicional é feita com símbolos. Trinta anos depois, repete-se a aliança entre dois adversários oriundos da UDN e o PSD: o então vice-presidente Aureliano Chaves e o governador Tancredo Neves. A retirada de Andrade abriu a vaga no Senado ao suplente Antonio Aureliano Sanches de Mendonça (PSDB), o Toninho, único filho homem e herdeiro do velho Aureliano. Como senador, Toninho passa a valorizar o seu apoio ao colega e companheiro tucano Aécio Neves, herdeiro de Tancredo. O velho Aureliano emergiu na UDN, passou pelos partidos da ditadura e tornou-se vice-presidente do general João Baptista Figueiredo, cuja sucessão pretendia disputar com o então governador Tancredo, vindo do PSD e candidato a presidente pelo PMDB na eleição indireta de janeiro de 1985. Sem ambiente com Figueiredo para também ser candidato, o vice Aureliano apoiou Tancredo na sucessão presidencial e retirou-se a política sem esperar dividendos pela sua participação. O político passou ser Toninho, que se reencontrou com os Neves na pessoa de Aécio. Juntou-se a eles Clécio Andrade, líder empresarial na área de transportes que se tornou vice-governador de Aécio. Neste ano, pretendeu se candidatar a governador, mas esbarrou na preferência do PMDB por alguém do PT. Agora, ao renunciar a um mandato que iria até janeiro, o Planalto perde um senador, os tucanos ganham um. Na renúncia, Andrade alegou problema com a saúde, o que se desconhecia. Se renunciasse ao Senado apenas no fim do ano, quando seria julgado no Supremo pelo mensalão mineiro, a troca de senador teria menor impacto em Minas.

A dificuldade da presidente em sair do malogro do futebol e buscar novo rumo contamina os rivais, acostumados a apenas reagir
[caption id="attachment_9718" align="alignleft" width="707"] Alemanha impõe goleada humilhante ao time nacional: ruim para o ânimo dos brasileiros e para Dilma Rousseff | Foto: Hassan Ammar/AP[/caption]
Em cinco dias ocorreram três fatos que mudaram o ambiente eleitoral. No dia 3 pela manhã, surgiu a pesquisa do Datafolha que reergueu o ânimo da reeleição da presidente Dilma ao divulgar a satisfação dos brasileiros com a Copa do Mundo. À tarde, desabou o viaduto em Belo Horizonte feito pelo PAC para os jogos. No dia 8, a goleada alemã sobre a seleção brasileira.
Agora, o marketing da reeleição, atordoado pelos alemães, tateia em busca de mensagem para a campanha de Dilma atualizada à nova realidade. Acostumados a apenas reagir ao governo, os outros dois principais concorrentes, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), contaminam-se com a indefinição da candidata favorita.
A saída seria mais segura para os candidatos se houvesse uma nova pesquisa com a força daquela para recolocar a sucessão em seu lugar. O prestígio de Dilma avançava e o povo sentia mais confiança no futuro pessoal naquele momento, em que a Copa era um sucesso e a seleção brasileira estava no jogo, apesar das dificuldades. E agora, como estará autoestima nacional?
Os principais partidos dispõem de pesquisas internas que, dizem, refletem uma sintonia fina com a tendência de eleitores padrões, mas elas não possuem a mesma expressão que outras feitas para o conhecimento público. As pesquisas conduzidas para clientes especiais não possuem o mesmo impacto na opinião pública, não conquistam eleitores diretamente.
A expectativa é nervosa no governo. O estrategista Lula sumiu e o PT aguardou o retorno do líder para uma palavra de ordem. Dilma iniciou a semana em recolhimento no Alvorada para reestudar o rumo da campanha com os conselheiros à disposição. Apenas na quarta-feira foi ao expediente no Planalto para quatro audiências.
Numa delas, veio a entrevista à televisão em que pregou a volta por cima da nação depois da Copa. “Nós crescemos na adversidade”, apelou Dilma, em linguagem de autoajuda, à reconstrução nacional, como quem deseja reerguer a autoestima dos brasileiros, o que facilitaria o caminho para a reeleição, como no início do mundial de futebol.
Entenda-se, subliminarmente, que a candidata afirmou que nem tudo está perdido para a reeleição, como se a satisfação dos brasileiros com o futebol e a gestão pública possa se impor nos 84 dias que faltam para o primeiro turno da eleição presidencial em 5 de outubro. Até lá, são 12 semanas para inverter a carestia nas ruas e aperfeiçoar os serviços públicos.