Dilma transformou em desafio um recado do Banco Santander a correntistas, enquanto Michel Temer caminha para um impasse com o PMDB de São Paulo

Candidato do PMDB ao governo de S.Paulo, Paulo Skaf quer distância do PT. Foto: Valter Campanato/Abr
Candidato do PMDB ao governo de S.Paulo, Paulo Skaf quer distância do PT. Foto: Valter Campanato/Abr

Sem medo de ser feliz, a presidente Dilma Rousseff com­prou a briga com o Banco Santander por causa da análise que ofereceu à elite de seus correntistas ao se referir à rejeição do mercado à candidata e sua relação com a deterioração da economia. “Eu vou ter uma atitude bastante clara em relação ao banco”, a presidente prometeu desforra durante debate eleitoral dentro do Alvorada.

Furiosa, a economista Dilma, interrogada no debate, considerou inadmissível o “mercado interferir na política”. Engano histórico. As estruturas atuais de mercado e assembleia têm a ver com as antigas praças medievais, onde a população negociava e discutia a política em torno de bancas. Os bancos vieram desse cenário comunitário. Ainda hoje praça se refere a mercado.

Sem medo de perder o moral, o vice-presidente Michel Temer reassumiu a chefia do PMDB para colocar ordem no partido e exigir que o candidato ao governo paulista, empresário Paulo Skaf, faça campanha para a reeleição dele próprio, o vice, e de Dilma. E se Skaf não aceitar a ordem? Se Skaf preferir renunciar à candidatura, seus votos irão para a chapa com o PT?

A beligerância de Dilma e os modos menos serenos de Temer convergiram durante a semana a dois meses do primeiro turno presidencial, a partir do início de fato da campanha e da necessidade de revigorar a reeleição que está em processo de esvaziamento junto à praça eleitoral.

O desafio de Dilma ao San­tander é rico em simbolismo quanto à promessa de uso do poder público da desafiante. Para começar, foi a presidente da República quem prometeu represália ao banco. Sem ameaçar ou advertir a empresa preliminarmente, ela foi diretamente à declaração final de que haverá o troco contra o banco: “Eu vou ter uma atitude bastante clara…”.

Há mais simbolismo nisso. A declaração de hostilidade ocorreu em encontro público dentro do Palácio da Alvorada em horário de expediente. Aconteceu ao longo do debate eleitoral com a candidata promovido por empresas de comunicação para divulgação ao vivo. Naquela segunda-feira, a agenda presidencial anunciava apenas despachos internos a partir das 9 da manhã.

A agressividade da resposta de Dilma ao banco espanhol revela a ideia de transformar o caso em fato político com pretensão a institucional. Quem sabe se ela não deseja transformar o Santander em abutre brasileiro para ganhar votos em cima de briga com banco estrangeiro? A colega Cristina Kirchner ampliou prestígio interno ao denunciar os abutres da dívida da Argentina.

E se o Santander fosse o abutre da América Latina? A megalomania do PT pode pensar numa aliança mais ampla de hermanos e companheiros bolivarianos contra os espanhóis. Hoje, a metade dos lucros do banco vem dos latino-americanos. No ano passado, a contribuição continental foi de 47% da renda da empresa espanhola.