A ideia de lulistas é evitar que deficiência de gestão do governo de Dilma inviabilize a continuidade do partido no poder 

Lula em Praia Grande, onde se apresentou como defensor da candidatura de Dilma: “Maior dilmista do Brasil”
Lula em Praia Grande, onde se apresentou como defensor da candidatura de Dilma: “Maior dilmista do Brasil”

A preocupação lulista com o controle da campanha da reeleição revelaria instinto de au­todefesa, que o grupo pode considerar legítima defesa. Antes, a presidente Dilma atropelou ao se lançar à reeleição. Hoje, o ex-presidente não atende ao apelo do “Volta, Lula” para assumir o lugar dela. Haveria razão, pois, no zelo em evitar que danos no governo não prejudiquem a nova sucessão daqui a quatro anos.

Vejamos. Lulistas e dilmistas desejam, cada um para si, o controle da campanha de Dilma, o que permite sugestões de correção de rumos políticos e administrativos, mais o acompanhamento da execução das medidas. Se a campanha tiver sucesso, quem a geriu se credencia a funções no novo mandato com participação e decisões. Seria uma espécie de tutela pelo ex-presidente.

Mas Lula não tutelou sempre? Até certo momento não muito distante, Dilma se subordinou a Lula, a quem deve o mandato. Mesmo quando passou a buscar a reeleição em 2011, ainda no primeiro ano de mandato, ela interrompia o expediente em Brasília, tomava o avião presidencial – o Aerolula, diga-se – e ia a São Paulo ouvir conselhos face a face. Depois se tornou menos dependente.

Hoje, dilmistas resistem à presença mais ativa de Lula na campanha para evitar que o ex ofusque a presidente. É a mesma coisa que dizer que a proximidade reforçaria, perante o eleitor, a imagem de subordinação da presidente. Como se a criatura se libertasse do criador – para usar as expressões que o ex aprecia para colocar cada um em seu lugar, inclusive em público.

Retrucam os lulistas que, sem Lula por perto, a reeleição se complica. Não haveria como o ex-presidente transmitir seu carisma à sucessora e acelerar a recuperação da antiga popularidade de Dilma. De longe, o ex manda recados pela imprensa com convites à candidata para sair às ruas, enfrentar o povo. Até parecem desafios, como se ela corresse risco sem ele ao lado.

Na quinta-feira, a presidente saiu dos palácios e foi ao Rio. Nesta semana deve ir a São Paulo e Minas, para fazer campanha em território mineiro do concorrente Aécio Neves (PSDB), Montes Claros. Espera a companhia de Lula em Minas. Até agora, ele fez campanha sozinho ao seu modo, com incursões que seguem a agenda que prepara para si.

Apresentou-se na paulista Praia Grande, na terça-feira, como um defensor da reeleição de Dilma e ironizou a divisão do partido em duas alas num discurso para sindicalistas da área química. “Inventaram uma divisão entre lulistas e dilmistas. Acho fantástico. Eu seria o maior dilmista do Brasil e tenho certeza que Dilma não tem nenhuma razão para ser lulista”, discursou.

O fato é que a separação entre criador e criatura prejudica a ideia de Lula em ser candidato a um quarto mandato presidencial daqui a quatro anos, para avançar na construção do projeto de poder perene do PT. Mesmo que a presidente se reeleja agora, a utopia petista estará em risco por causa de medidas impopulares que virão. Seria esse o legado de Dilma.