A renúncia de Andrade no Senado renovou um símbolo com Aureliano em Minas
19 julho 2014 às 12h01
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Se a ideia de Clécio Andrade (PMDB), ao renunciar ao mandato de senador, fosse apenas abafar o seu julgamento pelo Supremo Tribunal Federal por causa do mensalão mineiro, ele poderia fazer como o ex-deputado e governador Eduardo Azeredo (PSDB): renunciar em cima da hora e esperar que o processo fosse para Minas e adormecesse por lá.
Na prática, a dois meses e meio da eleição presidencial, a renúncia de Andrade renovou um marco histórico em Minas, onde a política tradicional é feita com símbolos. Trinta anos depois, repete-se a aliança entre dois adversários oriundos da UDN e o PSD: o então vice-presidente Aureliano Chaves e o governador Tancredo Neves.
A retirada de Andrade abriu a vaga no Senado ao suplente Antonio Aureliano Sanches de Mendonça (PSDB), o Toninho, único filho homem e herdeiro do velho Aureliano. Como senador, Toninho passa a valorizar o seu apoio ao colega e companheiro tucano Aécio Neves, herdeiro de Tancredo.
O velho Aureliano emergiu na UDN, passou pelos partidos da ditadura e tornou-se vice-presidente do general João Baptista Figueiredo, cuja sucessão pretendia disputar com o então governador Tancredo, vindo do PSD e candidato a presidente pelo PMDB na eleição indireta de janeiro de 1985.
Sem ambiente com Figueiredo para também ser candidato, o vice Aureliano apoiou Tancredo na sucessão presidencial e retirou-se a política sem esperar dividendos pela sua participação. O político passou ser Toninho, que se reencontrou com os Neves na pessoa de Aécio.
Juntou-se a eles Clécio Andrade, líder empresarial na área de transportes que se tornou vice-governador de Aécio. Neste ano, pretendeu se candidatar a governador, mas esbarrou na preferência do PMDB por alguém do PT. Agora, ao renunciar a um mandato que iria até janeiro, o Planalto perde um senador, os tucanos ganham um.
Na renúncia, Andrade alegou problema com a saúde, o que se desconhecia. Se renunciasse ao Senado apenas no fim do ano, quando seria julgado no Supremo pelo mensalão mineiro, a troca de senador teria menor impacto em Minas.