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A pandemia da internet é mais perigosa do que a pandemia do coronavírus

Não engulo a maquinaria monomaníaca da civilização tecnológica e financeira. Sou apaixonadamente conectado ao passado. Reconstruí-lo, não sei Gabriel Nascente A angústia originária do pecado de Adão é angústia inocente, tanto quanto — penso eu —, o pecado do primeiro homem (segundo a fábula teológica) também é inocente. Visto que o paraíso pode ser uma invenção puramente bíblica; e que, portanto, é controverso. Uma vez que o tálamo carnal que deu origem à espécie humana, ainda permanece encoberto de mistérios. É um enigma. Pois se o pecado original foi a primeira cópula da espécie humana, então deduz-se que toda a humanidade é pecadora. Ora, se o verbo deu luz à palavra, antropologicamente a carne é a origem da vida. [caption id="attachment_285960" align="aligncenter" width="464"] Pintura de Ticiano| Foto: Reprodução[/caption] Em sufoco de dúvidas, perguntem a Santo Agostinho, e depois ao dinamarquês Sören Kierkegaard, e ainda a Camus, o quê significa isto? Menos a mim, que sempre fui um doidivana metafísico, um estoico apaixonado. E só acredito na inocência da luz, na dignidade das estrelas e na engenharia artesanal das abelhas. Se a natureza é Deus, estou dentro, mesmo que a vida nos seja tão somente uma embarcação de palha, soprada pelo suspiro de algum deus desocupado. O que vivemos é uma esperança sem Deus, de sonhos que se tornaram angústias, abrindo crises espirituais terríveis em nossas vidas de hóspedes deste mundo, asfixiados. Os animais estão desaparecendo, os oceanos se transformando em gigantescas latrinas de lixo industrial; a água cada vez mais escassa em seus mananciais de finitudes; e as florestas se reduzindo a cemitérios de cinzas. Isto tudo me obceca. É odioso. E crava espinhos em minha alma. A realidade nos mostra claramente que já nos afundamos a pique. E que só nos resta erguermos um brinde às vazias ilusões de estarmos vivos. Porque o simples fato de estarmos vivos já é triunfo de todos os milagres. Eu sou uma espécie de gente muitíssimo rara neste planeta. Quero dizer: reconhecidamente em desuso; isto é: não engulo a maquinaria monomaníaca da civilização tecnológica e financeira. Sou apaixonadamente conectado ao passado. Reconstruí-lo, não sei. É loucura. Mas é dentro dele que estão os meus fantasmas, nitidamente vivos, como se fossem tambores ruflando no armazém das minhas lembranças. Estúrdio! As duas maiores pandemias que invadiram a humanidade, nesta virada de milênio, são desastrosamente a Internet e a Covid-19. Nossos herdeiros sofrerão, no cérebro, o impacto desses avanços em níveis destruidores. Penso eu que o coronavírus, por exemplo, não é biológico, é resto de bomba atômica, bactéria nuclear capaz de destruir a própria eternidade. Morrerá o tempo, mas a desgraça desta epidemia, não. Calma, minha gente! A internet é apenas uma cirrose eletrônica, contendo tudo de letal e maléfico armazenado na metodologia de seu labirinto. E tê-la, em nosso cotidiano, é tê-la como uma doença mental, nos conduzindo fatalmente à terrível alienação do vício. Daqui a pouco a humanidade não saberá mais usar as pernas nem a boca. Pois, ao desconectá-la dos computadores e dos celulares, caímos na mais nefasta das solidões, de volta à angústia de estamos sozinhos dentro de nós mesmos. Conclusão: a pandemia da internet é mais perigosa do que a pandemia do coronavírus. Pense nisto. Gabriel Nascente é cronista do Jornal Opção.

Os gravetos da lembrança (1)

Eu soltei as represas da inspiração, primitivamente iletrada e inculta, a encher de poesia as páginas do caderno de aritmética. Com o apoio de Aidenor Aires

O camelô de canetas e causos mais

Converso com o caneteiro, que reclama que vende pouco... e ele foi saindo, cabisbaixo, como quem queria arrancar os olhos para chorar

As aventuras do moleque de barro (II)

Prometi que, se uma menina namorasse comigo, eu passaria nu na porta de sua casa. Teve gente que se armou de espingarda. Sabe o que fiz? Leia a crônica toda...

As aventuras do moleque de barro (I)

É ilusão pensar que os dias são as mesmices da repetição. Os dias são as pernas do tempo. Ora estamos sob o êxtase dos deslumbramentos, ora sob o sufoco das incertezas

As escumas da lembrança

A infância é passarinho fazendo anarquias nos quintais da alma. Folguedos dos quais fiz parte, sem me dar conta de que aquele encantamento de júbilos era fugaz 

Pinacoteta do Tribunal de Justiça de Goiás está aberta para o mundo

A pinacoteca conta com trabalhos de Maria Guilhermina, Goiandira do Couto, Giovan Cabral (escultor), Sanatan, Vânia Ferreira, Eldo Dias, Carlos Antônio Xavier e outros

A sexagenária poesia de Carlos Nejar

Encontro com sua poesia exige parcimônia espiritual, amar o fulgor estético, e ter leitura meditada, de bom gosto, para adentrar o imaginário de suas metáforas

A breve ausência do editor Antônio Almeida

Ele está acamado, mas lúcido e esperançoso de voltar à sua cadeira de editor, não permitindo que a dor ataque sua constelação de amigos e o coração das letras goiana

O anjo perturbado

A história do meu amigo Joãozinho, que, praticando o “morcegoso”, desenhava umas loucuras surrealistas

Nem arma, nem drogas: era poesia

Eu levava livros para os membros da Academia Brasileira de Letras e fui revistado pela Polícia Federal, que achou que eu ia para a guerra

O vírus tecnológico e o caráter infernético do novo mundo

O impacto das civilizações tecnológicas avança perigosamente, com o surgimento exacerbado de controles robóticos para o mercado do consumismo desenfreado Gabriel Nascente Impressiona-me, dos pés à cabeça, o durar da pandemia, que passa passando sem passar. Dois mil e vinte, que massacre! A mordaça da máscara calou a voz das pessoas. Ninguém conversa com ninguém. Não somos mais seres humanos. Somos apenas símbolos de uma raça de mortais, que se movimentam no turbilhão do mundo. O que tem afetado — e bem mais de perto — é a miúda corriola de amigos. Efeito brutal da Covid-19: nocivo, avassalador. Ninguém conversa com mais ninguém. [caption id="attachment_256018" align="aligncenter" width="620"] Pintura de Almada Negreiros[/caption] Que ficção é esta? A preguiça mental provocada pela epidemia dos computadores também arruinou a voz humana. E saiu de cena a alegaria de um simples telefonema. Caímos no gelo, e na mediocridade diarreica dos WhatsApps. A eletrônica construiu um túnel, batizado de redes sociais, que é para onde a humanidade se transferiu de endereço. Todavia, ao desconectar-se do tenebroso silêncio infernético, a solidão pega fundo, enforca as pessoas. E daí terão que comer os próprios dentes, aos rinchos de trevas e depressão. Em tom de sarcástico dictério costumo dizer que sinto e me pressinto nas palavras visionárias de um profeta eletrônico do Apocalipse. E que anda nos rondando a hora de um terrível blecaute em todos os sistemas de magnetização universal da internet. Evoluir-se para o bem da humanidade é o que todos os humanos almejam. Aí, sim, eu atiro louros à civilização tecnológica. Mas, desvoluir-se, não. Substituir o espontâneo pelo robô também não. O impacto das civilizações tecnológicas, no dia-a-dia do nosso convívio social, avança perigosamente, com o surgimento exacerbado de novos mecanismos invisíveis, de controles robóticos, para o mercado do consumismo desenfreado. Aniquila-se o homem, a mão de obra do homem; e, em seu lugar, instala-se um monstro de cérebro eletrônico. [caption id="attachment_184817" align="aligncenter" width="400"] Pintura de Almeida Jr.[/caption] Prefiro um livro à mão. É mais saudável, intelectualmente. O genial semiólogo e romancista italiano Umberto Eco aderiu, fantasticamente, o uso da internet, e depois recuou. Mallarmé desintegrou a palavra por entender que o branco da página tinha mais coisa a comunicar. O concretismo morreu num beco. E agora, os ícones da vanguarda, anunciam a volta do romântico, nas relações do convívio humano. Ou se tudo isto daí, desta monstruosa parafernália infernética, prenuncia sintomas de uma desastrosa transformação no jeito de viver das comunidades globais? Relincho como asno, tô fora! Prefiro ler Timbiras, de Gonçalves Dias. Viver e conviver com a simplicidade das coisas é usufruir –se da sabedoria da natureza. As águas sempre sabem para onde correm. E todo grande rio corre em silêncio. O pequeno, não, é cheio de curvas, escandaloso. Assim, deste modo, ocorre com certos tipos de criaturas humanas: arrogantes por fora, e vermes por dentro. A história da raça humana está contaminada destes exemplos: de pacifistas e de tiranos. Gabriel Nascente é cronista do Jornal Opção. E-mail: [email protected]

Eu, camelô de poesia?

Ser poeta, nesta congelada aldeia de computadores, é ser resto de faúlha, que escapou-se, solitária, do incêndio. Ou um louco na corrente 

A crônica me buscou de volta    

Fui repórter: onde estava o fervilhar do fato, eu me fazia munido de um pequeno bloco de papel e de caneta, buscando a notícia até mesmo dentro de hospícios e cabarés