Imprensa
O maior grupo de Comunicação do Sul do Brasil, o RBS, dono do jornal diário “Zero Hora” e da emissora que retransmite a programação da Globo, demitiu, na semana passada, 130 funcionários. O presidente da empresa, Eduardo Meltzer, afirma que não há crise financeira, e sim busca de “produtividade” e “eficiência”. Meltzer comentou, por meio de uma nota, que o grupo tem 6 mil funcionários, aparentemente sugerindo que 130 demissões não são significativas. Numa entrevista ao Portal Imprensa, o presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Celso Schröder, criticou as demissões — “é um problemaço” — e a concentração da comunicação no Sul do país nas mãos do Grupo RBS

Notícia satírica sobre overdose de maconha, que usou personagens de filmes no texto, foi reproduzida em portal do grupo antidrogas da Polícia Militar e “caiu na rede”. Não é a primeira vez no ano que instituições policiais sofrem com pegadinhas

[caption id="attachment_11645" align="alignleft" width="620"] Guilherme Boulos, Reinaldo Azevedo e Rodrigo Constantino: guerra verborrágica em “debate” com argumentos que mais se assemelham a uma discussão de torcedor na arquibancada[/caption]
“Quando abro o jornal, sintonizo a rádio ou ligo a TV, quero que o jornalista me relate o que aconteceu de fato. Nada mais que isso. A partir do que eu ler, ouvir ou ver, formo minha própria opinião.” A frase vem de um amigo, professor, em uma conversa sobre a função da imprensa. Ele critica a batida expressão “formador de opinião”, muitas vezes atribuída a quem trabalha na imprensa.
Não dá para negar que jornalistas tenham acesso a um volume maior de informações que a média das pessoas sobre determinado assunto e, portanto, boa capacidade potencial de análise, o que não quer dizer que se torne uma fonte incontestável — por exemplo, para falar da minicrise diplomática entre Brasil e Israel será sempre melhor um PhD formado no Instituto Rio Branco que tenha uma comunicabilidade eficiente na mídia do que o melhor dos jornalistas. No melhor dos cenários, um jornalista é o que se convencionou chamar de especialista no genérico.
A expressão vale para a discussão de teorias políticas. Nesse sentido, um “debate” entre três colunistas de grandes veículos de comunicação da mídia nacional chamou a atenção na semana passada: Guilherme Boulos, professor, filósofo, coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e colunista da “Folha de S. Paulo” contra Reinaldo Azevedo e Rodrigo Constantino, jornalistas e colunistas de “Veja”. Um embate claramente carregado de ideologias, mas de argumentos com a profundidade de um pires.
A baixa qualidade do “debate” foi captada pelo jornalista Rodrigo Hirose, que, em seu perfil no Facebook, comentou: “Guilherme Boulos (MTST e Folha) e Reinaldo Azevedo (dispensa apresentações) protagonizam em dois dos maiores veículos de comunicação um debate de altíssimo nível. Um diz que o outro baba e delira. Outro diz que um é ‘vigarista’ e ‘mau caráter’. Talvez essa seja mais uma pista pra entendermos os motivos da chamada ‘mídia tradicional’ ter cada vez menos leitores/telespectadores
/ouvintes.”
É bom ressaltar que Reinaldo, assim como Constantino — que entrou depois no debate acrescentando o adjetivo “pulha”, para qualificar Boulos — talvez sejam reconhecidos mais por causa da repercussão de seus blogs do que exatamente pelo que sai no papel do jornal. Em um dado momento, passaram a ter fãs. Ter fã é o mais grave dos alertas para qualquer jornalista. Mais sério do que isso, formou-se uma legião de seguidores em torno de suas figuras, o que é um sinal claro de que não restou lauda sobre lauda de jornalismo no que exprimem.
Como eles, há vários outros jornalistas nas redes sociais que também se orgulham de ter um lado. Ter lado é algo que nada tem de ilícito ou condenável. Orgulhar-se disso, entretanto, já deixa sob ressalvas tal profissional. E observar o que fazem na prática comprova que, mais do que “ter lado” e se “orgulhar”, muitos se mostram torcedores fanáticos daquilo que apoiam. Acreditaram, de fato, que devem ser, mais e mais, “formadores de opinião”.
E, assim como Reinaldo e Constantino cooperam para transformar a discussão política em Fla-Flus pelo time da direita, a esquerda também tem seus “artilheiros” nas redes sociais, como Paulo Henrique Amorim e Palmério Dória. Também eles “têm lado”. O que não se sabe — ou melhor, se sabe — é até que ponto isso converge para o bem do que se chama de jornalismo.
É preciso ressaltar que todo veículo tem, mais do que o direito, o dever de mostrar qual é sua linha editorial. Assim, nenhum leitor vai ver um editorial de “Veja” apoiando a estatização nem corre o risco de ver “Carta Capital” destacando os benefícios de incentivar o agronegócio. Mas fazer jornalismo posicionado é bem diferente de “torcer” por meio das informações de que dispõe.
Entrevistar professor universitário não é tarefa fácil. Primeiro, porque a maioria tem restrição a falar algo fora do que considere de sua alçada acadêmica. Ou seja, um antropólogo que trabalhe com etnias indígenas tende a não se supor habilitado para falar de questões de gênero, por exemplo. Para o jornalista que “quer” um entrevistado, antropólogo é antropólogo e isso basta. Pesando os dois lados, o bom senso indica, de fato, que se fale daquilo sobre o qual se tenha domínio. No caso, o melhor que o repórter tem a fazer é pedir à fonte uma indicação mais avalizada para tratar de sua pauta. Um segundo ponto é que mestres e doutores têm, não raramente, alguma queixa sobre as reportagens em que sejam citados. Muitos deles, então, passam a ficar ainda mais arredios à imprensa, por acharem que os jornalistas não confirmam, no papel, aquilo que eles realmente quiseram dizer ao serem entrevistados. Por isso é preciso ressaltar o comentário do professor Dione Antonio de Carvalho de Souza Santibanez, coordenador do Núcleo de Estudos sobre Criminalidade e Violência da Universidade Federal de Goiás (UFG). Ele foi fonte da matéria “Morte do garoto Bernardo: quais os limites da crueldade humana?”, do repórter Frederico Vitor, do Jornal Opção. Ao ler a matéria, comentou: “É muito bom ler um texto e ver que o repórter foi cuidadoso para escrever exatamente aquilo que a gente repassou.” Da nova safra de repórteres da área política, Frederico formou-se pelas Faculdades Alves Faria (Alfa) e integra a equipe do jornal há dois anos.

[caption id="attachment_11635" align="alignleft" width="300"] Imagem do vídeo viral nas redes: jornalista é surpreendida por resposta sincera de menino que preferia jogar videogame a estudar[/caption]
Circula, principalmente por meio do aplicativo WhatsApp, um curto vídeo, de dez segundos, em que uma jornalista fala ao vivo sobre a falta de professores em uma determinada escola. Enquanto caminha com algumas mulheres e uma criança, ela relata o problema e resolve emendar com a fala de um menino de cerca de 5 ou 6 anos, a quem, então, dirige o microfone: “...porque não dá para ficar em casa só jogando videogame, né João?” A criança responde, de bate-pronto: “Dá!”.
Pautas ao vivo são sempre algo que deixa o repórter com um frio na barriga. Mas muitos profissionais, no afã de se mostrarem simpáticos, alinhados com um jornalismo mais “solto” colaboram para fatalidades como essa. Perguntar a uma criança dessa idade se ela quer brincar ou ir para a escola, imaginando que ela responderá que prefere estudar, é algo no mínimo temerário. Na gíria das redes, o menino “trollou legal” a repórter.

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Para quem se interessa em enxergar mais profundamente como se elabora uma notícia de acordo com a linha editorial do veículo, Luciano Martins Costa, do portal “Observatório da Imprensa”, fez uma boa explanação em sua coluna na semana passada. Ele se utilizou, como exemplo, da denúncia sobre a construção de um aeroporto, no valor de R$ 14 milhões, pelo então governador de Minas Gerais Aécio Neves (PSDB) em terra que pertenceria à família dele. No texto “Não foi o governador, foi Minas”, Costa posiciona os três maiores jornais impressos do País — “Folha de S. Paulo”, “O Estado de S. Paulo” e “O Globo” — como tendo um candidato preferencial à Presidência — o próprio Aécio, hoje senador. A tática, segundo ele, é criar na própria notícia as condições propícias para a defesa, já que a denúncia é jornalisticamente inevitável. Assim, o termo que se dirigiria diretamente ao gestor responsável pela obra (“Aécio” ou “governador”) é trocado por outro, “Minas”, um ente abstrato. Resume Costa: “A começar pelos títulos: tanto na Folha como no Estado, não foi o então governador quem autorizou o uso de dinheiro público no interesse da própria família: foi ‘Minas’. Ora, ‘Minas’ não pratica atos de ofício, ‘Minas’ não assina autorização para obras com ou sem licitação. Quem assina é o governante, e o governante é agora candidato a presidente da República.” O que a “Folha”, o “Estadão” e “O Globo” fizeram é, no entanto, algo mais do que frequente no impresso. É uma figura de linguagem chamada metonímia, que faz a gente tomar “um copo d’água” em vez de “um copo com água”.

[caption id="attachment_11007" align="alignleft" width="620"] Luciana Finholdt e Jordevá Rosa: prejudicados pela linha editorial do jornal[/caption]
A audiência é um alvo a ser buscado a qualquer custo? Em princípio, nada deveria ser, porque toda finalidade por ela mesma conduz a resultados nada agradáveis — e é por isso que resumir Maquiavel à sentença “os fins justificam os meios” é uma injustiça cruel com o mestre italiano. A TV Serra Dourada sempre teve um jornalismo de base popular e seu sucesso nessa área mudou o padrão da concorrência: a gigante TV Anhanguera teve de adequar seu jeito editorial sisudo de ser para conseguir se recuperar. Hoje os repórteres estão mais descontraídos e, ainda que no início do processo isso soasse artificial — até por não ser o costume da emissora, seus profissionais tendiam a ficar travados —, hoje eles parecem ter chegado a um tempero ideal, mesmo que tudo possa (e deva) passar constantemente por reavaliações e melhorias.
Voltando à TV Serra Dourada, que ocupa o 1º lugar em audiência em seu horário desde 2012, a linha editorial parece ter se concentrado totalmente em sustentar a hegemonia. Mais grave: a sensação que se tem é de, por vezes, estar sintonizado em uma réplica local do que produzem Marcelo Rezende e José Luiz Datena em rede nacional. A maioria das chamadas e dos destaques aponta para notícias policiais e outras misérias, principalmente na periferia de Goiânia e cidades vizinhas.
Jordevá Rosa e Luciana Finholdt, a dupla de jornalistas no comando do telejornal pelo menos há uma década, prendem o público pelo carisma e empatia que transmitem. Mas estão prejudicados pela linha editorial. Não combina com o profissionalismo de Jordevá nem com a sobriedade de Luciana (poderia inverter os substantivos qualificadores de ambos sem prejuízo da veracidade) apresentar um jornal de caráter tão policialesco a ponto de parecer estar assistindo a um artigo do gênero, somente com mais elaboração técnica.
Na verdade, o “Jornal do Meio Dia” põe o pé em duas canoas para sustentar sua liderança há dois anos: seus concorrentes são, ao mesmo tempo os telejornais do Grupo Jaime Câmara e da TV Record e os programas “Chumbo Grosso” (TV Goiânia/Band) e “Balanço Geral” (Record). Investe cada vez menos em pautas editoriais convencionais (cobrir política, economia, cultura etc.) e mais prestação de serviços (o que é válido) e notícias de acidentes e misérias, atropelamentos e assassinatos. Ainda que não haja coincidência total de horários com os programas policiais propriamente ditos, a busca é satisfazer também esse mercado de espectadores ávidos por consumir violência.
Diziam de certos impressos, muitos deles ainda resistentes à internet, que “se torcer sai sangue”. Restam questões: um telejornal que “se torcer sai sangue” colabora com uma visão mais ampla de cidadania? Até que ponto, nesse sentido, o viés adotado pelo jornalismo da TV Serra Dourada não tem contribuído também para esse aumento da sensação de insegurança e para a naturalização dos casos de violência? Para pensar.
[caption id="attachment_11005" align="alignleft" width="300"] Gerliézer Paulo, Rafael Bessa, João Paulo Di Meideiros e Vinícius Tondolo: projeto inovador para resgatar memória do futebol goiano[/caption]
Um projeto importante para recuperar a história do futebol em Goiás está sendo desenvolvido por um quarteto de jornalistas goianos da nova geração: Gerliézer Paulo, João Paulo di Medeiros, Rafael Bessa e Vinicius Tondolo. Eles estão dispostos a cadastrar as dezenas de milhares de jogos disputados por clubes goianos desde a década de 40, quando houve os primeiros campeonatos no Estado, ainda na fase amadora.
O site, em fase de finalização, está sendo desenvolvido desde julho do ano passado. É um trabalho para quem tem paciência e resistência. As fontes não são muitas e, quando elas fornecem dados, nem sempre são completos. Para facilitar a execução, eles dividiram o trabalho por período. “Cada um ficou com duas décadas. Então, priorizamos primeiro cadastrar campeonatos e jogos que estavam disponíveis em outros meios, para agora ir lançando fichas técnicas após pesquisas”, explica Gerliézer Paulo.
Todo o conteúdo será 100% aberto e, além da disponibilização das fichas técnicas, o portal terá uma linha do tempo com os principais fatos do futebol goianos ao longo da história, além de outros atrativos. Gerliézer quer colocar o site no ar no mais tardar em setembro. “Não vamos esperar concluir a pesquisa para publicar, até porque queremos contar com a ajuda do público para enriquecer com mais dados, como nomes completos de antigos jogadores, data de nascimento, fotos etc.”, completa.
A prática no futebol goiano é não ter respeito à memória e desconhecer seu passado. Basta repassar o relato de um jornalista, que, anos atrás, na sede do Goiás Esporte Clube, viu centenas de fotos clicadas pelo jornalista João Batista Alves Filho jogadas de qualquer jeito em uma caixa, num canto da sala de troféus (que, na época, era nada mais do que um depósito).
Ex-presidente da Associação dos Cronistas Esportivos de Goiás (Acieg), João Batista era também torcedor do clube e registrou com fotos centenas, talvez milhares de jogos do futebol goiano. Seu livro “Arquivos do Futebol Goiano” é um das bases de consulta de Gerliézer e de seus parceiros no projeto do site.
Comentarista de rádio esportivo, até por questão do ofício, invariavelmente se torna um palpiteiro. Pode se acomodar nessa situação e mesmo assim seguir carreira profícua — alguns são brilhantes nesse papel. Ocorre que no mundo de hoje, em que a informação chega por várias vias ao leitor/espectador/ouvinte, essa prática está deixando o veículo ultrapassado. A readequação da figura do cronista esportivo pede a ampliação dos horizontes e quem quiser sobreviver terá de ser multimídia. Nesse sentido, o diretor esportivo da Rádio 730, Charlie Pereira, mostra na prática o que seus comandados podem aprender: além das ações internas, como é de praxe em relação ao cargo que ocupa, ele tem se destacado no microfone por comentários que vão além do trivial e ligam o futebol goiano à conjuntura nacional e ao que acontece no exterior. Charlie demonstra isso também “por escrito”, por meio do blog que comanda no portal da emissora. O caminho de quem faz jornalismo pelo rádio passa hoje por ressoar para seus ouvintes as informações das outras plataformas, principalmente a internet.

Luiz Bacci se dirigiu a apresentadora da Record com imagem do Instagram que foi entendida por seus seguidores como provocação e reacendeu debate sobre a identidade goianiense

[caption id="attachment_10386" align="alignleft" width="318"] Luiz Bacci, a subcelebridade desconhecida por jornalistas locais | Foto: Reprodução[/caption]
O fato envolvendo Luiz Bacci causou uma reação “déjà vu”, previsível, até óbvia, característica do sentimento das redes sociais: sua frase, com a imagem da “cidade-mato” anexada, foi compartilhada às centenas pelos espaços de discussão. Claro, sobraram adjetivos nada agradáveis ao jornalista. Chegaram a criar uma hashtag (#VoltapraSPLuizBacci) como forma de promover a revolta.
Bacci apagou sua postagem no Instagram, mas até sexta-feira, 18, ainda havia no Twitter o texto e o link para a foto. Em postagens seguintes, a nova estrela da Band elogiou a cidade e seu jeito de “hospitaleira”. Mas passou longe da polêmica, sobre a qual mais nada falou durante sua curta estadia.
Há uma possível explicação para o ocorrido. A Record de Silvye Alves — aliás, jornalista cotada para voos mais altos, por sua presença de vídeo e a facilidade com idiomas — era a emissora na qual ele trabalhava até maio deste ano. E Luiz Bacci, chamado de “menino de ouro” por Marcelo Rezende, apresentador do “Cidade Alerta”, tinha ligação profissional com a jornalista de Goiás por conta exatamente do programa policial, de grande audiência. Possivelmente, sua intimidade com Silvye por causa do trabalho o levou a postar algo mais descontraído direcionado a ela, como “piada interna” sobre a cidade. A gafe foi isso ocorrer em modo aberto e não por mensagem privativa.
Como quase tudo neste mundo em que a informação transita em velocidade alta e cada vez mais alta, há, também cada vem mais, “revoltas” repentinas e esquecimentos precoces. O caso de Bacci talvez nem merecesse maior repercussão, mas serve para ilustrar como a quantidade substitui a qualidade também em relação aos dados que nos chegam. Há pouca apuração e muita divulgação. Criam-se, divulgam-se, popularizam-se factoides. Pessoas, elas mesmas, personificam factoides.
Por ironia, o próprio Bacci se torna prova disso. A coluna “Imprensa” perguntou a seis jornalistas goianos bem informados se tinham conhecimento do colega que causou a polêmica. Nenhum disse saber quem pudesse ser Luiz Bacci. Ao mesmo tempo em que há esse desconhecimento da própria classe — o que o faz correr o risco de chegar a uma redação e ser ignorado —, ele é, ao menos, uma subcelebridade (considerando que “celebridade” seja uma pessoa de reconhecimento notório por todos): tem 144 mil seguidores no Twitter, 207 mil no Instagram e 2,2 milhões no Facebook. Mais do que isso: tem até fã-clube — há uma fan page intitulada “Príncipelbacci” (Príncipe Luiz Bacci), em que a criadora (ou criador) anuncia: “página criada para homenagear o príncipe, eu te amo ♥ Luiz Bacci” (sic).
Alguém mais purista vai dizer: duvide de um jornalista que tenha um fã-clube. Mas os tempos são outros. Talvez Luiz Bacci tenha competência para se firmar como um grande nome da imprensa — já cobriu eventos como a tragédia do avião da TAM em Congonhas e a morte de Michael Jackson. Talvez. Mas a tendência é de que siga o caminho do entretenimento, como fizeram Fausto Silva e Pedro Bial, entre tantos outros.

[caption id="attachment_10379" align="alignleft" width="620"] Simpatia dos brasileiros ajudou o País a obter avaliação positiva | Foto: Reprodução/TV Globo[/caption]
“Imagina na Copa.” A frase virou um mantra na sociedade brasileira depois dos acontecimentos de junho e julho do ano passado, que, por coincidência ou não, se deram simultaneamente à Copa das Confederações, evento preparatório ao Mundial de futebol que o País sediaria um ano depois. Se com um torneio bem menor houve toda aquela confusão, “imagine” o que seria o aporte de todas as seleções, todos os turistas e tudo o mais no ano seguinte.
Foi o terreno perfeito para a imprensa brasileira se encher de profetas do apocalipse. Temia-se — e até se torcia por — um fiasco total da organização. As obras inacabadas eram só o mais claro indício de que tudo daria errado. Mas não deu.
O megaevento encerrado no domingo, 13, com o título merecido da seleção alemã sobre a da Argentina, fechou aquela que foi considerada a maior e melhor de todas as Copas do Mundo já realizadas. Ou “a Copa das Copas”, como agora comemora, vingado, o Palácio do Planalto.
Talvez nem tivesse ocorrido essa surpresa positiva toda se, ao longo dos meses, os veículos de comunicação tivessem monitorado com mais parcimônia e técnica a evolução da estrutura específica para atender aos turistas. Não houve essa avaliação mais acurada de que a Copa poderia, ao contrário que todos diziam até então, ser bem-sucedida.
O resultado é que o relatório do Grupo de Estudos Técnicos da Fifa deve apontar, conforme teve de adiantar “O Estado de S. Paulo”, para a melhor edição do Mundial entre todas, em termos de entretenimento e qualidade.
Tudo melhorou de um dia para o outro? Não, mas ficou parecendo isso, porque a imprensa não fez o devido acompanhamento. Sobrou discurso pronto — baseado nos puxões de orelha da senhora Fifa, que apenas cumpria seu papel de forçar a execução do que tinha sido acordado — e faltou investigação.
Algo que deixou explícita certa torcida da imprensa para tudo dar errado ficou bem claro com a tragédia da queda do viaduto em construção em Belo Horizonte. Os três maiores jornais do País deram destaque colocando a conta nas costas e nos custos da Copa.
Senão, vejamos: “Folha de S. Paulo” — Obra inacabada da Copa desaba e mata 1 em BH; “O Globo” — Viaduto de obra da Copa desaba e mata 2 em BH; e “Estado de S. Paulo” — Viaduto planejado para Copa cai e mata 2. Em todas as manchetes, um quê de Copa do Mundo, como se fosse um pedaço ruído de algum estádio. A forma de fazer a responsabilização editorial apostava ainda em algo que mostrasse que o evento era um fracasso, mas esqueceu-se de que a obra não serviria ao futebol. Pelo contrário, o viaduto está no plano de restruturação viária de Belo Horizonte, com sua construção impulsionada pelo fator Copa. O acidente merece ser apurado, assim como a empreiteira precisa dar conta de todas as explicações. O que não pode haver é uma apropriação indevida da obra para efeito de um discurso sensacionalista, como era o movimento que, no começo, parecia estar se insinuando

[caption id="attachment_10364" align="alignleft" width="620"] A jornalista Gabriela Valente entrevistou Bill O’Dwyer e o tomou por um nativo alemão: erro induzido | Fotos: Twitter e Divulgação[/caption]
A repórter Gabriela Valente, correspondente de “O Globo” em Brasília, cometeu uma gafe redacional ao cobrir a megafesta na embaixada da Alemanha, por ocasião da final da Copa do Mundo.
No evento, ela abordou o cônsul honorário da Alemanha em Goiás, William Leyser O’Dwyer, que, sempre muito simpático, a atendeu. No texto publicado no jornal, ao transcrever a declaração de seu entrevistado, Gabriela fez o fechamento das aspas acrescentando a observação: “declarou em português impecável”.
Ocorre que o cônsul é também o secretário de Indústria e Comércio de Goiás, mais conhecido como Bill O’Dwyer. Provavelmente seu nome, seu cargo, seu biotipo caucasiano e a circunstância tenham induzido a repórter ao erro, mas o fato é que o entrevistado, apesar dessas observações, é goiano nascido em Ipameri e empresário tradicional em Anápolis.
Seu pai, o Waldyr O’Dwyer é neto de irlandeses, mas nasceu no Rio e lutou pelo Brasil na 2ª Guerra Mundial. A descendência alemã de Bill vem da parte de sua mãe, Herta Leyser. Em sua formação quando jovem, Bill viveu por anos na Europa, inclusive na Alemanha, onde conheceu sua mulher, Anne-Lott.
De certa forma, Gabriela não errou: o português do “goiano de pé rachado” Bill O’Dwyer é realmente impecável.
Em um debate esportivo do horário do almoço, em uma emissora de rádio, o assunto é a saída de um jogador do Vila Nova, por demanda trabalhista. E o comentarista resolver “criar” o termo “interrumpimento” do contrato. Percebendo que cometera um erro, ele retoma a frase e a reelabora, trocando “interrumpimento” por “interrompimento”. Erros de português acontecem no rádio, um meio dinâmico e mais vulnerável a esse tipo de ocorrência, mas estão cada vez mais frequentes. Às vezes, não há preocupação nem mesmo em fazer um “mea-culpa”, o que, em princípio, deveria ser uma obrigação do bom profissional, também humano e sujeito a falhas. Por causa desse e de outros fatores, o rádio sofre queda na audiência. Há um processo acentuado de “interrupção” da boa vontade do ouvinte — cada vez mais exigente e com mais meios para se informar — com a (má) qualidade do serviço prestado.