Para quem se interessa em enxergar mais profundamente como se elabora uma notícia de acordo com a linha editorial do veículo, Luciano Martins Costa, do portal “Observatório da Im­prensa”, fez uma boa explanação em sua coluna na semana passada. Ele se utilizou, como exemplo, da denúncia sobre a construção de um aeroporto, no valor de R$ 14 milhões, pelo então governador de Minas Gerais Aécio Neves (PSDB) em terra que pertenceria à família dele.

No texto “Não foi o governador, foi Minas”, Costa posiciona os três maiores jornais impressos do País — “Folha de S. Paulo”, “O Estado de S. Paulo” e “O Globo” — como tendo um candidato preferencial à Presidência — o próprio Aécio, hoje senador. A tática, segundo ele, é criar na própria notícia as condições propícias para a defesa, já que a denúncia é jornalisticamente inevitável. Assim, o termo que se dirigiria diretamente ao gestor responsável pela obra (“Aécio” ou “governador”) é trocado por outro, “Minas”, um ente abstrato.

Resume Costa: “A começar pelos títulos: tanto na Folha como no Estado, não foi o então governador quem autorizou o uso de dinheiro público no interesse da própria família: foi ‘Minas’. Ora, ‘Minas’ não pratica atos de ofício, ‘Minas’ não assina autorização para obras com ou sem licitação. Quem assina é o governante, e o governante é agora candidato a presidente da República.”

O que a “Folha”, o “Estadão” e “O Globo” fizeram é, no entanto, algo mais do que frequente no impresso. É uma figura de linguagem chamada metonímia, que faz a gente tomar “um copo d’água” em vez de “um copo com água”.