Opção cultural

[caption id="attachment_98875" align="alignleft" width="278"] Capa do livro "Sobre a Tirania: vinte lições do século XX para o presente" (Companhia das Letras, 2017, 168 páginas)[/caption]
No livro Sobre a Tirania: vinte lições do século XX para o presente (Companhia das Letras, 168 páginas, tradução de Donaldson M. Garschagen), recém-publicado no Brasil, o historiador americano Timothy Snyder oferece ao leitor uma lista de dezessete livros que, se lidos com atenção, podem servir como verdadeiras armas contra a irrupção de regimes políticos tirânicos.
A lista se encontra na "lição número 9", intitulada "Trate bem a língua", na qual podemos ler, como advertência inicial, o seguinte: "Evite proferir as frases que todo mundo usa. Reflita sobre sua maneira de falar, mesmo que apenas para transmitir aquilo que você acha que todos estão dizendo. Faça um esforço para afastar-se da internet. Leia livros."
Pois bem, então, o que ler? É esta a questão que Snyder procura responder. E sua resposta começa pela literatura, indo de um clássico incontestável até um romance infantojuvenil de grande sucesso editorial:
"Qualquer bom romance estimula nossa capacidade de pensar sobre situações ambíguas e de julgar as intenções alheias. Os irmãos Karamázov, de Dostoiévski, e A insustentável leveza do ser, de Milan Kundera, talvez sejam adequados a nosso momento. O romance Não vai acontecer aqui, de Sinclair Lewis, talvez não seja uma grande obra de arte. Complô contra a América, de Philip Roth, é melhor. Um romance conhecido por milhões de jovens americanos e que oferece um relato de tirania e resistência é Harry Potter e as relíquias da morte, de J. K. Rowling. Se você, seus amigos ou seus filhos não o entenderam assim da primeira vez, vale a pena lê-lo de novo.”Após a indicação desses cinco romances, Snyder indica onze livros de não ficção, que abordam a política e a história do século XX. E finaliza a lista indicando a leitura das Sagradas Escrituras, da tradição judaico-cristã. Para tanto, argumenta:
“Os cristãos podem retornar ao seu livro fundamental, que sempre é muito oportuno. Jesus ensinou que ‘é mais fácil um camelo passar através do buraco de uma agulha do que um único rico entrar no reino de Deus’. Devemos ser modestos, porque ‘quem se exaltar será humilhado e que se humilhar será exaltado’. E é claro que temos de nos preocupar com o que é verdadeiro e com o que é falso: ‘E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará’.”Reuni, abaixo, todos os dezessete livros indicados. A maior parte está traduzida e publicada no Brasil. Referencio todas as edições, tanto as disponíveis no mercado editorial nacional quanto aquelas que ainda não estão. É uma ótima oportunidade de leitura, sobretudo para quem está de férias!
Segue a lista:
Os irmãos Karamázov, de Dostoiévski (Editora 34, tradução de Paulo Bezerra).
A insustentável leveza do ser, de Milan Kundera (Editora Companhia de Bolso, tradução de Tereza Bulhões de Carvalho).
It Can't Happen Here [Não vai acontecer aqui], de Sinclair Lewis (Editora Signet Classics-Penguin Group).
Complô contra a América, de Philip Roth (Editora Companhia das Lestras, tradução de Paulo Henriques Britto).

"A política e a língua inglesa”, de George Orwell, presente no volume Como morrem os pobres e outros ensaios (Editora Companhia das Lestras, tradução de Pedro Maia Soares).
LTI: A linguagem do Terceiro Reich, de Victor Klemperer (Editora Contraponto, tradução de Miriam Bettina P. Oelsner).
Origens do totalitarismo, de Hannah Arendt (Editora Companhia de Bolso, tradução de Roberto Raposo).


The Power Of The Powerles [O poder dos sem poder], de Václav Havel (Editora Routledge).


O peso da responsabilidade, de Tony Judt (Editora Objetiva, tradução de Otacílio Nunes).
Ordinary Men [Homens comuns], de Christopher Browning (Editora Harper Perennial).
Nothing Is True and Everything Is Possible [Nada é verdadeiro e tudo é possível], de Peter Pomerantsev (Editora Faber & Faber).

Bíblia de Jerusalém (Editora Paulus, vários tradutores).
Sobre o autor:


Impulsionado pela eleição presidencial de Donald Trump, nos Estados Unidos, o historiador norte-americano elaborou 20 lições que a história, sobretudo o período da ascensão dos regimes totalitários no século XX, pode nos ensinar, no momento presente

“E um infante o atalha no ato:/ – Pára, homem sanguinolento!/ De nada vale teu pacto:/ É desfeito o encantamento.” Trecho de “A cota de malha” vertido para o português

O olhar do poeta mineiro, sendo moderno, não faz da tradição literária um acervo ultrapassado, ou um utensílio de manipulação apenas. Reconhece que esse diálogo com o passado é uma via de mão dupla, isto é, um verdadeiro diálogo de troca

Marília Mendonça, uma das compositoras que mais arrecadam direitos autorais, é talentosa. Maiara e Maraísa mostram que cantar e compor bem não têm a ver com estética

O controverso e excêntrico esotérico se tornou mundialmente notório por sua dedicação ao ocultismo, mas suas incursões pelo mundo da tradução são pouco conhecidas

Investigação de dois jornalistas do “Washington Post” sobre o Caso Watergate, que derrubou o então presidente Richard Nixon, foi narrada em um clássico do cinema, e pode ser comparada ao atual momento político vivido nos Estados Unidos

A proposta do biólogo possui retórica débil, já que se fundamenta em princípios científicos, antagônicos aos dogmas religiosos. É difícil conceber que a elite religiosa queira abrir mão de sua zona de conforto a fim de buscar conciliação em bases evolucionistas e humanistas

Não se pode ignorar um estilo musical, como o sertanejo, que arrasta multidões e que movimenta bilhões de reais por ano na economia brasileira. Gosto é opcional, respeito é obrigação
[caption id="attachment_97794" align="alignleft" width="620"] O sertanejo, gênero musical que move milhões de pessoas, não pode ser deprezado[/caption]
Estreamos essa coluna falando de preconceito. Todos já ouviram falar bastante a respeito do preconceito racial, do preconceito de gênero, do preconceito social, do preconceito religioso, etc. Nesta sociedade maluca em que vivemos, o que não falta é preconceito. Uma das definições mais assertivas deste vocábulo é a de “sentimento hostil, assumido em consequência da generalização apressada de uma experiência pessoal ou imposta pelo meio; intolerância”. Mas, como o nosso assunto aqui é música, falemos então sobre o preconceito musical.
Não é segredo para ninguém que a música sertaneja foi e ainda é alvo de discriminação. Confesso minha estranheza em relação à tamanha resistência dos chamados formadores de opinião. Ou a tentativa de rotular a música sertaneja como brega. Ou ignorar o “Sertanejo Universitário” que arrasta multidões. Sim, a música sertaneja sofre preconceito. Ao diagnóstico cabem perguntas: por que o preconceito acontece? Quais os critérios? O que motiva alguns a terem repulsa aos músicos que ganham milhões com festas de rodeio e shows que faturam milhões?
Lembro-me que na minha adolescência, no final dos anos 90 e início dos anos 2000, ser jovem e gostar de música sertaneja era motivo de chacota no colégio. Isso antes da explosão do chamado “Sertanejo Universitário” em 2006. Aliás, uma das grandes conquistas dessa variação do gênero foi rejuvenescer o público da música sertaneja no Brasil.
A música é ruim? Desculpe, é um critério muito subjetivo. O que pode ser bom para um é terrível para outro. Além disso, Nelson Rodrigues já dizia que toda unanimidade é burra. Generalizar também é um erro. Alguém pode contestar: “Ah, mas as letras são pobres”. Isto também é um critério individual. Já que falamos no grande dramaturgo, na literatura, por exemplo, tem gente que considerava Nelson Rodrigues um gênio e outros tachavam de um libertino, um velho que falava dos mesmos assuntos de modo indevido. E se todos levassem apenas uma opinião, uma corrente em consideração?
É claro que tem muita coisa sem qualidade no sertanejo. Mas também tem música ruim no pop, no rock, na MPB, no samba, etc. Tem artista bom e ruim em todos os estilos musicais. Tem profissional bom e profissional ruim em todas as carreiras. Não se pode ignorar um estilo musical que arrasta multidões e que movimenta bilhões de reais por ano na economia brasileira. Gosto é opcional, respeito é obrigação!

Fenômeno, considerado típico do Brasil, pode e deve ser posto em xeque. Mas é necessária uma leitura atenta de intelectuais que já refletiram a respeito

O autor polonês discorre sobre questões candentes da sociedade contemporânea numa linguagem bastante acessível, que dialoga não só com especialistas, mas também com o leitor comum

Terceira e última parte da sequência de contos iniciada em 21 de maio, sob organização de Sérgio Tavares, Anderson Fonseca e Luiz Bras. Nesta edição, os autores clássicos homenageados são Adolfo Bioy Casares e Kim Stanley Robinson

O filósofo alemão é conhecido, dentre outras coisas, por seu aprazível estilo de escrita ensaística. Conhecer e estudar a poesia produzida por ele pode nos oferecer mais elementos para a compreensão tanto de sua estilística quanto do seu sistema de pensamento

No artigo “Em tradução (Thomas Pynchon)”, publicado em 11 de maio de 2017 no blog da Companhia, da editora Companhia das Letras, o tradutor Caetano Galindo já havia anunciado que o clássico romance “O Arco-Íris da Gravidade”, do escritor estadunidense Thomas Pynchon, seria relançado pela referida editora.
Hoje, o também tradutor Daniel Dago, em seu perfil no Facebook, confirmou a informação, e destacou que a pré-venda da nova tiragem será no dia 22 de junho, quinta-feira da próxima semana. A tradução, também clássica, é de Paulo Henriques Britto.
Quem vai perder essa?!

"Precisava de uma solução plausível. Verdadeiramente plausível. Por essa razão, uma das experiências mais marcantes na minha vida foi ouvir dizer do trabalho do filósofo Olavo de Carvalho. Ou melhor: de sua luta pela autoconsciência"
[caption id="attachment_97227" align="aligncenter" width="620"] Escola de Atenas, obra do pintor renascentista Rafael[/caption]
Bruno Gama Duarte
Especial para o Jornal Opção
Tanto no colégio em que eu estudava quanto dentro de casa, política era sempre um assunto em pauta. Era muito comum discutir a respeito. Amigos meus participavam de movimentos estudantis ou tinham parentes ligados a algum partido político ou ainda mesmo simpatizavam por esta ou aquela personalidade histórica. Uns mais à esquerda; outros mais à direita. Eu, na verdade, só fui me interessar no tema quando entrei na adolescência, aceitando todo tipo de ideia anárquica que me aparecia. Foi, justamente, nesse período que levei em consideração o fato de que nunca havia estudado as disputas político-sociais mais importantes desde a Revolução Francesa até a Revolução Russa. Repetia os chavões e lugares-comuns acerca da Ditadura Militar, do Imperialismo Norte-Americano, do Socialismo como todo moleque de 16 anos costuma fazer; e porque, afinal de contas, havia um quê de transgressor ao redor disso. Era bonito.
[relacionadas artigos=" 97125 "]
Com base nesse sentimento de ignorância sobre um assunto que me chamava atenção, desenvolvi um apetite por livros e filmes cuja temática girasse em torno das transformações e do desenvolvimento do espírito humano desde o advento do mundo. Por muito tempo eu o via apenas como uma ilusão que passava pelos meus sentidos e buscava algum tipo de residência aparentemente cômoda e segura dentro da minha memória. Eu tinha uma ideia do mundo e quanto mais eu exigia um significado comprobatório acerca dele mais ele se afastava de mim. Eu não conseguia manter uma conversa honesta comigo mesmo enquanto todas as minhas energias tinham se direcionado a submeter à prova toda e qualquer experiência que eu me metia. Fracassei ano após ano até perceber que dar enorme crédito a algumas falsas suposições podia ter a ver com a má resolução das minhas atitudes. Por causa disso, fiz questão de substituir cada uma de minhas ideias. Se antes tive de aceitar algo falacioso, depois tive de me dar ao trabalho de jogar fora tudo o que fui obrigado a acreditar naquele momento.
A opinião recalcitrante fazia mal a mim, mas evidentemente não era o foco do problema. Outras pessoas cheias de opiniões que eu conhecia discutiam ocasionalmente sobre quaisquer pontos levantados naquele instante e eram pessoas tranquilas, espertas, envolventes, cujas vocações e carreiras profissionais continham o mesmo peso e relevância que cabe a qualquer outro ser humano normal responder. Meu problema se resumia numa oposição entre a vontade indômita e o raciocínio obsessivo sobre o qual não daria apenas para aplicar meus gostos e preferências.
Tentei fugir desse problema por um bom tempo. Até porque, ideias têm consequências, alteram o nosso comportamento e nos orientam a cada problema que surge. Mais cedo ou mais tarde, temos de saber como administrar isto. É, inclusive, o que se espera de alguém bem resolvido consigo próprio. De uma pessoa consideravelmente adulta. Precisava de uma solução plausível. Verdadeiramente plausível. Por essa razão, uma das experiências mais marcantes na minha vida foi ouvir dizer do trabalho do filósofo Olavo de Carvalho. Ou melhor: de sua luta pela autoconsciência.
[caption id="attachment_97228" align="alignleft" width="299"]
Filósofo Olavo de Carvalho[/caption]
Olavo de Carvalho restaura a mente das pessoas. É um exemplo vivo de um sujeito que restabeleceu o processo normal e sadio do padrão básico do comportamento racional. Pode-se dizer, também, muito por conta disso, que o filósofo é um personagem que tem a função de representar o modelo ideal de conduta diante das dificuldades da existência. Sendo um produto da tradição intelectual, ele é um modelo que deve ser admirado, pois demonstra o como as coisas funcionam corretamente; quer dizer: uma biografia que funcionou a despeito dos altos e baixos do drama pessoal, apesar de toda a sua dificuldade e aspereza.
Assim, desta maneira, o filósofo serve de instrumento ao seu povo. De modelo. Ele expressa e encarna, por assim dizer, as tendências mais altas do espírito humano. Esse é o papel dentro da sociedade que o filósofo representa. Algo de curioso nisso é que, muita das vezes, só é percebido de forma ingênua pelos sentimentos. Nada mal. Absolutamente. Quando ouvimos falar da história de um gênio, pode haver uma identificação imediata com a figura dele e ser contaminado mais pelo humor, pelo temperamento, pela iconoclastia revelados em seus exemplos de conduta do que qualquer outra coisa.
Para ilustrar esse ponto, imaginemos, por exemplo, uma tribo que está prestes a entrar em extinção. E acho que nem preciso comentar que os índios dessa tribo desistem muito facilmente de suas tarefas, abandonam o campo de batalha e sucumbem em razão, justamente, da falta de um modelo de coragem a seguir. Não há por quê. Até que, miraculosamente, surge alguém repleto de histórias e explicações sobre os mistérios da vida e conta as saídas possíveis dos problemas de cada membro de sua tribo. É isso que poderá orientá-los outra vez. Simplesmente, pelo forte coeficiente psicológico da presença de um sujeito que detém os conhecimentos elementares do mundo. Esse modelo possui valor afetivo, antes de mais nada. Ele tem vida e significado. Poder-se-ia colecionar todas os grandes prodígios do mundo, e todos os santos e sábios e líderes, e tudo o mais, e não significaria absolutamente nada, se se deixasse de lado o aspecto emocional, afetivo do fenômeno.
Ele oferece as perspectivas e ao mesmo tempo reanima a força de vontade de seu povo. Por caridade. Ele ensina que é preciso sempre captar toda a experiência vivida e depurá-la, por meio do exercício da confissão, onde, como e com quem determinada ideia foi parar em nossas cabeças. A riqueza do conhecimento está na sua vigilância autoconsciente: o filósofo sabe que sabe. Ainda mesmo com as suas existentes falhas de caráter, possíveis neuroses, tendências genéticas aviltantes, etc. Está tudo dentro do pacote. A maravilha em saber algo está em superar o sofrimento em cima disso. Seria muito fácil somente ler artigos pinçados e livros a esmo sem correr o risco de perder o pescoço.
Difícil, na verdade, é fugir das leis da condição humana segundo as quais levam todas em última análise diante da onipresença inevitável da morte e da eternidade. Que é que eu fiz da minha vida? Qual o meu legado? Quem amei? Que me distingue deste e daquele? Que fiz em troca do maravilhoso dom da vida? A noção de que o filósofo tem algo a oferecer para a sua sociedade nasce exclusivamente daí. Está longe de ser uma vida confortável, justa, mas oferece o mínimo de dignidade necessário para seguirmos em frente. Ao ponto de não perdemos a coração.
Comecei duvidando do mundo, depois nunca mais dediquei o mesmo ódio a ele, em querer reformá-lo, torná-lo meu, e poucos ideais ainda ocupam espaço na minha cabeça. Tudo isso com algum esforço, mas foi o rumo que as minhas leituras dos livros do prof. Olavo de Carvalho foram tomando. Iniciei outros projetos de estudo, embora não tenha terminado os de 10 anos atrás; foram só aumentando, para falar a verdade. E o resultado é que – não só eu –, mas uma porção de pessoas captou sua mensagem ao esgotar em poucos dias os ingressos para o documentário “O Jardim das Aflições”. Dando indícios de uma sessão permanente. É que as pessoas estão começando a entender a tremenda importância da busca apaixonada pela verdade. De que somente ela pode dar algum sentido realmente profundo e verdadeiro para as nossas vidas. Por mais miserável e absurda que elas nos pareçam.
Bruno Gama Duarte vive em Goiânia, é escritor.