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Salvo terremotos inesperados, o quadro atual deve permanecer sem grandes alterações até julho ou início de agosto

A Câmara Deliberativa do Transporte Coletivo (CDTC) determinou o acréscimo de 10 centavos à tarifa de ônibus, elevando a passagem para R$ 2,80

O jornalista e historiador Hugo Studart revela que mais camponeses participaram da guerrilha, nos Estados do Pará e de Goiás (Tocantins), do que registram PC do B e pesquisadores. A batalha talvez tenha de ser (re)vista como um movimento com maior envolvimento de populares
[relacionadas artigos="2146"] O pesquisador Hugo Studart relaciona os “camponeses não identificados — sobreviventes ou desaparecidos”. Os nomes a seguir são “citados em documentos militares, ou pelos apelidos, ou sem os sobrenomes. Todos eles teriam sido detectados pelos órgãos de informações militares ou como tendo aderido à guerrilha, ou como ‘apoios fortes’ dos guerrilheiros”, anota o doutor em História. 1 e 2 — Adão e Adãozinho — Pai e filho, citados como “apoios fortes” à guerrilha. 3 — Alumínio — Paradeiro desconhecido. 4 — Epaminondas — Paradeiro desconhecido. 5 — Hilário — Documento do CIE o menciona como “apoio forte” e “contato da Sônia”. 6 — Humberto — Paradeiro desconhecido. 7 — Pedro Cantador — Documento do CIE o aponta como “apoio forte” à guerrilha. 8 — Rafael — Paradeiro desconhecido. 9 — Rita — Paradeiro desconhecido. 10 — Sabonete — Militares o arrolam como “apoio forte” aos guerrilheiros. Paradeiro desconhecido. 11 — Sandoval — Paradeiro desconhecido. 12 — Toinho — Camponês que aderiu à guerrilha antes da chegada dos militares. “Apoio forte” da guerrilha, segundo o Exército. Teria se entregado a 10 dezembro de 1973. 13 — Zequinha — Paradeiro desconhecido. 14 — Zezinho — Em 1974, encontrava-se preso. Leia mais: A lista dos camponeses que foram mortos na Guerrilha do Araguaia

O prêmio foi concedido à escritora pelo romance de formação “The Goldfinch”, que sai em setembro pela Companhia das Letras. A autora admite influência de Dickens e Dostoiévski e diz que a literatura é a arte mais espiritual
[caption id="attachment_2141" align="alignleft" width="620"] Donna Tartt revela que está escrevendo novo romance e espera não demorar dez anos para publicá-lo | aFred R. Conrad/The New York Times[/caption]
Os escritores americanos em geral são prolíficos. Mark Twain, Henry James e Jack London publicaram várias obras. Saul Bellow e John Updike (a prosa era seu forte, mas publicou poesia e fez desenhos de qualidade) deixaram vários livros, com mais altos do que baixos. Philip Roth, que se diz aposentado, e Joyce Carol Oates (que escreveu até sobre boxe) surpreendem com uma literatura intensa, mesmo publicando com, talvez, excessiva frequência. Donna Tartt, de 50 anos, segue na contramão dos citados e de seus modelos Herman Melville e, sobretudo, Charles Dickens e Dostoiévski, e publica pouco, mas sua literatura, além de respeitada por críticos do primeiro time, faz muito sucesso entre os leitores. A qualidade de sua prosa elaborada, os personagens muito bem construídos, a criação de um mundo tão “perfeito” que parece aquele em que vivemos chamam a atenção da crítica. A escritora Ruth Rendell, uma das grandes damas do romance policial, disse a respeito do romance “A História Secreta” (Companhia das Letras, 520 páginas, tradução de Celso Nogueira): “Como estudo do remorso e seus efeitos na mente, do homem ‘bom’ que mata, ‘A História Secreta’ é um livro comovente e profundo. Como thriller, é um dos melhores que já li. Mas, como romance de estreia, é realmente espantoso”. O romance “O Amigo de Infância” (Companhia das Letras, 592 páginas, tradução de Celso Nogueira) mereceu elogios rasgados de duas publicações americanas respeitáveis: “‘O Amigo de Infância’ parece destinado a se tornar um clássico. Conquista o leitor como um conto de fadas, mas não o consola com a ilusão do faz de conta” (“New York Times Book Review”) e “Atmosfera sensual... Construção psicológica precisa... Um romance que leva o leitor a um lugar que vale a pena ir” (“New Yorker”).
Depois de um sumiço de dez anos, Donna Tartt voltou às livrarias, no ano passado, com o romance “The Goldfinch” (será publicado em setembro pela Companhia das Letras, com tradução de Sara Grünhagen, mas ainda não tem título definido; literalmente, seria “O Pintassilgo”), que acaba de ganhar o Pulitzer, espécie de Nobel americano. Trata-se do terceiro romance da autora.
Ao premiá-la, os organizadores do Pulitzer disseram que “The Goldfinch” é “um romance sobre envelhecimento escrito de maneira bela, que estimula a mente e toca o coração” (cito trecho traduzido pela “Folha de S. Paulo”, mas, no lugar de “envelhecimento”, talvez seja mais apropriado amadurecimento). Seria um romance de formação, como “Os Anos de Aprendizado de Wilhelm Meister” (Editora 34, 608 páginas, tradução de Nicolino Simone Neto), de Goethe, e “A Montanha Mágica” (Nova Fronteira, 992 páginas, tradução de Herbert Caro), de Thomas Mann. Eva Saiz, do “El País”, diz que “The Goldfinch” — “El Jilguero” em espanhol — conta a história do adolescente Theo Decker. O menino vê sua mãe morrer num atentado terrorista num museu de Nova York e rouba o quadro O Pintassilgo, do pintor holandês Carel Fabritius (1622-1654), do século 17, e circulará por vários locais, como Las Vegas e Amsterdã.
Nascida no Mississippi, portanto tão sulista quanto Faulkner (a violência do romance “Santuário” ecoa na sua prosa? Quem sabe), Donna Tartt admite a influência de Dickens, talvez na perspicaz exploração do mundo da infância, mas há um descolamento da literatura do inglês, pois a prosa da autora de “A História Secreta” é mais intrincada, às vezes próxima da literatura policial — mais a de Patricia Highsmith (de sua crua amoralidade) do que a de P. D. James — e mesmo da prosa de outra autora americana, Carol Joyce Oates. A diferença é que Oates é mais, muito mais sombria, uma espécie de versão feminina do primeiro Ian McEwan, aquele a quem chamavam de “Mcabro”. Donna Tartt não é uma autora de romances policiais, embora seus livros também sejam romances policiais — como, de resto, algumas das obras de Dostoiévski e de tantos outros autores canônicos. A autora certamente cobra um lugar ao lado de Melville, Dickens e Dostoiévski — de quem é filha honorária, por certo. Ela, aqui e ali, atualiza os três escritores, notadamente Dickens e Dostoiévski (o de “Crime e Castigo”, “Os Irmãos Karamázov” e, com o romance atual, “Os Demônios”. Neste romance, Dostoiévski interpreta o mundo pragmático, filosófico e, ainda assim, perfunctório dos terroristas). Na verdade, é cedo para falar de um “lugar” na literatura, na americana ou na universal, para Donna Tartt, cuja obra está em construção. Mas é provável que está cavando um espaço entre Faulkner e Flannery O’Connor. Não deixa de ser curioso que, entre seus pais literários, inclua apenas um americano, Melville — destacando um inglês, Dickens, e um russo, Dostoiévski. Seria uma forma de não se colocar sob a influência de Faulkner?
Quase tão arredia quanto Thomas Pynchon, Donna Tartt concedeu uma entrevista ao diário “ABC”, de Madri. O jornal nota que “A História Secreta”, traduzido para 25 idiomas, vendeu mais de 5 milhões de exemplares. O sucesso não a tornou uma figura pública, da moda. Mulher bonita e inteligente, teria feito sucesso em programas de televisão. Decidiu, porém, recolher-se a um lugar no campo e segue escrevendo, lentamente, sempre à mão. Dez anos depois, lançou “O Amigo de Infância”, novo sucesso literário e de vendas. De novo, desapareceu do mapa e volta agora com “El Jilguero”, que saiu na Espanha pela Editora Lumen, com 1152 págs. Na Espanha, o romance está sendo apresentado, quiçá de maneira exagerada, como “o primeiro clássico do século 21” (os espanhóis terão se esquecido da prosa extraordinária de Javier Marías?). Michiko Kakutani, crítica do “New York Times”, escreveu: “Não se trata só de suspense e intriga... Donna Tartt criou uma novela gloriosa, que nos devolve o prazer intenso e compulsivo da leitura”. Frise-se que Kakutani é quase sempre econômica nos elogios.
Inés Martín Rodrigo, do “ABC”, pergunta sobre como começou a história de “El Jilguero”. Donna Tartt diz que faz anotações em pequenos cadernos e os guarda. As impressões sobre Amsterdã, apresentadas no livro, foram registradas há mais de 20 anos. “Meus livros sempre começam com uma espécie de estado. Neste caso, o estado era escuro [ou obscuro], sombrio, em Amsterdã, e também na Park Avenue. Nova York é Nova Amsterdã, as cidades estão conectadas. Isto foi o que me deu a ideia de escrever sobre arte e uma pintura em particular — ‘O Pintassilgo’, de Carel Fabritius” (o “ABC” prefere “Fabrizio”).
Por que “O Pintassilgo”, de Carel Fabritius? “Vi o quadro em uma exposição em Amsterdã. Não sabia que era uma pintura da era dourada flamenca. Sua forma estava muito adiante de seu tempo.” Mesmerizada, leu a história do quadro e do artista que o criou. “Fabritius morreu tragicamente (em 1654, em Delft, na explosão de um depósito de pólvora).” Trata-se de um problema que nós, do século 21, “conhecemos muito bem”. Porém, naquela época, era uma coisa rara, portanto deve ter sido “incompreensível para as pessoas”.
Como o romance descreve um atentado terrorista ocorrido num museu americano, a repórter espanhola pergunta se a cena foi escrita antes ou depois do atentado de 11 de Setembro de 2001, nas Torres Gêmeas de Nova York. Donna Tartt disse que escreveu antes e que possivelmente, se não tivesse elaborado o trecho, não o teria feito depois do atentado em que morreram mais de 3 mil pessoas. “Antes do 11 de Setembro ocorreram numerosos pequenos atentados, como antes de um grande terremoto, quando se produzem pequenos tremores. Era uma premonição, algo que nos estava advertindo. É muito inquietante, os escritores estão conectados com certas correntes subliminares. Don DeLillo escreveu sobre o desastre das Torres Gêmeas em 1990. É como se tivesse previsto o futuro.” Depois, DeLillo publicou “Homem em Queda” (Companhia das Letras, 264 páginas, tradução de Paulo Henriques Britto) — baseado no 11 de Setembro —, romance quase tão bom quanto “Extremamente Alto & Incrivelmente Perto” (Rocco, 392 páginas, tradução de Daniel Galera), de Jonathan Safran Foer.
Como o 11 de Setembro mudou a vida dos nova-iorquinos?, inquire a repórter. “O mais surpreendente foi sua resiliência. Durante duas ou três semanas, era incompreensível pensar que a vida ia voltar à normalidade. A cidade estava arrasada, mas logrou recuperar-se.”
Inés Martín sugere que as personagens de Donna Tartt “são muito reais, tanto que parecem ter vida própria para além do romance. Como consegue isto?” A autora diz que demora anos escrevendo e burilando suas histórias. “É trabalho, trabalho duro. Não há segredos. Trabalhei neste livro onze anos. A trajetória de Theo se dá em tempo real”, diz a escritora. Ela afirma que, ao escrever o livro, foi acompanhando o crescimento, a evolução do personagem. Ao construi-lo, foi conhecendo o personagem. “É certo que demoro muito a escrever meus livros, mas gosto disso, porque dá aos personagens uma riqueza e uma profundidade que é impossível falsear.” Trata de artesania apurada, fina.
Donna Tartt não tem medo de ser esquecida pelos leitores, por ficar tantos anos sem publicar, longe dos holofotes da mídia?, quer saber a repórter. Todo repórter é meio policial e, por isso, não aprecia quem, mesmo que por motivos razoáveis, se esconde. A escritora diz que não pensa as coisas como a repórter expõe. “O que se tem de fazer é envolver-se com o trabalho e acreditar que, quando terminá-lo, as pessoas vão gostar”, assinala a criadora de “The Goldfinch”. Ela admite que pode ser esquecida, por demorar tanto a publicar livros, escapando ao modelo do escritor-indústria, mas diz que se sente bem assim, optando por uma literatura mais bem elaborada e, assim, nada apressada. “Me preocuparia muito mais ter de escrever um livro por ano.” Ficaria “angustiada”. A autora busca mais ser lida, de verdade, do que ser aplaudida publicamente. Prefere que seus livros sejam conhecidos, as estrelas, e ela mesma quer ficar nos bastidores.
A romancista diz que não se sente parte da indústria do livro. “Formo parte da indústria editorial durante algumas semanas a cada dez anos e logo desapareço. Quando regressar com meu quarto livro, não sei como serão as coisas.” Donna Tartt diz que passa anos em seu escritório, sem ver muitas pessoas.
O que há de bom em ser escritor? “O melhor é ter uma vida alternativa. Escrever um livro é como ler um livro. Digamos que é um nível mais profundo, essa é a única diferença. Quando uma pessoa lê um livro, e realmente fica envolvida com a história, é a melhor coisa do mundo. Só há uma coisa melhor: escrevê-lo”.
A repórter indaga: “Acredita que o amor pela leitura, pelos livros, segue existindo hoje em dia, apesar de todas as distrações tecnológicas que nos rodeiam?” Donna Tartt responde: “Sim, continua existindo. Fenômenos como os de ‘Harry Potter’ [que Harold Bloom avalia como uma estultice incomparável] ou ‘Crepúsculo’ são muito recentes. Num tempo em que os meios de comunicação são estrondosos, amamos os livros pelo silêncio que proporcionam. É um tipo de silêncio muito concreto. É o tipo de silêncio que só se obtém lendo um romance. Essa sensação de estar em outro lugar, de viver em outro local. Por intermédio de um livro se pode ter a experiência de se ter outra alma. Compreender o espírito de outra pessoa não é algo banal. Por isso a literatura é a arte mais espiritual”.
Donna Tartt não é, como se diz, “antenada”. “Não tenho Facebook nem Twitter, mas, quando estava escrevendo este livro [“The Goldfinch”], a internet se tornou útil para mim, porque, como estava isolada no campo, me facilitava as coisas. Ademais, escrevo muito e-mails, me encanta escrevê-los, é como voltar aos tempos de Voltaire. Me encanta a velocidade e a intimidade do correio eletrônico” (isto, claro, se não pensamos nas revelações de Edward Snowden).
A repórter do “ABC” diz que os três romances de Donna Tartt unem leitores e críticos. São apreciados por todos. “Fico alegre, mas o leitor é sempre o mais importante para mim.” Inés Martín pergunta se as críticas a afetam. “Trato de não lê-las, é muito melhor. Meu trabalho é escrever livros e não preocupar-me demasiado com o que dizem os críticos.” Ela diz que o escritor não precisa ficar muito consciente de como elabora seus livros, por isso é melhor não se interessar pelo trabalho dos críticos.
Inés Martín relata que Donna Tartt começou a ler com 5 anos e, aos 19 anos, já havia lido todos os romances do século 19 da biblioteca na qual trabalhava. A escritora corrige: “Era uma biblioteca pequena e tampouco tinha muitos livros novos. Li os mesmos livros algumas vezes”.
Quando decidiu que queria ser escritora?, pergunta a entrevistadora. “O que eu queria realmente, mais do que escrever, era ler. Me encantava ler e, se a pessoa gosta o suficiente de ler, começa a escrever os livros que gostaria de ler e não estão escritos”, diz Donna Tartt.
A escritora vai demorar mais dez anos para publicar seu quarto livro? “Espero que não. Quando comecei este livro [“The Goldfinch”], não tinha ideia de que ia demorar 11 anos para terminá-lo.” A romancista acredita que a próxima obra sairá mais rápido. O que está escrevendo? “Um romance, porém não é boa ideia dizer do que se trata.” Donna Tartt afirma que, quando começa a escrever um livro, a história ainda é nebulosa e, se se põe a falar a respeito, “pode influenciar de modo negativo no processo criativo”.
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(Traduzi trechos da entrevista ao jornal “ABC”, que pode ser conferida integralmente no link http://bit.ly/Qe6TgC. Publico, no site do jornal, o primeiro capítulo do livro, mas em espanhol.)
Niño con Calavera
I
Me encontraba aún en Amsterdam cuando soñé con mi madre por primera vez en mucho tiempo. Llevaba más de una semana encerrado en el hotel, temeroso de telefonear a alguien o de salir de la habitación, y el corazón se me desbocaba al oír hasta el ruído más inocente: el timbre del ascensor, el traqueteo del carrito del minibar, incluso las campanas de las iglesias dando las horas, de Westertoren, Krijtberg, una nota sombría en el tañido, una sensación de fatalidad propia de un cuento de hadas. De día, sentado a los pies de la cama, me esforzaba por descifrar las noticias de la televisión holandesa (algo inútil, ya que no sabía una palabra de neerlandés), y cuando desistía, me quedaba junto a la ventana mirando el canal envuelto en mi abrigo de pelo de camello, pues me había marchado de Nueva York de manera precipitada y la ropa que me había traído no abrigaba lo sufi ciente, ni siquiera dentro de la habitación. Fuera todo era bullicio y alegría. Estábamos en Navidad y sobre los puentes del canal titilaban las luces por la noche; damen em heren de mejillas coloradas, con bufandas que ondeaban al viento gélido, pasaban estrepitosamente por los adoquines con árboles de Navidad atados a la parte trasera de sus bicicletas. Por las tardes una banda de músicos afi cionados tocaba villancicos que fl otaban, estridentes y frágiles, en el aire invernal. Un caos de bandejas del servicio de habitaciones; demasiados cigarrillos; vodka tibio del duty-free. Durante esos agitados días de encierro llegué a conocer hasta el último rincón de la habitación como un preso conoce su celda. Era la primera vez que estaba em Amsterdam; apenas había visitado la ciudad, y, sin embargo, la habitación en sí, con su belleza sobria, llena de corrientes y blanqueada por el sol, era como una vívida recreación del norte de Europa, una maqueta a pequeña escala de los Países Bajos: la rectitud protestante del encalado combinada con un lujo extremo traído en buques mercantes de Oriente. Pasé una irrazonable cantidad de tiempo examinando un par de minúsculos óleos con marco dorado que colgaban sobre el escritorio, uno de varios campesinos patinando sobre un estanque helado junto a una iglesia, y el otro, un velero zarandeado en un picado mar invernal; eran copias decorativas que no tenían nada de particular, aunque las inspecione como si guardaran una clave cifrada que me permitiera penetrar en el secreto corazón de los grandes maestros fl amencos. Fuera el aguanieve repiqueteaba contra los cristales de las ventanas y lloviznaba sobre el canal; y a pesar de que los brocados eran exquisitos y la alfombra mullida, la luz invernal evocaba el adverso ambiente de 1943: austeridad y privaciones, té aguado sin azúcar y a la cama con hambre. Todas las mañanas muy temprano, cuando todavía estaba oscuro fuera, antes de que entrara de servicio el personal diurno y el vestíbulo empezara a llenarse, yo bajaba a buscar los periódicos. Los empleados del hotel pululaban con voces apagadas y passos sigilosos, mirándome fugazmente con frialdad, como si no me vieran del todo, el estadounidense de la 27 que nunca aparecia durante el día; yo intentaba tranquilizarme diciéndome que el gerente de noche (traje oscuro, pelo cortado al rape, gafas de montura de pasta) tal vez haría lo posible para rehuir los confl ictos o evitar los escándalos. El Herald Tribune no informaba de mi aprieto, pero todos los periódicos holandeses publicaban la noticia en densos bloques de letra extranjera que fl otaban de forma torturante más allá de mi comprensión. Onopgeloste moord. Onbekende. Subí y me acosté de nuevo (vestido, porque hacía mucho frío en la habitación), y abrí los periódicos sobre la colcha: fotografías de coches patrulla, cintas acordonando el lugar del crimen, hasta los titulares eran indescifrables, y aunque no parecían mencionar mi nombre, no había forma de saber si ofrecían una descripción de mí u ocultaban la información a los lectores. La habitación. El radiador. Een Amerikaan met een strafblad. El agua verde oliva del canal. Como estaba aterido de frío y enfermo, y la mayor parte del tiempo no sabía qué hacer (además de la ropa de abrigo, había olvidado traer un libro), me pasaba casi todo el día en la cama. Daba la impresión de que anochecía a media tarde. A menudo, con el crujir de los periódicos desplegados, me sumía en un duermevela; la mayoría de mis sueños estaban teñidos de la misma ansiedad indefi nida que impregnaba las horas que pasaba despierto: juicios, maletas reventadas sobre el asfalto con mi ropa desparramada por doquier e interminables pasillos de aeropuerto por los que corría para coger aviones sabiendo que nunca llegaría a tiempo. A causa de la fi ebre tuve muchos sueños raros y sumamente vívidos, así como oleadas de sudor en las que me revolvía inquieto en la cama sin apenas distinguir el día de la noche; pero en la última y peor de esas noches soñé con mi madre: un breve y misterioso sueño que viví más bien como una aparición. Yo estaba em la tienda de Hobie —mejor dicho, en algún espacio encantado del sueño que era como una versión bosquejada de la tienda— cuando ella surgía de pronto a mis espaldas y la veía refl ejada detrás de mí en un espejo. Al verla me quedaba paralizado de felicidad; era ella hasta en el más mínimo detalle, incluso el dibujo que formaban sus pecas, y me sonreía, más hermosa y sin embargo no más avejentada, con el pelo negro y la graciosa curva ascendente de su boca; no era tanto un sueño como una presencia que llenaba toda la habitación, una fuerza completamente propia, uma otredad viviente. Aunque ese fue mi primer impulso, supe que no podía volverme, que mirarla signifi caba violar las leyes de su mundo y del mío; había acudido a mí del único modo a su alcance, y nuestras miradas se encontraron en el espejo durante um largo minuto silencioso; pero justo cuando daba la impresión de estar a punto de hablar —con lo que parecía una mezcla de regocijo, afecto y exasperación—, entre nosotros se elevó una neblina y me desperté.II
Me habrían ido mejor las cosas si ella hubiera vivido. Pero murió cuando yo todavía era un niño; y aunque todo lo que me ha sucedido desde entonces es mi culpa, al perder a mi madre perdí de vista cualquier punto de referencia que podría haberme conducido a un lugar más feliz, una vida más plena o agradable. Su muerte marcó la línea divisoria: el antes y el después. Y si bien es triste admitirlo al cabo de tantos años, aún no he conocido a nadie que haga que me sienta tan querido como lo hizo ella. En su compañía todo cobraba vida; irradiaba una luz tan mágica que todo cobraba más vida y color al verlo a través de su mirada; recuerdo que unas semanas antes de su muerte, mientras cenaba con ella en un restaurante italiano del Village ya entrada la noche, me asió de la manga ante la inesperada y casi dolorosa belleza de lo que veía: de la cocina traían en procesión un pastel de cumpleaños; la luz de las velas formaba un débil círculo tembloroso en el techo oscuro, y lo dejaron en la mesa para que brillara en médio de la familia, embelleciendo el rostro de una anciana; todo eran sonrisas alrededor, mientras los camareros se hacían a un lado com las manos cogidas a la espalda; solo se trataba de una de esas celebraciones de cumpleaños que se podían ver en cualquier restaurante modesto del centro, y estoy seguro de que no recordaría esse episodio si mi madre no hubiera fallecido al poco tiempo, pero pensé en eso una y otra vez después de su muerte, y probablemente lo recordaré toda mi vida: el círculo iluminado con velas, um retablo de la felicidad compartida que se desvaneció cuando la perdí. Mi madre era guapa, además. Eso es casi secundario, pero lo era. Cuando llegó a Nueva York desde Kansas trabajó esporadicamente como modelo, aunque nunca se sintió lo bastante cómoda frente al objetivo para ser muy buena; de hecho, ese toque tan distintivo no se plasmaba en el negativo. Y, sin embargo, era plenamente ella misma, una rareza. No recuerdo haber visto nunca a otra persona que se le pareciera. Tenía el pelo oscuro, la tez pálida y pecosa en verano, y unos luminosos ojos azul porcelana; en la curva de sus pómulos había uma mezcla tan insólita de lo tribal y el crepúsculo celta que a veces la gente la tomaba por islandesa. En realidad era medio irlandesa y medio cherokee, de una ciudad de Kansas cercana a la frontera de Oklahoma; le gustaba hacerme reír llamándose a sí misma okie, como se conocía a los habitantes empobrecidos de ese estado que habían emigrado durante la Depresión, aunque ella era tan elegante, briosa y brillante como un caballo de carreras. Por desgracia, ese carácter exótico aparece demasiado crudo e implacable em las fotografías —las pecas disimuladas con maquillaje, el pelo recogido en una coleta a la altura de la nuca como algún noble de La historia de Genji—, y no hay ni rastro de su calidez, de su naturaliza alegre e impredecible, que era lo que más me gustaba de ella. Por la inmovilidad que emana en las fotos, es evidente que la cámara le inspiraba desconfi anza: tiene un aire vigilante y feroz, como si se preparara contra un ataque. Pero en vida no era así. Se movía trepidantemente rápido, con gestos repentinos y ligeros, y siempre se sentaba en el borde de la silla como una elegante ave de pantano a punto de alzar el vuelo espantada. Me encantaba su perfume de sándalo, tosco e inesperado, y el frufrú que hacía su camisa almidonada cuando se inclinaba para besarme la frente. Su risa bastaba para que apartaras de una patada lo que estuvieses haciendo y la siguieras. Allá adonde iba, los hombres la observaban con el rabillo del ojo, y a veces la miraban de un modo que me inquietaba un poco. Yo tuve la culpa de que muriera. Los demás siempre se han apresurado a negarlo: «eras un crío», «quién podía imaginarlo», «un accidente espantoso», «mala suerte», «podría haberle pasado a cualquiera»… Cierto, pero no me creo una palabra. Sucedió en Nueva York, un 10 de abril, hace catorce años. (Aún ahora mi mano se muestra reacia a escribir la fecha; he tenido que empujarla, para que el bolígrafo siga desplazándose sobre el papel. Antes era un día normal y corriente, pero ahora sobresale del calendário como un clavo oxidado.) Si aquel día todo hubiera ido según lo previsto, se habría fundido en el cielo inadvertidamente, desvanecido sin dejar rastro junto con el resto de mi octavo curso. ¿Qué recordaría ahora de él? Poco o nada. Sin embargo, la textura de aquella mañana, la sensación húmeda y saturada del aire, es más nítida ahora que el presente. Tras llover toda la noche en medio de una terrible tormenta, había tiendas inundadas y un par de estaciones de metro cerradas; los dos estábamos de pie en la moqueta empapada que se extendía fuera del vestíbulo del edifi cio de pisos donde vivíamos mientras el conserje favorito de mi madre, Goldie, que la adoraba, caminaba hacia atrás por la calle Cincuenta y siete con el brazo levantado y silbando para detener un taxi. Los coches pasaban zumbando bajo cortinas de agua sucia; sobre los rascacielos rodaban nubes cargadas de lluvia que de vez en cuando se abrían dejando claros de cielo azul nítido, y en la calle, bajo el humo de los tubos de escape, soplaba un viento suave y húmedo como de primavera. — Ah, está ocupado, señora — gritó Goldie por encima del estruendo de la calle, esquivando un taxi que dobló la esquina salpicándolo y apagó la luz verde. Era el más menudo de los conserjes: un puertorriqueño de tez clara, fl aco, pálido y enérgico que había sido boxeador de peso pluma. Aunque tenía las mejillas fl ácidas de tanto darle a la botella (a veces se presentaba en el turno de noche oliendo a J&B), era enjuto, musculoso y rápido; siempre estaba bromeando y continuamente se tomaba un descanso para fumarse un cigarrillo en la esquina, desplazando el peso de un pie al otro mientras se echaba vaho en las blancas manos enguantadas cuando hacía frío, contando chistes en español y haciendo desternillarse de la risa a los demás conserjes. — ¿Tienen mucha prisa esta mañana? — le preguntó a mi madre. En su chapa se leía «Burt D.», pero todo el mundo lo llamaba Goldie, derivado de gold, por su diente de oro y porque se apellidaba De Oro. — No, vamos con tiempo de sobra. No se preocupe. Pero parecía agotada y le temblaron las manos mientras se anudaba de nuevo el pañuelo, que se levantaba y agitaba con el viento. Goldie debió de percatarse, porque se volvió hacia mí (que estaba apoyado con actitud evasiva contra el macetero de hormigón que había frente al edifi cio, mirando a todas partes menos a ella) con cierta desaprobación. — ¿No vas a coger el tren? — me preguntó. — No, tenemos unos recados que hacer — respondió mi madre sin mucha convicción, al darse cuenta de que yo no sabía qué decir. Yo no solía fi jarme mucho en cómo iba vestida, pero el atuendo que llevaba esa mañana (gabardina blanca, un diáfano pañuelo rosa y zapatos bicolor negro y blanco) se me quedó tan fi rmemente grabado en la memoria que ahora me cuesta recordarla de outro modo. *Leia mais: Quase uma Thomas Pynchon de saia, a americana Donna Tartt lança romance, recebe aplauso da crítica e ganha Pulitzer
[caption id="attachment_2135" align="alignleft" width="300"] Nova biografia do poeta curitibano Paulo Leminski: espera-se que não seja mais uma hagiografia[/caption]
Paulo Leminski é o poeta pau para toda a obra. Precisa-se de um verso de impacto para fortalecer um artigo aparentemente insosso, pimba: Leminski. O articulista quer apimentar seu texto com uma frase bem humorada, às vezes picante, não resta outra alternativa: convoca-se o Ranieri “Modess” Mazzilli da poesia e da frase de efeito. O momento exige um poema que seja meio piada, mais ou menos inteligente e, especialmente, “espirituoso” (palavra que deveria ser banida do Bananão), pois não: chame o Leminski. Há algum tempo, publicaram sua biografia — “O Bandido Que Sabia Latim” —, que mais parece ode a um deus do que descrição da vida de um homem. A família do bardo curitibano, que sabiamente criou e cultivou a própria mitologia, proibiu a nova edição, deixando de perceber que se trata de uma hagiografia das mais inofensivas.
Agora, um escritor, um bom escritor, Domingos Pellegrini lança “Minhas Lembranças de Leminski” (Geração Editorial, 200 páginas). Sabe-se que a família, ciosa (há até uma ex que se apresenta como “mulher”, tipo Maria Kodama e Yoko Ono), tentou interferir, quiçá para aumentar a santidade do santo. Como o livro está saindo, e por uma editora consistente, é sinal que as controladoras, mulheres e filhas, quem sabe com “estrela” em baixa e raízes poéticas “ruins”, não conseguiram censurá-lo. E isto, diria a Bíblia, Deus acha bom.
Release da editora: “É uma biografia não convencional, altamente poética, onde não são as ações que estão enfocadas, como a narração da vida do biografado, mas seus pensamentos... Pellegrini traz Leminski à vida a partir do que viveu com ele, suas constantes e intensas conversas, ao mesmo tempo em que narra o Leminski da mídia, famoso e cultuado escritor da poesia concretista”. Fiquei intrigado: os pensamentos? Que tipo de pensamentos? Leminski pode mesmo ser enquadrado, a fórceps, como poeta ou “escritor” concretista? O vate (ops!) paranaense não era, certamente, concretista.
Sua poesia talvez seja mais próxima do “brincadeirismo” de Oswald de Andrade e, até, de Mario Quintana. Em termos formais, no geral ao menos, está distante da poesia de Haroldo de Campos, de Décio Pignatari e de Augusto de Campos. A ousadia formal de Leminski está muito mais acentuada no romance “Catatau”, no qual, aí sim, está próximo de um deus amado pelos concretistas e pelos apóstolos da literatura de invenção — James Joyce, o de “Ulysses”. O Leminski que talvez possa ser nominado de filho — edipiano? Sabe-se lá — do concretismo é mais o tradutor. É possível que as traduções inventivas (ou transcriativas) dos brothers Campos e as de Leminski sejam irmãs.
Há dois anos, sem tirar nem pôr, que o excelente “Jornal do Meio Dia”, apresentado pelos competentes e empáticos Jordevá Rosa e Luciana Finhold — conhecida como a miss simpatia da televisão goiana —, está em primeiro lugar nas pesquisas do Ibope, superando, de longe, o “Jornal Anhanguera”. A TV Anhanguera já mexeu, rebolou, contratou um novo diretor de Jornalismo, Orlando Loureiro, mas, quando a pesquisa do Ibope sai, está lá nas “papeletas”: o “Jornal do Meio Dia” venceu por nocaute.
O “Pop” perdeu uma de suas melhores repórteres de política — Thaís Romão. Um repórter do jornal afirma que a profissional pediu demissão por não se julgar valorizada pela chefia da redação. Jornalistas que acabaram de chegar, postos na categoria dos que trabalham em período integral, estão ganhando quase o dobro dos que já estão há anos na empresa.

Comunismo — O historiador Walter Laqueur sugere que os sovietólogos não perceberam a queda do comunismo porque estavam de olho mais nas estatísticas (superestimadas) do que nas pessoas. Na União Soviética, que forçava a igualdade, eliminando a diferença, sobretudo se genial, os indivíduos foram parando aos poucos e o país também foi paralisando. A ação deles, somada à inépcia dos dirigentes, como Leonid Brejnev, toupeira em forma humana, decretou a morte do socialismo engatilhado por Lênin e disparado por Stálin. O livro “Foi-se o Martelo” (Record, 432 páginas, tradução de Marcio Ferrari), de Ben Lewis, procura capturar a história do comunismo de modo bem-humorado. Segundo a editora, “as piadas sobre o comunismo são o mais estranho, engraçado e talvez até o mais significativo dos legados daqueles oitenta anos de experimentação política, na Rússia e no Leste Europeu. Ben Lewis conta o que realmente aconteceu nesse período por meio das piadas e das histórias das pessoas que as contavam — muitas delas acabaram no Gulag, embora outras tenham desfrutado de altos cargos ou se tornaram estrelas do teatro e do cinema”.
“Foi-se o Martelo” é, além de livro, um documentário da BBC4.

Iúri Rincon
“Intocável — A Estranha Vida e a Trágica Morte de Michael Jackson” (Companhia das Letras, 880 páginas) nem de longe é a biografia definitiva do múltiplo artista.
Fragmentada, com idas e vindas em excesso, histórias que não fecham e uma longa, chata e desnecessária narrativa dos infindáveis problemas jurídicos do rei do pop, “Intocável” pelo menos é corajosa e não foge dos defeitos do astro.
Provavelmente homossexual, insatisfeito com sua imagem, revoltado com a família (exceto a mãe), prisioneiro do sucesso, do seu staff, ainda era um bom pai, trabalhador, inquieto e talentoso.
O livro sugere que Michael tinha duas personalidades, uma pública e outra nos negócios privados, chegando até a mudar de voz quando tratava com a indústria musical e advogados.
Vencer suas mais de 800 páginas em letra pequena, entretanto, é quase uma façanha, apesar de bem escrito. Mas, pra começar, tá bom demais.
Iúri Rincon é jornalista, pesquisador na área de história, poeta e crítico de música bissexto.

Minotauro, agora mais conhecido como Minitouro, foi nocauteado pelo rechonchudo Roy Nelson e, mal saiu do chão, disse que quer uma “revanche” com Frank Mir. Não terá, se depender de Dana White. O chefão do UFC disse que esperou que o lutador brasileiro dissesse, depois do nocaute mais vexatório do ano, que se aposentaria. Como não disse, o empresário decidiu aposentá-lo, ao dizer que não quer mais vê-lo lutar.
A franqueza de Dana White certamente choca os brasileiros, sempre enrolando para dizer a verdade, evitando o conflito, até explodir quando não é mais necessário. Mas o que disse é o que todos aqueles que apreciam MMA — novela para homens que começa a agradar as mulheres — gostariam de dizer. Ninguém quer Minotauro, um lutador de bela história, apanhando, sobretudo sendo surrado, no primeiro round, por um lutador forte, mas do segundo time, limitado. Na luta contra Roy Nelson, o que se viu no octógono foi um Minotauro sem ritmo, sem noção de distância e apático. Em suma, um poste, ou melhor, um saco de pancadas dolorosamente humano.
Ao demitir Minotauro, Dana White está zelando de sua saúde e colaborando para que os brasileiros não fiquem vermelhos — sim, de vergonha, ou, quem sabe, de raiva — depois de suas lutas. Espera-se que, com seu bom senso habitual, o grande Minotauro não se transforme no novo Mirko “Cro Cop” Filipovic. Ele não tem mais idade para ser escada e sparring. Que fique, pois, como mestre, o que é, e dos bons.
Não há como nem disfarçar o caráter político do ¨cala-boca¨ à jornalista Rachel Sheherazade. Não há como. Rachel foi calada pela nova norma do jornalismo do SBT, que simplesmente optou por acabar com os comentários em seu telejornal. Foi a melhor decisão diante do caos que representa esse “cala-boca”. As alternativas eram a demissão da profissional ou o enquadramento – leia-se censura direta – de seus comentários. O SBT entregou os dedos e os anéis, mas preservou minimamente a dignidade. Uma deputada do PCdoB carioca foi autora de uma denúncia contra Rachel na esteira de reação censora incentivada nas redes sociais. Num dos primeiros casos de espancamento de marginais registrados no Brasil recentemente, Rachel disse ¨compreender¨ o ato coletivo de cidadãos comuns, que bateram no marginal e o amarraram num poste até a chegada da polícia. Rachel não disse em nenhum momento que a população estava certa ao fazer o que fez. Disse apenas que compreendia o momento de ira. No final do comentário, como era/é seu estilo, provocou: ¨tá com pena (do marginal agredido), leve para sua casa¨. Um comentário absolutamente claro e transparente: ela compreendia a razão de um grupo de populares ter reagido violentamente contra o marginal e não tinha nenhuma pena dele. Foi isso que matou a liberdade de opinar no jornalismo do SBT? Claro que não. Rachel foi acusada e condenada por grupos por suas opiniões a respeito do governo e da política. Não teve qualquer relação com a bandidagem. Muito mais dramático que a compreensão de Rachel e de sua falta de falsa compaixão pelo marginal são os comentários diretos de apresentadores de programas policiais nas TVs de todos os quadrantes da nação. Para ficar em um só exemplo que vale para o Brasil inteiro, Rachel jamais foi tão ousada quanto José Luiz Datena em sua ojeriza contra a marginalidade e os marginais que infestam a realidade brasileira. O problema de Rachel e de seus comentários é outro. Vai numa outra linha. O que realmente desencadeou a reação contra ela tanto nas redes sociais como pela deputada federal do PCdoB foram os comentários até sarcásticos contra os desmandos e equívocos do governo federal. Cabe a pergunta: conseguiria ela dizer o que já disse contra o governo e governantes se o Brasil ainda estivesse sob o regime ditatorial de 64? Certamente, não. Pois a partir de agora, em plena democracia, ela também não poderá falar. A diferença entre as duas épocas é o pau-de-arara. O silêncio é mesmo. Direitos humanos? Não. O problema foram os direitos políticos. Rachel foi, sim, calada por se manifestar contra o governo. Se há alguma dúvida quanto a isso, que se faça uma comparação entre ela e seus comentários a respeito do marginal agredido e um outro jornalista, também da TV e dono de um blog na internet, que foi acusado de racismo contra um colega de profissão, e condenado pela Justiça. Acusada por populares e pela deputada, Rachel foi calada. O racista condenado pela Justiça continua com seu blog e apresentando faturas mensalmente contra estatais do governo federal. Ela era/é a ácida crítica ao governo, ele é da tropa de ataque a oposicionistas e um bunker da defesa governista. PS – é óbvio, mas ainda assim julgo necessário ressaltar, que neste site, afonsolopes.com, há ¨uma visão dos fatos¨. Não é a visão definitiva, nem a pretensiosamente mais inteligente. E nem se invoca aqui a desgastada – por mau uso – tese da ¨liberdade de expressão¨. Melhor do que essa tal liberdade para expressar a forma como se pensa é semear a pluralidade das ideias. Sem que nenhuma ¨visão/voz¨ tenha que ser calada. O silêncio sempre incomoda. (publicado no site www.afonsolopes.com/category/blog)

O jornalista Marcos Linhares lança a segunda edição do livro “Não Existe Crime Perfeito”, no qual conta os bastidores de crimes célebres, como o assassinato de Ana Elizabeth Lofrano dos Santos pelo marido José Carlos Alves dos Santos, ex-chefe da Assessoria de Orçamento do Senado.
Texto da repórter Gabriela Ferigato (quinta-feira, 17), do Portal Imprensa (http://bit.ly/1pdTbde), conta uma história interessante envolvendo José Carlos Alves, as revistas “Veja” e “IstoÉ” e a polícia. “Preso, José Carlos Alves teria cobrado R$ 1 milhão da revista ‘Veja’ para conceder uma entrevista e entregar os anões do Orçamento. A publicação topou, mas a condição imposta pela polícia é que os repórteres, após a conversa, passassem algumas informações para ajudar na apuração”, relata o portal. “Os jornalistas não cumpriram a promessa, mas a polícia já sabia que ia ser traída e” grampeou “a cela. Então”, os policiais “ligaram para a ‘IstoÉ’ e disseram: ‘Olha, a ‘Veja’ pagou pela entrevista, nós vamos entregar de graça para vocês’”, diz Marcos Linhares. As duas publicações saíram com capas idênticas, o que, certamente, deve ter irritado os repórteres e editores da “Veja”.
A decisão judicial considerou a atual situação financeira e orçamentária do município