Reportagem ouviu o ex- Subchefe de Assuntos Federativos da Presidência da República Olavo Noleto e o deputado federal Rubens Otoni. Confiantes, ambos argumentaram por meio dos números apontados por eles como ínfimos conseguidos pelos adversários

Lula e Dilma juntos
Nesta quarta-feira (30/4) em entrevista a rádios de Salvador Dilma Rousseff classificou de “normal” o coro “volta Lula” | Foto-Reprodução: Ricardo Stuckert

Antes mesmo das consecutivas quedas na popularidade da presidente Dilma Rousseff (PT) o retorno do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva já vinha sendo aventado por petistas adeptos do coro “Volta Lula” –– anunciado no último dia 28 pelo deputado Bernardo Vasconcellos (MG), líder do PR na Câmara. O ex-presidente garante que a candidata ao Palácio do Planalto será a petista e que ele a apoiará por meio das articulações. Todavia, depois da avalanche mensalão, é o escândalo envolvendo a Petrobras-refinaria de Pasadena (Texas) que tem intensificado a tendência de rejeição da presidente, num ano atípico não só por ser eleitoral, mas ainda pelo fato de o Brasil sediar a Copa. Há quem diga que o sucesso do PT na corrida presidencial está diretamente atrelado ao resultado do mundial, cujos investimentos estratosféricos não foram suficientes para tirar a imagem de improvisadores do povo brasileiro.

Nesta quarta-feira (30/4) em entrevista a rádios de Salvador Dilma Rousseff classificou de “normal” o coro “volta Lula”. Para a petista, em anos eleitorais se ocorre de tudo: fatos “concebíveis” e “até inconcebíveis” –– ela não entrou em detalhes sobre o que seria inconcebível. A presidente também disse que aguarda pelo apoio de sua própria base, mas que se não o receber seguirá em frente.

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Olavo Noleto: “O que é uma crise? Perder pontos numa pesquisa?” | Foto: Jornal Opção

Nome forte dentro do PT e até pouco tempo atuando muito próximo à petista, o goiano Olavo Noleto (PT), ex- Subchefe de Assuntos Federativos (SAF) da Presidência da República, defende que o movimento “volta Lula” não está na ordem do dia para a legenda. “Isso faz parte de momentos tidos como de crise, até porque o Lula é muito forte dentro do PT, um mito. Nossa pauta é construir alianças para reeleger Dilma”, assegurou em entrevista ao Jornal Opção Online nesta quarta-feira.

Na mesma reposta Olavo questionou: “O que é uma crise? Perder pontos numa pesquisa?” Ao responder o petista remeteu ao período eleitoral no qual o tucano Fernando Henrique Cardoso (FHC) foi reeleito. “Os piores índices dela [Dilma Rousseff] ainda são melhores do que os do FHC e ele foi reeleito”. Segundo Olavo Noleto, o PT e o atual momento da presidente têm sofrido com o que classificou de “cerco” da mídia e da “elite paulista.”

“Nossos adversários é que têm problemas, pois não conseguem se viabilizar. Nós temos a Dilma que é uma candidata fortíssima, quem é que só tem 15% de intenções de voto?”, atacou, referindo-se possivelmente ao pessebista Eduardo Campos, cuja vice é a ex-senadora Marina Silva, e que geralmente figura em terceiro nas pesquisas –– embora no último levantamento da CNT/MDA divulgado na terça-feira (29) o pernambucano tenha avançado com relação aos dados de fevereiro, passando de 18% em fevereiro para 24% em abril. “São dois pesos e duas medidas para avaliar. Nosso problema é belo, é escolher entre dois candidatos fortíssimos”, arrematou Olavo Noleto.

Rubens Otoni: "Para nós não há dúvida de que a candidata será Dilma” | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção
Rubens Otoni: “Para nós não há dúvida de que a candidata será Dilma” | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

O deputado federal Rubens Otoni (PT), principal articulador da pré-candidatura do PT ao governo de Goiás por meio de seu irmão Antônio Gomide, avalia que a posição de necessidade de Lula pleitear o retorno ao Palácio das Esmeraldas é externo ao Partido dos Trabalhadores. “Para nós não há dúvida de que a candidata será Dilma”, ressalta o parlamentar, para quem a presidente será reeleita independente de melhorar nos índices das pesquisas, uma vez que está à frente dos adversários. Perguntado se acreditava 100% nos levantamentos em relação à confiança que demonstra, Rubens Otoni afirmou que enquanto a candidata segue na frente não há porque se ater somente a estes números.

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O deputado frisa que Dilma terá todo o apoio de Lula, que a acompanhará por todo o país durante a campanha. “Inclusive, ele já tem visitado várias regiões, é um grande cabo eleitoral”. Questionado sobre as críticas feitas pelos principais adversários quanto ao cenário econômico –– com inflação no teto da meta e expectativa de crescimento reduzida pelo próprio ministro da Economia ––, Rubens Otoni defende que a economia brasileira nunca esteve tão positiva dentro do cenário internacional e que o Brasil é tido como exemplo de superação. “A posição do Guido Mantega é dentro da conjuntura internacional. Isso não é problema, países de primeiro mundo também têm enfrentado problemas com economia”, concluiu.

Declarações de Lula sobre o mensalão e petistas envolvidos

Sobre as declarações do ex-presidente em entrevista ao canal de televisão português RTP em que o petista disse que quase 80% do julgamento da ação penal 470 foi político e em determinado momento afirmou que envolvidos nas suspeitas (o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu; o ex-tesoureiro do PT nacional, Delúbio Soares; e o ex-presidente nacional do partido, José Genoino) não eram pessoas de sua confiança, Olavo Noleto disse se tratar de uma reação momentânea de Lula.

“Acompanhei a repercussão e vejo como uma reação momentânea durante a entrevista”, disse, emendando que o centro da questão é que o julgamento do STF possuiu viés político. “Mesmo tipo de julgamento que absolveu [Fernando] Collor. Quero que alguém me explique onde que [o julgamento] foi técnico”, asseverou.

Para Rubens Otoni, a repercussão deste trecho da entrevista não correspondeu ao que o ex-presidente queria dizer. Como Noleto, o deputado reiterou que o julgamento possuiu conotação política. “Nós do PT defendermos isso [julgamento político] é até normal, mas há outras pessoas, de outros partidos e sem partido que também consideram isso.”