O cenário político em Goiás sofreu uma reviravolta na tarde desta terça-feira (29/4) com a desistência daquele que era um dos favoritos para a disputa ao governo estadual. A saída de Iris Rezende (PMDB) do páreo coloca o petista Antônio Gomide como o principal nome da oposição e, em tese, deixa o deputado federal Ronaldo Caiado (DEM) com apenas duas opções: lançar candidatura independente ao Senado ou voltar a compor com o governador Marconi Perillo (PSDB), de quem se distanciou nos últimos meses com críticas contundentes à gestão tucana.

Gomide, com a desistência de Iris, tem sua candidatura fortalecida. Mesmo com o poderio econômico de Júnior Friboi (PMDB), a tendência é que, junto a Marconi, o petista protagonize as eleições deste ano. O respaldo da população anapolina à administração do ex-prefeito e todo o trabalho que vem desempenhado para divulgar seu projeto demonstram que cacife para chegar ao segundo turno ele já tem. O que falta são aliados de peso que possa divulgar seu trabalho e suas propostas. E, agora, ele pode conseguir isso com aqueles que até então eram fiéis a Iris Rezende.

Decidido a derrotar Marconi como está há mais de década e acreditando que Friboi não teria a possibilidade de realizar tal feito, resta ao ex-governador peemedebista permanecer alheio às movimentações eleitorais, ou articular, nos bastidores, o apoio ao candidato petista. Reforça essa última possibilidade também a insatisfação e decepção do líder por conta da derrota sofrida frente a Friboi, que, para seus aliados, transformou a legenda em um galpão de negócios.

Mostra-se cada vez mais improvável conceber que o ex-prefeito de Goiânia e seus aliados mais fiéis, como José Nelto, Mizair Lemes e Agenor Mariano participem diretamente da campanha de Friboi. Assim, no cenário de uma articulação pró-Gomide, caberá à deputada federal Iris Araújo o trabalho de tecer críticas tanto a Friboi quanto a Marconi, atividade que ela já exercita há algum tempo pelas redes sociais. Dessa forma, Iris Rezende, sem precisar deixar seu gabinete, fica livre de “sujar as mãos” desqualificando seus adversários, sejam eles declarados ou velados, mesmo que participando ativamente da campanha eleitoral.

No entanto, apesar de todos os indicadores, há ainda quem aposte no retorno da candidatura de Iris diante de um possível fracasso de Friboi, que, desde o início de sua pré-candidatura, patina nas pesquisas de intenções de voto. Entre os mais esperançosos, resta uma centelha de que o nome de Iris seja aclamado mesmo por aqueles que até então estão apostando no nome de Friboi. Para eles, já é óbvia a constatação de que o empresário não conseguirá deslanchar sua candidatura, restando apenas a seus apoiadores chegarem à mesma conclusão.

Composição com Caiado

No outro espectro da disputa eleitoral, a candidatura de Marconi é afetada pela proximidade de aliança com Caiado agora que as chances de composição com o PMDB, ao menos em um primeiro momento, se esvaíram. O democrata tem evitado tecer qualquer comentário a respeito de das coligações que seu partido poderá fazer e nunca cogitou (e nem negou) uma possível chapa com o grupo de Iris.

A priori, era dada como praticamente certa a composição de Caiado com o grupo de Vanderlan Cardoso (PSB) e Flávia Morais (PDT), além do PSC e do PRP. No entanto, circunstâncias políticas (leia-se a proibição de Marina Silva de uma composição com o ruralista) tornaram impossível tal aliança, fazendo com que fossem levantadas as hipóteses de união com o PMDB e também de um retorno à base de Marconi Perillo, uma possibilidade sempre aventada, mas cada vez mais distante graças ao próprio contexto político em que o PSDB está inserido atualmente. Sem querer se indispor nem com o PP de José Eliton, nem com o PSD de Vilmar Rocha, Marconi parece preferir não atuar ativamente pelo retorno daquele que um dia se colocou como seu aliado.

A possibilidade de chapa com o PMDB, porém, existia enquanto permanecia a pré-candidatura de Iris Rezende. Caiado e ele nutrem uma relação amistosa, como sempre deixaram claro. No entanto, jamais declararam oficialmente que houvesse qualquer conversa sobre uma possível composição.

A aliança com Friboi é mais complicada, visto que conversas de bastidores dão conta de uma suposta rivalidade entre o empresário e o democrata por questões que antecedem a política. O frigorífico Friboi, da família do pré-candidato, não tem boa reputação entre os pecuaristas de Goiás.

E Vanderlan?

Além dos partidos nanicos, que permanecem alheios a essas movimentações, a única pré-candidatura que tende a permanecer inalterada diante dos fatos desta terça-feira (29) é a de Vanderlan Cardoso (PSB). O pessebista conta com o apoio apenas de um eleitorado fiel de sua cidade de origem, Senador Canedo, e uma pequena fração do eleitorado da Grande Goiânia, sem possuir penetração no interior do Estado, o que inviabiliza seu crescimento.

Nem mesmo a distribuição dos votos dos eleitores fiéis a Iris deve provocar grandes mudanças no quadro eleitoral de Vanderlan, já que o público cativo do peemedebista, desinteressado em questões ideológicas e mais motivado pelo carisma dos políticos, deve tender, paradoxalmente, a verter seus votos para o governador. Caberá a Iris e seus aliados decidirem se permanecerão neutros na campanha, ou se agirão, ainda que nos bastidores, tentando convencer o eleitorado de que o melhor nome para o governo é o do petista Antônio Gomide, o único com chances reais de derrotar os dois pré-candidatos que agora se colocam como algozes políticos do líder peemedebista.