Parte de dinheiro da Petrobras chegou ao doleiro Alberto Youssef, aponta relatório
30 abril 2014 às 11h58
COMPARTILHAR
Pagamentos ocorreram em quatro anos e de forma triangular, movimentando R$ 90 bilhões. Repasses trilharam caminhos envolvendo empresas laranjas
Parte do dinheiro que saiu da Petrobras para o pagamento ao Consórcio Nacional Camargo Correa para a construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, caiu em uma das contas da MO Consultoria, uma das empresas do doleiro Alberto Youssef, conforme publicado nesta quarta-feira (30/1) pelo o jornal “O Globo”. Ele foi preso em março pela Polícia Federal na Operação Lava-Jato. O caminho foi revelado em um relatório da Receita Federal, que aponta que o consórcio liderado pela Camargo Correa pagou R$ 26 milhões para a MO entre 2009 e 2013.
Os repasses teriam sido feitos em operações triangulares com a Sanko Sider e a Sanko Serviços. De acordo com a polícia, a MO é uma empresa fictícia e teria sido criada para lavagem de dinheiro. Em quatro anos, a Camargo Correa e outras empresas ligadas à construção da refinaria pernambucana pagaram R$ 90 milhões à empresa do doleiro.
2009
Em 2009, a Petrobras pagou R$ 1,029 bilhão ao consórcio, encarregado de construir a Abreu e Lima. Depois disso, a Camargo transferiu R$ 3,6 milhões a Sanko Sider Com. Imp Exportação, que na sequência repassou R$ 3,1 milhões para a MO.
2010
Já em 2010, a Petrobras pagou mais R$ 919 milhões para a Camargo, que transferiu R$ 8 milhões para a Sanko Sider. A empresa laranja, então, repassou R$ 2,5 milhões a MO, de Youssef.
Após essas operações, novos pagamentos ocorreram: a Sanko Sider pagou R$ 935 mil para a empreiteira Rigidez e R$ 1,7 milhão para a Muranno Brasil Marketing –– essas duas últimas são suspeitas de terem ligação com Youssef. A continuação se deu novas transações triangulares, com a Petrobras pagando R$ 513 milhões a Camargo, que encaminhou R$ 16,3 milhões para a Sanko Sider e R$ 11,5 milhões para a Sanko Serviços. Deste total, caíram R$ 28,1 milhões na conta da empresa do doleiro preso.
2012
No ano de 2012, a Petrobras desembolsou R$ 472 milhões, dos quais a Camargo transferiu R$ 28,1 milhões para a Sanko Sider e R$ 2,9 milhões a Sanko Serviços. A partir dessas operações, o dinheiro foi repartido. Foram R$ 5,1 milhões a MO, R$ 1,6 milhão para a empreiteira Rigidez e R$ 3,27 milhões para a Muranno Brasil Marketing.
Superfaturamento
Auditores do Tribunal de Contas da União (TCU) identificaram superfaturamento de mais de R$ 650 milhões nas obras da refinaria, de responsabilidade do consórcio. Assim como os dados do TCU, o fluxograma apresentado no relatório também serviu de base para uma das denúncias do Ministério Público Federal (MPF) contra o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, Youssef e mais oito supostos cúmplices dos dois.
Em nota, a Camargo Correa negou a existência dos repasses, afirmando que o consórcio não se responsabiliza por pagamentos feitos por terceiros a quem quer que seja e que jamais fez negócios com as empresas ou pessoas citadas. Segundo o comunicado, a Camargo apenas efetuou pagamentos para a Sanko Sider –– empresa certificada pela Petrobras, de acordo com a Camargo –– por tubos comprados de acordo com contratos e necessidades da obra.